Volume 01 - Capítulo 23: Prólogo
Capítulo 23.
Prólogo
Tradutor: Zekaev
O sino tocou enquanto o Sol sumia sumia no horizonte. Todos os dias, sem falta, ele ecoava cidade adentro. O primeiro às seis da manhã, o último às seis da tarde. Quando o som da sétima badalada se extinguiu, atravessando ruas e vielas, a noite caiu sobre Allpea.
Isso era útil para os trabalhadores pois indicava quando seu dia de trabalho começava e terminava, um sinal muito prático. O comércio em geral o interpretava como fim de expediente. Entretanto, para as barracas de comida e tabernas, o início da noite é, na verdade, o “horário de pico”.
E, para a Taberna Sherry, desde a última badalada até altas horas da noite, o movimento era grande. Inúmeros membros da Lua Vermelha visitavam o local para revigorar seus espíritos, tendo em mente o trabalho no dia seguinte.
Hoje à noite, no entanto, Sherry estava mais animada que o habitual. Os membros da Lua Vermelha não eram os únicos presentes; artesãos idosos, jovens aprendizes, comerciantes obesos, empresárias encantadoras, até soldados do exército regular podiam ser encontrados pelo salão.
Todo lugar que Haruhiro olhava estava repleto de pessoas; mesmo que o segundo andar fosse espaçoso, ainda parecia abarrotado de gente. E, naturalmente, todos os assentos encontravam-se ocupados; muitos permaneciam em pé. O segundo andar não foi o único superlotado; as escadas ficaram intransitáveis.
Todos foram para Sherry depois de ouvir um certo rumor.
Embora os seres humanos fossem a raça predominante em Allpea e nas regiões circundantes, quanto mais longe seu território se aventurasse, mais raças hostis ou monstros podiam ser encontradas em grande número.
Muitas vezes, eles usavam da superioridade numérica para matar quaisquer humanos que encontrassem. Em resposta, clãs emergiram da necessidade de proteção, logo, se seu objetivo tinha a mínima relação com ações militares, era melhor ser membro de um. Na verdade, talvez fosse mais correto chamar essa “adesão” de obrigação; uma medida indispensável.
Apesar disso, existia um grupo que lutou sozinho por muito tempo. Quatro deles eram membros da Lua Vermelha, um era elfo. Entre os membros deste grupo, Pingo, um necromante, criou Zenmai a sexta integrante.
Eles eram considerados os melhores entre os melhores e sua reputação sempre os perseguia, especialmente Allpea. Um dos fatos, que aumentava ainda mais a notoriedade do grupo, é o de eles serem os únicos da Lua Vermelha a receberem um convite de jantar, oferecido pelo conde da cidade – Gerran Vedoy. Apesar da influência do convidante, eles recusaram.
— Souma, agora é um bom momento, você não acha?
Por insistência de uma mulher voluptuosa, Souma levantou de seu assento. Este simples ato transformou, sem demoras, uma taberna barulhenta e alvoroçada em um lugar absolutamente silencioso. Como esperado, é claro. Afinal, todos estavam ali justamente para ouvir o anúncio que ele estava prestes a fazer.
De qualquer forma, hoje foi um dia digno de ser lembrado nos livros de história. O dia em que o famoso Souma, contra todas as expectativas, formaria um clã. Dizia-se que ele veio para recrutar membros.
Mas era um rumor verdadeiro? Talvez fosse apenas um boato, nada mais que um punhado de lorotas. A maioria pensava exatamente isso, mas Souma realmente tinha aparecido na Sherry, e ele estava a poucos momentos de proferir seu anúncio.
— Shima. — Disse Souma.
— Sim. — A mulher voluptuosa devolveu um breve sorriso acompanhado de um aceno leve.
Souma, em seguida, voltou sua atenção para o homem com um penteado de tranças emaranhadas – dread. — Kemuri.
— Aqui. — O homem de dread respondeu flexionando, preguiçosamente, seu pescoço; à esquerda e depois à direita.
Souma olhou para um homem que mais parecia uma criança. — Pingo.
— Hmm … — O olhar de Pingo estava no chão e ele deixou escapar um longo suspiro. — Eu não gosto das coisas como estão.
— Eu percebi. — Souma fez uma expressão carrancuda, antes de se dirigir à criatura grande usando uma máscara temível. — Zenmai.
Lentamente, Zenmai deu um simples aceno.
Os olhos de Souma, em seguida, foram para o último membro de seu grupo, a elfa. — Lily.
— Sim, Souma. — Lily olhou para ele com seus magníficos olhos de safira.
Souma, fechou os olhos, respirou fundo e murmurou o nome decisivo.
— Nino.
Esse último nome se referia a uma pessoa que não estava “entre” eles, não mais. Ela pertencia à classe dos sacerdotes e, quando morreu, Kemuri mudou passando de guerreiro para paladino; Shima deixou a guilda dos ladrões e foi para junto dos elfos que habitam na Floresta Sombria, treinou para ser uma xamã; Lili juntou-se a eles nesse meio tempo.
Desde a morte de Nino, Souma buscava maneiras de trazê-la de volta, mas ainda não tinha encontrado os meios. Ele suspeitava que poderia encontrar pistas no local de descanso do Rei Imortal, antes conhecido como Reino de Ismael, mas ninguém sabia muito a respeito.
Um meio para trazer de volta os mortos poderia até não existir naquele mundo. Naquele mundo… O que era aquele mundo? De onde todas eles vieram, e como acabaram aqui? Como poderia existir um mundo tão ridículo onde a lua brilhava na cor vermelha, onde os monstros faziam parte do cotidiano das pessoas?
Certa vez, Kemuri comentou baixinho “Isto é como um vídeo game…” e Souma respondeu com “Sim, tem de ser”.
Eles até tinham pensado no momento, mas pouco tempo depois, já não sabiam do que estavam falando. O que era essa coisa chamada “vídeo game”? A sensação de desconforto tinha diminuído gradualmente e, por vezes, quase foi esquecida, mas nunca os deixou de vez. Mesmo agora, permanecia entalhada em seus corações.
E se este mundo não fosse real, mas algum tipo de mundo construído com um propósito? Algum tipo de fantasia? Em seguida, supondo que Souma e os outros tinham vindo do mundo real, o que teria acontecido com a Nino, que morreu neste mundo? Seria possível que Nino tinha simplesmente voltado para o mundo real? Ainda estaria viva?
Era uma possibilidade, sim, e nada mais. Sempre existia uma possibilidade, uma diferente de zero…
Souma abriu os olhos. — Nós decidimos formar um clã. — Essas palavras sozinhas causaram um rebuliço em toda a taberna. — Nosso objetivo é invadir o antigo Reino de Ismael, o domínio dos mortos-vivos. — Embora ele não estivesse falando alto, suas palavras percorreram cada cantinho do salão.
Sua voz era profunda e ameaçadora; com pouco esforço, fazia monstros fugirem com o rabo entre as pernas. Monstros considerados páreos para Souma, definitivamente, estavam entre os mais fortes.
— Já obtivemos informações de que o Rei Imortal está mostrando sinais que vai retornar. Temos a intenção de impedir isso e, se o Rei Imortal conseguir retornar, destruí-lo mais uma vez sem hesitação. Claro, nós não esperamos que seja fácil, mas temos de encontrar uma maneira. Precisamos de força. Força em números. Esta tarefa está além da capacidade de meu grupo sozinho.
Na taberna, os membros da Lua Vermelha começaram a falar ao mesmo tempo, enquanto os civis e outros não-membros aplaudiam e assobiavam. O estrondo dos aplausos era ensurdecedor.
Mas tudo que Souma tinha dito era uma meia-verdade. Naturalmente, ele iria revelar seus verdadeiros motivos para aqueles considerados dignos de confiança.
— Por favor, empreste-nos sua força! — Souma preferiu, convocando os presentes. — Aqueles que se consideram um de nós, por favor, juntem-se a nós!”
— Dê-nos um nome! Qual é o nome do seu clã?! — Alguém gritou.
Souma assentiu. — De agora em diante, seremos conhecidos como os Daybreakers! Aqueles que são valentes, aqueles que são sábios, aqueles que têm corações nobres, e aqueles que são dignos! Não temam a morte; desafie ela!
— Nino … — No turbilhão selvagem da excitação, que entrou em erupção na taberna, Souma interiormente sussurrou.
Vou desvendar os mistérios deste mundo e, em seguida, talvez nos encontraremos de novo…
Haruhiro jamais poderia saber como os seus destinos se cruzam, e o que os esperava no final.

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