Capítulo 9: Preso ao Sistema
Após a confirmação de todos, um portal escuro, semelhante a um buraco negro, surgiu diante deles. Sua presença era imponente, um vórtice que girava para todos os lados em uma velocidade além da compreensão, sugando a luz ao redor e distorcendo o ar, como se o próprio espaço estivesse se dobrando.
A brisa ao redor se intensificou, e os jogadores presentes sentiram um arrepio subir pela espinha, como se seus corpos estivessem sendo atraídos por ele, mesmo sem se moverem.
Morfius, em meio àquele caos, observava o portal com admiração em seus olhos e um singelo sorriso, caminhando em sua direção sem medo algum.
O ar rebatia-se em seu corpo como se estivesse dentro de uma máquina de lavar. O cheiro era único: parecia ar puro, mas também cósmico, como algo de outro mundo.
Olhou para trás, notando seus companheiros paralisados, fitando aquele portal com cautela e atenção, prontos para qualquer coisa. Acenou para eles e disse:
— Bora! É de boa entrar!
Logo depois, voltou seu olhar para frente, tocando o teletransportador com a ponta dos dedos, sentindo sua temperatura morna e agradável como a água.
Seu corpo foi sugado para dentro como se um buraco negro o abraçasse. Sua ausência assustou o restante, mas o portal permaneceu inabalável.
Saito franziu a testa, junto ao ranger dos lábios, segurando o cabo da katana com força. O que acabara de acontecer? Morfius estava bem? Sua dúvida só tinha um caminho para a resposta.
“Como posso cortar isso…”
Sem que percebesse, passos calmos começaram a ecoar suavemente, fazendo-o voltar a si. Ao olhar para o lado, notou seu irmão caminhando com um semblante tranquilo, como se não houvesse perigo algum. Ele olhou para Saito e disse:
— Vamos! Eu não sinto nada de errado!
Caminhou até o portal, também o tocando com os dedos, sendo puxado para dentro da mesma forma que seu mais novo companheiro havia sido.
Agora, faltavam apenas os dois irmãos. Waraioni sentia seu corpo arrepiar, como se os ossos estalassem em fuga, mas reprimiu esses instintos, dizendo logo após:
— Agora a gente vai ter que ir também, né? Não posso deixar Ônix pra trás.
Saito largou o cabo de sua arma, suspirando profundamente para alcançar a calma. Cerrou os olhos, fitando aquele portal com determinação.
Todos os seus instintos o alertavam sobre o desconhecido, mas seu irmão Ônix já havia avançado, tornando a escolha de não entrar nesse teletransportador algo inviável.
Começou a andar, sentindo o frio abraçar seu estômago e o suor frio dançar em sua testa. Olhou para trás, fitando seu irmão que o observava, e disse:
— Bora. Se morrer, morreu.
Por fim, tocou no portal, também sendo puxado para dentro. Agora, Waraioni estava sem seus irmãos, tendo apenas ele e o desafio à sua frente.
Ele suspirou lentamente, olhando para baixo, preparando seu corpo para agir. Observou o portal com um olhar preocupado e correu, jogando-se dentro dele.
Todos os integrantes estavam dentro daquele portal, tornando sua existência no exterior desnecessária, fazendo com que ele desaparecesse.
A rua retornou ao silêncio anterior. O ar violento não existia mais. Tudo voltou ao que era. Vejamos o desempenho de nossos três protagonistas.
Eles estavam individualmente na tela de carregamento, com somente escuridão ao redor, enquanto alguns poucos brilhos iluminavam o lugar. O silêncio era predominante, como se estivessem no fundo de um oceano escuro, afundando no abismo.
Pouco depois, todos reapareceram em uma arena cúbica completamente negra, do teto às paredes. Tudo era estranhamente vazio, com poucas vozes susurrando gemidos de dor, ecoando pelo local sem esforço algum.
Saito, com os olhos franzidos, observava cuidadosamente cada canto daquele escuro lugar, segurando firmemente o cabo da katana, pronto para cortar qualquer coisa que aparecesse em sua frente.
De repente, uma forte luz apareceu sem aviso algum, expulsando a escuridão com tanto ímpeto que os forçou a cobrir os olhos com o antebraço.
Ônix pensou: “O que é isso…?” enquanto os olhos entreabertos tentavam lutar contra a luz que insistia em cegá-lo, quase abraçando por completo seus olhos.
Aquele luminar começou a retroceder, baixando seu brilho para algo mais confortável. Os olhos dos jogadores encontravam-se lacrimejando, não por medo, mas devido ao brilho inesperado que os invadiu.
Waraioni abriu os olhos lentamente, observando cada canto daquele desconhecido lugar em um misto de cautela e medo, perguntando logo após:
— Puta que pariu, que porra foi essa?
Morfius estava suando frio, questionando a si mesmo se aquilo não era um sonho. Poucas risadas nervosas vazaram de seus lábios, respondendo:
— Eu também não sei…
Ônix olhou para o lado, notando um cronômetro com poucos segundos flutuando, indo em direção ao teto de forma suave, como se uma folha fosse levada.
“Gente, olhem ali!” Ônix apontou o dedo, fitando aquele contador cada vez mais próximo de tocar o teto em um ritmo ainda muito lento.
Seus companheiros ouviram sua voz ecoando e o olharam, também notando aquele grande cronômetro que agora estava com um tempo de cinco segundos.
Ele tocou o teto assim que seu tempo chegou a zero, espalhando-se pelo horizonte como uma bolha de fumaça lançada na parede. Graças a isso, aquele local escuro começou a ter luz própria, permitindo-lhes ver com mais clareza.
Nesse momento, a janela minimizada do sistema surgiu no centro daquela arena, fazendo aquele lugar brilhar levemente em tom ciano.
S1 Minimizado
Sejam todos bem-vindos! Este é um lugar separado especialmente para uma pessoa enfrentar um poder que deseja. No entanto, aparentemente há um erro aqui; este deveria ser um desafio individual…
Ele interrompeu-se por um momento. Sua tela começou a piscar repetidas vezes, e seu brilho baixou, como se lutasse contra si mesmo em busca da resposta. Sua interface alterou sua mensagem para “Procurando erros”.
Pouco depois, sua interface parou de piscar, e o tom ciano voltou ao seu vigor, atualizando a mensagem para “Nenhum erro encontrado”.
S1 Minimizado
Corrijam-me se eu estiver errado. Exceto pelo jogador Morfius, todos os restantes têm poderes personalizados, correto?
Ônix observava aquele sistema em tom ciano com cautela e um pouco de curiosidade, mas respondeu que sim para que o evento tivesse continuidade.
Saito ainda estava com a guarda alta, visando proteger seus amigos do que fosse aparecer. Morfius e Waraioni ainda estavam confusos com o que acontecia.
S1 Minimizado
Entendo… Nesse caso, vocês, mesmo que derrotem o desafio, não terão contribuição alguma na porcentagem.
Ônix ficou um tanto quanto confuso. Todos eles não teriam contribuição? Se sim, qual a finalidade desse desafio? Sua dúvida o fez indagar o sistema:
— Eu não entendi direito… Você diz de todos nós ou somente eu e meus irmãos? Também, o que é essa contribuição na porcentagem?
S1 Minimizado
Refiro-me somente a vocês três. Quanto à contribuição, é de costume mostrar uma certa porcentagem de contribuição em qualquer desafio que envolva derrotar um único inimigo poderoso, mas nem sempre isso acontece. Quando há somente uma pessoa, cem por cento da contribuição será destinada a ela.
Agora ficou mais claro. Originalmente, os desafios são destinados a somente uma pessoa, mas como as letras miúdas citam uma situação específica, acabou criando esse cenário.
— Acho que entendi. Então, se o Morfius não acertar nenhum golpe, ele ainda terá cem por cento da contribuição se vencermos o desafio?
S1 Minimizado
Você entendeu perfeitamente. Isso incomoda vocês?
Ônix respondeu que não os incomodava nem um pouco, pois eles tinham ido apenas para ajudar. Com isso, estava quase tudo pronto. O sistema prosseguiu:
S1 Minimizado
Certo. Quem obtiver cem por cento de contribuição neste desafio terá como recompensa uma substituição de seus poderes atuais e terá acesso total ao novo poder apresentado em breve. Vocês têm dez segundos para me apresentar alguma dúvida, caso tenham.
Ônix refletiu por um momento. Qual dúvida deveria apresentar? O máximo que conseguiu perguntar foi sobre a dificuldade do desafio, que o sistema respondeu da seguinte maneira:
S1 Minimizado
Dificuldade extrema. Este poder tem cento e oitenta desafios totais até agora; no entanto, todos que o desafiaram perderam suas vidas no processo.
Ônix agradeceu as informações dadas. Aquele sistema desapareceu, deixando o vazio novamente instaurar-se no lugar. Waraioni franziu os olhos enquanto suspirava, com a mão na cintura.
— Falar pra vocês que a situação tá foda, viu, rapaziada? Acabei de sair de um desafio extremo, achando que tava na paz, pra acabar de entrar em outro.
Sua fala ecoou pelo silêncio, fazendo Saito rir brevemente ao perceber o desconforto que vinha de seu irmão. Ao recuperar brevemente sua postura, disse:
— Tá com medo, Oni? É só a gente acabar com o oponente que vai vir.
Waraioni retrucou, dizendo que estava apenas cansado de bater em gente a todo momento. Logo depois, olhou para Morfius, indagando o seguinte:
— Morfius, vai ali no canto? Faz muito tempo que a gente não luta só nós três, entende?
Morfius nem questionou muito, só aceitou o pedido com um sorriso no rosto, quase flutuando de satisfação em seus passos ao saber que seu esforço seria mínimo.
Ônix olhou para Waraioni com um semblante entristecido e confuso, alegando que Morfius poderia ajudar a longa distância com os poderes que ele tinha.
Waraioni respondeu que o motivo da decisão foi apenas para ele lutar com seus irmãos. Saito apoiou a ideia de seu irmão, dizendo que foi uma boa escolha e que também estava atrás disso.
De repente, o clima pesou, como se um peso invisível tivesse sido posto em suas costas. Suas pernas falhavam, como se desejassem ajoelhar-se em reverência.
O braço de uma criatura cinzenta começou a se erguer do chão, com sua mão levantada para o céu, como se tentasse se agarrar em algo invisível para não sufocar.
Quando conseguiu se retirar por completo, estava ajoelhado, olhando para o chão, respirando fundo lentamente enquanto fumaça vazava de sua boca.
Levantou-se. Seus olhos dourados observavam friamente seus atuais oponentes, enquanto uma grande olheira se destacava como um aviso de seu cansaço.
Seu cabelo, outrora escuro, começou a brilhar pouco a pouco, alternando para a cor amarela, enquanto uma aura da mesma cor cobria seu corpo.
Algumas miragens de si mesmo surgiam de seus pés, agarrando sua perna enquanto gemiam de dor ao observá-lo. Ele olhou para cada uma delas com cuidado; os lábios levemente torcidos, enquanto seu olhar caía lentamente.
De repente, elas começaram a virar partículas azuis e foram absorvidas por seu corpo, desaparecendo do lugar. Ele voltou o olhar para seus atuais adversários e posicionou-se para avançar, tocando o chão com seus dedos como um corredor cuidadosamente preparado.
Saito o observava com um olhar fixo. Um suor frio escorria pelo seu rosto, enquanto os pulmões se negavam a respirar. Ele juntou forças em seu punho e apertou o cabo da katana com força, tentando retirá-la de lá, mas sem conseguir, como se ela estivesse colada.
“Meu corpo não me responde?!”
Sem que percebesse, a criatura estava à sua frente, com o joelho quase acertando seu rosto com precisão. Saito só teve tempo de virar seu rosto, com os olhos arregalados, vendo o golpe a centímetros de acertá-lo.
De repente, no último instante, Ônix pôs a mão na nuca de seu irmão e o abaixou, evitando que ele fosse atingido. Olhou para o monstro se afastando e assobiou, dizendo:
— Essa foi por pouco.
Aquele guerreiro cinza preparou os pés para o pouso, deslizando no chão e deixando seus rastros para trás. Junto com o deslize, um som agudo levantou-se, acompanhado da fumaça que começou a se erguer.
Saito olhou para trás, observando aquela fumaça enquanto tocava repetidamente o próprio rosto. Waraioni correu para seu lado, com um olhar preocupado.
— Tá tudo bem? Cê quase ficou todo fodido.
Saito riu de nervoso, tocando seu rosto, verificando se ainda estava lá. Respondeu que achava que estava bem e que, pelo visto, a cabeça ainda estava no lugar.
A fumaça finalmente se dissipou, revelando aquele ser observando-os com olhos arregalados e a boca entreaberta, pensando consigo:
“Eles conseguiram sobreviver ao primeiro golpe…? Incrível… Será que agora eu finalmente vou conseguir escapar das amarras do sistema?”
Os passos suaves de Ônix começaram a ecoar pelo local, indo em direção ao seu atual oponente, o que o fez voltar à realidade. Saito o seguia, escondendo-se atrás dele, enquanto Waraioni os acompanhava, ligeiramente recuado.
A criatura olhou para os olhos estrelados de Ônix e sentiu o corpo suavizar lentamente, como se um peso saísse de seu peito. Indagou a si:
“Será que esse garoto me entende…?”
Sem poder fazer nada a respeito, levantou a guarda e começou a correr em direção aos inimigos. Quando chegou perto o suficiente, preparou um soco de esquerda e o lançou.
Ônix bloqueou o ataque com a palma e segurou seu punho com força, como se tentasse esmagá-lo. O monstro sentiu os ossos da mão estalarem e encolherem-se, o que o fez cerrar os lábios de dor enquanto tentava aguentar.
“Que… força é essa?”
Atrás de Ônix havia duas figuras preparando seus ataques pelas costas, prestes a atingi-lo. Os olhos, tão focados e intensos como a água, pareciam queimar o ar.
“Estranho… Vão matar esse garoto e me oferecer para tentarem escapar com vida?”
Sem que percebesse, Ônix transformou-se em uma névoa sombria e desapareceu de sua frente, dando espaço para que Saito e Waraioni pudessem atingir o adversário.
“Impossível… Ele sumiu?”
Saito acertou sua costela esquerda em cheio com um gancho preciso, enquanto cerrava os dentes e as veias do braço se dilatavam. Waraioni, com os olhos fechados e concentrados, chutou a costela direita do adversário, fazendo-o inclinar-se ligeiramente para o lado.
Ônix reapareceu atrás dele e o golpeou com um soco preciso na costela. Um som pesado ecoou pelo local, como se um canhão tivesse sido disparado.
Próximo Capítulo: Sincronia Perfeita.
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