A arena ainda estava silenciosa. A multidão não havia se dispersado por completo; muitos permaneciam na arquibancada, tentando processar o que haviam presenciado. Para eles, era simples: um estudante havia matado o outro sem pensar duas vezes.

    Ninguém — exceto Kaizen, Longwang e o Mestre Li — sabia o que realmente havia acontecido. Pazuzu havia manipulado a memória de todos os presentes, alterando a percepção dos eventos. No entanto, isso custou-lhe muito mais energia do que possuía no momento, deixando-o enfraquecido. Ele sabia disso e, por esse motivo, não poderia agir tão cedo.

    Na enfermaria

    Longwang chegou para ver como seu amigo estava. Kaizen ainda estava atônito após a recente visita de Ezekiel.

    — Kaizen, você está bem? — perguntou Longwang, aproximando-se da maca com o semblante preocupado.

    — Oi, Long, é você… Estou bem, sim — respondeu Kaizen, se ajeitando na maca.

    — Que bom. Acabei de falar com meu mestre.

    — É mesmo? E o que ele disse? — indagou Kaizen, se alongando.

    — Aparentemente, a memória dele também foi afetada, mas não o suficiente para fazê-lo esquecer o que viu — disse Longwang, sentando-se na beira da maca e voltando o rosto para Kaizen.

    — Entendo… Enquanto você estava lá, eu recebi uma visita.

    — Sério? De quem? — Longwang franziu a testa.

    — Um homem chamado Ezekiel. Ele disse que viu tudo… Que viu aquele demônio tomando o corpo do Kai — contou Kaizen, passando a mão pelo queixo.

    — E o que mais ele disse?

    — Que existe uma forma de ajudar o Kai… mas, para isso, ele precisa da minha ajuda e também da sua.

    — Da nossa ajuda? — perguntou Longwang, misturando dúvida e esperança no tom.

    — Sim. Ele disse que precisa do cultivo da vida, da morte e do espiritual para o que pretende fazer. E juntando nós dois, temos exatamente os três cultivos necessários — explicou Kaizen, com uma expressão esperançosa.

    — E será que podemos mesmo confiar nesse cara? — questionou Longwang.

    — Não temos outra opção melhor. E, sinceramente, ele me passou confiança… Deixou até o bichinho de estimação dele comigo. Olha! — Kaizen apontou para o canto da maca, onde um gato preto estava aconchegado.

    — Bom… se não temos escolha, vamos agir! — disse Longwang, levantando-se e estendendo a mão para Kaizen.

    — Vamos! — respondeu Kaizen, levantando-se da maca.

    Antes que pudessem dizer qualquer outra coisa, o gato disparou para fora da enfermaria. Sem trocar uma palavra, os dois saíram correndo atrás dele. Longwang, usando seu teleporte, surgia repetidas vezes próximo ao animal. Apesar de ser cego, ele sentia a energia de tudo e de todos ao seu redor, sabendo exatamente onde cada pessoa estava. Mas o gato era ágil, desviando dele a cada investida.

    Eles percorreram vários metros nesse jogo de perseguição, até que, de repente, o felino saltou direto para o colo de Ryuta um jovem de cabelos brancos e estatura media, em uma das orelhas ele usava um brinco de pingente que brilha a luz do sol, seus olhos eram em uma cor vermelha, quase que bordo, suas vestes era um terno escolar adornado com os símbolos da academia de cultivo de tawiyah, ele usava luvas cortadas nos dedos e carregava consigo um cavaquinho — outro cultivador que também havia participado do torneio.

    Kaizen olha para Ryuta e pergunta:

    — Você participou do torneio também, não foi? Eu vi sua luta.

    — Sim, participei. E eu também vi a sua — responde, fitando Kaizen e Longwang.

    — Esse gato aqui é de vocês? — Ryuta questiona, estendendo os braços com o animal.

    — É de um amigo nosso. Obrigado por segurar ele! — diz Longwang, sorrindo de forma tímida.

    — Sem problemas. Vi a sua luta também… é interessante o que você consegue fazer — comenta Ryuta, apontando para a venda sobre os olhos de Longwang.

    — Pois é, né? Esse cara é incrível — diz Kaizen, entusiasmado.

    — Mas agora não é hora. Temos outras coisas para fazer. Valeu, Ryuta — completa Kaizen, enquanto ele e Longwang fazem um breve gesto de agradecimento.

    — Disponham. Nos vemos mais tarde — diz Ryuta, ajustando as luvas antes de seguir seu caminho.

    Kaizen e Longwang caminham mais alguns metros até se aproximarem da detenção do Distrito Acadêmico de Cultivação de Arantha, onde haviam improvisado uma cela para manter Pazuzu, agora no corpo de Kai.

    — Então é aqui que ele está — murmura Longwang, virando o rosto na direção de Kaizen.

    — Sim. Vamos entrar! — responde Kaizen, com o olhar determinado.

    Assim que atravessam a entrada, um frio percorre suas espinhas. O lugar é gelado, com cheiro de mofo. A presença do demônio muda completamente o ambiente — uma sensação opressora de tristeza invade o peito, como se nunca tivessem experimentado felicidade.

    Pazuzu está em uma cela afastada da entrada. O lugar é escuro e úmido, e a sede de sangue que emana dele é perceptível à distância. Os dois param diante daquela figura abominável.

    — Então vocês dois não foram afetados… — diz Pazuzu, com uma voz rouca e fria que parece percorrer cada célula dos garotos.

    Mesmo assustados, eles permanecem firmes. Kaizen dá um passo à frente e encara aqueles olhos negros e fundos, que um dia pertenciam ao seu amigo Kai.

    — Eu juro que vou matar você e trazer o meu amigo de volta, seu maldito — diz Kaizen, apertando os punhos com força.

    Pazuzu abre um sorriso largo, seguido de uma gargalhada.

    — Hahahaha! Pois então eu quero ver você tentar. Você nunca vai conseguir.

    Longwang encosta na grade da cela, liberando sua energia enquanto fala com firmeza. O Reiki azul que emana dele traz a sensação de ser arrastado pela correnteza de um rio.

    — Então você vai ver… Eu vou arrancar esse sorriso do seu rosto — diz, formando uma esfera de energia na mão direita.

    A energia ao redor se concentra no braço de Longwang, tornando-o pesado. A esfera parece assoviar como o vento enquanto ele a direciona para Pazuzu. Mas, antes que possa lançar o ataque, uma voz imponente ecoa nos alto-falantes:

    — Atenção, todos os classificados do torneio. Favor comparecer à arena — anuncia o diretor da Academia de Arantha, Hamura Nagahua, convocando-os para a preleção final.

    A energia na mão de Longwang se desfaz. Ele encara Pazuzu, cerrando os dentes com raiva.

    — Da próxima vez, juro pelos Primordiais que vou arrancar esse sorriso da sua cara, seu verme — diz, desferindo um soco na parede antes de se virar.

    Pazuzu não responde; apenas solta uma gargalhada que arrepia até a espinha. Kaizen, antes de sair, encara-o de forma penetrante:

    — Ria enquanto pode. Logo tudo isso vai acabar, e a gente vai trazer o nosso amigo de volta… para te mandar de volta de onde nunca deveria ter saído.

    Com isso, os dois deixam a sala e seguem para a arena, onde será feita a preleção final e a entrada para o tão sonhado grupo dos 15 Sagrados.

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