O ar era denso e carregado no Vale dos Reis Eternos, como se o próprio tempo estivesse congelado ali. Ethan sentia um peso constante sobre seus ombros, diferente de qualquer coisa que já experimentara. Ele vagava por um terreno árido e rochoso, com montanhas pontiagudas que pareciam perfurar os céus cobertos por uma neblina eterna. No horizonte, formas sombrias se moviam como vultos, indistintas e ameaçadoras.

    Sua mente era um turbilhão. Flashes de rostos conhecidos vinham e iam, mas desapareciam antes que ele pudesse agarrar qualquer memória com clareza. Imagens de Bia, Lucas, sua irmã e até de sua mãe surgiam e sumiam como sombras na água. No entanto, uma sensação permanecia clara: ódio. Um ódio inexplicável por Lúcifer.

    O chão sob seus pés era coberto por pedras negras e rachaduras profundas que pareciam feridas na terra. De repente, Ethan parou. No meio do caminho, uma grande fissura abriu-se, revelando uma luz púrpura e flamejante. Dentro, algo o chamava. Uma voz distante e gutural sussurrava seu nome.

    — Ethan… Ethan… — o som reverberava por sua cabeça como ecos de uma lembrança enterrada.

    Ele tentou ignorar, mas o chamado era impossível de resistir. Suas pernas começaram a se mover por conta própria, e ele saltou para dentro da fissura.

    Dentro da Fissura

    O ambiente mudou. Agora, Ethan estava em uma caverna iluminada por cristais púrpura, que pulsavam como corações vivos. No centro, uma estátua imponente se erguia, representando um antigo Rei Imortal, uma figura demoníaca de dois metros de altura, com olhos brancos brilhantes e chifres que apontavam para o céu. Ethan congelou. A figura era uma réplica de sua nova forma.

    Seu reflexo nos cristais ao redor mostrava sua transformação completa: sua pele era pálida como mármore rachado, suas veias negras brilhavam sob a pele, e seus olhos brancos sem pupilas pareciam ver tudo e nada ao mesmo tempo. Grandes chifres saíam de sua testa, e uma aura escura pulsava ao seu redor.

    A voz surgiu novamente, desta vez clara como um trovão:

    — Você é o próximo, Ethan. Herdeiro das sombras.

    Ethan cerrou os punhos. — Quem é você? O que quer de mim?

    A figura na estátua se animou, movendo a cabeça lentamente até encarar Ethan.

    — Você não se lembra de quem é, mas seu destino já foi selado. Aqui, todos os que caíram esquecem o que foram. E quanto mais tempo você permanecer, mais será consumido pelas trevas.

    — Não quero ser parte disso! — Ethan gritou, o eco de sua voz reverberando pela caverna.

    — Então lute — respondeu a estátua, sua voz trovejando. — Mas lembre-se, ninguém sai do Vale dos Reis Eternos como entrou.

    De repente, Ethan sentiu uma presença atrás dele. Virou-se rapidamente para encarar uma figura encapuzada. Seus olhos brilhavam como fogo em meio à escuridão de seu capuz.

    — Você é o novo prisioneiro? — perguntou a figura, com uma voz rouca e fria. — Interessante… vamos ver o quanto consegue sobreviver antes de se esquecer de tudo.

    A figura avançou com uma velocidade sobre-humana, lançando uma rajada de sombras em Ethan. Ele mal teve tempo de desviar, mas seu corpo reagiu por instinto. Seu punho se envolveu em uma energia escura, e ele golpeou o ar, dissipando as sombras.

    — Não sou tão fraco quanto você pensa! — Ethan rugiu.

    Os dois se lançaram em combate, golpes rápidos e brutais trocados em um espaço apertado. A cada soco e chute, o chão rachava e as paredes da caverna tremiam. Ethan sentia a raiva crescendo dentro dele, e quanto mais a usava, mais forte se tornava.

    O encapuzado recuou, surpreso. — Interessante… Você é mesmo o escolhido. Mas será que pode lutar contra o esquecimento?

    Antes que Ethan pudesse responder, a figura desapareceu nas sombras. A caverna ficou em silêncio, exceto pelo som de sua respiração pesada.

    Ethan permaneceu parado por um momento, o suor escorrendo por seu rosto. Ele sabia que aquele era apenas o começo. O Vale dos Reis Eternos não era apenas um lugar físico — era um teste para sua alma. E o tempo estava contra ele.

    Com um último olhar para a estátua, Ethan saiu da caverna, determinado. Ele não sabia como, mas uma coisa era certa: não importava o que acontecesse, ele iria lutar. Pelo que restava de suas memórias, por sua família, por sua humanidade perdida.

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