Índice de Capítulo

    A sala de reuniões era pequena, mas serviria ao proposito.

    Runas antigas cobriam as paredes de pedra clara, não como ornamentos, mas como contenção. Um espaço pensado para conversas que não podiam vazar.

    Lysvallis ocupava a cabeceira da pequena mesa circular. Postura ereta. Olhar atento.

    À direita dela, Elenys mantinha as mãos unidas sobre o colo. Alexia permanecia recostada na cadeira, braços cruzados, olhos atentos como lâminas.

    Ian estava de pé, próximo à parede, com os braços cruzados. Aisha sentara-se próxima a ele, inquieta, sentindo a vibração contida no ar.

    Naira foi a última a entrar, guiada por um guarda.

    A porta se fechou atrás dela com um som seco.

    — Então.. — disse Lysvallis, sem rodeios. — O que aconteceu?

    Naira respirou fundo antes de começar.

    — Problemas — disse. — Serena sofreu um ataque mental direto, ontem. Dentro da hospedaria.

    O silêncio foi imediato.

    Elenys foi a primeira a reagir.

    — O quê? — ela se inclinou para frente, a calma habitual quebrando. — Como assim “ataque”? Ela está bem?

    — Nada bem — respondeu Naira. — mas Inteira… por fora.

    Elenys fechou os olhos por um instante, como se precisasse se recompor antes de continuar respirando.

    — Quem fez isso?

    — Parece que foi o mesmo que atacou Thamir — Naira respondeu. — Um mago mental. Ele invadiu a mente dela.

    Ian se moveu.

    — Kael estava lá? — perguntou, a voz mais dura do que pretendia.

    Naira assentiu.

    — Chegou no meio do ataque. Ajudou Thamir a puxá-la da ilusão.

    Ian fechou os olhos por um segundo.

    — Isso é problemático.. — Ian falou passando a mão na parte de trás das cabeça — E como ele reagiu depois?

    — Fingindo que está bem — disse Naira, sem suavizar. — Como sempre.

    Alexia ergueu uma sobrancelha.

    — Curioso — disse, o tom cortante. — Vocês parecem mais preocupados com Kael do que com Serena… ou com capturar o responsável.

    Ian olhou para Alexia com calma..

    — Porque já vimos isso antes — disse ele. — E quase perdemos Kael por causa disso.

    Alexia não desviou o olhar.

    — Explique.

    Ian respirou fundo antes de falar, como se estivesse abrindo uma gaveta que preferia manter fechada.

    — Anos atrás enfrentamos um mago chamado Tyr. — O nome caiu pesado na sala. — Ele não atacava cidades atrás de ouro ou glória, e na época ele havia decidido nos matar.

    Aisha ficou imóvel.

    — Ele se infiltrou na mente de Kael — Ian continuou. — Manipulou a mente dele, Quase fomos forçados a matá-lo. E mesmo anos depois a manipulação que ele sofreu deixou marcas.

    Elenys levou a mão ao queixo.

    — Como vocês descobriram e pararam o mago? — perguntou Lysvallis, calma, mas atenta a cada detalhe.

    — Sorte — respondeu Ian, sem orgulho algum. — Tyr resolveu se gabar antes da hora, para a pessoa errada. Se não fosse isso… — Ele balançou a cabeça. — Não estaríamos aqui.

    Silêncio outra vez.

    — E sorte não é uma estratégia que podemos contar novamente — concluiu Naira.

    — Exato — Ian confirmou. — Por isso, isso me preocupa.

    Naira deu um passo à frente.

    — E tem mais — disse. — O Andarilho não estava atacando Serena por ela.

    Lysvallis ergueu levemente o queixo.

    — Continue.

    — As memórias que ele revirou… — Naira hesitou apenas um instante. — Todas eram sobre você, Ian. Tudo o que Serena sabia de você.

    Aisha virou o rosto para ele imediatamente.

    O ar vibrou de novo e parou junto com a respiração de Ian.

    — Então ele já deve ter tentado me atacar. Se ele esta recorrendo a outras pessoas para conseguir informações sobre mim.

    Lysvallis ergueu a mão.

    Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, absorvendo cada peça, cada consequência. Quando falou, sua voz carregava decisão.

    — Isso não é apenas um ataque isolado — disse. — O ataque a Thamir, e agora Serena, É um ataque direto a Altheria, seja quem for esse mago ele vai pagar caro.

    Ela se levantou com calma.

    — E Cervalhion precisa saber disso.

    Alexia descruzou os braços.

    — Você pretende envolver Aedin?

    — Não pretendo — corrigiu Lysvallis. — Vou informá-lo. Formalmente. E solicitar apoio.

    Elenys assentiu, ainda preocupada, mas já recuperando a compostura.

    Ian observava Lysvallis em silêncio.

    Ela não olhou para ele ao concluir:

    — Se alguém está nos caçando, não vamos ficar apenas nos defendendo.


    A porta do salão de reuniões se abriu com um baque seco.

    As vozes cessaram uma a uma. Nobres interromperam as discussões sobre rotas, acomodações e protocolos para a chegada do Rei de Elandor. Olhares confusos se voltaram para a entrada.

    Lysvallis avançou com passos firmes em direção à mesa central. Ian a acompanhava, silencioso. Nenhum dos dois pediu permissão.

    — Senhores — cumprimentou ela, já se aproximando da mesa.

    Os nobres trocaram olhares rápidos, aguardando a reação de Aedin que se levantou.

    — Lysvallis — disse, a voz controlada. — O que significa essa interrupção? Espero que tenha um bom motivo.

    — Tenho — respondeu ela sem hesitar. — Uma subordinada minha foi atacada por um mago mental. Dentro da hospedagem sob proteção conjunta de Cervalhion e Altheria.

    O murmúrio foi imediato.

    — Um mago mental? — um dos nobres mais jovens se ergueu. — Tem certeza do que afirma, Rainha?

    Um dos conselheiros inclinou-se levemente à frente.

    — Cervalhion não abriga magos ilegais dentro de suas muralhas.

    Lysvallis não desviou o olhar.

    — Então alguém falhou em perceber — disse. — Ou alguém escolheu ignorar.

    A resposta rápida de Lysvallis pareceu provocar uma reação, mas antes que qualquer resposta audível viesse, Ian se moveu.

    Ele caminhou calmamente até a mesa, olhando calmamente para cada um dos nobres da sala, puxou uma cadeira vazia e a colocou no centro do salão, logo atrás de Lysvallis. O som da madeira no piso ecoou mais alto do que deveria.

    Lysvallis se sentou.

    O gesto, simples, mudou o peso da sala.

    — Este não foi o primeiro ataque à minha comitiva em território de Cervalhion — continuou. — O que me obriga a levantar algumas questões.

    Aedin bateu os dedos na mesa.

    — O que exatamente está alegando, Rainha Lysvallis?

    Ela cruzou as pernas com tranquilidade, apoiando as mãos sobre o colo.

    — Não estou alegando nada. Apenas estabelecendo fatos. Viemos oferecer ajuda quando Cervalhion se recusou a estender a mão. Recebemos uma convocação como se fôssemos súditos, e não aliados. E agora, dois ataques ocorreram sob sua jurisdição.

    Ela ergueu levemente o queixo.

    — Esses ataques não foram apenas contra Altheria. Foram contra Cervalhion. Quem age assim não está mirando apenas em mim. Está testando esta cidade. Este reino.

    Aedin se caminhou calmamente ao redor da mesa, batendo com a ponta do dedo na borda da mesa.

    — Um ataque a este reino você diz.. — Ele parou em frente a Lysvallis e cruzou os braços. — De certa forma você está certa.

    A fala foi suficiente para provoca alguns resmungos entre os nobres.

    — E o que você espera de mim? — perguntou.

    Lysvallis sustentou o olhar.

    — Reconhecimento formal do ataque à minha comitiva. Cooperação total da guarda de Cervalhion. E autorização para que Altheria participe ativamente da investigação dentro das muralhas.

    Aedin estreitou os olhos.

    — Não parece um pedido de ajuda de um aliado — disse. — Parece uma imposição.

    — Estou apenas usando a mesma linguagem que Cervalhion usou conosco — respondeu Lysvallis. — Ainda aguardo a cordialidade que um dia existiu entre nossas nações.

    O silêncio se estendeu.

    Alguns nobres demonstravam desconforto. Outros, alívio.

    Por fim, Aedin assentiu uma única vez.

    — Cervalhion irá cooperar. — Ele olhou brevemente para Ian antes de voltar a falar. — Por favor Rainha, sente-se a mesa para que possamos discutir melhor o ataque e como podemos responder.

    Lysvallis inclinou levemente a cabeça.

    Não em submissão.

    Mas porque agora, a mesa era dela também.

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