O burburinho do acontecido na arena ainda ecoava pelos corredores da Academia. Alguns alunos diziam que Kaizen havia atingido o primeiro estágio do elo apenas para tentar salvar Grisley, mas, infelizmente, foi em vão. No fim, ele apenas matou seu elo. Após o ocorrido, Kaizen foi levado à enfermaria. LongWang, outro amigo de Kai que testemunhou tudo, estava inconformado. Ele não conseguia acreditar no que seu amigo de infância havia feito. Apesar de ser cego, viu claramente o monstro que tomou posse do corpo de Kai. Sem aceitar o que aconteceu, LongWang foi atrás de respostas.

    Na parte superior da Arena estavam mestres da Academia e figuras importantes. Entre eles, Li Xianyu, líder da Família Xianyu, uma das mais poderosas da Região de Arantha.

    No camarote…

    — Com licença, mestre! — LongWang se dirigiu a Li Xianyu com uma reverência. — LongWang, meu neto! Entre! — Li sorriu amigavelmente, fazendo um gesto com as mãos. — Acredito que o senhor já saiba por que estou aqui. — LongWang se aproximou cautelosamente. — Sim, vi tudo. Também não pude acreditar no que aconteceu. Algo muito estranho entrou no corpo do Kai. — E agora, mestre? O que faremos? — Sua voz tremeu enquanto falava. — Vá até a enfermaria e veja se ele está melhor. Depois, tragam-no até mim. — Li Xianyu passou a mão na barba e se levantou. — Sim, mestre!

    Um teleporte acontece…

    Na enfermaria…

    A aura era pesada. Um frio que congelava a alma pairava sobre o quarto. O odor de enxofre e doença se misturava no ar. O Reiki dos presentes estava conturbado, talvez devido aos acontecimentos recentes ou pela presença de Pazuzu tão próxima. A energia dos seres espirituais estava caótica, como se pedissem socorro. O medo era tão denso que até mesmo um cultivador inexperiente podia senti-lo.

    Deitado em uma das macas, Kaizen abriu os olhos lentamente e percebeu o clima sombrio do quarto. Como seu cultivo era puro, alinhado à vida, esse ambiente o afetava profundamente.

    — Que bom que acordou, Kaizen. — Uma voz serena e tranquila ecoou pelo quarto.

    Ele procurou a origem da voz, mas não viu ninguém, apenas um gato aos pés de sua maca. A criatura tinha pelagem preta, macia como algodão, e olhos brancos como nuvens. Suas orelhas estavam eretas, e ele olhava para Kaizen com curiosidade.

    “Foi ele que falou?” — Kaizen se perguntou, intrigado, enquanto fitava o gato.

    — Meow! — O gato lambeu a pata, como se tivesse ouvido os pensamentos do garoto.

    Kaizen se assustou. Antes que pudesse reagir, a mesma voz ressoou no quarto.

    — Pelo visto, você já conheceu o bichano. Peço desculpas por abordá-lo dessa forma. — A figura por trás da voz apareceu à porta.

    Era um jovem alto, de cabelos médios e lisos, negros como a noite. Sua pele era pálida, como se nunca houvesse tomado sol. Ele usava óculos redondos e vestia um traje preto formal. O gato correu até ele e pulou em seu ombro.

    — Fo… Foi você quem falou? — Kaizen perguntou, ainda incrédulo.

    — Claro que fui eu, Kaizen. Desde quando gatos sabem falar? — O jovem riu levemente.

    — Faz sentido… Mas espera, como sabe meu nome? — Kaizen franziu a testa.

    — Estava assistindo às lutas. Vi quando você lutou e também acompanhei a luta de Kai Blackwood. Não queria me envolver, mas isso foi muito além do que eu imaginava.

    Ele ajeitou os óculos antes de continuar:

    — Que falta de educação a minha! Nem me apresentei. Meu nome é Ezekiel Voss.

    Kaizen, ainda sem entender completamente a situação, se ajustou na cama e fixou os olhos em Ezekiel.

    — Não queria se envolver? Como assim? Quem exatamente é você? — Ele se inclinou para frente, tentando se aproximar.

    — Como eu poderia dizer isso… — Ezekiel coçou a cabeça, pensativo.

    — Apenas diga! — Kaizen exclamou, irritado.

    — Digamos que sou uma linha entre duas camadas: a que vivemos e a inferior.

    — Camadas? O que isso significa? — Kaizen olhou curioso.

    — Basicamente, existem três camadas. A nossa, onde os seres vivos residem. A camada espiritual, onde vão aqueles que morrem com grande poder. E a camada inferior: o Vale dos Reis, também conhecido como purgatório, para onde todos os mortos vão.

    — Então você é… um mensageiro do inferno? — Kaizen murmurou, digerindo tudo aquilo.

    — Podemos dizer que sim. — Ezekiel riu timidamente. — Consigo sentir, ver e até projetar meu espírito lá. E eu percebi quando uma alma que não pertencia àquele lugar chegou.

    O sorriso desapareceu do rosto de Ezekiel.

    — Então… aquele realmente não era o Kai. — Kaizen abaixou a cabeça, com um olhar entristecido.

    — Seu amigo está em perigo, Kaizen. Se permanecer muito tempo no Vale dos Reis, ele será considerado um pertencente daquele lugar e nunca mais poderá retornar.

    — Então precisamos agir rápido! Como podemos ajudá-lo? — Kaizen se levantou da cama.

    — Primeiro, encontre LongWang. Preciso de vocês dois. Depois, venha falar comigo. — Ezekiel deu as costas para Kaizen.

    — Mas como farei para te encontrar? — Perguntou Kaizen.

    — Não se preocupe, eu encontrarei você. — Ezekiel respondeu antes de ser consumido por uma névoa negra e densa, que preencheu o quarto da enfermaria.

    Em outro lugar…

    O ambiente era frio. O chão, de pedras rústicas, ecoava cada passo dado sobre ele. As paredes úmidas e cobertas de musgo refletiam uma presença esmagadora para os mais sensitivos. Os passos lentos que desciam as escadas podiam ser ouvidos em todas as celas.

    Uma voz rouca, cansada e cheia de sabedoria ecoou para os guardas:

    — Deixem-me falar com ele a sós.

    — Sim, Mestre Li! — Respondeu um dos guardas, retirando-se do local.

    Li Xianyu parou em frente à cela onde estava Kai… ou melhor, Pazuzu.

    — Mestre, o senhor veio me tirar daqui? — Pazuzu falou com a voz trêmula.

    — Não tente se passar por ele. Quem é você? — Li se aproximou da cela.

    — Do que está falando, mestre? Sou eu, o Kai! Eu não queria matar ele! — Pazuzu abaixou a cabeça e se ajoelhou no chão.

    — Onde está o verdadeiro Kai? O que fez com ele? Diga, ou eu o matarei! — A aura azul de Li se intensificou, espalhando-se pelo ambiente.

    “Droga… se ele descobrir, estou perdido. Preciso continuar fingindo.”

    — Do que está falando? Eu sou e— “Gah!” — Uma energia em forma de mão agarrou seu pescoço.

    — Mentira! Kai jamais mataria alguém! — Li apertou ainda mais o pescoço de Pazuzu.

    — O senhor… nunca confiou em minhas habilidades… — Pazuzu conseguiu murmurar, acessando as lembranças de Kai.

    Os olhos de Li se arregalaram. A energia que prendia Pazuzu desapareceu.

    — Não, Kai. Sempre acreditei no seu potencial. Mas eu não criei um assassino. Nunca mais me chame de mestre. Garanto que você nunca sairá daqui. — Li deu as costas e saiu.

    — POR FAVOR, ME ESCUTE! — Pazuzu gritou, mas Li seguiu sem olhar para trás.

    “DESGRAÇADO! VOCÊ SERÁ O PRIMEIRO QUE EU MATAREI QUANDO SAIR DAQUI.”

    Pazuzu dá um soco que faz uma lasca na parede e se senta novamente no chão frio.

    “TODOS IRÃO PAGAR INCLUSIVE VOCÊ LÚCIFER POR TER ME MANDADO PARA ESSE LUGAR”

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