Capítulo 7 - A Sombra da Glória
Ethan seguiu o caminho indicado por Mammon, deixando para trás as ruínas e a neblina dourada da ganância. Agora, ele caminhava por uma terra estéril e sombria, onde o céu era de um azul profundo e sem estrelas, como um mar sem fundo. O ar estava pesado, carregado de umidade e de uma sensação sufocante, como se cada passo fosse drenando sua vitalidade.
Diante dele, um lago negro e viscoso se estendia até onde os olhos podiam ver. A água era densa como óleo e emitia um brilho azulado. No centro do lago, uma figura gigantesca emergia lentamente, sua presença distorcendo o ar ao redor.
Leviatã, o pecado da Inveja, surgiu com olhos luminosos e escamas que refletiam tons espectrais. Seu corpo serpentino se contorcia ao redor de pilares submersos, e sua voz reverberou pelo espaço como um trovão distante:
— Então, és tu aquele que busca atravessar o Vale dos Reis Eternos? Aquele que caiu e agora deseja se erguer novamente?
Ethan encarou a criatura, seus punhos cerrados. O demônio diante dele exalava uma presença avassaladora, mas não havia medo em seus olhos.
— Não busco me erguer. Apenas sigo em frente. Se tenho que passar por você, então que assim seja.
Leviatã soltou um riso grave, quase melancólico.
— Sempre tão seguros de si no início… Mas me diga, mortal, o que sabes sobre a inveja?
Ethan franziu o cenho. Sabia que esses encontros não eram meros confrontos físicos, mas provações mentais e espirituais. Inspirou fundo antes de responder:
— A inveja nasce da insatisfação, da comparação. Um veneno silencioso que consome a alma.
Leviatã inclinou levemente a cabeça, suas escamas emitindo um brilho opaco.
— E tu? Nunca sentiste inveja? Nunca olhaste para outro e desejaste o que não possuías? Uma força maior, um destino diferente, uma vida menos marcada por tragédias?
A pergunta perfurou Ethan como uma lâmina fria. Ele não respondeu de imediato. Sua mente foi inundada por memórias distantes: o desejo de ser mais forte, de não ser manipulado por forças que não compreendia, de não carregar o peso de um destino que nunca escolheu.
— Já senti, sim — admitiu, a voz mais baixa. — Mas aprendi que a inveja apenas corrói. Querer o que o outro tem não muda o que eu sou.
Leviatã soltou um suspiro pesado, as águas ao seu redor ondulando.
— Palavras sábias. Mas agora, quero ver se teu espírito resiste ao peso da inveja. Bem-vindo ao teu desafio, Ethan.
Antes que ele pudesse reagir, a água negra do lago começou a subir, como mãos espectrais puxando-o para dentro. Ethan tentou lutar, mas em um piscar de olhos, já não estava mais ali.
Ele abriu os olhos em um vilarejo que lhe era vagamente familiar. As casas eram simples, feitas de madeira e pedra, e crianças corriam pelas ruas de terra batida. O sol brilhava forte no céu, e o cheiro de pão recém-assado pairava no ar.
Ao olhar para baixo, percebeu que suas mãos eram pequenas, como se tivesse voltado a ser uma criança. O coração acelerou. Aquilo era uma ilusão? Ou algo mais profundo?
— Ethan! — chamou uma voz.
Ele se virou e viu um garoto de sua idade, cabelos negros desgrenhados e olhos cheios de vida. Lucas. Seu melhor amigo.
— O que você tá esperando? Vamos logo! — disse o garoto, puxando-o pelo braço.
Confuso, Ethan seguiu. Ele se lembrava disso. Era um dia da sua infância. Mas por que estava revivendo aquilo?
Lucas o levou até uma praça onde um grupo de garotos treinava com espadas de madeira. Entre eles, um menino alto e confiante chamava a atenção. Ele era habilidoso, forte, e os outros o admiravam. Ethan reconheceu aquele sentimento crescendo dentro de si. A sensação de ser pequeno, de não ser suficiente.
— Queria ser como ele — murmurou, sem perceber.
— O quê? — perguntou Lucas.
Ethan hesitou, mas então se lembrou. Ele realmente havia pensado isso quando criança. Tinha desejado ser tão forte e admirado quanto aquele garoto. E esse desejo cresceu dentro dele, alimentando uma inveja silenciosa.
— Eu disse que queria ser como ele — repetiu Ethan, agora ciente do teste que enfrentava.
A cena ao seu redor se desfez em sombras, e ele se viu de volta ao lago, mas agora afundando na escuridão. Vozes sussurravam em sua mente, zombando, provocando.
— Nunca será o suficiente…
— Olhe para tudo que perdeu…
— Outros mereciam mais do que você…
Ethan cerrou os dentes. A inveja era uma corrente invisível, um peso que impedia que ele avançasse. Mas ele não seria consumido.
Fechou os olhos e respirou fundo. O sentimento era real, mas ele não precisava ser escravo dele. Quando os abriu novamente, uma chama azulada ardia em suas íris.
— Eu sou quem sou. Isso basta.
A escuridão ao seu redor se despedaçou. Ele emergiu do lago, respirando pesadamente. Leviatã o observava, seus olhos brilhando com um misto de respeito e diversão.
— Interessante… — murmurou o demônio. — Poucos saem ilesos da inveja.
Ethan passou a mão pelo rosto, sentindo a umidade fria da água negra.
— Eu não saí ileso. Mas eu a entendi. E isso basta.
Leviatã inclinou a cabeça em aprovação.
— Então siga em frente. Mas lembre-se… a inveja nunca desaparece. Apenas aguarda um novo momento para se alimentar.
E, com isso, a criatura mergulhou de volta nas águas, desaparecendo em meio às ondas escuras. Ethan se levantou e, sem olhar para trás, seguiu o caminho adiante.
Em sua cabeça a pergunta de porque, o porque estava acontecendo tudo aquilo, que tipo provação era essa que ele deveria passar.
Tudo aquilo em sua cabeça era sem sentido, aos poucos sua mente se esvaziava, ele perdia sua essência, viver ali no vale dos reis significava perder o Ethan, e se tornar quem ele mais temia, se tornar o Pazuzu, de certa forma esse sentimento o mantinha de pé o fazia continuar, não só isso mas como o ódio crescente por Lucifer, mesmo sem saber direito o porque.
“Poderia ser Lucifer que está colocando esses desafios” o pensamento da sua cabeça ecoava.
– espera um pouco! – Ethan parou repentinamente no meio do nada.
– Aquele demônio me chamou de Herdeiro do Rei, mas o que isso quer dizer.
Ethan estava com uma expressão séria, tentando entender tudo o que se passava ali, e o porque Mammon o chamou daquele jeito.
Nesse momento então Ethan escuta o respiração forte em seu ouvido, o ar fica pesado com um cheiro de podridão, suas costas parecem pesar uma tonelada, Ethan começa a olhar para os lados rapidamente, o desespero começa a bater, ele fica ofegante e seus olhos ficam cheios de água, com a voz trêmula ele pergunta.
– que…quem ta ai? – ele se vira para um lado e para o outro rapidamente.
um eco preenche o lugar com uma voz pesada, uma voz que parece congelar Ethan, e em seguida uma risada rouca
– hahaha Bem vindo pequeno príncipe.
Ethan procura a voz desesperado.
– apareça imediatamente – apesar do medo ele mantém a voz firme.
em sua frente começa a se formar um ser, de rosto deformado, com a pele pálida, uma boca grande, e em seu rosto havia seis olhos, vestido com uma roupa preta e em sua cabeça um capuz.
Ethan olha para aquela figura e percebe que da sua boca escorre sangue, Ethan cai de bunda no chão quando tenta dar um passo para trás, e novamente aquele ser de voz rouca e aparência amedrontadora diz.
– Não está com medo de ser comido né garoto hahahahaha – o Demônio diz isso passando a língua entre os lábios.
– quem é você, e..eu não to com medo – Ethan diz ainda ali no chão e olhando de baixo o demônio.
Cada palavra de Ethan parece travar antes de sair da sua boca.
– Quem eu sou? eu sou o seu fim.
A criatura avança até Ethan e então a visão dele se apaga.

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