Volume 01 – Capítulo 19: O Amanhã Virá
Capítulo 19
O amanhã virá
Tradutor: Zekaev
Eles se encontraram com Mary às oito da manhã, mas, na noite anterior, Haruhiro e os outros quebraram seus cérebros para decidir sobre o que iam fazer e o que diriam à ela. Mas ninguém conseguiu pensar em nada. De qualquer forma, quando chegaram em Damroww, precisavam se concentrar no trabalho pois não tinham o luxo de se preocupar com qualquer outra coisa.
Este momento, crucial para eles, passou muito rápido e, quando voltaram para Allpea a noite, Haruhiro finalmente reuniu coragem para se aproximar de Mary.
— Mary, há algo que eu quero falar com você. — Haruhiro foi o mais franco possível ao sair da loja onde vendeu os ganhos do dia.
— Entendo. — Respondeu Mary, cruzando os braços. — Então vamos logo com isso.
Eles tinham ouvido a história de Mary ontem e ela não podia saber disso, mas ela não deve ter notado a mudança no comportamento de todos e, portanto, não percebeu que algo estava acontecendo.
Ela provavelmente pensou que eles estavam se preparando para expulsá-la do grupo. Certamente indagou algo como Haruhiro dizer-lhe “Desculpe Mary, mas posso pedir para você deixar o nosso grupo?”
Ela não queria fazer alarde, então responderia imediatamente com um simples “Tudo bem”, e iria embora sem se despedir deles.
Ela estava se preparando para responder, ou assim parecia para Haruhiro. É fácil presumir que isso já aconteceu inúmeras vezes no passado, com muitos outros grupos. Era muito deprimente a forma como sempre acabava do mesmo jeito para ela.
— Mary… — Haruhiro disse o nome dela como quem falava com um amigo, como um deles.
Ele olhou nos olhos dela e prendeu-os, foi quase como se dissesse “Não é o que você pensa”. As sobrancelhas de Mary baixaram ligeiramente. Haruhiro não estava sozinho nesse olhar atento; Moguzo, Yumi, Shihori e Ranta tinham os olhos fixos nos dela também. Ela percebeu seus olhares e endureceu, desconfortável. Não, não é o que você pensa… Haruhiro repetiu interiormente.
— Mary. — Haruhiro disse, em voz alta dessa vez. — Tivemos um sacerdote em nosso grupo antes. Seu nome era Manato, ele morreu… Ou, talvez, a melhor maneira de dizer isso é que nós o matamos. Pode-se dizer que ele era quase perfeito, e a gente dependia muito dele. Quando nos machucávamos durante as lutas, ele iria nos curar, mesmo que fosse apenas um arranhão.
— Manato era nosso líder. — Disse Haruhiro. — Um sacerdote que respeitávamos, ele e Moguzo sempre lutavam na frente, então ele era um tanque também. Era como se ele fosse três pessoas em uma. Uma pessoa realmente incrível, mas, naquele momento, nós não percebemos isso. Ele era apenas um cara comum para nós. Eu achei que tudo era fácil para Manato, ele nunca mostrou estar com dificuldades e nenhum de nós conseguiu imaginar o quão difícil realmente era para ele. Mesmo agora, eu não acho que posso imaginar… Mas ele está morto. Ele não está mais aqui.
Decerto Mary encontrou semelhanças entre ela e Manato; poderia até mesmo supor que Haruhiro estava lhe dizendo tudo isso porque sabia da história do seu passado.
Haruhiro tinha pensado por algum tempo. Tendo ouvido a história de Mary, ele tinha uma boa ideia do que aconteceu com ela e entendia o porquê de ela ser do jeito que é. Mas ele deve dizer a Mary que sabia da sua história?
Algo lhe dizia que pode não ser tão simples assim.
Haruhiro sabia que os seres humanos são criaturas complexas e ele não fingiria ser capaz de ver o coração de Mary. Ninguém ia ser tão irresponsável a ponto de dizer que sabia tudo que havia para saber sobre ela. Portanto, a única coisa que ele poderia contar a ela era sobre ele mesmo.
— Para ser honesto, quando Manato se foi, eu pensei que estava tudo acabado. — Começou Haruhiro. — Eu pensei que era impossível continuar fazendo isso sem ele. Mas mesmo que ele esteja morto, nós ainda estamos vivos. Tivemos que encontrar uma maneira de sobreviver e não dá pra viver sem fazer nada. Nós somos recrutas da Lua Vermelha, apenas para podermos nos alimentar.
— Então, nós convidamos você para participar do nosso grupo. Apenas porque um grupo tem que ter um sacerdote. Nenhuma outra razão. Eu, Ranta, Yumi e Shihori fomos bons para nada desde o início. Moguzo era diferente. Ele foi recrutado por Kuzuoka, mas foi expulso depois que eles tomaram todo o seu dinheiro. Manato foi quem nos uniu, juntos nós poderíamos formar um grupo e nos tornar colegas, ou até mesmo amigos.
— Isso era tudo o que ele havia planejado no início. Desde então, nos tornamos um grupo de verdade. Às vezes, as coisas não iam bem, às vezes ficamos com raiva, às vezes nós brigamos, mas, apesar de tudo, ainda éramos amigos. As circunstâncias que nos juntaram, não importam. O que importa é o aqui e agora, eu os considero amigos e companheiros preciosos. E isso inclui você, Mary.
Mary não disse uma palavra. Ela olhou para Haruhiro, imóvel, exceto por algumas piscadas.
— Eu também. — Shihori calmamente levantou a mão. — Eu a considero uma amiga também.
— Concordo. — Yumi abriu um largo sorriso. — Mary é super adorável!
— E-é claro que eu concordo. — Moguzo ainda estava com seu elmo barbute na cabeça. — Claro que eu a considero uma amiga. É reconfortante para mim tê-la conosco.
Ranta pigarreou. — Eu sou… Eu sou… você sabe. Eu faço uma grande confusão quando eu estou ferido. É algo que eu preciso melhorar… Talvez. Mas, uhhh… Sim, é o que eu acho. Nós somos amigos, certo?
— O inferno vai congelar amanhã. — Disse Haruhiro, olhando para o céu sem nuvens. — Ranta, admitiu que ele não é perfeito.O inferno, o céu e terra, todos vão congelar.
— Ei! Eu admito o tempo todo que tenho coisas que eu posso melhorar! Meus talentos de auto-aperfeiçoamento estão fora dos limites! Você me conhece faz tempo e você ainda não sabia?!
— Se você está dizendo, então, com certeza.
— Oy! Haruhiro! Não diga isso assim! Você me deixa triste!
— Eu acho que é uma boa ideia definir uma meta para nós mesmos, mais cedo ou mais tarde. — Haruhiro continuou. — Mesmo que seja uma meta temporária…
Ele lançou um olhar para Mary. Ela estava atordoada até agora, ainda olhando fixamente para ele. Ele esperava que ela não tivesse a intenção de rejeitar eles e suas ofertas de amizade. Seria um bom começo para ela se isso não acontecesse.
— … Tudo se tornou confuso recentemente. — Disse Haruhiro. — Eu nem sequer penso em trabalhar como louco para economizar o suficiente e comprar nossos contratos da Lua Vermelha. Nós só vamos lá todos os dias sem nenhum propósito real. Vamos parar com isso e, pelo menos, descobrir em qual direção queremos ir.
— Ficar podre de rico é a nossa meta! Em seguida, dominar o mundo!!!
Haruhiro ignorou completamente Ranta quando ele propôs os seus pensamentos a todos.
— Eu não me importo com nada além de dinheiro e poder. — Ranta declarou. — E ser popular com as meninas também, eu acho. Mas as meninas vêm com o dinheiro e poder de qualquer forma, então… — Ele fez uma pausa. — Eu acho que a sua ideia de ter um objetivo é um bom começo para a dominação mundial… Eu acho… — Disse ele a contragosto.
Yumi soltou um suspiro pesado. — Ranta realmente tem um grande fôlego para falar tanto assim.
Lá vão eles de novo, pensou Haruhiro, e voltou-se para Mary. — Mary, o que você acha?
Mary evitou seu olhar e deu pequenos acenos. Ele tomou isso como um sinal de confirmação.
— Você gostaria de jantar conosco esta noite? — Perguntou.
— Não, obrigado. — Ela respondeu, mas depois acrescentou com a voz muito baixa: “… ainda não.”
— Bem.
O que você esperava? Haruhiro disse a si mesmo. Não é como se tudo fosse magicamente se corrigir instantaneamente apenas com isso. Mas é claro que ele estava impaciente. Ninguém sabia quanto tempo juntos eles teriam até o fim. Eles já tinham perdido um pouco desse tempo precioso, apenas para dar este primeiro passo. E quem sabia se o seu fim já estava perto?
Mas um passo ainda era um passo. Para Haruhiro e os outros, um pequeno passo de cada vez era a única forma de avançar.
E se os seus ouvidos não o enganaram, pouco antes de Mary se virar para sair, ela sussurrou: “Vejo vocês amanhã”.
Sim, o amanhã virá.
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