Índice de Capítulo

    O Guardião estalou os dedos, e o silêncio da arena pareceu responder.
    O gelo se reacomodou, o ar ficou denso com a mana estática, e a armadura voltou a cobrir seu corpo como névoa enrijecida.
    Os olhos dele brilharam por trás da máscara, fixos nos homens diante dele.

    — Vamos ser diretos. Qual o seu ponto forte, comandante? — perguntou, a voz reverberando pelo espaço. Enquanto falava, alongava o pescoço, devagar, como se estivesse aquecendo para um exercício entediante.

    Dravis deu dois passos à frente. A postura era firme, a respiração ritmada. Era óbvio que acreditava ter chance.
    — Minha força. Sou da Linhagem Or’Karrun. Dependendo da muralha eu consigo derrubar. Costumo levar a melhor quando o inimigo está perto.

    O Guardião sorriu, quase divertido.
    — Ótimo. Então… vamos ver do que você é feito. — encarou Dravis diretamente. — Pode atacar primeiro.

    Dravis não esperou mais. Investiu com velocidade surpreendente para alguém com aquele porte físico, tentando agarrar o Guardião pelo tórax.
    O movimento levantou poeira e fragmentos de gelo, e por um instante a plateia acreditou que a investida teria êxito.

    Mas o Guardião apenas girou levemente o corpo. O golpe passou a centímetros. No mesmo movimento, ele segurou o braço de Dravis e usou o próprio impulso do homem contra ele.

    Dravis voou, batendo de costas contra o chão da arena com impacto seco. Um murmúrio correu pelas arquibancadas.

    Ele rolou para o lado, tentando não parecer atordoado, e já voltou de pé, investindo de novo com o ombro baixo.
    O Guardião recuou um passo, depois saltou para o lado, aproveitando o movimento circular. Com um giro preciso, mergulhou a perna no solo e derrubou Dravis de novo.

    A plateia reagiu com espanto. O comandante estava no chão pela segunda vez em menos de meio minuto.

    — Você é forte. — disse o Guardião, caminhando ao redor do corpo caído. — Mas a força bruta só é bonita quando o mundo colabora. E o mundo… raramente colabora.

    Dravis grunhiu, tentou erguer-se mais uma vez. O pé do Guardião pressionou-lhe o peito, impedindo.

    — Aprenda. Você pode até ser praticamente imparável quando avança. Mas nada disso importa quando o oponente não é uma muralha. — ergueu o olhar para os observadores. — Força sem leitura é apenas barulho.

    O Guardião afastou-se. Dravis ficou deitado, ofegante, talvez mais ferido no orgulho do que no corpo.

    — Próximo.

    O segundo guerreiro avançou. Empunhava um arco longo, marcado por runas tribais gravadas na madeira. A tensão em seus ombros era visível.


    — Alcance. Eu sou letal à distância.

    O Guardião não respondeu. Caminhou até o extremo oposto da arena, cruzou os braços e ficou parado. A máscara de gelo não deixava ver seu rosto, mas era quase possível sentir o desdém como se dissesse “me mostre”.

    A primeira flecha cortou o ar. O Guardião inclinou o torso, deixando a madeira cantar ao lado da orelha.
    A segunda veio carregada por encantamento de vento. O Guardião rolou no solo com um giro limpo, aproximando-se ainda mais.
    A terceira foi disparada quase à queima-roupa, e a ponta ricocheteou no gelo da máscara.

    O arqueiro arregalou os olhos.

    — Três flechas. Nenhuma percepção de que sua mão esquerda treme antes de disparar. — disse o Guardião. — Está nervoso. Nervosismo não combina com precisão.

    O arqueiro tentou recuar, mas já estava encurralado. O Guardião passou por ele como vento, arrancando o arco de suas mãos com facilidade.

    — Confiança é metade do arco. Você nunca deve atirar se já acha que vai errar.


    A batalha terminou ali.

    — Próximo.

    O terceiro guerreiro ergueu uma espada curva e se posicionou com firmeza. A lâmina reluzia sob o brilho frio da arena.
    — Espada cerimonial. Combate de fluxo e giro. Sou campeão do Círculo Sul de Forndal.

    O Guardião dissipou o elmo. Um sorriso de canto surgiu.
    — Campeão de onde ninguém acerta? Vamos testar.

    Com um estalo no chão, ergueu uma lâmina curta e fina, moldada de gelo puro. O som da mana reverberou.

    O espadachim avançou com quatro cortes angulados, rápidos. O Guardião bloqueou dois com a lâmina, desviou do terceiro com um giro de quadril e encostou o quarto com a palma da mão, como se ditasse o ritmo.

    — Bonito. — avaliou. — Mas seus pés… estão lentos.

    Recua um passo, gira a espada no punho, aplica um golpe descendente. A lâmina de gelo prende o cabo do adversário e trava o pulso. Com um puxão seco, a espada do outro cai.

    O guerreiro vai de joelhos.

    — Você estava fora do compasso.

    — Próximo.

    O quarto veio com uma lança ornamentada, girando em movimentos rituais.
    — Lanceiro. Alcance vertical. Técnica da Lua Mancha.

    O Guardião não invocou arma. Apenas rodou em torno do adversário, descrevendo um círculo invisível.

    O primeiro golpe passou raspando. O segundo falhou no tempo.
    O terceiro foi interrompido por uma pedrada do Guardião, que arremessou uma pedra de gelo, atingindo a testa do lanceiro. O elmo absorveu, mas antes que ele entendesse, a lança já estava nas mãos do Guardião.

    — Você olha para a ponta. Esquece de todo o resto. Combate vazio.

    Devolveu a arma ao chão e caminhou para o centro.

    — Próximo.

    O quinto hesitou. Era o mago.
    — Eu… não sou guerreiro.

    O Guardião se aproximou.
    — Se não quer lutar, apenas vá embora.

    O mago recuou em silêncio, cabisbaixo.

    Virando-se para o lado oposto, o Guardião suspirou.
    — Próximos.

    Cinco espadachins se alinharam em formação, vindos do império de Ignaris. A plateia murmurou.

    — Todos espadachins? Que decepção.

    O primeiro atacou direto, com força. O Guardião desviou, travou a lâmina no próprio antebraço e empurrou o oponente com o cotovelo, finalizando com um chute pesado. O homem caiu.

    — Cansa.

    O segundo veio pela lateral. O Guardião girou o corpo, prendeu-lhe a perna e o derrubou com rotação de quadril.

    — Tedioso.

    O terceiro hesitou. O Guardião chutou uma placa de gelo nos pés dele.

    — Isso é sério?

    O quarto recuou sozinho. O Guardião inclinou a cabeça, quase em agradecimento.
    O quinto baixou a espada por conta própria. Não precisava ser humilhado.

    O Guardião inspirou fundo. O ar pareceu acalmar.

    Só restava um nome.
    — Último. Suba.

    A arena silenciou.

    Aisha ergueu os olhos debaixo do elmo.
    Ela sabia que esse momento viria.
    Mas não esperava que fosse tão rápido.

    Pisou na borda da arena.

    Agora, seria vista.

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