O caminho que Ethan percorria era cada vez mais estreito e árido. As pedras negras do Vale dos Reis Eternos pareciam absorver qualquer resquício de luz, deixando apenas um brilho pálido e espectral emanado pelas rachaduras do chão. Havia algo de opressivo naquele silêncio, como se o próprio ar estivesse envenenado por séculos de sofrimento.

    No fim de uma trilha sinuosa, Ethan avistou uma estrutura imponente e sinistra: uma caverna feita de ouro negro, suas paredes repletas de entalhes detalhados. Cada entalhe contava histórias de riquezas conquistadas, traições, guerras por poder e ambições desmedidas. No centro, havia uma inscrição com palavras gravadas em uma língua antiga, mas que, curiosamente, Ethan conseguia compreender:

    “A ganância é o preço da liberdade.”

    Ao entrar na caverna, foi envolvido por um calor sufocante. No meio do salão dourado, um trono gigante erguia-se, adornado com joias de todas as cores e tamanhos. Sentado nele, estava Mammon, o pecado da ganância.

    Mammon era uma figura impressionante. Tinha a pele dourada como metal polido, os olhos brilhavam como rubis incandescentes, e seu corpo era coberto por correntes e braceletes de ouro maciço. Em seu rosto, um sorriso afiado e calculista reluzia com uma mistura de desprezo e curiosidade.

    — Então… você é o herdeiro do Rei Imortal — disse Mammon, sua voz grave e sedutora. — E agora busca sair deste vale, não é?

    Ethan permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos na figura imponente à sua frente. Finalmente, respondeu:

    — Se você já sabe o que quero, por que está aqui?

    Mammon riu, o som ecoando pela caverna como o tilintar de moedas caindo ao chão.

    — Porque todos que passam por este vale devem enfrentar seus próprios pecados. E você, Ethan, está diante do pecado da ganância.

    Ethan franziu o cenho. — Não sou ganancioso. Não estou atrás de poder ou riquezas. Só quero sair daqui e proteger quem eu amo.

    Mammon inclinou-se para frente, seus olhos vermelhos perfurando Ethan.

    — A ganância não se resume apenas a dinheiro ou ouro. Ganância é querer mais do que se tem. Mais poder. Mais conhecimento. Mais controle sobre o próprio destino. Diga-me, Ethan… você realmente quer proteger sua família, ou quer ser mais forte para nunca mais sentir medo?

    A pergunta atingiu Ethan como um golpe. Ele não conseguia negar que, no fundo de sua alma, havia um desejo insaciável por força. Mas aquilo era errado?

    — A diferença está no propósito — disse Ethan, tentando manter a calma. — Minha força é para os outros, não para mim.

    Mammon sorriu, mas seu olhar permanecia afiado.

    — Talvez você acredite nisso. Mas todos que passaram por este vale antes de você disseram o mesmo. Alguns até se convenceram de que eram justos. Mas, no fim, todos caíram.

    — Então por que não me testa? — desafiou Ethan, erguendo o queixo.

    Mammon se recostou em seu trono, batendo as garras douradas nos braços da cadeira com um som ritmado.

    — Um teste, sim. O primeiro de sete desafios. Se passar por ele, talvez você mereça sair deste lugar. Mas lembre-se: cada pecado que você enfrentar revelará uma parte de você mesmo que você pode não estar preparado para ver.

    Ethan sentiu um calafrio percorrer seu corpo, mas manteve-se firme.

    — Qual é o desafio?

    Mammon se levantou de seu trono, e o chão sob seus pés tremeu. A caverna começou a se moldar, o ouro derretendo e reformando-se em uma vasta sala, repleta de tesouros empilhados até o teto: coroas, espadas incrustadas de joias, relíquias antigas e artefatos que pareciam pulsar com poder.

    — Aqui está o seu teste — disse Mammon, erguendo as mãos. — Entre os tesouros desta sala, há uma única chave capaz de abrir a porta de saída. Mas, para encontrá-la, você deverá resistir à tentação de pegar qualquer outra coisa.

    Ethan olhou para os montes de tesouros, sua mente se enchendo de dúvidas. O brilho das joias e relíquias parecia hipnotizante, cada item emanando um poder tentador.

    — E se eu pegar algo? — perguntou Ethan.

    Mammon deu um sorriso sombrio. — Se ceder à tentação, ficará preso aqui para sempre.

    O coração de Ethan acelerou. O desafio não era físico, mas mental. Era um teste para sua alma.

    — Que os jogos comecem, Ethan. — As palavras de Mammon ressoaram como uma sentença.

    O primeiro passo havia sido dado. Agora, era ele contra a própria ganância.

    Ethan deu o primeiro passo dentro da sala, sentindo o chão de ouro derreter levemente sob seus pés, como se estivesse sendo moldado pelo próprio pecado de Mammon. As pilhas de tesouros pareciam vivas, seus brilhos pulsando em um ritmo hipnótico que tentava capturar sua atenção a cada segundo.

    Mammon, agora pairando sobre a sala em uma névoa dourada, observava Ethan com olhos famintos.

    — Lembre-se, Ethan, cada item aqui representa uma tentação única. Pode ser força, conhecimento, poder ou até mesmo a própria liberdade. Tudo que você sempre desejou está diante de você. Mas só há uma chave verdadeira.

    A cada passo, Ethan sentia a pressão aumentar. Ele desviava o olhar das coroas reluzentes e das espadas que emitiam uma luz azulada, mas era quase impossível não ouvir os sussurros que preenchiam a sala.

    “Pegue-me e nunca mais precisará temer seus inimigos.”

    “Com este anel, você terá o poder para proteger sua família para sempre.”

    “Este medalhão lhe dará sabedoria além da compreensão mortal.”

    Os sussurros aumentavam em intensidade, provocando a mente de Ethan com promessas vazias. Mas ele sabia que ceder significaria a derrota.

    De repente, seus olhos caíram sobre uma pequena mesa de pedra no centro da sala. Sobre ela, havia um anel de ouro simples e gasto, que não tinha o mesmo brilho dos outros tesouros. Ao lado dele, estava uma chave enferrujada e envelhecida.

    — Essa deve ser a chave… — murmurou Ethan, se aproximando lentamente.

    Mas, assim que estendeu a mão, a voz de Mammon ecoou pela sala:

    — Pense bem, herdeiro. Tem certeza de que esta chave abrirá a porta para sua liberdade? Ou será apenas mais uma armadilha?

    Ethan hesitou. Sua mente foi invadida por dúvidas. E se Mammon tivesse colocado armadilhas mentais em cada objeto? E se ele estivesse sendo testado não apenas para resistir às tentações, mas também para fazer a escolha certa?

    O anel ao lado da chave parecia insignificante, mas algo em seu brilho apagado chamou a atenção de Ethan. Uma voz sussurrava, não tentadora, mas familiar e serena:

    “A verdadeira força nunca reluz como o ouro. Ela está nas decisões mais simples e na resistência às maiores provações.”

    Com uma respiração profunda, Ethan tomou sua decisão. Ele ignorou completamente o anel e agarrou a chave enferrujada com firmeza.

    Imediatamente, o chão começou a tremer. As pilhas de tesouros se desmancharam em areia dourada, e a sala se dissolveu em uma tempestade brilhante. Mammon apareceu diante de Ethan, seus olhos queimando com uma mistura de raiva e admiração.

    — Você resistiu… e ainda assim fez a escolha certa. — Mammon cruzou os braços, seu tom desprovido da arrogância inicial. — Mas não se engane. Apenas passou pelo primeiro teste. Ainda há seis pecados aguardando por você. E cada um deles será ainda mais difícil.

    Ethan segurou a chave com força, sentindo o peso simbólico do que havia conquistado.

    — Que venham os próximos. Eu não vou parar até sair deste vale.

    Mammon sorriu, um sorriso frio e calculista. Com um estalar de dedos, uma porta de ferro negro surgiu do chão.

    — Use a chave. Sua próxima provação o aguarda.

    Ethan caminhou até a porta, seu coração ainda acelerado, mas sua determinação intacta. Ao girar a chave na fechadura enferrujada, ouviu o som das engrenagens antigas se movendo.

    A porta se abriu para revelar apenas escuridão. Sem hesitar, Ethan entrou. O caminho para a redenção e a sobrevivência havia apenas começado.

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