Cada passo era único, dedicado ao único período de nossas vidas que temos controle: o presente. Por mais que a sombra interior gritasse as perdas, o ar sussurrava as companhias presentes.

    O ranger da porta não era só mais um caminho para uma missão indesejada, mas a abertura para um refúgio merecido, um lugar do qual era muito bem-vindo.

    O agradável aroma do almoço já era dominante mesmo na sala de estar. Seu pulmão, acostumado com o cheiro da dor, encontrou surpresa com essa gentileza repentina.

    Cada prato era iluminado com gentileza pelo sol que atravessava a janela. Enquanto os jovens caminhavam para o almoço, Luna e seu esposo os aguardavam.

    Como de costume, aquele gentil casal conversava sobre o cotidiano, desde a dificuldade na missão recente que fizeram até o cochilo milagroso que o homem teve.

    Ao olharem para o lado, lá estavam os garotos caminhando sem pressa para se juntarem a eles, agradecidos pelo evento antes mesmo de darem início.

    — Aqui, garotos! Podem se sentar, eu deixei seus pratos em cima da mesa!

    Luna disse com um ânimo na voz e um brilhar nos olhos. Fazia muito tempo que não via sua casa tão cheia assim e, como sempre, o coração de uma mãe está sempre aberto para novos filhos.

    Saito agradeceu a bondade da moça com um genuíno “Muito obrigado.”, sentando-se em uma das mesas e pegando a colher com classe, aguardando todos estarem prontos para o almoço.

    Tanto Waraioni quanto Morfius fizeram o mesmo. De uma forma mais desajeitada? Com certeza, mas o que sempre vale numa ação é a intenção que vem dela.

    O caso de Ônix foi um pouco diferente. Ainda caminhava para a única cadeira vazia que havia sobrado, porém, o marido de sua benfeitora estava à sua frente o encarando.

    Foi um pouco constrangedor e inesperado, no entanto, um sorriso frouxo escapou dos lábios daquele homem aparentemente intimidador e irritado.

    — Foi você, né, garoto? Que salvou a vida da minha família junto do seu irmão. Eu sou muito agradecido por você ter aparecido na hora certa. Agora, graças à boa atitude sua e dele, posso almoçar mais uma vez com quem amo.

    Havia sinceridade e gentileza na sua voz. Não tinha más intenções por trás, apenas a mais fiel alegria que se pode ter por aquele que escapou da morte pela primeira vez.

    Douglas, marido de Luna, gentilmente arrastou a cadeira para trás, permitindo com que Ônix se sentasse. Logo depois, com o mesmo carinho de antes, fez um convite legítimo:

    — Por favor, sente-se aqui! Vamos todos ter um bom almoço juntos hoje.

    Ônix não conseguiu falar nada além de um “Mu… Muito obrigado…” sem jeito e envergonhado, sentando-se logo depois, respirando o ar leve que o circulava.

    Era estranho, mas, ao mesmo tempo, acolhedor e nostálgico. Fazia quanto tempo que um almoço em família não acontecia? Era tão nostálgico que o fazia querer chorar.

    Queria ter tudo de volta como era antes. Poder chamar sua cuidadora de mãe enquanto trocava risadas com seu pai ao conversar sobre dias únicos na escola.

    Dias maravilhosos que se tornaram memórias e, agora, era uma das suas únicas terapias para não colapsar com seu mundo interior sombrio e inexplorado.

    Sobretudo, um sorriso agradecido surgiu. Sua história agora não lhe causava dor, servia de guia para lhe mostrar que, de pouco a pouco, teria tudo semelhante de volta.

    — Alguém tem algo para falar antes de continuarmos?

    Perguntou Luna com educação, observando todos com um sorriso singelo nos lábios. Por alguns segundos, ninguém disse uma única palavra, apenas aguardou.

    Antes que ela pudesse dar seguimento com o momento sagrado do almoço, Ônix ergueu sua voz com uma vergonha notável, mas uma motivação por trás ainda maior.

    — Eu… Posso fazer uma oração antes de comermos?

    Uma pergunta nobre, mas vinha de um garoto bobo se refugiando no passado. Há uma oração que sua mãe sempre fazia tanto para dormir quanto para um jantar ou almoço em família.

    Abraçando-se com sinceridade e esperança no que um dia já foi seu, fez sua indagação. Ela ficou sem palavras por um momento, mas um sorriso era inevitável.

    — Claro que pode! Por favor, faça isso por nós.

    Numa ação que nem ele esperava, todos baixaram a cabeça e fecharam os olhos, dedicando o máximo de suas atenções aos ouvidos que se empolgavam em ouvir.

    O arrepio da felicidade abraçou o coração de Ônix. Agora, era sua vez de orar pelos outros, de tornar um almoço abençoado em algo ainda mais especial. Com um sorriso aconchegante em seu rosto, começou:

    — Hoje me levanto com a poderosa força e invoco à Santíssima Trindade com Trinitária fé, professando a unidade do Criador de toda criatura…

    O nascimento em abandono de seu legítimo pai, iniciando com a esperança de sua legítima mãe, sendo resgatado por uma benfeitora incrível de olhares cianos…

    A portadora de um enorme carinho, tendo seu nome Celestial. Bons companheiros que tornaram-se seus irmãos, até que a morte os separasse, mas não foi pela eternidade.

    Perdeu tudo, tornou-se as trevas, deu adeus ao seu coração até que finalmente encontrasse a verdade sobre as histórias e como elas são fontes de vida.

    No fim, tudo que tentou o machucar, o deixou mais forte. Agora, com sua nova família e um novo lar, é hora de dar continuidade, abraçar o passado e controlar o presente.

    — … Cristo no coração de todos a quem eu falar, Cristo na boca de todos os que me falarem, Cristo em todos os olhos que me virem, Cristo em todos os ouvidos que me ouvirem, amém.

    Foram minutos de oração, mas nenhum segundo foi desperdiçado. Os olhos se abriram com uma leveza maior do que a de uma folha seca, e sorrisos agradecidos floresceram em todos.

    Sem que fosse planejado, todos acompanharam o “Amém” de Ônix, juntando as mãos em oração, junto de um longo suspiro que expulsava o cansaço como um calmante.

    Depois desse evento único e desejado, o almoço pôde finalmente começar. Conversavam sobre seus dias como se todos fossem amigos de longa data até o fim daquele evento.


    No fim, nenhuma barriga estava cheia, mas todos os presentes estavam saciados. Com a mesma energia de sempre, Luna pegou o prato de cada um e pôs na pia, de prontidão para lavar.

    Os lábios de Ônix ficaram semiabertos com a atitude. Em sua percepção, aquilo era gentileza demais para que alguém como ele pudesse recebê-la.

    — Ah, não precisa! Muito obrigado pela intenção, mas eu posso lavar meu prato, tudo bem?

    Como esperado, ele não era o único surpreso ali. Seus irmãos o acompanharam nesse pensamento, desejando a mesma coisa boba que foi pedida.

    Luna surpreendeu-se por um momento, mas risos leves eram tão previsíveis quanto a direção de um carro em uma estrada reta e plana.

    — Se quiserem me ajudar, é só lavarem os pratos comigo, bobos!

    Em um longo sorriso estampado no rosto, Douglas também levantou-se, deixando claro que também iria ajudar a cuidar das louças junto deles.

    Morfius e Arthur não ficaram para trás. Já estavam na frente da pia com um ânimo tão grande quanto, pegando seus pratos e talheres, sem perderem um segundo de tempo.

    Sem que percebesse, aquilo já tinha se transformado em uma competição de quem terminava primeiro, com incontáveis risos infantis exalando sua presença.

    Pouco tempo se passou desde então. Enquanto eles descansavam no sofá, Luna arrumava algumas coisas que haviam ficado desajeitadas devido à inexperiência dos garotos.

    Foi uma questão de poucos minutos até que fosse concluída. Com tudo pronto, pegou a chave que estava guardada na parede e dirigiu-se até a sala de estar.

    — Vamos, garotos? Fazer umas comprinhas? Temos que ser rápidos, logo logo o supermercado vai fechar!

    Mesmo que soubesse que o fim do dia estava próximo, seu ânimo estava tão marcante quanto sempre. Como esperado, todos a seguiram para mais um evento divertido.

    Enquanto caminhavam em direção ao fim do dia, uma mensagem que somente Ônix podia ver surgiu em sua frente, cumprindo a promessa que ele custou acreditar.


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    Próximo Capítulo: Forma Espectral

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