O centro da arena estava silencioso. 

    Aisha avançava com passos firmes, o peso da armadura reverberando no gelo. Os flocos dançavam ao redor de sua figura e colidiam contra o elmo, como se o próprio vento tentasse decifrar o que havia por trás daquela couraça ancestral. 

    O Guardião a observava. 

    — Postura decente — comentou, empunhando uma lâmina fina de gelo recém-formada. — É por esse ser um duelo até a morte?  Só não peça piedade. Isso não existe aqui. 

    Aisha não respondeu. Limitou-se a posicionar sua espada de ferro negro em diagonal, girando o punho em silêncio. 

    O combate começou com um golpe cruzado. Direto, firme. 

    O Guardião bloqueou com facilidade, girando a lâmina e devolvendo a pressão. Mas Aisha recuou com controle e desferiu uma sequência rápida: um corte de base seguido por um giro lateral e um impulso vertical que surpreendeu o Guardião por um segundo. 

    O som do impacto ecoou. Aisha havia acertado de raspão a borda da ombreira do Guardião. 

    Ele sorriu, finalmente parecendo um pouco interessado. 

    — Ah… então temos técnica. E um pouco de ritmo. 

    O seu sorriso foi substituído por uma expressão séria, enquanto ele colocava a espada sobre o ombro. 

    — Mas falta algo…. 

    Eles voltaram a trocar golpes, agora mais rápidos, mais sérios. O Guardião aumentou a pressão da lâmina, investindo com cortes angulados que forçavam Aisha a esquivar e defender em posturas incomuns. E foi ali que ele percebeu. 

    Em momentos específicos, a armadura parecia “acelerar”.   

    Não era o metal… era o corpo por dentro.   

    A mana dela fluía sutilmente, reforçando músculos nas articulações exatas. 

    — Você… está canalizando mana nos tendões? — ele murmurou após o quarto bloqueio consecutivo. — Quem ensinou isso? Não é técnica de Ignaris… 

    Aisha não respondeu. Desviou de um ataque com um giro curto, apoiando-se em um impulso leve de mana pelas pernas. Contra-atacou com um estocada que o Guardião só conseguiu interceptar cruzando a lâmina em X. 

    — Interessante… — disse ele, recuando pela primeira vez. — Você estuda. E sente o momento. Está costurando força com inteligência. Gosto disso.  

    — Chega da dança das lâminas — ele disse, sorrindo com um brilho travesso nos olhos. — Vamos descobrir o que você faz quando algo quebra o seu ritmo.   

    Mas então, sem aviso, o Guardião soltou a espada. 

    Ela pareceu levar um século para atingir o chão para Aisha e quando caiu, e a neve ressoou o som do impacto como se soubesse o que viria. 

    — Me mostre o que você tem! 

    O ataque desarmado do Guardião foi avassalador. 

    Ele se moveu como vento sólido, socos curtos, golpes com palma aberta, deslocamentos com ombro, joelhadas em ângulos de pressão. Aisha tentou acompanhar, usando a mana como reforço constante. Mas a armadura… começava a atrasá-la. 

    Cada desvio se tornava milésimos mais lento. 

    Cada giro, mais pesado. 

    O Guardião acertou uma sequência de três golpes, um de cotovelo, um na lateral do elmo e outro na base do quadril. Aisha cambaleou por um segundo. 

    Ele recuou. 

    — Sua técnica é clara. Seus olhos são decisivos.   

    — Mas essa armadura está te afogando. 

    Aisha respirava fundo por dentro do metal. 

    O Guardião deu dois passos para o lado. 

    — Está me entregando 70% do que poderia.   

    — E ainda me faz trabalhar. 

    Silêncio. 

    Aisha apertava o punho da espada por dentro da manopla. 

    — Tire isso — disse ele. — Não por mim. Por você. 

    Ela continuou parada. 

    — Está relutando? Acha que pode vencer escondida? 

    Mais silêncio. 

    O Guardião inclinou a cabeça, pensativo. 

    — Se não vencer… você vai morrer. — Ele falou apontando para o capitão de Ignaris — É o terceiro desafio. E sua comitiva… já escolheu por você. 

    Aisha piscou. O coração acelerou. Ela sabia que aquele momento viria.   

    Mas agora… era real. 

    Ela ergueu a mão. 

    Segurou o elmo. 

    E começou a soltá-lo. 

    O Guardião observava em silêncio… pela primeira vez, sem provocação.   

    Quando a placa superior se desprendeu, os cabelos escuros escaparam como uma onda suave, caindo contra o pescoço. 

    Os olhos dourados surgiram em meio ao vapor de gelo. 

    O Guardião não reagiu com espanto. Apenas observou. 

    Aisha, continuou removendo as manoplas, deixando os braços livres e firmes. 

    Finalmente…   

    Ela revelava o rosto. 

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