Volume 01 - Capítulo 11: Não Vá

Capítulo 11

Não vá

Tradutor: Zekaev

— Ranta! Tem um vindo na sua direção! — Haruhiro, deu um aviso.

— Eu sei! Não tem necessidade de me dizer! — Bramiu Ranta, uma resposta imediata.

Moguzo e Manato ficaram posicionados na frente enquanto Yumi e Shihori lutaram atrás. Um dos três goblins com o qual Moguzo e Manato estavam lutando deslizou entre eles rumo às garotas. Ranta estava mais próximo delas. Apesar de ele e Haruhiro apoiarem as linhas de frente, flanqueando e surpreendendo os inimigos, seu objetivo principal era defender as duas na parte de trás também. Ranta moveu-se para interceptar.

Mesmo que, às vezes, Ranta ainda quebrasse a formação para agir por conta própria, seu trabalho em equipe tinha melhorado nos treze dias que se passaram desde a primeira vez em Damroww, quando começaram a caça aos goblins. E hoje ele estava agindo em sintonia com o grupo.

Ranta soltou um grito de guerra. — Impulso de Raiva. — E atacou.

Ou talvez não. Ranta enfiou a espada no goblin, com sua habilidade recém-aprendida, mas estava fora do alcance da técnica. Ele errou de forma espetacular.

— Eu errei?! Ele não pode, simplesmente, ser um goblin normal! — Ranta declarou.

— É claro que é um goblin normal! — Haruhiro estalou, trocando um olhar com Manato.

Manato e Moguzo definitivamente podem lutar sozinhos contra seus adversários, Haruhiro correu para se posicionar diretamente atrás do goblin que atacava Ranta com uma espada enferrujada.

— Droga! — Ranta amaldiçoou, olhando para Haruhiro enquanto ele desviava dos golpes do goblin.

Pare de me olhar! Haruhiro pensou.

Não era apenas Ranta que tinha aprendido uma nova técnica de combate. Todos tinham retornado às suas alianças e adquirido uma nova habilidade. No entanto, eles estavam ainda em um nível onde só entendiam a teoria; nenhum deles possuía a confiança necessária para fazer uso prático de suas novas habilidades em uma luta, ainda. Mas se não tentarem utilizar suas habilidades em uma luta, eles nunca chegarão a um nível prático de proficiência.

Considerando o fato de que ele pagou uma boa quantia de dinheiro para a aliança lhe ensinar a nova técnica, Haruhiro estava determinado a fazer uso dela.

Mais fácil falar do que fazer. O goblin tinha alguma suspeita dele e olhou para trás, muitas vezes, desajeitadamente balançando sua espada contra Haruhiro numa tentativa de frustrar os eventuais ataques furtivos. Ele teve dificuldade para encontrar qualquer abertura. Se Ranta simplesmente chamasse sua atenção… Mas isso seria pedir muito para um cara como ele. Ranta não era do tipo que luta de frente contra um inimigo e Haruhiro também não.

Ambos estavam com medo de enfrentar um inimigo diretamente, preferindo atacar pelas costas ou pelas laterais. Por isso, tanto Haruhiro, quanto Ranta circundaram o goblin, tentando assumir uma posição atrás dele. O goblin, é claro, não queria qualquer inimigo em uma posição tão desvantajosa e, para evitar isso, ele girava entre um e outro rapidamente, ninguém tinha ideia de onde estava as costas e a frente do goblin.

— Alguém faça alguma coisa! — Yumi puxou a kukri e saltou para o goblin.

Pego de surpresa, o goblin parou de se mover por uma fração de segundo, e Yumi cortou com a kukri em um padrão cruzado. — Corte Cruzado!

O goblin gritou e se afastou, tendo um corte superficial do ombro ao peito. Ele agora estava de costas para Haruhiro.

Agora! E assim como ele pensou, seu corpo se moveu. Em um instante, cobriu a distância entre ele e o goblin enfiando o punhal em suas costas. — Punhalada pelas Costas. O goblin vestia um único couro macio como armadura, então a adaga de Haruhiro tinha entrado pelo menos quatro polegadas nele. Grunhindo por conta do esforço, ele puxou-a de volta e se retirou enquanto o goblin tossia.

O goblin tossiu sangue, parecia que estava se preparando para fazer alguma coisa e, em seguida, caiu subitamente, se contorcendo. Ele ainda estava vivo, mas acabado. Não fosse o caso, ainda estaria lutando.

— Huh? — Haruhiro olhou para o goblin abatido. — Será que eu… Apunhalei em um bom local, ou eu acertei um local ruim?

— Tenho que matar ele! — Ranta saltou para o goblin e cortou sua garganta com a espada. — Sim! Agora tenho o meu sacrifício!

Yumi estreitou as sobrancelhas. — Yumi sempre pensa a mesma coisa quando vê um sacrifício, Cavaleiros do Terror realmente são selvagens.

— Eu não sou um selvagem! Eu sou um nobre cruel! Somos Cavaleiros do Terror, fazemos a oferenda ao Senhor Skulheill. “Nós somos desumanos, sem coração, nós somos cavaleiros sem sangue, sem lágrimas; nossos inimigos sofrerão em nossas lâminas”.

— Oom rel eckt. — Shihori gritou, desenhando um glifo elemental com seu cajado. — Vel dash!

Magos usam o poder de seres mágicos chamados elementais, e a sombra elementar que Shihori tinha acabado de convocar na frente dela tinha a aparência de um fio preto crespo de algas. Foi o feitiço Eco Sombrio, ele voou para a frente com um peculiar som de voash!.

Shihori poderia ter escolhido aprender a magia de fogo, Alev, a magia de gelo ,Kanon, ou até mesmo a magia de um raio ,Pfatlz. Mas em vez disso, ela escolheu a magia de sombra, Das. Haruhiro teve uma nítida sensação de que isso era, talvez, a personalidade de Shihori começando a se revelar.

O elemental sombrio acertou o goblin com o qual Manato estava lutando, na parte de trás da cabeça. No entanto, não afetou apenas a sua cabeça, seu corpo inteiro começou a tremer.

— Gah! Gah! — O goblin gritou com uma voz estranha.

Eco Sombrio não era uma magia que queimava, congelava, ou eletrocutava, mas fazia seu dano através de ondas de alta frequência. Como esperado de Manato, ele aproveitou a magia para dar um golpe usando seu cajado e, sem demoras, chutou o goblin fazendo-o cair.

— Corte de Ódio! — Ranta violentamente atacou o goblin caído.

Atacar algo quando já estava caído era uma das “habilidades especiais” de Ranta. O senso comum diria que não era necessário o uso de suas técnicas de luta em inimigos já debilitados e quase mortos, mas algumas pessoas desconhecem o senso comum. A espada longa de Ranta cortou através do ar e… não finalizou. O golpe rebateu após atingir o rígido osso da cabeça do goblin. Ranta ficou enfurecido.

— DESGRAÇADO!! Quem você pensa que é! Tome isso! E isso! E isso! — Ranta gritou, batendo nele de novo e de novo.

Enquanto Ranta abusava do goblin moribundo, Moguzo ainda estava lutando contra o único goblin remanescente. Eles tinham que finalizá-lo. Mas, para Haruhiro, não parecia que Moguzo precisava de ajuda. O goblin atacou com um grito selvagem, tentando cortar Moguzo com a lâmina enferrujada da sua espada. Moguzo interceptou o ataque perfeitamente, usando sua espada bastarda para bloquear a lâmina, e parou os movimentos do goblin.

Foi aqui que Moguzo mostrou sua superioridade. Ele tinha uma força considerável e aprendeu uma técnica de acompanhamento. Com um grunhido, Moguzo girou a espada do goblin em torno da sua, e depois usou a ponta para cortar o rosto do goblin. Golpe em Espiral. Moguzo não era rápido, mas era suficientemente ágil. O goblin estremeceu e recuou.

Haruhiro gritou em incentivo. — Vai, Moguzo! — E Moguzo foi.

Ele deu um passo para a frente e cortou em diagonal com toda a sua força, gritando. — OBRIGADO!!

A técnica de Moguzo, Golpe em Espiral, é o mais básico das habilidades básicas ensinadas aos guerreiros durante sua iniciação na Guilda dos Guerreiros. Parecia algo que poderia ser assimilado apenas por imitação, mas não era uma habilidade tão fácil de executar. A razão pela qual Moguzo gritou “obrigado” ao usar Golpe em Espiral foi porque representava “obrigado por me deixar matar você”, um costume entre os guerreiros.

Mas, por trás de uma palavra aparentemente tão inocente, havia uma quantidade formidável de força. A espada bastarda de Moguzo cortou o goblin a partir do topo do ombro até o meio do peito. Ele girou e o goblin que foi levantado no ar pela espada bastarda, ainda presa em seu peito. Então, com um grunhido de esforço, Moguzo atirou-o longe, mandando o corpo pelos ares quando puxou sua espada de volta.

Ranta correu atrás do goblin, soltando um grito de triunfo, em seguida, partiu para despedaçar o goblin com sua espada longa. Yumi apenas pensava assim: Ranta realmente é um selvagem. O que ele estava fazendo era completamente bárbaro. E, enquanto ele cortava o corpo do goblin, usou uma faca para extrair uma das orelhas pontudas.

— Três sacrifícios seguidos! — Ele riu com alegria. — Isso dá um total de onze sacrifícios e é um bom fortalecimento pro meu demônio! Se ele estiver de bom humor, vai sussurrar coisas nos ouvidos do inimigo para me ajudar! Fantástico!

— O que você quer dizer com, “Se ele estiver de bom humor”? — Haruhiro suspirou. — Então, na verdade, o demônio de um Cavaleiro do Terror é inútil.

— Ei! Como ousa, Haruhiro! — Ranta retrucou de volta. — Não zombe descaradamente do meu Zodíac! Eu vou ter que te amaldiçoar!

Aparentemente “Zodiac” era o nome que Ranta tinha dado a seu demônio. Ou era seu nome real? Talvez um nome de um animal de estimação? Haruhiro não sabia, mas isso não importava. Não muda o fato de que era inútil.

— Tá bom, talvez eu não esteja certo, só talvez. Mas você sequer pode chamá-lo durante o dia. — Disse Haruhiro.

— Idiota! Já que eu coletei onze sacrifícios, eu melhorei! Agora eu posso invocá-lo no pôr do Sol e durante o nascer do Sol!

— Ainda inútil pois temos que retornar para Allpea ao pôr do Sol e ninguém está acordado ao nascer do sol.

— Está certo, mas… — Yumi tinha seu rosto inchado de aborrecimento, mas seus olhos brilhavam. Uma expressão complicada de ler. — Já que o mestre tem o cérebro todo zoado, provavelmente ele é bonitinho.

— Eu não sou seu mestre! Demônios não são como animais de estimação! Zodiac me possui. É um demônio apesar de tudo!

— Então isso significa. — Shihori disse, rindo baixinho e evitando olhar para Ranta. — Que antes que você possa usá-lo para amaldiçoar Haruhiro, você vai ter que amaldiçoar a si mesmo.

— Sim, eu acho que está certo. Espere o que?! Ah, sério?! Zodíac, isso é verdade? Me responde, Zodíac! Oh, ainda é dia, ele não pode me ouvir…

— Bom trabalho, todo mundo. — Disse Manato, olhando para todos com um sorriso. — Alguém está ferido? Parece que não, mas eu vou curar qualquer um que precise. Se todo mundo está bem, então vamos dar uma olhada nas bolsas dos goblins.

— Eu! Eu, eu, eu! Eu vou fazer isso! Deixa eu fazer! — Ranta se ofereceu prontamente.

Dentro das três bolsas estavam sete pratas, duas pedras que pareciam preciosas, três presas e ossos que ninguém tinha certeza se poderia vender ou não e alguns pedaços de lixo que, definitivamente, não valiam nada. Dependendo de por quanto as pedras poderiam ser vendidas, isso significava que eles ganharam cerca de dez ou, no mínimo, oito pratas.

Eles deixaram Allpea às sete da manhã, chegaram em Damroww por volta das oito horas e já era meio-dia. Enterraram os cadáveres dos goblins em covas rasas e, depois, fizeram uma pausa para o almoço em uma área um pouco distante dali. Todos tinham almoços embalados, que consistiam em pão e carne seca, similares em suas mochilas ou sacos. Foi um momento agradável para o grupo.

— Precisamos dar graças. — Yumi cortou algumas pequenas tiras finas da carne seca que ela tinha embalado e colocou-as no chão. Fechando os olhos e dobrando as mãos, rezou. — Obrigado, Eldritch. Aqui está uma oferta por sua proteção contínua.

— Orar e fazer oferendas. — Haruhiro falou, dando uma mordida no pão. — Fazer isso antes de cada refeição é algo que é exigido pela Guilda dos Caçadores? — Ele tinha comprado o pão em uma padaria de Tattan fora de Nishimachi. Era duro como pedra, mas barato e inesperadamente saboroso.

— Sim. — Yumi abriu os olhos e voltou seu olhar em direção Haruhiro. — A Deusa Branca, Eldritch, é uma loba gigante e há sangue ruim entre ela e o Deus Negro Rigel, que também é um lobo gigante. É por causa da proteção de Eldritch que podemos caçar e passar nossos dias em segurança.

— Em outras palavras, caçadores adoram ela, certo? — Disse Haruhiro. — A Deusa Eldritch. É realmente bom rezar de modo informal e oferecem tão pouco?

— Está tudo bem. — Yumi riu. — Eldritch tem um enorme coração, não acho que ela vai ficar com raiva de algo assim… Não que haja qualquer coisa para ela ficar brava.

— Eu acho… — Shihori estava segurando algum tipo de rosquinha delicadamente em suas mãos. — A Deusa Eldritch entende os sentimentos de Yumi. Ou pelo menos eu acredito que sim…

Manato tomou um gole de uma garrafa de couro e concordou com a cabeça. — Claro, palavras são importantes, mas ainda mais importante são os sentimentos por trás das palavras. Quando nós, sacerdotes, usamos a magia de luz, o feitiço não funciona se fizermos o encantamento errado, mas isso não é realmente o mesmo que a oração da Yumi para Eldritch.

— Yumi está estourando, cheia de sentimentos. — Disse Yumi, erguendo ambos os braços. — Quando Yumi dorme à noite, Eldritch vem com ela em seus sonhos. Yumi perguntou se podia montar Eldritch e Eldritch disse que sim. Yumi subiu nas costas de Eldritch e ela correu tão rápido! Foi incrível!

— Então. — Ranta disse, franzindo a testa enquanto ele mastigava barulhentamente um pedaço de carne seca — Onde está a piada? Eu escutei essa história tosca esse tempo todo, esperando a graça, então qual é a graça? Se você não preparou uma boa piada, eu juro que vou socar você!

—Graça? — Yumi piscou e inclinou a cabeça para um lado. — Não há nenhuma piada.

— O quê !? — Ranta inclinou-se dramaticamente. — Idiota! Qual é a graça de uma história tão longa sem uma piada?! O que você vai fazer se eu me afogar em um redemoinho de expectativas frustradas?

— Como se uma coisa fosse ruim. — Disse Shihori em uma voz baixa. — Se você apenas se afogar e morrer.

— Hey! — Ranta apontou o dedo para Shihori. — Ei! Ei! Eu te ouvi! Eu ouvi o que você disse, Shihori! Você quer que eu morra!

— Eu estava apenas dizendo. Como poderia ser uma coisa ruim se você fosse morrer por afogamento?

— Se você sugerir a morte de alguém, não importa se faz isso educadamente! Você é a pior! A pior ser humana! A pior vilã podre em toda a história!

— Apenas o ignore, Shihori. — Yumi disse, abraçando Shihori e gentilmente acariciando-lhe a cabeça. — Não há necessidade de ouvir qualquer coisa que o mais baixo dos canalhas diz. Shihori não fez nada de errado. É o canalha que é ruim. Ele é tão baixo que não pode sequer ser considerado humano.

— Eu sou humano!

— Um ser humano de cabelos encaracolados? — Disse Haruhiro e Ranta afirmou com: “Sim, de cabelos encaracolados…”. Então olhou para Haruhiro.

— Meu tipo de cabelo não tem nada a ver com isso! — Disse Ranta, puxando uma mecha de cabelo. — Na verdade, uma pessoa com cabelo igual ao meu é uma boa pessoa! Pessoas sem cabelo encaracolado é que não são pessoas de verdade!

— Nesse caso. — Moguzo engoliu um bocado de pão do tamanho de um punho. — Eu não sou humano.

— Yumi também. — Disse Yumi.

— … eu também. — Shihori acrescentou.

— O mesmo aqui. — Haruhiro concordou.

— Espere. — Disse Manato com uma expressão parcialmente solene. — Vamos pensar sobre isso racionalmente. Cabelos encaracolados são realmente o problema? Eu não acho que seja. Não há absolutamente nada de errado com o cabelo encaracolado em si. Na verdade, esse cabelo pode até mesmo ser a vítima aqui…

— Huh? — Ranta puxou seu cabelo. — Vítima? Meu cabelo? Então, isso significa que eu sou o criminoso?! E é por minha causa que o cabelo encaracolado tornou-se uma coisa ruim !?

— Ranta, estou apenas brincando.

— Puta merda, Manato! Você sempre tem aquele sorriso em seu rosto, então não sei dizer quando você está brincando ou falando sério! Você é um barriga-preta, traidor mascarado!

— EE-ele não é! — Shihori de repente se levantou, o rosto estava vermelho brilhante. Ela ficou muito indignada e parecia que vapor ia subir da sua cabeça. — Manato não é um barriga-preta ou um traidor! Você tem que retirar o que disse, agora!

Ranta se encolheu. — Certo, mas eu tenho um ponto, não? Se você pensar sobre isso, se eu tenho que retirar o que eu disse, então tenho o direito de que retirem algumas coisinhas também.

— Retirar o que disse! — Shihori exigiu.

— Certo, certo! Entendi. Eu retiro o que eu disse. Manato não é um barriga-preta. Ele é um barriga-branca. Eu sei disso porque vejo a barriga dele todos os dias, no banho. É branca, a barriga do Manato. E sério. Branca! Branca demais para um cara. Até mesmo para uma menina, seria um nível elevado de brancura.

— Branca… — Shihori deu uma leve balançada para frente e para trás. — Barriga de Manato… Banhos…

— Mais branca do que uma menina, hein. — Manato levantou as vestes exteriores de sacerdote e depois a camisa por baixo. — Eu realmente não acho que seja, mas Haruhiro, minha barriga é muito branca?

— Er, bem… — Haruhiro olhou de Shihori para Manato e, em seguida, para Shihori, depois, para Manato novamente.

Na verdade seu abdômen era branco, mas a pele do Shihori era mais. Mas esse não era realmente o ponto. Haruhiro já tinha suas próprias suspeitas, mas agora ele sabia com certeza. Shihori gostava de Manato. Manato estava fingindo não ter notado? Se assim for, então Haruhiro se sentia mal por ela, ou, talvez, ele não se sentia tão mal assim.

— Eu acho que é muito branca, agora que você mencionou. Sim, branca. E sua pele é muito suave também. — Disse Haruhiro.

— Suave… Pele… — Ela parecia que ia cair a qualquer momento. — Pele… Suave…

— Shihori… Você está bem? — Yumi se aproximou para apoiar a Shihori instável. — Não é realmente bom fantasiar demais de uma só vez. É melhor fantasiar um pouco de cada vez. Shihori? Shihori?

Shihori suspirou profundamente e encostou-se em Yumi, em transe completo.

Oops, Haruhiro pensou. Talvez eu tenha exagerado… Mas naquele momento, de repente, ele percebeu o quão interessante é bonitinha Shihori era.

Ranta zombou com certo desgosto e se virou. Ele começou a comer seu almoço, demonstrando total desinteresse. Seria possível que Ranta gostava de Shihori? E Shihori parecia estar interessada em Manato, então Ranta estava chateado com isso?

Se for assim, Ranta deveria repensar muitas coisas. Ele não tinha feito nada, até agora, que levaria uma garota gostar dele. Na verdade, tudo o que ele estava fazendo só aumentava o ódio que as meninas tinham dele.

— Nós realmente nos tornamos uma boa equipe. — Manato sussurrou.

— Oh? — Haruhiro respondeu.

— Nós fomos capazes de derrotar três goblins em pouco tempo e sem problemas, ninguém ficou ferido, o que significa que conseguimos derrotá-los muito facilmente. Yumi é muito melhor em lidar com uma kukri do que um arco; na verdade, ela é muito boa com essa adaga. Se planejarmos cuidadosamente, provavelmente podemos derrotar quatro de uma vez.

— Entendo… — Haruhiro pensou sobre isso por um momento.

Moguzo e Manato poderiam lutar com um inimigo cada, enquanto ele, Ranta e Yumi cuidariam dos outros dois. Shihori consegue incapacitar imediatamente um deles com a habilidade Eco Sombrio e, se o alvo fosse eliminado sem demoras, então ele imaginou que seria possível gerenciar os quatro membros do grupo.

— Sim, é bem provável que podemos lidar com quatro. — Haruhiro concordou.

— Moguzo tornou-se indispensável para nós. Ele é tão grande que apenas sua presença em uma luta intimida os nossos adversários. Ele também tem uma precisão razoável ao lidar com essa lâmina grande, por isso, quando ele a balança, com certeza tem muito efeito.

— Eu também penso assim. — Disse Haruhiro. — A esgrima do Moguzo é muito boa.

Moguzo engoliu outro pedaço de pão. — S-sério? Eu não tenho tanta certeza, mas eu gosto de lidar com trabalhos que exigem precisão.

— Isso não combina com você! — Ranta explodiu em raiva, sem nenhuma razão aparente, fazendo Moguzo vacilar. — Ou, pelo menos, é o que eu acho.

Haruhiro olhou de soslaio para Ranta. — É outra coisa boa. Moguzo não age como um delinquente juvenil, ao contrário de alguém aqui.

— Oh? — Ranta retrucou de volta. — Você está falando de mim? Você sabe que meu apelido é “Máquina de precisão turbinada”, né?

Yumi, que estava afagando Shihori tranquilamente, olhou para Ranta friamente. — Yumi acha que ninguém nunca chamou Ranta assim, nem sequer uma vez.

— Ranta é incrível. — A expressão solene de Manato indicou que ele não estava brincando. — Ele está sempre na ofensiva, atacando com tudo. Ele não tem medo de errar, então, provavelmente, vai dominar as habilidades mais rápido do que qualquer um. Todos os outros, inclusive eu, somos receosos. Se não fosse por Ranta, nunca seríamos capazes de continuar avançando.

— É mesmo? — A expressão de Ranta demonstrava incerteza. — Nesse caso, o meu apelido é “Máquina de avanço ciclone”.

— O que aconteceu com “Máquina de precisão turbinada”? — Haruhiro o observou de maneira pragmática.

— E Shihori… — Manato fez uma pausa. Ele deve ter analisado cuidadosamente os pensamentos de Shihori, Haruhiro adivinhou. — Shihori tem uma boa compreensão do quadro geral da situação. A maioria dos seus feitiços é para confundir ou atordoar os inimigos e apoiar a equipe em lutas. Ela escolheu aprender magia negra para que ela possa nos ajudar em uma batalha. Certo, Shihori?

Shihori ficou impressionada e surpresa por um momento e, em seguida, deu um aceno silencioso, mas decisivo. Haruhiro pensou que era impressionante Shihori poder escolher muitas especializações como fogo, gelo, ou mágica de luz. Talvez, não exatamente o mais adequado à ela, mas Shihori simplesmente não escolheu a que mais gostava, pensou sobre o bem da equipe antes de escolher.

Eu sou um idiota. Haruhiro pensou. Eu realmente não sei tudo sobre ela.

Agora, Manato direcionou seu olhar para Yumi. — Yumi é corajosa. Ela provavelmente tem mais coragem do que qualquer um de nós. Como curandeiro, às vezes eu só quero que ela seja mais cuidadosa, mas se alguma coisa acontecer, Yumi não hesitaria em ajudar.

— Yumi não iria? — Yumi apontou para si mesma. Sua expressão ficou mais suave. — Yumi realmente não sente medo de brigas, mas Yumi nunca foi chamada de corajosa antes. Talvez você esteja certo. Desculpem-me por não ser boa com o arco, embora Yumi seja uma caçadora.

— Todo mundo é bom em alguma coisa, mas não tem como ser bom em tudo. — Disse Manato, mais para si mesmo do que para os outros. — Há momentos em que qualquer uma dessas coisas pode se tornar uma falha fatal para uma pessoa solitária, mas nós somos uma equipe. Cobrimos as fraquezas uns dos outros.

— É verdade. — Yumi balançou a cabeça várias vezes. — Muito verdadeiro. A partir de agora, Yumi vai tentar o meu brestest para não arrastar a equipe para baixo.

Ranta zombou. — Você quis dizer “bestest”. Não “brestest” certo? “Brestest” soa como um tipo especial de seios.

Yumi passou as mãos sobre seus seios. — Yumi se pergunta como seios brestest seriam. Eles são, provavelmente, um tipo completamente diferentes dos pequenos de Yumi.

Foi uma boa oportunidade para ficar quieto, mas Haruhiro não se conteve: “Talvez seja um sub-tipo”.

Yumi olhou para Haruhiro, sua expressão completamente séria. — Haru, você realmente acha isso?

— Err… talvez. Quem sabe?

— Que tipo de sub-tipo? Brestest. Ele deve ser bonito naquela parte do meio.

— B-Br… — Moguzo começou a dizer. A atenção de todos de repente se virou para ele. Suor, de repente, começou a escorrer de sua testa e ele limpou-a com uma mão. — U-uh… na verdade. Não, deixa pra lá.

— Agora estou curiosa. — Disse Shihori, com seus olhos vidrados em Moguzo.

Moguzo virou seu olhar para o chão e, depois de um tempo, finalmente disse: “D-desculpe.”

Com o seu pedido de desculpas, ninguém mais perguntou qualquer outra coisa, mas o que diabos ele queria dizer? Shihori não era a única que estava com curiosidade.

A prosa continuou por mais algum tempo quando eles terminaram o almoço. À tarde, o turno vespertino de caça aos goblins começou. Só depois que a conversa acabou foi que Haruhiro percebeu uma coisa: Manato tinha elogiado todos, exceto ele, mas decidiu deixar isso de lado. Talvez Manato tenha apenas esquecido dele. Ou talvez não haja nada sobre ele que valia a pena elogiar.

Será que Manato tinha uma opinião ruim sobre ele? Mesmo que eles sempre conversassem, será que Manato vê ele como nada mais do que alguém para conversar de vez em quando? Foi bastante deprimente pensar assim. Mas não era como se ele simplesmente pudesse ir até o Manato agora e perguntar “Ei, quanto a mim?”. Mendigar elogios é patético.

Esqueça, ele disse a si mesmo.

Manato simplesmente esqueceu, ou o rumo da conversa tinha mudado antes que Manato chegasse nele. Tinha que ser uma dessas duas razões, Haruhiro estava convicto. Ele se sentiu um pouco melhor, mas só um pouquinho mesmo.

Concentre-se. Ele tinha que se concentrar na tarefa atual.

Haruhiro levantou uma mão, um sinal para a equipe parar. — Tem alguma coisa lá…

O aviso foi suficiente para que todos rapidamente se ocultassem enquanto Haruhiro, como de costume, foi em frente sozinho. Ranta também vinha em raras ocasiões, mas para ser honesto, era mais fácil quando ele ia sozinho e a única pessoa com quem ele tinha que se preocupar era ele mesmo.

É claro que ele estava fazendo o seu melhor para evitar qualquer barulho enquanto se movia, mas, uma vez que ele tivesse dinheiro suficiente, a habilidade Passos Furtivos seria aquela que aprenderia. Havia, definitivamente, algum tipo de truque em ser capaz de se mover silenciosamente e ele queria aprender isso. Queria a Mestre Bárbara para ensiná-lo.

Os goblins estavam dentro de um edifício de dois andares, desmoronando e feito de pedra. O segundo andar da varanda era basicamente inexistente e uma parte das paredes do primeiro andar tinha desmoronado. No segundo andar havia um goblin com armadura de placas carregando uma espada amarrada às suas costas. Um segundo goblin estava sentado no chão do primeiro andar. Ele era bem grande para um goblin.

Goblins normais tinham a altura de crianças humanas, geralmente, algo em torno de 1,2 metros. Qualquer goblin que atingisse 1,3 metros, ou mais, já seria considerado um gigante para sua espécie. Este goblin sentado no primeiro andar, porém, era diferente. Foi difícil discernir essa “diferença” a partir da distância em que Haruhiro estava, mas parecia ser, mais ou menos, meio metro maior que o goblin no segundo andar.

Foi a primeira vez que Haruhiro tinha visto um goblin assim, e ele não conseguia identificar o tipo de arma que a criatura carregava, embora vestisse uma armadura de cota de malha. Haruhiro continuou a explorar as áreas em torno do edifício, mas não havia outros goblins em torno, então eram apenas o goblin de armadura de placas e o “gigante”. Haruhiro retornou para os outros.

— Más notícias. — Relatou ele. — Há apenas dois, mas um é enorme. Quase a mesma altura que nós.

Os olhos de Manato se arregalaram levemente. — Um hobgoblin. Uma subespécie de goblin, mas maior e mais forte do que um goblin normal. Eles são selvagens, mas não muito inteligentes. Goblins os usam como servos às vezes.

Ranta lambeu os lábios. — Se ele tem um servo, deve ser muito rico. E tenho certeza que ele deve estar carregando um monte de coisas valiosas.

Haruhiro coçou o queixo com a ponta de um dedo. — Você pode estar certo. Ele tinha armadura de placas e o hobgoblin estava vestindo armadura de cota de malha completa e com um capacete. Esse capacete pode até ser grande o suficiente para um de nós usar.

Moguzo suspirou alto. Para os guerreiros, que tinham de enfrentar seus oponentes de frente a frente, os equipamentos de proteção eram especialmente importantes. No entanto, uma armadura era cara. Armaduras novas e de boa qualidade estavam fora de questão, portanto, as únicas outras opções eram armaduras usadas que se ajustassem corretamente, mas essas são extremamente raras, ou ir a um ferreiro para ajustar o tamanho da armadura usada. Por causa disso, todos, incluindo Moguzo, ainda usavam o equipamento de segunda mão que suas guildas forneceram.

— Dois goblins. — Manato lançou seu olhar para baixo, imerso em pensamentos.

Os olhos de Yumi foram ligeiramente em direção ao céu, como ela disse. — Se são apenas dois, Yumi acha que podemos derrotá-los.

— Eu posso perturbar um com a minha magia. — Disse Shihori, apertando seu cajado. — Deve ser fácil depois disso.

— Yumi também tentará atacar com seu arco. Se Yumi falhar, ainda chamará a atenção do goblin, então Yumi também acha que nós podemos vencê-los.

Manato olhou para cada um de seus companheiros de equipe. Talvez porque haviam sido elogiados por Manato mais cedo, mas a moral de todo mundo estava alta e eles estavam ansiosos para a batalha. A tensão no ar era mais espessa do que o usual. Haruhiro particularmente não compartilhava esse sentimento, mas ele não queria acabar com a excitação de todos.

— Nós estamos indo para eles? — Perguntou ele, e Manato assentiu.

— Vamos fazer isso.

Um plano de batalha foi rapidamente inventado. Haruhito, Yumi, e Shihori irão primeiro, atacando à distância. Após o inimigo perceber que está sob ataque, Moguzo e Manato vão ocupar suas posições na linha de frente. Enquanto Moguzo fica com o hobgoblin, e Manato cuida do goblin com armadura de placas. Haruhiro, Ranta, e Yumi iram pressionar o ataque pelos flancos enquanto Shihori daria suporte com magia, à distância.

A equipe inteira formou um círculo e empilhou as mãos no centro.

— Lute! — Manato chamou em voz baixa, e o resto respondeu como um com. — Tudo ou nada! — Em voz igualmente macia.

Tinham começado esse pequeno ritual pré-luta há algum tempo, mas interiormente Haruhiro sempre achou que era um pouco estranho. — Por que “Lute! Tudo ou nada!” ? — Pensou em voz alta.

Shihori inclinou a cabeça para um lado. — Eu não sei… Mas sinto que é familiar, por algum motivo.

— Yumi sente também. — Disse Yumi. — Mas Yumi não sabe o porquê. Estranho.

Haruhiro liderou o caminho com Yumi e Shihori para a construção de dois andares. Manato, Moguzo, e Ranta os seguiram cerca de sete metros atrás. O arco de Yumi tinha o maior alcance, mas a magia de Shihori cobria até 9 metros de distância. Eles conseguiriam chegar a 9 metros dos goblins sem serem detectados?

Não ia ser fácil, e talvez até mesmo impossível, devido a um muro que os cercava fora do edifício. Havia um bom espaço de 15 metros abertos entre a parede e o próprio edifício. Assim que eles cruzarem a parede, certamente, os goblins vão notá-los.

Haruhiro aproximou-se Shihori. O cheiro fraco de algo doce encheu seu nariz. Ele aproximou os lábios junto a orelha de Shihori, ele sussurrou: “Shihori, você está usando perfume?”

— …Huh? O que você está falando? — Disse Shihori.

— Err, deixa pra lá. Desculpe. É um pouco longe, mas você pode acertar o goblin daqui?

— Eu realmente não estou certa… mas eu vou tentar.

Shihori levou uma mão ao peito e se acalmou, respirou fundo. Yumi levantou seu arco e flecha para cima e pronto. Nenhum dos goblins estavam olhando na direção deles. Yumi e Shihori pisaram simultaneamente na metade de trás da parede, e Shihori desenhou um glifo elemental com seu cajado.

— Oom rel eckt vel dash!

Uma sombra elemental como uma bola preta partiu da ponta do seu cajado com um voash! Ao mesmo tempo Yumi lançou sua flecha. A flecha voou sobre a cabeça do goblin de armadura de placas deixando ele surpreso, enquanto a sombra elemental bateu no braço esquerdo do hobgoblin. O hobgoblin grunhiu enquanto seu corpo inteiro começou a tremer.

O goblin de armadura de placas virou para olhar na direção deles.

— Eles nos notou! — Haruhiro gritou.

— Vamos! — Manato ordenou.

O hobgoblin pegou uma enorme clava cravada perto de seus pés, que tinha colocado para baixo mais cedo, e levantou-se desajeitadamente. O feitiço Eco Sombrio teve um efeito considerável. O goblin de armadura também estava segurando algo em suas mãos. O que era? Algum tipo de arma? Parecia algo construído rudemente, algo parecido com um arco em miniatura. E o goblin de armadura apontou em direção a Haruhiro e os outros com ele.

Haruhiro rapidamente agarrou os ombros de Yumi e Shihori, abrindo a boca para avisá-las que precisavam recuar à uma posição onde teriam cobertura. Mas antes que as palavras saíssem, uma flecha veio voando para eles. Yumi e Shihori caíram para trás, puxadas por Haruhiro. Ele resmungou e se levantou rapidamente.

Em seguida, uma dor o atingiu. Seu braço direito. Uma flecha. Uma flecha estava cravada no seu braço direito. Isso dói. Dói, dói muito. Ele se agachou sobre os calcanhares. Doeu quando mudou de posição, doeu quando ainda estava de pé. Ele estava com tanta dor que mal conseguia respirar.

Shihori soltou um suspiro de choque quando o viu.

— Haru! — Yumi colocou a mão suavemente em suas costas.

Haruhiro gemeu de dor. Não me toque. Por favor, não me toque. Porque dói. Isso é ruim. Eu vou morrer? Eu vou morrer, não é? Morte. De jeito nenhum. Não quero morrer. Mas a dor. A DOR. Ajude-me… Alguém… Isso é ruim. Não deveria acabar assim.

— Haruhiro!

Foi Manato. Manato havia chegado perto dele. E, sem qualquer aviso, ele puxou a flecha do braço de Haruhiro. Quando a flecha saiu, Haruhiro sentiu como se um enorme pedaço de algo mais tinha sido arrancado com ela. O sangue fluía da ferida, rápido e viscoso.

— Manato, eu vou morrer. Você vai me matar, fazer algo assim…

Mas Manato não prestou atenção e prontamente formou um hexágono com a mão e começou a cantar: “Ó luz, sob a graça divina do Senhor Luminous… Mãos Curadoras.”

A luz que derramava da mão de Manato começou a curar a ferida de Haruhiro. Apesar do Mãos Curadoras, a dor não estava desaparecendo. Haruhiro engasgou e engasgou e engasgou novamente. Doía tanto que ele não poderia respirar.

Finalmente, a dor começou a diminuir. Ele finalmente pôde respirar normalmente, mais uma vez, e tocou em seu braço direito timidamente, estava encharcado de sangue, mas sem ferimentos.

— Manato! — Foi Ranta chamando. — Depressa! Eu não posso esperar para sempre!

— Vai ficar tudo bem?! — Manato gritou para Haruhiro, e Haruhiro começou um aceno de cabeça, mas Manato já estava se afastando.

Ah, certo. Enquanto Manato estava curando Haruhiro, os outros estavam lutando. Haruhiro olhou para o edifício e viu que Moguzo estava lutando contra o hobgoblin enquanto Ranta e Yumi estavam ferozmente envolvidos com goblin de armadura de placas. Será que Manato pretende servir de reforço para Ranta e Yumi? Shihori acertou o hobgoblin com o Míssil Mágico, mas foi pouco efetivo.

Haruhiro se levantou em pânico. Se Manato estava indo se juntar à Ranta e Yumi, eles provavelmente dariam conta do goblin. Mas algo tinha que ser feito sobre o hobgoblin.

— Aguenta aí, Moguzo! — Gritou Haruhiro encorajando-o, enquanto assumia uma posição nas costas do hobgoblin.

O hobgoblin estava totalmente focado em Moguzo e, por isso, Haruhiro poderia passar despercebido. Se fosse esse o caso, seria fácil para cravar uma Punhalada pelas Costas, mas, por alguma razão, ele não conseguia chegar perto o suficiente para usar sua habilidade. O hobgoblin era um pouco mais alto do que Haruhiro, mas não tão alto quanto Moguzo, embora fosse muito mais forte.

A clava do hobgoblin era de madeira, porém, pesada e grossa. Se ele acertasse um golpe com ela, até mesmo a cota de malha reforçada de Moguzo não seria capaz de resistir. Sem mencionar que a cota de malha que o hobgoblin estava usando também era um problema. O conjunto não protegia apenas a parte superior do corpo, a camisa da cota de malha estava ligada a calça de cota de malha e havia um elmo em sua cabeça. Parecia não existir pontos fracos para Haruhiro atacar, o corpo da criatura estava totalmente blindado.

— OBRIGADO !! — Moguzo deu o grito guerra do guerreiro e usou Golpe em Espiral.

Um grito repentino quase irrompeu da boca de Haruhiro, mas foi suprimido rapidamente. A espada bastarda de Moguzo atingiu o hobgoblin em seu ombro esquerdo, mas o golpe sequer o fez recuar e seu contra-ataque foi instantâneo. Moguzo mal foi capaz de desviar do ataque a tempo. Não, na verdade Moguzo não desviou do ataque, o golpe fez ele tropeçar para trás. Sua posição de combate foi desfeita. Isso era ruim. Moguzo estava caindo.

Haruhiro bateu nas costas do hobgoblin em cheio, usando seu próprio corpo para empurrar a adaga. A faca fez um barulho horrível quando tentou penetrar a armadura metálica. Não adiantou. Sua arma não poderia romper aquela defesa. Haruhiro, no entanto, conseguiu desviar a atenção do hobgoblin e agora o hobgoblin estava balançando sua clava para ele. Haruhiro pulou, esquivando-se do golpe de entrada, com espaço de sobra.

Ainda assim, isso era ruim. Ele estava assustado. Sentia-se como se todos os seus órgãos internos fossem colapsar. Sentiu como se já estivesse quase morto. Não sou capaz de ajudá-lo, ele recuou.

— Eu não posso fazer isso… — Ele murmurou para si mesmo.

— Oom rel eckt vel dash! — Shihori gritou. A sombra elemental bateu na lateral do hobgoblin e ele começou a tremer violentamente.

Moguzo derrubou sua espada bastarda na cabeça do hobgoblin, enquanto estava momentaneamente tremendo e imobilizado. Faíscas voaram quando a espada colidiu com o seu elmo, o hobgoblin ficou confuso e, por fim, cambaleou um pouco antes de cair no chão.

— Agora! — Haruhiro gritou, apressando-se em direção a ele com um pulo.

O hobgoblin era assustador, mas eles conseguiram derrubá-lo… Antes de Haruhiro poder atacar o hobgoblin caído, Manato gritou seu nome. — Haruhiro, aqui! Ranta foi…!

— O quê ?! — Haruhiro viu Ranta caído, o sangue escorrendo profusamente de seu pescoço. — Ele foi cortado no pescoço!?

Enquanto Manato curava a ferida de Ranta, Yumi foi forçada a enfrentar o goblin de armadura de placas sozinha. O goblin estava atacando Yumi com sua espada, forçando-a a recuar. Isso é ruim. Haruhiro se colocou entre o goblin de armadura de placas e Yumi.

— Oy, goblin! Por aqui!

Assim como Haruhiro queria, a atenção do goblin de armadura de placas voltou-se totalmente nele. Mas isso também significava que ele era o único que lutaria diretamente com o goblin. Não, isso era algo, no mínimo, improvável. A espada que o goblin de armadura balançava ao redor era do mesmo comprimento que a espada longa de Ranta. Ele se esquivou de seus ataques. Bloquear, desviar, e esquivar era tudo o que ele conseguia fazer.

Este goblin era diferente de qualquer um dos outros goblins que ele enfrentou antes. Era rápido e ágil, Haruhiro supôs que esse inimigo também teve treinamento formal com armas, uma vez que manejava a sua espada muito habilmente. Defendendo-se apenas com um punhal, se fizesse um único movimento em falso… impossível saber o que aconteceria.

Moguzo estava indo bem sozinho? Haruhiro estava preocupado, mas não podia se dar ao luxo de tirar os olhos do goblin de armadura de placas para dar uma conferida.

— Golpe de Varredura! — Yumi atacou o goblin de armadura por trás.

Foi um poderoso ataque varrendo lateralmente, usando o kukri, mas o goblin previu seus movimentos. Ele virou para se defender do ataque e, em seguida, contra-atacou com um golpe que tirou o kukri da mão de Yumi. O goblin de armadura de placas se preparou para acabar com ela em um golpe final.

— Eu não vou deixar! — Haruhiro se atirou contra ele, mas o goblin tinha previsto seus movimentos também.

Ele se virou para Haruhiro, espada levantada. De jeito nenhum! Haruhiro pensava. Ele trouxe sua adaga para encontrar o ataque, mas ele quase não conseguiu parar aquela lâmina. A espada do goblin deslizou ao longo da borda de sua adaga com o característico som de metal contra metal.

A espada do goblin acertou seu braço direito e ele gritou de dor. A adaga de Haruhiro caiu de suas mãos. O goblin se adiantou e preparou o ataque. Eu vou ser cortado, Haruhiro pensou.

— Impulso de Raiva! — Foi Ranta. O ataque do goblin de armadura de placas errou Haruhiro por um fio de cabelo.

Ranta tinha saltado para o lado, empurrando a ponta de sua espada no goblin. Ele se abaixou, evitando o ataque de Ranta e, imediatamente, contra-atacou. Ranta recuou de volta para o lado.

— Merda! Não se esquive, seu riquinho bastardo! — Ranta o amaldiçoou.

Ranta suava profusamente e seu rosto estava pálido. Seu ferimento foi curado, mas isso não significava que o sangue perdido fora resposto. Ele salvou Haruhiro, apesar das circunstâncias. Foi por muito pouco, mas Haruhiro estava vivo. Seu braço doía muito. A espada do goblin de armadura de placas fez um corte profundo. A dor incapacitou o braço direito, então ele pegou o punhal com a mão esquerda.

— Haruhiro! — Manato veio correndo e, imediatamente, fez um feitiço mágico de luz. — Ó luz, sob a graça divina do Senhor Luminous… Mãos Curadoras.

Haruhiro rangeu os dentes contra a dor. À medida que a ferida cicatrizava, ele olhou ao redor. Moguzo, de alguma forma, ainda resistia aos ataques do hobgoblin, mas com dificuldade pois já começava a ficar complicado até mesmo manter-se em pé. Shihori estava agachada, provavelmente exausta após esgotar sua magia. Não era possível esperar mais ajuda dela.

Ele tinha a sensação de que, mesmo desajeitadamente, Ranta ainda seria capaz de manter-se esquivando dos ataques do goblin de armadura de placas um pouco mais. O braço de Yumi foi cortado em algum lugar e estava sangrando.

— Feito. — Disse Manato. Haruhiro tocou em seu braço para confirmar se tinha curado e voltou seu olhar para Yumi.

— Yumi! Por aqui! Manato vai curar você! — Haruhiro gritou.

— Yumi está bem! — Veio a resposta de Yumi. — Yumi ainda pode continuar!

— Haruhiro, troque com ela! Yumi, venha aqui! — Manato ordenou.

Haruhiro acatou, mas foi cheio de incertezas. Ele notou que a respiração de Manato se tornou um pouco irregular. E se ele, também, já estivesse prestes a esgotar sua magia? A classe de Haruhiro era ladrão, então ele não sabia muito sobre as regras da magia. Era uma questão muito subjetiva, deveria confiar em seu próprio julgamento, ou no de Manato? Claro que ele confiava mais em Manato. Manato era melhor para essas coisas. Afinal, não era uma questão tão complicada de ser respondida .

Haruhiro trocou de lugar com Yumi. Ele queria colocar pressão sobre o goblin de armadura de placas, mas foi incapaz de fazer qualquer coisa. Ele não atacou, estava com medo de ser contra-atacado. E Ranta, pensava o mesmo? Esse goblin era um lutador muito qualificado. Não havia brechas em sua defesa.

O goblin usava um elmo e ainda tinha a armadura de placas. De jeito nenhum. Mesmo se Haruhiro o acertasse com sua adaga, o golpe apenas seria rebatido pela armadura. O mesmo valia para a espada longa de Ranta. E sobre a espada bastarda de Moguzo? Mas Moguzo encontrava-se ocupado demais com o hobgoblin, ele não poderia lutar com os dois ao mesmo tempo.

Xeque-mate, Haruhiro de repente pensou. Eles estavam em xeque-mate. Eles não podiam vencer essa luta. Não havia nenhuma maneira de ganharem. Ele já tinha reconhecido. Ele tinha percebido a derrota há um tempo atrás. O que aconteceria se perdessem? Se fossem derrotados? Será que morreriam? Será que todos morreriam?

Haruhiro olhou para Manato que estava quase terminando de curar a ferida de Yumi. Ambos vieram para o lado de Haruhiro.

— Haruhiro, vai ajudar o Moguzo! — Disse Manato e Haruhiro assentiu reflexivamente.

Ele não tinha certeza se era uma boa ideia deixá-los, mas Moguzo precisava de ajuda. Haruhiro foi em direção ao hobgoblin.

Foi então que aconteceu. O hobgoblin soltou um grito de guerra monstruoso e balançou sua clava para baixo, contra Moguzo. Ele usou sua espada bastarda para bloquear, mas ele não conseguia parar os ataques do hobgoblin.

O hobgoblin atacou de novo e de novo, fez chover ataques sobre a espada de Moguzo. O clava era feita de madeira, mas não mostrava quaisquer sinais de estar quebrando. Moguzo, em seus limites, pegou sua espada com as duas mãos, uma no punho e outra perto da ponta, para afastar os ataques sucessivos do hobgoblin. Os ataques foram esmagadores e, logo, ele foi forçado a curva-ser em um joelho. O sangue escorria da cabeça, onde um dos ataques da clava o acertaram.

O hobgoblin chutou Moguzo no chão e começou a atacar por cima dele. Se Haruhiro deixar isso continuar, então… Isso seria ruim. Muito ruim. Sem qualquer autoconsideração, Haruhiro se pendurou no hobgoblin.

O hobgoblin teve dificuldades para se livrar de Haruhiro. Haruhiro mantinha-se agarrado desesperadamente. O hobgoblin soltou um longo uivo de raiva.

— É isso aí, Haruhiro! Mantenha ele distraído! — Manato gritou quando ele curava Moguzo.

De jeito nenhum. Não era possível para Haruhiro segurar por muito mais tempo. O hobgoblin lhe deu uma forte cotovelada nas costelas e isso não apenas o feriu, mas quase deixou Haruhiro inconsciente. Isso é ruim. Se ele desmaiar, então o que seria dele? Se ele fosse deixado ali, certamente, morreria. Ele, definitivamente, não iria sobreviver.

Foi então que algo verdadeiramente assustador aconteceu. Ele não tinha ideia do que realmente aconteceu, mas ele foi arremessado e caiu de costas. O hobgoblin o chutou antes que pudesse se levantar, fazendo-o cair novamente. Ele não conseguia respirar.

— H-hel… — Ele resmungou. — Ajude-me… — Ele não sabia se alguém viria ajudar, mas alguém veio.

Manato usou Esmagar na cabeça do hobgoblin com seu cajado. O hobgoblin tinha um elmo para protegê-lo contra o golpe, mas mesmo assim a técnica de Manato parecia forte o suficiente para dar ao hobgoblin uma pequena concussão.

— Depressa! — Gritou Manato. — Haruhiro, levante-se! Corre! Todo mundo corre!

Sim, Haruhiro pensou quando ele se levantou. Recuar, sim. Nós não temos escolha a não ser fugir. Ele se virou para ir, mas parou de repente. — E você?!

Manato estava tentando recuar, mesmo enquanto ainda atacava o hobgoblin. — Claro que eu vou também! Apresse-se e corra!

Moguzo, cujo ferimento na cabeça tinha acabado de ser curado, focando suas atenções para o goblin de armadura e gritou: — Obrigado! — E ele atacou com Golpe em Espiral e errou, mas fez com que o goblin de armadura recua-se.

Ranta e Yumi viraram as costas para fugir, Shihori também estava fugindo. O goblin de armadura de placas guinchou e cortou Moguzo com sua espada, mas, graças à sua cota de malha, ele não sofreu quaisquer ferimentos. Haruhiro estava bem atrás deles, virando-se para olhar para trás enquanto corria.

— Manato, todo mundo já saiu! — Ele gritou. — Saia também!

— Eu sei! — Veio a resposta de Manato, quando ele pulou para trás e acertou dois ataques sucessivos no peito do hobgoblin.

O hobgoblin vacilou e Manato rapidamente se virou e correu. O goblin de armadura de placas embainhou a espada que usava, sacou outra lâmina e rapidamente começou a persegui-los. Eles não estavam fora de perigo. Haruhiro focou em se manter indo em frente. Naquele momento, o goblin de armadura jogou algo na direção deles. O objeto girou no ar antes de atingir Manato na parte de trás.

Um grunhido escapou dos lábios de Manato e ele parecia balançar para a frente.

— Manato! — Gritou Haruhiro.

Manato respondeu de imediato, recuperando o equilíbrio. — Estou bem!

Seus pés estavam firmes no chão novamente, de modo que o dano provavelmente não foi grande. Tanto o hobgoblin como goblin de armadura de placas ainda os pergiuam. Eles precisavam correr. Apenas fugir. Foi uma coisa boa terem feito o mapa porque o conhecimento da estrutura de Damroww veio a calhar. Para que não se perdessem enquanto fugiam e evitar áreas frequentadas por outros goblins.

Haruhiro e os outros continuaram correndo. Correram mais e mais, mesmo quando já não conseguiam respirar direito, mesmo quando já estavam exaustos, mesmo quando já sentiam que estavam prestes a morrer de tanto cansaço. Correram ainda mais, mesmo depois de já não avistarem seus perseguidores. O primeiro a parar de correr foi Manato.

Não. Não, ele não tinha parado de correr. Ele, de repente, caiu no chão.

— M-Ma… — Haruhiro tentou chamar o nome de Manato, mas as palavras não saíam.

As costas dele. Nas costas de Manato. Alguma coisa estava saindo dela. Algo laminado. A lâmina era curvada. Parecia uma faca de arremesso. Ninguém disse uma palavra. Todo mundo estava olhando para ele, mas ninguém disse uma palavra. Ninguém tinha qualquer palavra a dizer. O que poderia ser dito?

A respiração de Manato não estava ofegante como antes e ele tentou se levantar, mas não conseguiu. O melhor que pôde fazer foi rolar para o lado. — Eu acho que… é… bom… ir…

— Manato! — Haruhiro caiu de joelhos ao lado de Manato. Estava tudo bem tocá-lo? Não está? Ele não sabia. — Manato… sua ferida… magia! Use a sua magia para curar a si mesmo…

— Oo luu. — Sua mão direita moveu-se para tocar em sua testa, em seguida, caiu de volta para o chão, como se a força para mantê-la levantada fosse drenada dele. — Minha magia… Eu não posso… usá-la…

— Não fale! — Ranta gritou. — Basta ter calma, não tente falar! O que vamos fazer!? — Ele perguntou aos outros.

Shihori cambaleou para o lado de Manato e caiu no chão em frente a Haruhiro. Ela estendeu a mão, e assim que seus dedos trêmulos fizeram contato com a faca de arremesso, alojada nas costas, ela os retraiu de volta bruscamente. Seu rosto ficou sem cor.

Manato também estava pálido, não era uma palidez qualquer, ele estava absurdamente pálido. O corpo inteiro de Moguzo estava parado e rígido como pedra, como uma grande estátua.

— Oo qu… — Yumi vasculhava freneticamente seu cabelo, fazendo uma bagunça. — O que nós podemos fazer?

— O que… o que quer dizer que… — Haruhiro sentiu como se algo estivesse sendo rasgado para fora de seu peito.

— O que podemos fazer? Pense! O que nós poderíamos fazer? Deve ter uma saída! Nós não podemos apenas ficar sentados aqui! Manato, por favor diga-nos… Por favor… Diga-nos o que fazer… Manato…. — Mas a respiração de Manato já estava fraca e rouca.

— V-você vai ficar bem. — Disse Haruhiro. — Você vai ficar bem, então fique aqui… Aguenta aí, eu vou dar um jeito, tá?

Manato olhou para Haruhiro. — … Haru… Hiro…

— O que é isso? Manato, o que é?

— Eu… eu… desculpe…

— O quê? Por quê? Pra quê?

— Eu… não posso … todos… Haru… Hiro… por favor…

— Por favor? Por favor, o quê? O que você quer que eu faça? Não… não, não diga coisas como essa, Manato…

— Eu… não posso ver… Está… todo mundo… aqui?

— Estamos aqui! Estamos todos aqui! Manato, todo mundo está aqui, por isso, não vá!

Manato parecia exalar profundamente como se suspirasse.

— Não! Não vá! Manato! Você não pode ir! Não vá, Manato! Por favor… não vá…

Ele inalou e exalou mais uma vez. E, naquele momento, seus olhos pareciam ter se transformado em vidro.

Shihori colocou a mão em seu peito. — Seu coração parou de…

— R-RCP ! Faz RCP nele! — Ranta gritou e Haruhiro admitiu que era um bom momento para uma RCP.

Eles começaram a RCP (ressuscitação cardiopulmonar) como se fosse resolver tudo, todo mundo falando de uma só vez sobre o que fazer. Eles removeram a faca das costas de Manato, dando-lhe RCP e respiração boca-a-boca. Minutos se passaram, dezenas de minutos se passaram, talvez até mais de uma hora se passou enquanto eles tentavam reanimá-lo.

— D-deve… não deveríamos parar? — Moguzo parecia estar prestes a chorar. — Pobre Manato… Nós não deveríamos continuar fazendo isso com ele…

— Então o que você quer que façamos ?! — Haruhiro respondeu com raiva, antes de retomar o controle sobre si mesmo. Ele continuou em um tom mais suave. — … O que devemos fazer? Não podemos deixá-lo aqui. Não podemos simplesmente deixar Manato aqui.

— Magia. — Shihori olhou para cima. Seus olhos estavam inchados e vermelhos. — Pode haver uma maneira de salvá-lo com magia. Magia de luz pode curar.

— É isso mesmo. — Disse Yumi, balançando a cabeça vigorosamente. — Shihori está certa. Magia vai funcionar. Temos que tentar. Podemos levá-lo para a Guilda dos Sacerdotes em seus templos.

— Templo do Deus Luminous? — Ranta enxugou as lágrimas de seus olhos com a parte de trás da mão. — Eu ir lá? Você está dizendo para um servo do Deus Escuro Skulheill entrar em território inimigo?

Moguzo levantou Manato em seus braços. — Vou levá-lo.

— Vamos. — Disse Haruhiro com um aceno.

Ranta e Haruhiro, ambos se ofereceram para se revezar com Moguzo e ajudar a levar Manato, mas Moguzo recusou. Apenas ele carregou o corpo de Manato por todo o caminho de volta para a extremidade norte da Allpea, até chegarem ao templo do Deus Luminous. No momento em que puseram os pés dentro do templo, foram parados por um grupo de homens vestidos com as mesmas roupas coloridas, brancas com azul, como as de Manato.

Houve um entre eles que pareceu reconhecer Manato. Mestre Honnen parecia ser o seu nome, de acordo com o que os outros estavam chamando. O mestre veio a eles imediatamente. Seu corpo era muito musculoso, parecia até ser feito de rocha. Ele assemelhava-se mais a um guerreiro do que a um Sacerdote.

A primeira coisa que saiu da sua boca foi: “O que aconteceu?”.

Sua voz era bastante distinta e lembrou Haruhiro de algo que Manato disse uma vez, sobre a voz do seu mestre de ser alta ao ponto de machucar os ouvidos. Quando essa lembrança veio à tona, Haruhiro não poderia deixar de se entristecer. Ele atirou-se de joelhos diante de Mestre Honnen.

— Por favor! Por favor, ajude Manato! Eu farei qualquer coisa, qualquer coisa que você quiser! Por favor, salve-o! — Haruhiro implorou.

— Garoto tolo! — Mestre Honnen trovejou. — Mesmo o deus da luz, Luminous, não pode trazer uma pessoa de volta dos mortos! Manato, seu idiota! Alguém tão jovem, com um futuro tão promissor, é raramente visto. Pegamos você com tantas esperanças, lhe ensinei com tanto cuidado, mas você jogou sua vida fora!

— Seu velho filho da puta! — Ranta tentou atacar o Mestre Honnen. Yumi o deteve, interpondo: “Não, não!”

Ranta não lutaria contra ela, talvez porque ele viu a torrente de lágrimas que fluíam livremente dos olhos do Mestre Honnen. Shihori estva literalmente largada no chão do templo frio; Moguzo ficou congelado, embora ele ainda segurasse Manato em seus braços.

— A única coisa que podemos fazer por ele… — Veio a voz do Mestre Honnen, rocha firme, embora as lágrimas ainda estivessem à vista — É enterrá-lo corretamente. Aqui na fronteira, aqueles que não recebem um enterro apropriado estão sob a maldição do Rei Imortal e ficam sujeitos a se tornarem servos dele. No máximo, a transformação em um zumbi leva cinco dias. Alguns se transformam em menos de três.

De repente, e por algum motivo, Haruhiro sentiu vontade de rir, mesmo sabendo que não era a hora nem o lugar para tal. — Então você quer cremá-lo? — Perguntou Haruhiro.

— Sim. O crematório fica fora de Allpea. Depois que o corpo é purificado pelo fogo, para evitar que caia sob a maldição, os restos são enterrados no topo da colina.

— Só mais uma coisa. — Disse Haruhiro. — Se é que posso perguntar.

— O que seria?

— Quanto vai custar?

— Eu vou pagar por isso, não se preocupe.

— Não. — Haruhiro suspirou. Foi um suspiro profundo e cheio de raiva, apesar de que estar com raiva era, por si só, algo inútil e estúpido. — Nós vamos pagar. Não é como se não tivéssemos dinheiro. E, mesmo que não tenhamos o suficiente, vamos descobrir um jeito. Manato foi mais do que apenas nosso amigo; ele foi o nosso companheiro de equipe, um companheiro precioso. Devemos isso a ele, ao menos isso…