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    As muralhas do Portão Norte surgiram pouco a pouco entre a poeira da estrada, firmes e altas. Doze metros de rocha clara, trabalhada com precisão, formando um arco imponente que guardava a entrada da capital. O símbolo de Cervalhion, um cedro entalhado em metal escuro, adornava o centro do portão como um selo antigo.

    A caravana reduziu o ritmo das carruagens até parar completamente.

    Naira afastou discretamente a aba da cobertura. A luz da manhã atravessava o tecido, delineando poeira que preenchia o ar. À frente, a carruagem de Ian e Lys já havia parado, e duas figuras os aguardavam.. À frente, a carruagem de Ian e Lys já tinha parado, e duas figuras os aguardavam: um homem e uma mulher vestidos com armaduras pratas e capas cinzas e o cedro bordado no peito. Eles mantinham a postura ereta, o semblante calmo.

    Ian desceu primeiro da carruagem, estendendo a mão para lys que ficou em pé nos degraus, o homem se aproximou deles e inclinou a cabeça com precisão quase ensaiada.

    — Guardião do Norte — saudou, com respeito.
    A mulher finalmente se aproximou fez uma reverência mais profunda.
    — Vossa Majestade. É uma honra recebê-los em Cervalhion. Fomos enviados para leva-los até o palácio.

    Nada no tom deles parecia hostil. Pareciam estar apenas seguindo o Protocolo.

    — Entendo.. e quem são vocês? — Lysvallis perguntou em um tom amigável.

    — Sou Dario, Majestade. — Ele se endireitou. — E esta é Andreia. Servimos na guarda real.

    Ian estreitou um pouco o olhar, e a mana reagiu antes mesmo de qualquer palavra. A vibração silenciosa percorreu o ar como um ronco de uma besta. Os guardas ao longe se sobressaltaram, alguns deram um passo automático para trás.

    — Curioso… — Ian disse, voz tranquila demais para ser confortável. — Cervalhion sabia da nossa chegada. E esta é a recepção oferecida? Agora vejo como o seu rei nos valoriza.

    A mana no ambiente ficou mais densa, como se o ar começasse a ficar cada vez mais pesado. O Piso de pedra emitindo rangidos sob botas. Mãos indo instintivamente ao cabo das lâminas. Olhos arregalados surgindo nas ameias.

    — Peço desculpas se causamos essa impressão, Guardião… mas tivemos um bom motivo — disse Andrea, lutando para manter a postura enquanto a mana comprimia o ar ao seu redor.

    A vibração cessou quando Ian parou de pressionar o ambiente.

    — Diga — ele ordenou, como se nada tivesse acontecido.

    Andrea respirou fundo.

    — O rei Aedin nos ordenou que não enviássemos uma escolta grande. — Ela manteve os olhos firmes. — Qualquer demonstração excessiva de força, mesmo que cerimonial, poderia ser interpretada como uma ameaça… especialmente para alguém com o seu poder.

    Dario complementou:

    — Fomos instruídos a recebê-los de forma discreta para evitar tensão militar, não para diminuir sua importância. Se um batalhão inteiro se posicionasse na entrada, temia-se que parecesse uma provocação. O rei quis evitar qualquer leitura equivocada.

    Andrea concluiu:

    — É por respeito, não por descaso. Nossa função é garantir que a chegada de Vossa Majestade e do Guardião não gere nenhum incidente… de nenhum dos lados.

    Ian desviou o olhar para as muralhas e então para Lys.
    — Pelo visto, seremos tratados como bestas na cidade — murmurou.

    Lys manteve o sorriso educado, mas o brilho frio nos olhos denunciava a leitura precisa da situação.
    — Que bom que ao menos reconhecem que temos presas — respondeu, baixinho. — Vamos entrar. Eles já mostraram o quanto estão cautelosos.

    Ian assentiu uma única vez e acompanhou a escolta adiante.

    Naira observou tudo de dentro da carruagem, sentindo a mana da cidade roçando seus sentidos, não agressiva, mas… densa, viva, era normal sentir isso em cidades populosas mas ali, a escala estava muito maior.

    Os representantes das casas nobres de Altheria guiaram suas carruagens, juntando-se a Ian, Lys e Aisha. O grupo seguiu acompanhando a dupla de escolta, atravessando o portão e adentrando a cidade em direção ao castelo.

    Do lado de fora só então restaram os soldados, as carruagens auxiliares… e eles: Naira, Kael e Thamir, todos misturados como membros da caravana.

    Foi nesse momento que mais guardas de Cervalhion se aproximaram, quatro deles, postura rígida demais para ser simplesmente uma apresentação casual. Naira sentiu Thamir endireitar as costas.

    Os guardas pararam diante deles, quando um dos guardas falou:

    — Vocês fazem parte da tropa de apoio de Altheria? — perguntou o capitão do portão, analisando cada um com atenção desconfiada.

    O clima pesou. Os soldados de Altheria ficaram imóveis.

    Até que Kael suspirou e avançou um passo.

    — Não, meu amigo — disse ele, completamente sério por meio segundo. — Roubamos as carruagens deles e trouxemos tudo até aqui por cortesia.

    Um dos guardas quase engasgou com o próprio ar.

    Thamir passou a mão no rosto, resignado.

    O capitão estreitou os olhos… e então arregalou-os, surpreso.

    — Não é possível… Kael?

    O ar pareceu se soltar da tropa inteira.

    Kael ergueu uma sobrancelha, quase divertido.
    — Essa é a recepção padrão agora? Ou é só porque você ainda me deve aquela aposta?

    O capitão gargalhou e agarrou o ombro de Kael com força fraternal.

    —Eu devia ter te dado uma surra naquela noite, seu desgraçado. Mas não vou pagar aposta nenhuma. — Ele virou-se para os guardas. — Homens, relaxem. Esses aqui estão comigo.

    A rigidez que dominava o grupo se dissipou num instante.

    Naira soltou discretamente o ar que nem percebeu ter prendido.

    Com o clima aliviado, os guardas de Cervalhion começaram a guiar o grupo pelas ruas da cidade. A escolta os conduziu pela cidade, e Cervalhion se revelou com uma força que ela não esperava.

    Casas altas de madeira escura e pedra clara. Ruas largas, limpas. Bandeiras do cedro balançando. Cheiro de pão fresco. Vozes. Risadas. Martelos ritmados. Música de cordas ecoando por becos de pedra.

    E o rio.

    Cortando a cidade como uma fita azul profunda, refletindo o céu quebrado pelas pontes arqueadas. Crianças molhadas correndo. Comerciantes disputando espaço com carrinhos. Cães. Trabalhadores nas docas. Templos menores escondidos entre vielas.

    A comitiva seguiu subindo pelas vias mais altas da região norte, onde as casas ficavam mais bonitas, e o barulho da multidão perdia força. Ali, entre ruas limpas e fachadas alinhadas, surgiu a hospedaria reservada para eles: dois andares, madeira polida, janelas amplas e a bandeira de Cervalhion e Altheria cuidadosamente hasteadas.

    Quando entraram, um homem já os aguardava no saguão.

    Postura impecável. Roupas limpas demais para ser um funcionário comum.
    Uma prancheta de madeira nas mãos, pena pronta.

    Ele sorriu.

    — Sejam bem-vindos. Sou o escrivão designado para o registro dos membros da comitiva de Altheria. — Olhou o grupo de cima a baixo com interesse pontual. — Podemos começar?

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