Índice de Capítulo

    A brisa do vento parecia girar para todos os lugares ao mesmo tempo. Nem frio, quente, tampouco morno, era um conforto único e inexplicável.

    Respirar parecia algo novo para os pulmões, pura influência da mais profunda admiração. Já haviam presenciado portais antes, mas daquele tamanho? Até então, nunca.

    — Incrível, né?

    Luna foi quem quebrou o silêncio com palavras. Seus olhos brilhavam tanto que pareciam que inúmeras estrelas rondavam sua retina gentilmente.

    — Eu vou na frente, tá? Vocês só precisam me acompanhar até o portal.

    Ela fez como dito: começou a caminhar. Todos a acompanhavam em silêncio, sem se importar com a multidão que vinha e ia como problemas cotidianos.

    Ônix foi quem mais aproveitou esse momento. Cada passo, mesmo que lento, tinha significado. Era presente e consciente, como alguém que caminha em direção à luz.

    Seu ritmo lento o fez se perder de seus aliados, mas isso não era importante, pois o objetivo era visível o suficiente para ser impossível não encontrar.

    Depois de alguns minutos, lá estava ele, diante do transportador. O som que emitia de lá era baixo, mas constante e grave, confortante para os ouvidos, como uma tigela tibetana.

    Sem que percebesse, já estava se aproximando para dentro do portal. Era como ser convidado para algo que nunca foi visto. O próprio inconsciente sussurrava para avançar.

    Primeiro, pôs gentilmente sua mão sobre o portal ciano. Ela estabilizou-se lá, como encostar em um espelho que gentilmente recusa a sua presença.

    Sua palma começou a formigar, mas não era de incômodo algum. Na verdade, era tão confortável quanto ouvir eternamente aquele som ressonante que de lá saía.

    O portal começou a escurecer de pouco a pouco. Alguns pontinhos brancos surgiam pelo portal inteiro enquanto as sombras o consumiam, assemelhando-se ainda mais com o universo nos olhos de Ônix.

    Depois de tudo isso, finalmente começou a entrar. Era lento, como afundar numa areia movediça, mas tão confortável quanto experimentar pela primeira vez uma cama macia.

    Demorou alguns segundos para que metade de seu corpo pudesse avançar. Agora, o som parecia molhado, como estar submerso, ouvindo o caminhar das águas.

    Após todos esses eventos, finalmente pôde adentrar o portal. Tudo ao seu redor era escuro, mas totalmente aconchegante como encontrar um refúgio.

    Seu corpo flutuava para cima. Ele se entregou ao conforto, relaxando totalmente o corpo, como se fosse abduzido por algo desconhecido que desejava sua presença.

    No teto daquela escuridão, dois olhos enormes o observavam com um carinho que os fazia brilhar. O esquerdo era vermelho, e o direito um ciano claro e inocente.

    Tinha tudo o que deveria ter, desde cílios a sobrancelha, como se fosse realmente alguém o observando, guardando sua existência em um pote de amor.

    Algo começou a flutuar de seu peito em um formato de três corações, caminhando gentilmente pelo seu moletom até que encontrasse o exterior.

    Lá estava seu pingente triplo, brilhando para aqueles olhos, como se quisesse gritar que existia, e que também sabia quem estava por trás daqueles olhares.

    Aqueles olhos inocentes começaram a ficar marejados. Não demorou muito tempo até que lágrimas caíssem de ambos, encontrando seus alvos abaixo.

    A lágrima ciana caiu sobre o pingente, a vermelha encontrou Ônix, atingindo o centro de seu peito e espalhando-se pelo resto do corpo, abraçando-o por completo.

    O conforto que atingia Ônix só podia ser chamado de “aquilo”. Além de receber o primeiro beijo, superior a sensação de ouvir pela primeira vez um “eu te amo”, era mais puro, mais limpo, mais sincero, mais verdadeiro.

    A luz do pingente, que já era forte, multiplicou-se exponencialmente. Não existia abismo algum que poderia resistir à força que aquela luz emanava.

    O passado, o presente, o futuro, nada mais parecia importar. Diante de uma experiência tão profunda, pôde apenas fechar os olhos e sentir.

    O conforto da luz massageava suas pálpebras. Podia sentir uma sutil água cair sobre seu corpo, da cabeça aos pés, juntamente ao barulho da colisão do líquido com o solo.

    O ar era gelado, como estar numa sala abraçada pelo ar condicionado. A temperatura acompanhava o ritmo, entregando que havia chegado a algum lugar.

    Abriu os olhos suavemente, como se estivesse acordando de um sono profundo, recebendo todas essas descrições ambientais de uma só vez.

    Sob seus pés, encontravam-se duas águas de cores diferentes, uma em tom vermelho e a outra em um tom suave de ciano. Ambas se juntavam para formarem um coração.

    Seu pingente encontrava-se visível na camisa, sem brilhos dessa vez, mas tão bonito quanto sempre esteve, quase flutuando com o ar que o rondava.

    Algumas alterações encontravam-se lá. Sua cor, antes dourada, sofreu mutações, trazendo consigo um significado tão profundo quanto sua história.

    O primeiro coração tornou-se vermelho, o segundo cessou espaço para que o ciano tivesse um pouco de presença e, por fim, o ciano tinha seu território no terceiro coração.

    A corda que circulava o pescoço era dividida sutilmente entre as duas cores que insistiam em marcar sua existência o abraçando, seja de dia ou de noite.

    Ônix moveu sua mão para os três corações, sentindo o calor aconchegante que morava por lá, sentindo toda a história e amor que concentrou-se no pingente.

    Moveu-o gentilmente para sua testa, fechando os olhos mais uma vez com um singelo sorriso, tentando devolver o carinho recebido com esse simples gesto.

    Por fim, guardou-o de volta abaixo da camisa como ouro no baú com diversas chaves, garantindo que ninguém visse o presente que lhe foi dado.

    Seus olhos moveram-se gentilmente para o teto daquela sala prateada. No que pensava? Agradecia algo? No fim de todas essas indagações, apenas o universo no seu olhar podia dizer a resposta.

    Após todos esses eventos, era chegada a hora de finalmente dar atenção aos arredores que o circulavam. Aonde aquele portal tinha o levado?

    Do teto às paredes, tudo tinha a cor da prata. O horizonte parecia não ter fim, tampouco um rumo para seguir, mas o caminho estava logo à sua frente.

    Uma porta simples e de cor cinzenta o esperava. Seus passos foram curtos como sempre, mas, eventualmente, ele pôde pôr as mãos na maçaneta.

    O ranger do abrir da porta ecoou como a canção alegre dos pássaros, até que a porta finalmente fosse aberta, dando-lhe mais um lugar para visitar.

    A alguns passos de sua frente, um grande balcão de madeira se fazia presente. Seus detalhes eram tão minuciosos quanto olhar para um trono.

    Atrás desse item, havia um homem sentado numa cadeira que não podia ser vista. Seu rosto era oculto por um capuz azul que cobria todo seu corpo.

    Mesmo que olhos não fossem vistos, ainda dava para sentir sua observação. Como anfitrião daquele lugar, ele pacientemente esperava Ônix atravessar a porta.

    Próximo Capítulo: Entregarei no fim…

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