Volume 01 - Capítulo 14: As de Prata e As de Ouro
Capítulo 14
As de prata e as de ouro
Tradutor: Zekaev
— Eu não aguento mais!
Ranta bateu sua caneca de barro sobre a mesa.
— Ranta… — Moguzo murmurou. — Você vai quebrá-la.
— Quieto! Tenho tudo sob controle! — Ranta gritou. — Que tal você, hein?! Será que ela não te irrita?!
Moguzo murmurou algo evasivo.
— Admita! Essa menina te irrita! — Ranta gritou, de novo. — Que diabos é aquela atitude?! Tem sido assim há dias dias e ela não está nem mesmo tentando se dar bem com a gente! Haruhiro!
— O quê? — Haruhiro respondeu.
— O que você acha, hein? Não minta! Ei! Estou falando com você! Me diz o que você realmente pensa!
— Eu já lhe disse várias vezes. — Haruhiro bebeu de sua própria caneca de cerveja. — Eu apenas me coloco no lugar dela. Mas não concordo com você.
— Usando frases difíceis de entender! Você só fica do lado dela, porque ela é gostosa!
— Não tem nada a ver com isso.
— Você é um molenga! Você faz corpo mole com todas as meninas! Dá muita moleza pra elas!
— Eu não faço isso de propósito, mas admito, e, também, até você não pode se levantar contra ela. Você fala sobre ela assim, pelas costas, mas não diz nada na cara dela.
— Como se eu pudesse! — Ranta admitiu, com a face para baixo sobre a mesa. — Ela assusta até o inferno! Aqueles olhos, aquela voz, porra… Ela me dá medo! Me faz querer chorar! … Tudo bem se eu chorar?
Moguzo acariciou-lhe suavemente no ombro. — Não chore, Ranta…
— Pare com isso! — Ranta bateu na mão do Moguzo. — Não tente consolar um homem! Um homem não gosta de ser consolado! É muito patético! Eu sou um homem! Um homem viril! Eu sou um… um…
Haruhiro suspirou. — Basta ignorá-lo, Moguzo. Ele está apenas agindo de acordo com sua própria natureza. Não haverá fim para isso se você se preocupar com ele o tempo todo.
Desde que Mary se juntou ao grupo, Ranta, Moguzo e Haruhiro criaram o hábito de visitar Sherry depois de voltar da Cidade Velha de Damroww . Não era como se qualquer um deles quisesse beber, ou qualquer coisa, mas sem uma distração no final do dia, ninguém poderia dormir bem e ninguém queria voltar a trabalhar no dia seguinte.
Uma caneca de cerveja custava três kappas, para membros da Lua Vermelha, mas como eles eram meros recrutas, pagaram o total de quatro. Embora Haruhiro pedisse apenas uma ou duas canecas de cada vez, percebeu que ainda era um desperdício de dinheiro.
Seus ganhos foram apenas metade, ou, na verdade, perto de um terço do que tinha sido quando Manato estava com eles. Agora, havia dias em que todos iriam embolsar apenas uma prata cada, ou menos. Haruhiro sabia que deveria economizar seu dinheiro. Ele sabia, mas…
Contando o valor depositado na Yorozu, todo o dinheiro que Haruhiro tem não passa de dezessete pratas. Os contratos da Lua Vermelha requerem vinte pratas para serem comprados, então ele precisa de um pouco mais para se tornar um membro de pleno direito. Isso não significa, necessariamente, que ele poderia comprar um no momento em que conseguisse vinte pratas. Sem ter, pelo menos, trinta pratas na mão, gastar vinte de uma vez só não era sábio. Seria bom se o Comandante Bri os permitisse pagar aos poucos.
— Soldados da força de reserva da Lua Vermelha… — Haruhiro sussurrou, olhando ao redor da taverna.
Todos na sala estavam equipados com equipamentos melhores do que os dele. Haruhiro tinha certeza de que, na taberna, a maioria usava sua armadura preciosa para intimidar os bandidos que pensavam em roubá-los enquanto bebiam e, amarradas em seus cintos, muitos deles tinham espadas de aparência cara. Sem mencionar as roupas elegantes sob a armadura. A diferença entre eles e o grupo de Haruhiro era óbvia e esmagadora.
— Eu sei. — Ranta falou desajeitadamente. — Não há necessidade de me dizer, Haruhiro. É o contrato, certo? Mas não é como se o nosso objetivo fosse comprar contratos da Lua Vermelha. “Tornando-se um membro pleno ou não, eu não me importo mais” é o que você está pensando.
— Na verdade, eu não sei o que pensar… — Disse Haruhiro. — … ao ver você tentar colocar palavras em minha boca.
— Quanta grosseria! Você está pedindo por uma luta?
— Peço desculpas.
— Não basta pedir desculpas assim. A discussão nunca vai chegar a lugar nenhum desse jeito. Retruque mais, seu estúpido.
— Moleque irritante.
— M-mas… — Moguzo deu um suspiro profundo. — Tenho a sensação de que perdemos de vista o nosso objetivo. Não era assim antes.
— Talvez sim. — Disse Ranta. Ele inclinou a cabeça para os lados, fazendo com que um lado do seu rosto ficasse sobre a mesa. — As coisas mudaram tanto assim, apenas porque Manato se foi.
De repente Haruhiro ficou irritado. Não conseguiu resistir e retrucou. — Dizer “apenas” porque Manato se foi não é algo bom.
— Sim. — Ranta acenou para os lados. — Minha culpa.
— … Não é como se você precisasse se desculpar imediatamente.
— Moleque irritante.
Haruhiro queria bater nele, mas decidiu que um cara como Ranta nem valia o esforço de levantar o punho.
— Metas, hein. — Haruhiro olhou ao redor da taverna mais uma vez. Seus olhos, de repente, focaram em uma determinada pessoa e sentiu um aperto repentino em seu peito. — Renji…
Enquanto Haruhiro e os outros ocuparam uma mesa em um canto mal iluminado do primeiro andar, o grupo de Renji sentou-se em torno de uma mesa bem iluminada perto do balcão. Naturalmente, o quadro em si não foi bom; o grupo de Haruhiro, simplesmente, nunca poderia sentar-se em um ponto que os fizesse tão evidentes. Algo relacionado a classificação, importância, hierarquia…
— Whoa. — Ranta finalmente percebeu o grupo de Renji também. — Maldito do Renji se mostrando.
Moguzo, olhava como se ele tivesse sido ofendido em vez de Renji, esticou o pescoço para enxergar melhor. — Uau.
Ranta e Moguzo foram justos em suas reações. Como se o cabelo prateado não fosse o suficiente para chamar atenção, Renji usava uma túnica de pele forrada sobre a armadura. A espada gigante encostada na mesa era igualmente impressionante e isso fez Haruhiro querer saber como Renji conseguiu adquiri-la. Se ele tivesse comprado, certamente pagou muitas moedas e, se ele não foi uma compra, Haruhiro indagou onde diabos ele poderia tê-la encontrado.
Não era apenas Renji que estava esplendidamente equipado. Ron, sentado ao lado dele, vestia uma armadura magnífica e o Menino-Óculos, Adachi, usava vestes compridas e pretas que exibia um brilho típico das coisas caras. Sasha estava vestida de forma escassa, lembrava Haruhiro da Mestre Bárbara levando-o a adivinhar que ela se tornou um ladra. Sasha, uma beleza desde sempre, agora era tão sedutora que dava vontade de arrancar os olhos.
Sentado aos pés de Renji estava Chibi cujas vestes marcavam ela como um padre, mas, ao contrário das que Manato ou Mary usavam, foram feitas de materiais mais finos e trazia detalhes bordados nas extremidades.
— Eles são recrutas, certo? — Ranta parecia atordoado. — Eles chegaram ao mesmo tempo que a gente, se juntaram a Lua Vermelha ao mesmo tempo. Porque que essa grande diferença entre nós e eles?
Aparentemente, não importa se alguém era um membro de pleno direito da Lua Vermelha, ou um recruta. Todos aqueles que entraram recentemente na Lua Vermelha eram considerados “recrutas”. Mas ninguém que visse a equipe de Renji os consideraria amadores e qualquer um que fizesse isso teria uma surpresa desagradável.
Era quase impossível recuperar o atraso entre a equipe de Renji e a dele, Haruhiro admitiu para si mesmo. Independente do que fizessem, a diferença entre eles só aumentaria. O grupo de Haruhiro permaneceria no fundo do poço, enquanto Renji crescia mais e mais. Em breve, todos reconhecerão a equipe de Renji como a melhor e, se eles encontrarem a equipe de Haruhiro em algum lugar no campo, Renji nem notaria sua existência. Haruhiro e os outros seriam esquecidos e toda a atenção se voltaria para a equipe do Renji.
Se Manato não tivesse morrido, as coisas teriam sido diferentes? “Nós realmente nos tornamos uma boa equipe”, foi o que Manato disse, mas isso realmente tem algum significado? Manato veio a Sherry muitas vezes, então ele sabia quão bem o grupo de Renji ia. Manato chegou a se sentir realizado? Desapontado? Frustrado? Talvez Manato tinha pensado: “Renji está subindo cada vez mais alto. E o que eu estou fazendo? Se ao menos eu tivesse companheiros melhores…”. Manato era humano afinal, este pensamento deve ter ocorrido a ele mesmo que em um canto distante de sua mente.
Por que Renji não convidou Manato para se juntar a ele no começo? Manato era mais do que capaz de contribuir. Se Manato estivesse com o a equipe de Renji, seria ainda mais formidável. Se Manato tivesse ido para equipe de Renji então, certamente, ainda estaria vivo agora.
— Ei! Hey! — Ranta estava acenando com seu braço.
Haruhiro nem tinha percebido que seu olhar estava no chão. Quando ele levantou a cabeça, um homem de cabelo prateado estava olhando para ele. Ele quase gritou de surpresa.
— Eu ouvi que Manato morreu. — Baixa e rouca, a voz de Renji não era algo fácil de esquecer.
— A… — Haruhiro começou, mas parou, sem saber o que ele queria dizer. Que? Este? Lá? O que? Finalmente. — O que você quer?
Inexpressivo como sempre, Renji estendeu a mão fechada e, desenrolando os dedos, deixou cair alguma coisa. Haruhiro pegou o objeto sem pensar. Quando ele olhou, viu que era uma moeda.
Moguzo inspirou tão dramaticamente que quase caiu para trás em sua cadeira. Os olhos de Ranta estavam arregalados ao ponto de quase pularem para fora, ele olhou como se quisesse dizer algo, mas perdeu completamente as palavras. A mão direita de Haruhiro, a mão sobre a qual a moeda repousava agora, começou a tremer.
Claro, não era falsa, mesmo que fosse a primeira vez que algum deles pôs os olhos na coisa real.
— Um moeda de ouro?
— Minhas condolências. Leve-a. — Disse Renji, com desdém, e depois girou nos calcanhares para ir embora.
— … Nn-não… não… — Haruhiro se levantou abruptamente, sentiu o sangue subir para a cabeça.
Haruhiro queria perseguir Renji, dar um soco nele com toda sua força, mas não o fez. Não havia nenhuma maneira de isso ser possível. No final, Haruhiro disse: “R-Renji! Espere! Espere um segundo!”
Renji finalmente parou, virou-se para encarar Haruhiro com uma expressão que indicava claramente o inconveniente. — O quê?
— É… É… — Haruhiro paralisou. Renji era extremamente assustador. Não era normal para uma pessoa ser tão intimidadora. — É só que… eu não acho que posso aceitar isso… É que… parece errado.
— Entendo. — Renji, estendendo a mão, com a palma para cima.
Era isso? Haruhiro teria pensado que Renji teria mais a dizer. Mas ele não o fez. Talvez fosse melhor assim, Haruhiro deu um grande suspiro de alívio, tão grande que parecia uma vida inteira, e colocou a moeda de ouro de volta na mão de Renji.
Foi só mais tarde que ele se arrependeu. Só um pouco. Era uma moeda de ouro que ele tinha devolvido. O equivalente a cem pratas.
Renji saiu depois disso, sem dizer mais nada após recuperar a moeda. Quando Haruhiro voltou para a mesa, Ranta imediatamente o agrediu.
— Haruhiro, quão idiota é você ?! — Ranta criticou ele. — Por que você devolveu? Teria sido bom ficar com ela! Nós poderíamos ter dividido igualmente entre nós três, trinta e três para você e Moguzo e trinta e quatro para mim! VOCÊ É RETARDADO?!
— Como você consegue tentar surrupiar tão casualmente uma prata extra? — Comentou Haruhiro.
— Porque eu sou eu! Que porra de desperdício! A gente podia ter comprado nossos contratos com isso, e ainda sobrava muita coisa!
— Mas isso é… — As sobrancelhas de Moguzo ficaram bem juntas e os cantos de sua boca ajudaram a formar uma expressão carrancuda. — Eu não acho que é uma coisa boa. Se nós comprarmos nossos contratos usando o dinheiro de Renji, eu não acho que isso teria deixado Manato muito orgulhoso de nós.
— Como você sabe? — Ranta cuspiu. — Ele não está mais aqui! Temos de olhar para nós mesmos agora! Puta que pariu! Essa era uma de OURO. E Renji apenas entregou ela para nós como se fosse nada. Quanto daquelas ele deve ter? Eu só tenho três pratas restantes!
— O que? Apenas três? — Haruhiro olhou fixamente para Ranta e sua cabeça balançou. — De jeito nenhum… Por que você tem tão pouco? Com o que você tem usando o seu dinheiro?
— Calado! Gastei com… Isso e aquilo! Posso usar o meu dinheiro do jeito que eu quiser!
— Então você nunca vai conseguir economizar o suficiente para comprar o seu contrato.
— Você não tem o direito de dizer merda nenhuma! Você arruinou a minha melhor chance de comprar o meu contrato agora!
— Não… — Haruhiro colocou ambos os cotovelos sobre a mesa e as palmas das mãos no rosto. — Não podemos continuar assim. Não tem nada a ver com Manato. É o nosso problema. É como você disse, Ranta. Manato não está mais aqui.
Ranta zombou. — Eu estava pensando isso o tempo todo.
— Não fazer nada, mas pensando isso. — Disse Moguzo, com uma intensidade incomum. — Você não pode apenas pensar nisso. Você precisa agir e fazer algo sobre isso.
— … Nós estamos muito distantes uns dos outros. — Haruhiro mordeu o lábio inferior. — E não é só Mary. Yumi e Shihori pararam de falar connosco. Não era assim antes.
Ranta apoiou seu rosto nas mãos e olhou para o lado. — Tentar corrigir nosso relacionamento com elas? Não vai funcionar. É muito tarde agora.
Haruhiro não sabia se funcionaria ou não. Tudo o que sabia era que ele tinha que tentar.
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