Índice de Capítulo

    Uma sensação incômoda começou a subir por todo o corpo. Era como se infinitas abelhas picassem cada pequena fibra que existisse em seu ser.

    O vazio, fundindo-se com essa estranheza, começou a ficar mais presente, mas não de modo figurativo; tudo parecia estar mais leve.

    Os pés pareciam deixar de existir e, as mãos? Flutuavam, como se sua alma fosse abduzida, abandonando o corpo físico em um ritmo lento.

    Assim que o pescoço inclinou para cima, pôde ver algumas partículas escuras voando, sendo levadas pelo vento, como se viessem dele.

    Ônix, ao olhar para o lado direito, percebeu que sua mão já não existia mais. Gradativamente, seu braço também se autodestruía, juntando-se com a brisa do vento.

    Seus olhos colidiram com o medo e a surpresa no mesmo instante. Estava deixando de existir ou simplesmente mudando de localidade conforme a missão desejava?

    Dentre todas as infinitas dúvidas que surgiam em seu coração, a mais crucial foi feita a si mesmo: minha nova família está bem ou sofrendo o mesmo destino que eu?

    No mesmo instante em que se fez a pergunta, virou sua atenção para a esquerda, mas, realizando o que ele menos desejava, ninguém estava lá.

    Exceto pelas partículas, com cores que representavam seus amigos, nenhum deles se fazia presente, como se Ônix fosse o último do grupo a sofrer com essa aparente penalidade.

    Antes mesmo de poder processar com clareza o que via, já estava unido ao vento, sendo levado por sua brisa para um mundo distante, na ausência de sons.

    Sua visão, de pouco a pouco, se fazia inútil. Escuridão era a única coisa que via; sua única companhia era a ventania, mas ela ausentou-se pouco após.

    Embriagado com a ausência de todos os sentidos, não podia sequer sentir desesperança, pois isso não estava mais ao seu alcance mortal.

    Em um ritmo tão lento quanto seus passos em um dia tranquilo, o frio se fazia presente em seu peito no formato de seis corações, como se o lembrasse de que ele não estava só.

    Instantes depois, o sussurro do calor o rodeava, indo desde o pescoço até seus pés, como um leve redemoinho que contorna suas folhas.

    Croo… Croo… As corujas murmuravam consigo mesmas, pendurando-se nos galhos secos das árvores, observando seus novos convidados com atenção.

    Ônix pôde ouvir, sentir os dedos dos pés colidindo com as gramas mortas, que se quebravam em agonia com o peso que não podia suportar.

    Um pequeno medo cobria suas pálpebras, dizendo-o para não abrir os olhos, mas não era hora de fraquejar diante de sua nova e aguardada jornada.

    Ônix os abriu sutilmente, como um bebê que levanta as pálpebras pela primeira vez, tentando ver o que conseguia, mas tudo era embaçado e insuficiente demais.

    Gentilmente, com as pontas dos dedos, massageou seus olhos, tentando resolver sua cegueira momentânea, movendo seu pescoço para a esquerda instintivamente.

    Ao abri-los novamente, seus companheiros estavam consigo, sem faltar uma única presença, mas todos eles tinham os olhos fixos em um único ponto.

    Mesmo que a incerteza repousasse sobre todos, os lábios de seus aliados eram cerrados, prontos para enfrentar qualquer desafio que queira os desafiar.

    Ônix redirecionou sua atenção para onde eles estavam olhando e, como prometido, as orientações que os aguardavam estavam de prontidão na floresta.

    Grande como um gigante, mas com um tom suave como as canções dos pássaros. Isso descrevia o imenso sistema que os observava de volta, com uma mensagem em sua interface.

    Sistema de Jogo
    Grupos são necessários para que essa missão continue. Do norte ao sul e do leste ao oeste, duas pessoas seguirão seus caminhos para completarem suas respectivas missões.

    Foi um resumo breve, mas grande o suficiente para que todos pudessem entender a situação sem ter que explicar um para o outro novamente.

    Partículas em tom azulado começaram a se despedir de sua interface retangular, repousando sobre as gramas à sua esquerda, dando origem a uma nova aparência.

    Tinha uma base firme e sólida e, no seu topo, um formato circular com o nome de todos do grupo nele, como se fosse uma espécie de roleta da sorte.

    Acima de si, de pouco a pouco destacava-se a direção Norte, com uma seta no topo, apontando onde encontrava-se a localidade citada. Curiosamente, Ônix não prestou atenção nesse detalhe.

    No mesmo instante, a roleta começou a girar até que escolhesse dois nomes, sendo eles: Andressa e Ônix, escolhidos para caminharem juntos ao local sorteado.

    Esse mesmo evento aconteceu três vezes. Saito foi o escolhido para ir ao Sul, com um aliado que não conversou muito com: Morfius.

    Ao Leste, por sorte ou destino, mãe e filho eram convidados. Mais à frente, essa escolha mostrará aos senhores leitores o quão parecidos eles são em combate.

    Por fim, tendo que caminhar ao Oeste, dois homens com estilo de luta completamente opostos avançam pela missão: Waraioni e Douglas.

    Assim que todos os grupos foram escolhidos aleatoriamente, a roleta se desfez, retornando à sua existência original, pronta para entregar os últimos detalhes.

    Sistema de Jogo
    Elimine, no mínimo, cinco Orcs. Caso encontrem um Orc Gladiador, este valerá pelos cinco. A missão, por si só, encerra-se apenas nisso; no entanto, caso desejem recompensas maiores, haverá novos limites a serem alcançados, sendo eles: mate um ser humano e elimine o rei da floresta oculto pela escuridão.

    Foram com essas instruções, vagas como sempre, que o sistema se despediu mais uma vez, como se estivesse limitado por algo maior a falar somente o necessário.

    Poucos segundos depois que as orientações foram entregues, quase todas as duplas já estavam reunidas, restando apenas a organização.

    Enquanto Ônix refletia sobre o evento da sorte que aconteceu recentemente, passos se aproximavam gentilmente da sua direita. Ao olhar, lá estava a moça, caminhando em um ritmo tão lento quanto o seu, com olhares tão serenos quanto seu universo, como se fosse uma versão feminina de si.

    Assim que se aproximou, estendeu a mão em um comprimento típico que ele sempre faz com quem conhece, erguendo os lábios em um sutil sorriso, dizendo:

    — Parece que agora somos só eu e você, né?

    A confusão pousou em seu olhar por um instante. Foi a primeira vez que viu alguém tão parecido consigo, e isso lhe arrancou um sincero e profundo sorriso.

    — É!

    Cumprimentou-a assim que a respondeu, iniciando ali uma amizade profunda que, futuramente, se tornaria mais um de seus infinitos traumas.

    Enquanto ria descontraído com um diálogo bobo, seu nome foi chamado pelo seu irmão Saito, que o observava com uma seriedade incomum em seus olhares escarlates.

    — Eu vou seguir como a missão deseja, mas, mesmo se por acaso eu souber que você tá correndo o mínimo perigo, eu vou abandonar tudo e atravessar o Norte na mesma hora.

    Essa era uma mensagem quebrada, e o gesso eram cicatrizes. Não era desconfiança, tampouco desacreditava da força de seu irmão; era o mais profundo medo.

    Nem que fosse uma chance de uma em um trilhão, se houvesse essa possibilidade de Ônix sofrer, nem que seja mais um pouco, Saito daria a vida para que isso não acontecesse.

    Waraioni não disse nada, apenas o observou com seu olhar ciano profundo, ligeiramente fechados, como se sussurrasse para o vento que faria a mesma coisa.

    Com sua atenção boba e universal, Ônix sorriu, fazendo o sinal de beleza com seu polegar enquanto dizia “Tá!” com uma alegria visível.

    Waraioni riu sutilmente, refletindo sobre a saudade que sentia em ver aquele bobo sorriso, evento esse que eram falsos assim que eles se encontraram pela primeira vez nesse mundo.

    Um leve conforto abraçou o coração de Saito. Com um sorriso discreto, virou-se para o Sul, caminhando para o desconhecido com sua recém dupla.

    Próximo capítulo: Força Além do Gênero.

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