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    Capítulo 15

    A morte espreita

    Tradutor: Zekaev

    ———————Eu me lembrei de algo… eu acho.

    Ele se lembra de muitas coisas. Ao menos é o que parece. Mas, no fim, acabava não se lembrando de nada sobre o que acreditava saber.

    Ele estava ali, naquele lugar – sobre isso não havia nenhuma dúvida. E, ainda assim, não se lembrava de nada.

    Mas agora foi diferente.

    Por um momento, foi diferente. Ele se lembrou de tudo.

    Entretanto, não sabia exatamente o que era esse “tudo”.

    Não, era impossível que ele não soubesse. Aquilo despertou-lhe sentimentos profundos.

    Mas faltava alguma coisa.

    Bem ali.

    Bem no fundo do seu peito.

    Havia algo ali.

    Porém, não mais.

    Fora arrancado, agora só restava um buraco, um vazio.

    Se tentasse vislumbrar a forma desse buraco, talvez conseguisse ao menos um palpite do que ele já foi.

    Choco.

    Ele se lembrou dela, depois a esqueceu. Era algo sobre a Choco.

    Haruhiro provavelmente a conhecia. Eles se conheciam. Talvez até fossem amigos, ou algo assim.

    Realmente, isso era tudo que ele sabia.

    Não sobrou mais nada. Nem mesmo um singelo vestígio.

    Haruhiro… ! — Ranta o sacudia com força. — E aí cara! O que a gente faz agora?! Ah, vamos… Numa hora dessas, você não pode se dar ao luxo de fazer isso… !

    EU-

    Eu sei.

    Eu sei que… Eu…

    Eu sei?

    Sério?

    Não, Ranta está certo. É exatamente como ele disse. No que estou pensando? Zoran, seus subordinados e os feiticeiros orcs estão num verdadeiro frenesi no primeiro andar da fortaleza. Há soldados voluntários caídos por todos os lados. Choco. Ahh. Choco.

    Choco e seu grupo morreram também. Eles estão mortos. O ‘Sr. Agradável’, o ‘Sr. Risonho’, o ‘Sr. Sacerdote’, a amiga da Choco… E aquele cara alto? Ele está ali, no chão, perto da parede. Ele não está nada bem, aquele ferimento deve estar doendo muito. Todos foram mortos. Pelos orcs.

    Choco morreu.

    Sim, mal posso acreditar no que está acontecendo. Embora eu me sinta triste – muito triste – e um pouco dolorido, até que não é tão ruim assim.

    De alguma forma, isso não me parece correto, é difícil aceitar. É como se eu estivesse me perguntando se está tudo bem. Que aflição… Ela era um soldado voluntário, assim como eu. Eu já tinha falado com ela antes e tenho certeza de que a conhecia antes de vir para cá. Agora ela está morta. Mas não é só isso.

    Tem mais, bem… Eu sinto que deveria ser mais…

    Eu deveria me sentir pior do que isso. Caramba, Choco está morta e isso é tudo que eu sinto? Não é horrível?

    Não que eu tenha alguma razão concreta para pensar isso.

    Mesmo que nos conhecêssemos, não sei qual era o nosso relacionamento. Podemos apenas ter nos conhecido e… bem…

    Independentemente disso, agora não é o melhor momento para refletir sobre o que aconteceu. Ranta está certo. Eles estão numa situação complicada.

    Os soldados voluntários sobreviventes, incluindo Renji e seu grupo, batalhavam desesperadamente contra Zoran Zesh e seus subordinados. Quanto ao próprio Renji, ele trocava golpes com Zoran, também estava em clara desvantagem, sob pressão constante.

    Não, era muito pior do que isso. Renji mal conseguia desviar a cimitarra de Zoran com sua espada.

    Haruhiro se perguntou: Como ele ainda continua de pé?

    Renji se esquivava desesperadamente, coberto de sangue. Ele não parecia ter nenhum ferimento grave, mas já eram visíveis os vários cortes na cabeça.

    Droga! — Ron gritou, correndo para ajudá-lo.

    Mas Renji esbravejou. — Não se atreva a vir aqui!. Você só vai atrapalhar! Todos, fiquem longe!

    Certamente, não por ser um duelo um-contra-um, porque era muito perigoso.

    Os braços longos e gordos de Zoran. Seus ombros e peito avantajados. Esses movimentos. E, finalmente, aquela cimitarra. Zoran é ainda mais perigoso do que Ish Dogran, aquele que atacou Allpea. Seria necessário apenas um golpe, tenho certeza. Se ele conseguisse um golpe certeiro, tudo acabaria em um instante.

    Até mesmo seus próprios subordinados devem ter medo de ser atingidos já que não tentavam se aproximar de Zoran.

    Como resultado, Zoran e Renji enfrentavam um ao outro, mas havia outra batalha acontecendo entre os subordinados orcs e feiticeiros contra os soldados voluntários.

    Uma batalha que estamos perdendo, Haruhiro pensou. Perdendo feio.

    As lâminas de Ron estão travadas com as de um orc, acho que ele está passando por um momento difícil. Chibi, Sasha e Adachi estão encurralados. Quantos soldados voluntários estão realmente lutando em pé de igualdade com esses orcs? Poucos. O resto pode cair a qualquer momento, ou já caiu.

    Feiticeiro! — Shihori gritou.

    Haruhiro olhou e viu um orc, que parecia ser um feiticeiro, vindo em sua direção – a partir da base da escada.

    Hungahh… ! — Moguzo gritou.

    Quando Moguzo subiu, o feiticeiro parou de andar e levantou a panela pendurada na cintura, abrindo a tampa. Algo saiu de dentro dela.

    Insetos, pensou Haruhiro. Insetos, hein. Provavelmente são insetos. Um enxame.

    Ow?! — Moguzo gritou em confusão enquanto os insetos enxameavam sobre sua cabeça. Ele estava usando um capacete, mas os insetos eram minúsculos e conseguiam entrar pelas aberturas. — Gwahhhhhh… !

    Moguzo gritou de agonia, parecendo que ia se sentar.

    Isso é perigoso, pensou Haruhiro. Ele não pode.

    Fique em pé! — Haruhiro gritou, reagindo imediatamente. — Moguzo, de pé! Você não pode cair!

    Hungh! — Moguzo gritou, girando sua espada com dificuldade. — Hwahhhhh… !

    Maldito, você e esses truques mesquinhos! — Ranta gritou mas, avançava para o ataque, congelou em uma pose bizarra.

    — … Guh, nghhhhhhh… — Ranta murmurou.

    O que… ?! — Haruhiro engasgou. Isso também é feitiçaria?

    O feiticeiro que soltou os insetos em Moguzo agora tinha a palma da mão apontando para Ranta.

    É psicocinesia ?! — Haruhiro indagou.

    Nyeh! — Yumi gritou, preparando seu arco e disparando uma flecha.

    O feiticeiro saltou para se esquivar da flecha e Ranta conseguiu se mover.

    Isso é ótimo, mas a flecha dela atingiu o rosto de Ron, Haruhiro ponderou.

    Cuidado! Ei! — Ron protestou.

    Uau! D-desculpe! — Yumi chorou.

    Você não pode usar seu arco, Yumi! — Haruhiro a advertiu. — Essa é uma luta corpo a corpo!

    Certo, entendi!

    Oom rel eckt pram das! — Shihori entoou.

    A sombra elemental disparou da ponta do cajado de Shihori, voando em espiral até atingir o feiticeiro, penetrando o corpo dele através do nariz e da boca.

    Enigma Sombrio.

    Ela acertou? Haruhiro se perguntou.

    O feiticeiro tropeçou por um momento, depois balançou a cabeça. Mas foi só isso.

    Shihori cerrou os dentes. — Ele resistiu!

    Deixe isso comigo! — Ranta gritou. — Ódio… !

    Ranta deu um passo brusco em sua direção, mas o feiticeiro se antecipou. Ele saltou para trás agilmente, com o Orc A avançando para tomar seu lugar.

    A gakari do Orc A e a espada longa de Ranta colidiram.

    Suas lâminas travaram.

    Hah! Sem chance! — Ranta imediatamente o empurrou, tentando colocar alguma distância entre eles, mas o Orc A empurrou de volta.

    Ooosh… ! — O orc grunhiu.

    Nwah! — Ranta vociferou.

    Ranta está perdendo o equilíbrio, Haruhiro pensou. Isso é muito ruim. Ele vai acabar caindo. Eu tenho que ajudá-lo. Mas eu consigo? Haruhiro hesitou. Eu vou fazer isso.

    Quando Haruhiro tentou interferir, o Orc B bloqueou seu caminho.

    Ele é realmente intimidante, Haruhiro pensou. Estou suando frio. Eu preciso mesmo fazer isso? É loucura.

    Osh! Osh! Osh! Osh! — O orc chamou.

    Ah! Ah… ! Ah! Ah… ! — Haruhiro engasgou.

    Pancada. Pancada. Pancada. Pancada.

    Isto é mau. Minhas mãos estão ficando dormentes. Meus olhos estão girando. Estou assustado. Muito assustado. Eu não posso fazer isso. Ele é forte. Muito forte.

    Eu vou morrer.

    Esmagar! — Mary veio no momento perfeito. Ela atingiu o Orc B com seu cajado.

    Então você é durão, hein? Haruhiro ponderou.

    O Orc B facilmente parou o cajado dela com o escudo e, com seu corpo ainda voltado para Haruhiro, olhou para Mary.

    Já é o suficiente, Haruhiro pensou. Agora.

    Haruhiro avançou em direção ao Orc B, com todas as suas forças.

    O Orc B iniciou um movimento para acertar Haruhiro com o escudo, mas Haruhiro passou por ele.

    Enquanto ele passava, copiou o truque de Sasha e cravou sua adaga no pescoço do Orc B.

    Quase.

    Gwah… ?! — Haruhiro gritou.

    Insetos. Malditos.

    Haruhiro imediatamente fechou a boca, cerrou os olhos e baixou a postura.

    Insetos. Droga. O feiticeiro. Quando? Onde? Insetos. Insetos

    Volta, Haru! — Uma voz gritou.

    É a Mary. Ela está me dizendo para voltar, mas para onde eu volto? Espere, tem insetos na minha boca. Eu quero cuspi-los, mas se eu abrir minha boca, acho que mais vão entrar. Eu também não consigo abrir meus olhos. O que está acontecendo? Eu não tenho ideia. Isto não é nada bom, nada bom.

    Eu vou morrer.

    Haru, por aqui! — alguém gritou, agarrando-o pelo braço e puxando.

    Yumi? Ele não entendeu.

    De repente, algo lhe ocorreu.

    Água. Use água.

    Haruhiro puxou seu cantil, derramando seu conteúdo em cima de si mesmo. Ele enxaguou o rosto e cuspiu os insetos.

    Eu consigo ver. Também posso respirar.

    Está tudo bem agora! — Yumi disse aliviada.

    Não, isso não está nada bem, Haruhiro retornou à realidade. Ranta está perdendo para Orc A. Ele pode cair a qualquer momento. Talvez seja por causa dos insetos, mas Moguzo parece que mal consegue lidar com o Orc B. Mary está lutando bem para proteger Shihori do Orc C, mas isso é muito arriscado. Eu tenho que fazer algo.

    Quanto ao Renji, ele ainda está sendo perseguido por Zoran, e os outros quatro do seu time ainda estão presos numa posição defensiva e mal conseguem resistir.

    Quantos soldados voluntários ainda estão vivos?

    Aniquilados.

    Essa palavra acabou de invadir-lhe a mente.

    Como se isso tudo fosse culpa minha, Haruhiro pensou. Seremos aniquilados. Não seja ridículo.

    Yumi, cuide da Mary! — Ele gritou.

    Haruhiro mandou Yumi até Mary e decidiu ajudar Ranta pessoalmente. O problema era como ele o ajudaria? Se tentasse ficar atrás do Orc A, temia que outro orc viesse.

    Eu vi uma espada, ele pensou. Está no chão. Uma espada. De quem é? Não importa.

    Haruhiro pegou a espada e jogou-a no Orc A. Foi um movimento desesperado; o Orc A usou seu escudo para bloquear a espada que se aproximava e recuou ligeiramente. Isso criou um pouco de espaço para Ranta recuperar o fôlego.

    Droga, desse jeito,eu não vou durar muito… ! — Ranta ofegou. — Ah, sério! Puta merda… !

    O que aconteceu com o Zodiac?! — Haruhiro gritou.

    Ele foi jogado para fora! — Ranta gritou. — Com um golpe! Esse idiota é fraco! Raiva…!

    Ver Ranta retomando a ofensiva mesmo nessa situação, é algo impressionante. No entanto, o Orc A era ainda melhor. Ele varreu a espada longa de Ranta para o lado como se ela não fosse nada e imediatamente desferiu um golpe para atingir Ranta na cabeça.

    A cabeça dele, Haruhiro previu. Isso vai doer.

    Ai! — Ranta gemeu.

    Mesmo que esteja usando um capacete, ainda foi um movimento perigoso.

    Ranta cambaleou.

    Não, não mesmo! — Haruhiro investiu contra o Orc A num movimento imprudente – ou foi assim que ele fez parecer, antes de mudar para uma posição defensiva, quando o Orc A se virou para encará-lo.

    Vem. Vem me atacar. Lá vem ele. Pancada. Pancada. Pancada.

    Rápido, Ranta, se recomponha! — ele chamou.

    Eu não preciso ouvir isso de você! Ohhhhhhhh! Cortes Dilaceradores de Arrependimento!

    Não existe uma habilidade com esse nome, Haruhiro pensou. Ele está falando asneiras de novo.

    Ranta usou sua espada longa para desferir uma rajada de golpes no Orc A.

    Bem, todos eles estão sendo bloqueados, no entanto. Porém, isso forçou o Orc A a passar para uma postura defensiva.

    É isso. Eu vou atacar.

    Mesmo que seja um pouco imprudente, preciso atacar. Tenho que reduzir o número de inimigos, mesmo que seja apenas um, ou vamos morrer aqui.

    Atrás dele. Fique atrás do Orc A. Derrube-o com uma Punhalada pelas Costas. Eu consigo. Sim, eu consigo.

    Aconteceu no momento em que Haruhiro tomou a decisão.

    Myeek! — Alguém gritou.

    É a Yumi, pensou Haruhiro. Esse grito é da Yumi. Ela caiu no chão. Ou melhor, ela deve ter sido arremessada.

    Ela estava coberta de sangue do ombro ao peito.

    Ela foi atingida? Ele pensou. Pelo Orc C?

    O Orc C foi atacar Yumi. Mary tentou impedir, girando seu cajado, mas, cruelmente, o Orc C foi capaz de desviá-lo com o escudo.

    Ah, MERDA! — Haruhiro disparou. Acho que não vou conseguir.

    Yumi, no entanto, fez tudo o que pôde. Ela jogou uma faca de arremesso. — Estrela Perfurante!

    O Orc C deu um passo para trás, esquivando-se da faca de arremesso.

    Mesmo que isso só tenha dado mais alguns segundos, parece que vou chegar a tempo, Haruhiro pesou. Eu já não me importo com o que acontecerá comigo agora.

    Haruhiro planejava agarrar o Orc C.

    Mas o que é isso? Ele indagou. Tem algo vindo do lado. Tem alguém à minha esquerda.

    Apesar das circunstâncias, ele olhou. Foi um bom ter olhado. Era um feiticeiro, inalando profundamente e prestes a cuspir algo.

    O que é? Está saindo da boca dele…

    Fogo… !

    Haruhiro deu um suspiro de surpresa e rapidamente se jogou no chão.

    Eu mal consegui evitar a língua de fogo, está quente. Cara, como está quente. Espere, estou pegando fogo. Minha capa. Não… primeiro, onde está a Yumi?

    Acabou.

    O Orc C estava prestes a balançar sua espada sobre ela.

    Acabou. Yumi seria eliminada.

    Não.

    Hungahh… !

    Não acabou. Moguzo estava lá. Haruhiro e os outros ainda tinham Moguzo.

    Moguzo se chocou contra o Orc C, jogando-o para longe. Mas ainda restava o feiticeiro. O feiticeiro estava voltando. Cuspindo fogo. Aquelas chamas transformaram Moguzo em uma bola de fogo. O feiticeiro fugiu, talvez assustado com a intensidade de Moguzo enquanto ele parecia encolher os ombros, girando o Triturador descontroladamente.

    RECUAR! — Haruhiro gritou, pensando que era a única opção deles.

    Isso é demais. Nós não podemos vencer isso. Nós vamos morrer. Nesse ritmo, todos nós morreremos. Eu não quero morrer. Não porque tenho medo da morte, mas porque não quero deixar meus companheiros morrerem. Eu não quero que eles morram. Eles não vão. Eu não vou deixá-los morrer.

    RECUAR! — Ele chamou. — Para a torre que a gente estava antes!

    Mas… podemos mesmo fazer isso?

    Caso queira me apoiar de alguma forma, considere fazer uma doação

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