Capítulo 5 – Ecos da Lâmina
O centro da arena estava silencioso.
Aisha avançava com passos firmes, o peso da armadura reverberando no gelo. Os flocos dançavam ao redor de sua figura e colidiam contra o elmo, como se o próprio vento tentasse decifrar o que havia por trás daquela couraça ancestral.
O Guardião a observava.
— Postura decente — comentou, empunhando uma lâmina fina de gelo recém-formada. — É por esse ser um duelo até a morte? Só não peça piedade. Isso não existe aqui.
Aisha não respondeu. Limitou-se a posicionar sua espada de ferro negro em diagonal, girando o punho em silêncio.
O combate começou com um golpe cruzado. Direto, firme.
O Guardião bloqueou com facilidade, girando a lâmina e devolvendo a pressão. Mas Aisha recuou com controle e desferiu uma sequência rápida: um corte de base seguido por um giro lateral e um impulso vertical que surpreendeu o Guardião por um segundo.
O som do impacto ecoou. Aisha havia acertado de raspão a borda da ombreira do Guardião.
Ele sorriu, finalmente parecendo um pouco interessado.
— Ah… então temos técnica. E um pouco de ritmo.
O seu sorriso foi substituído por uma expressão séria, enquanto ele colocava a espada sobre o ombro.
— Mas falta algo….
Eles voltaram a trocar golpes, agora mais rápidos, mais sérios. O Guardião aumentou a pressão da lâmina, investindo com cortes angulados que forçavam Aisha a esquivar e defender em posturas incomuns. E foi ali que ele percebeu.
Em momentos específicos, a armadura parecia “acelerar”.
Não era o metal… era o corpo por dentro.
A mana dela fluía sutilmente, reforçando músculos nas articulações exatas.
— Você… está canalizando mana nos tendões? — ele murmurou após o quarto bloqueio consecutivo. — Quem ensinou isso? Não é técnica de Ignaris…
Aisha não respondeu. Desviou de um ataque com um giro curto, apoiando-se em um impulso leve de mana pelas pernas. Contra-atacou com um estocada que o Guardião só conseguiu interceptar cruzando a lâmina em X.
— Interessante… — disse ele, recuando pela primeira vez. — Você estuda. E sente o momento. Está costurando força com inteligência. Gosto disso.
— Chega da dança das lâminas — ele disse, sorrindo com um brilho travesso nos olhos. — Vamos descobrir o que você faz quando algo quebra o seu ritmo.
Mas então, sem aviso, o Guardião soltou a espada.
Ela pareceu levar um século para atingir o chão para Aisha e quando caiu, e a neve ressoou o som do impacto como se soubesse o que viria.
— Me mostre o que você tem!
O ataque desarmado do Guardião foi avassalador.
Ele se moveu como vento sólido, socos curtos, golpes com palma aberta, deslocamentos com ombro, joelhadas em ângulos de pressão. Aisha tentou acompanhar, usando a mana como reforço constante. Mas a armadura… começava a atrasá-la.
Cada desvio se tornava milésimos mais lento.
Cada giro, mais pesado.
O Guardião acertou uma sequência de três golpes, um de cotovelo, um na lateral do elmo e outro na base do quadril. Aisha cambaleou por um segundo.
Ele recuou.
— Sua técnica é clara. Seus olhos são decisivos.
— Mas essa armadura está te afogando.
Aisha respirava fundo por dentro do metal.
O Guardião deu dois passos para o lado.
— Está me entregando 70% do que poderia.
— E ainda me faz trabalhar.
Silêncio.
Aisha apertava o punho da espada por dentro da manopla.
— Tire isso — disse ele. — Não por mim. Por você.
Ela continuou parada.
— Está relutando? Acha que pode vencer escondida?
Mais silêncio.
O Guardião inclinou a cabeça, pensativo.
— Se não vencer… você vai morrer. — Ele falou apontando para o capitão de Ignaris — É o terceiro desafio. E sua comitiva… já escolheu por você.
Aisha piscou. O coração acelerou. Ela sabia que aquele momento viria.
Mas agora… era real.
Ela ergueu a mão.
Segurou o elmo.
E começou a soltá-lo.
O Guardião observava em silêncio… pela primeira vez, sem provocação.
Quando a placa superior se desprendeu, os cabelos escuros escaparam como uma onda suave, caindo contra o pescoço.
Os olhos dourados surgiram em meio ao vapor de gelo.
O Guardião não reagiu com espanto. Apenas observou.
Aisha, continuou removendo as manoplas, deixando os braços livres e firmes.
Finalmente…
Ela revelava o rosto.
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