Um olhar redondo como um círculo perfeito feito na areia da praia. Pupilas dilatadas com a pura curiosidade do que havia acabado de presenciar, do começo ao fim.

    O garoto questionava consigo mesmo se o sistema havia ido embora depois de tanto tempo cuidando das flores que havia em sua humilde residência.

    Estava escondido no canto, observando Ônix com cautela para ver se algo de interessante aconteceria. A única mudança foi que, agora, o garoto amaldiçoado olhava-o de volta.

    A calmaria abraçou seu corpo junto aos sopros do vento. Mais do que boiar no mar em um lindo pôr do sol, além de observar os meteoritos caindo enquanto a neve do inverno sussurrava sua presença, aqueles olhos apresentavam o inimaginável.

    Arthur respirou fundo, aproveitando o aconchego inesperado. Era como se os pulmões nem existissem, tampouco os outros órgãos, apenas sua casca e a gentileza.

    Seus primeiros passos foram leves. As gramas eram quase tão macias quanto algodões, abrindo-se gentilmente para não atrapalhar o caminhar de ninguém.

    Foi um pouco estranho no começo. Estavam frente a frente, mas não sabiam o que falar um para o outro. Bem, era de se esperar, são completos desconhecidos.

    O calor da vergonha percorreu as bochechas de Arthur. Conversar com alguém que ele nunca teve contato estava mais difícil do que imaginava quando acordou.

    Juntou a pouca coragem que tinha para falar. Sua voz era suave, um pouco fina, mas não o suficiente para confundi-lo com alguém do gênero feminino.

    — Oi, boa tarde… Minha mãe me disse que você tinha acordado, então eu peguei um dos meus doces pra te agradecer por ter me salvado aquela hora…

    Ônix ficou sem palavras por um momento. Aquele garoto arqueiro com um corpo aparentemente fraco era ele? Ajudou por altruísmo, e, sem que percebesse, sua boa ação estava retornando para si.

    Um singelo sorriso abraçou seus lábios. Em um “Obrigado” sincero, pegou um daqueles doces que estava na caixa sem muita preferência e atenção.

    Arthur espantou-se por um momento. Ônix tinha escolhido o chocolate batom, conhecido por alguns devido ao seu mal gosto e enrijecimento, desconfortável para a alimentação.

    — Ah, não, esse não!

    Pegou com pressa da mão dele, guardando-o no canto da caixa, com a intenção de nunca mais mostrá-lo a ninguém para que seu sabor ruim não seja experimentado.

    Logo após, veio ele, o lendário, acima de todos, abaixo de ninguém, o rei da gostosura, sabor inigualável, mestre em arrancar sorrisos e gerar dopamina em instantes: Bis Chocolate Branco.

    Só de segurá-lo fazia a atmosfera ajeitar sua postura. Uma relíquia divina, forjada pelos deuses do Egito, da Grécia, da África, da Inglaterra, de tudo! Tá bom, desculpa, me empolguei.

    Ahem, continuando: Arthur, logo depois de pegar esse artefato divino chamado Bis, entregou-o a Ônix com um sorriso longo no rosto, dizendo:

    — Esse sim é do bom! É meu favorito!

    Ônix, com um cuidado de dar inveja, pegou aquele tesouro sagrado dos sete mares. Somente sua textura arquitetada pelo Altíssimo fazia sua mão formigar em desejo.

    Seus olhos brilhavam como nunca. O cérebro entrava em alerta vermelho, no máximo instinto de fuga ou luta, tentando entender o presente que estava à sua frente.

    Ele sentou-se no chão, respirando fundo, processando as informações com dificuldade. Por fim, começou a abri-lo com a atenção que ele merecia.

    O barulho do plástico se esticando para dar luz à aparência do Bis era tão ouvinte quanto um meteoro rasgando o céu, ou até mesmo de inúmeros terremotos acontecendo em um segundo.

    Por fim, lá estava ele, o impossível tornando-se visível, algo que certamente desceu dos céus, pronto para ser mordido, o lendário Bis Chocolate Branco.

    Ônix engoliu seco, e uma tensão nunca sentida antes começou a perturbá-lo. Ele tinha a dignidade necessária para consumir aquele tesouro oceânico?! Será que alguém é digno o bastante?!

    E, então, lá foi ele. A primeira mordida foi como visitar os céus e abraçar o Criador. Era crocante, era doce, macio, marcante, simplesmente perfeito e inesquecível.

    Os olhos desejavam chorar em satisfação, mas as maldições negaram. Quando foi tentar raciocinar sobre o que estava acontecendo, já tinha comido aquele doce sem deixar um vestígio para trás.

    — E então? Muito bom, né?

    Indagou Arthur, sem conseguir segurar as risadas ao ver tamanha emoção emanando do corpo de seu mais novo amigo. Ônix não conseguiu responder nada além de:

    — Incrível… É perfeito!

    Sem que percebessem, já estavam trocando sorrisos juntos. Uma experiência tão boba e única estava começando a formar uma amizade tão bela quanto.

    Não foi de muita demora para que um breve silêncio reinasse sobre os jovens. Em uma dúvida compreensível e óbvia, Arthur fez mais uma pergunta:

    — O que você estava fazendo aqui fora? Minha mãe ficou preocupada, ela me disse que pensava que você iria demorar uns dez minutinhos, mas tá aqui há algumas horas.

    Ônix ficou confuso por alguns instantes. Sem dizer nada, apenas apontou para trás de Arthur. Ao olhar, lá estava a planta que havia regado, tão bela quanto borboletas voando para um único canto.

    Numa voz baixa e surpresa, ele perguntou: “Estava regando…?”. Ao olhar de volta para Ônix, lá estava um sorriso bobo, acenando um sim com o rosto animadamente.

    Arthur riu, dizendo que seu amigo era realmente único. Passar um tempo considerável com atenção plena numa só flor era algo impressionante para ele.

    Mudando de assunto, ainda havia mais chocolates naquela caixa de bombom. Animado como sempre, disse que ainda tinha alguns de seus favoritos ali, de prontidão para serem experimentados.

    Antes que Ônix pudesse dizer que sim, mais passos se aproximavam e, dessa vez, não eram de apenas uma pessoa, e sim três garotos que já eram conhecidos.

    Lá estavam eles: Morfius, Waraioni e Saito. Todos com olhares visivelmente cansados pela energia que gastaram fazendo algumas missões pacíficas que encontraram.

    Para explicar o aparecimento repentino de Morfius, precisaríamos voltar um pouco no tempo, mas iria demorar demais, então farei um resumo breve para vocês.

    Morfius os encontrou com um recurso do sistema chamado de Mapa. Lá, ele pode visualizar onde seus aliados se encontram atualmente. Dessa forma, pôde encontrá-los.

    Voltando para o agora, Saito forjou um sorriso simples, agachando-se perto de Arthur, perguntando se poderia pegar um dos doces daquela caixa.

    Como esperado, permitiu. Saito pegou dois, um para ele e o outro ofereceu para Morfius, que aceitou com um sorriso legítimo em seus lábios.

    Waraioni caminhou até Ônix, oferecendo sua mão para que ele pudesse levantar, enquanto perguntava se estava tudo bem com seu irmão descuidado.

    Ônix sorriu e aceitou, levantando-se com cuidado, respondendo que estava tudo bem e que o dia estava sendo melhor do que os anteriores, bem melhor.

    Arthur aproveitou a chegada de todos para informá-los sobre o jantar. Já estava pronto há algum tempo, só estava aguardando todos estarem presentes.

    Dito isso, eles caminharam para a casa sem muita demora. Ônix, antes de entrar na casa, olhou para trás, observando algumas pétalas em tom verde claro serem levadas com o vento.

    Depois de tanto tempo, finalmente seus olhos puderam enxergar a verdade oculta por si mesmo: Mesmo que doa e seja desafiador, estar vazio é a melhor forma de se reencontrar.

    Próximo capítulo: O Passado Tornou-se Oração.

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