O calor aconchegava a escuridão que rondava seu olhar. O brilhar do sol iluminava as preocupações em formas de sombras que se ocultavam na retina.

    O som, outrora sem vida, carregava-se com o canto dos pássaros. Antes, enxergava tudo em tom cinzento, agora, uma luz ainda maior do que qualquer luminar apresentava-se à sua frente:

    Sorriso. A prata não era tão pura quanto, tampouco o oceano conseguia ser mais limpo e sereno. Sua mãe legítima, Lethe Mortana, sorria para seu filho com imenso orgulho.

    Mesmo que sua voz não saísse dos lábios, tampouco emitesse som, ainda poderia ser sentida. Limpando a alma de seu filho por um instante, disse:

    — Vá. Mesmo que não me veja, estarei contigo. Mesmo que não me sinta, direi, dia e noite, que te amo. Aproveite seu tempo com as pessoas que te amam tanto quanto você as adora. Pode fazer isso por mim, meu filho?

    Foi a primeira vez que pôde ouvir, mas era como se ela o conhecesse perfeitamente, desde seus defeitos, qualidade, pecados, pensamentos, ações, tudo.

    Um som agudo começou a levantar sua presença abruptamente. De um momento para o outro, um clarão de luz consumiu seus olhos, impedindo-o de enxergar o que estava à sua frente.

    Um frio repentino o abraçou por inteiro. Um calor aconchegante encontrou sua testa no formato sutil de lábios. A última coisa que pôde ouvir daquele lugar que estava era uma voz doce sussurrando:

    — Até logo.

    O ranger de uma porta se abrindo começou a ecoar. Era abafado e estranhamente baixo, como se viesse de um lugar tão distante quanto o céu da terra.

    Seus olhos se abriram gentilmente. Estava tudo como anteriormente: Luna com a chave em mãos, esticando seu braço junto da porta que se abria.

    Seus irmãos e amigos estavam à sua frente, brilhantes com a luz que os banhava. Tudo o que sentiu e presenciou aconteceu em um piscar de olhos em seu interior?

    Ainda não podia acreditar que tudo estava voltando a ser tão bom em um mundo com missões tão perigosas quanto andar sozinho à noite em um ambiente hostil.

    Waraioni estava com os olhos fechados, sentindo a brisa do ar dançar em seus cabelos enquanto o calor do sol massageava seu rosto gentilmente.

    Ao abri-los, olhou para trás suavemente, notando seu pequeno irmão com os olhares tão brilhantes quanto centenas de estrelas iluminando o céu noturno.

    Qualquer um poderia notar a diferença. Era como fazer uma comparação entre uma corrente que se diz ouro, mas sem brilho algum, e um diamante legítimo que não precisa provar nada a ninguém.

    Um sutil sorriso nasceu nos seus lábios. Fez um pequeno movimento com o pescoço enquanto mantinha as mãos no bolso, como se o chamasse para andar depressa.

    Saito notou as mesmas coisas. Preferindo uma abordagem mais direta e divertida, andou com pressa até Ônix, ficando frente a frente com ele.

    Alguns risos escaparam de sua voz, não por achar algo engraçado, mas sim pela felicidade genuína. Fazia um tempo considerável que não via um bem-estar, mesmo que mínimo, vindo de seu irmão.

    Circulou seu braço esquerdo no pescoço de Ônix. Fechou sua mão direita, esfregando-a no cabelo do seu irmão enquanto dizia com grande ânimo:

    — Você tem que andar mais depressa, lesado!

    Seus cabelos formigavam com essa ação. O peso de Saito fazia Ônix encurvar-se enquanto seus pés caminhavam mais rapidamente, mas não tinha uma gota de ofensa ali.

    Ônix ria de forma tão genuína que até seus olhos se fechavam. Depois de tanto tempo sofrendo, finalmente estava começando a se divertir nesse mundo.


    O asfalto brilhava ainda mais intensamente do que qualquer esmeralda. O ar era tão puro para a respiração que parecia rejuvenescer quem o abraçava.

    Era como um passeio em família. Luna e Douglas caminhavam na frente, orientando os garotos a olharem para os dois lados antes de atravessar a rua.

    A caminhada foi longa, mas a diversão os fez perder o sentido do tempo. Quando os garotos perceberam, já estavam em frente a uma sorveteria.

    Essa foi uma coincidência agradável. Não era o intuito da moça encontrar esse lugar, mas, seria muito agradável, não só para ela, mas para todos, comerem algo com um sabor agradável durante essa pequena viagem.

    Douglas olhou para trás por um instante. Por mais que os lábios não dissessem nada, o brilho nos olhos entregava o desejo que se refugiava no espírito de cada um.

    Um singelo suspiro, junto a um sorriso, escapou de si. Com um ânimo disfarçado, chamou a atenção dos garotos com uma palma, dizendo em seguida:

    — Bora! É por minha conta, uma casquinha pra cada um!

    Um sorriso tampou os rostos de cada um dos garotos. Arthur já se apressava na frente, influenciando os outros indiretamente ao seguir.

    Luna olhou para seu marido com um sorriso gentil em seu rosto. De forma descontraída, estapeou levemente seu ombro, dizendo com um orgulho visível:

    — Então você também já se apegou a eles?

    Douglas não pôde conter os risos que escaparam de sua boca. Com um olhar de um pai alegre, entregou em palavras o que sua alma escondia consigo:

    — É impossível não perceber a inocência que mora naqueles garotos!

    Luna não disse nada, mas seus olhos orgulhosos não podiam concordar mais. Em um misto de felicidade e amor, beijou gentilmente seu marido e o abraçou, dizendo:

    — Eu não poderia ter escolhido melhor, meu bem.

    A vergonha expressou sua força nas bochechas daquele homem, mas um sorriso, mesmo que sutil, foi inevitável. Foi nessa agradável emoção que eles juntaram as mãos e entraram na sorveteria.

    Os garotos já esperavam pacientemente lá dentro, em suas respectivas filas aparentemente organizadas, apenas esperando o momento em que seriam presenteados com o açúcar.

    Luna riu discretamente, tampando o lábio com os dedos. Seu filho, antes assustado com os mistérios desse mundo, sorria de forma tão boba e descontraída que dava vontade de chorar.

    O mundo é realmente engraçado. Um único evento, uma única ação de bondade, foi capaz de criar uma nova família no meio desse caos interminável.

    Foi nesse misto de alegria que as compras foram feitas, cada um escolhendo seus sabores preferidos, mesmo que houvesse diversas possibilidades.

    Ônix, ignorando o sabor, atraiu-se por duas cores que significavam muito para ele: o ciano e o vermelho. Seguindo sua intuição, pediu seu sorvete contendo metade de cada uma dessas duas cores.


    Depois dessa pequena pausa na sorveteria, voltaram a caminhar enquanto aproveitavam o doce sabor que lhes foi dado, sentindo a paz do vento os guiar.

    Não foi de muita demora até que chegassem onde Luna desejava. A movimentação daquele lugar era surpreendentemente alta, mais do que o normal.

    Muitos vinham da esquerda, diversos caminhavam pela direita, mas havia uma única coisa se destacando na multidão: um enorme portal ciano, girando no sentido anti-horário como se fosse um universo.

    Luna suspirou de alívio, admiração e conquista. Depois de tanto andar, finalmente haviam chegado ao lugar que os levaria para as compras individuais.

    — Finalmente chegamos, garotos!

    Ônix, enquanto observava aquele aparente universo azul, repousava a mão no peito, sentindo seu pingente triplo mais marcante do que o normal.

    Próximo Capítulo: O Coração de Três Tempos.

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