Sábado, 24 de dezembro de 21XX, 14:00h – Arena do Prédio Olímpico de Artes Marciais.

    — Não será permitido o uso de nenhum equipamento nesta luta, ou de qualquer outra habilidade que não tenha sido devidamente cadastrada, ou catalogada na sua ficha de inscrição — exclamou o árbitro da partida, gesticulando com as mãos. — Alguma dúvida até aqui?

    — Não senhor! — respondeu Lumine.

    — Nenhuma! — disse Lycoris, em resposta.

    — Excelente! — declarou o rapaz, balançando a cabeça em sinal de afirmação.

    Ele fez uma pausa, encarou as duas atletas e continuou logo em seguida:

    — Reforçando mais uma vez, a partida será dividida em três estágios. E a cada queda, seguida de um golpe, será contabilizado um ponto. E até que vocês desistam, ou sejam nocauteadas; a partida irá durar um total de quinze minutos!

    — Afirmativo!

    — Entendido!

    O rapaz cumprimentou as duas atletas, e acrescentou com uma expressão alegre:

    — Tenham uma boa luta, meninas! Façam dessa abertura, a melhor de todas! Boa sorte e em suas posições!

    Em seguida, ele se moveu para o lado delas, e as câmeras principais deram um close nas atletas. E no instante seguinte — sem que houvesse qualquer aviso prévio — Lumine se curvou.

    — Representante da “Grande Vontade!” — disse ela, sorrindo, enquanto levava a sua mão direita até o peito.

    Ela parou por um segundo e se corrigiu:

    — Não… “Imperatriz da Humanidade!” — completou, em um tom que indicava devoção.

    Lycoris arregalou os olhos — surpresa — e observou aquela cena paralisada.

    “Imperatriz?!”, pensou ela, ofegante, enquanto os seus olhos cor-de-rosa brilhavam como luzes de Neon.

    — Por que você está se curvando para mim, Lumine, rs? — indagou a primeira, intrigada, enquanto a sua adversária exibia um sorriso cheio de excitação.

    Lumine ergueu o rosto, estufou o peito, e de maneira firme, respondeu:

    — Essa é a minha forma de demonstrar respeito a ti, “Legado do Inimigo de Toda a Criação!”

    A garota se levantou logo em seguida, deu um passo para frente e estendeu a sua mão.

    — Então, agora — continuou ela, exibindo um sorriso excêntrico. — Deixemos as formalidades de lado e apertemos as mãos, como boas atletas, Étoile!

    Uma sensação de arrepio percorreu a espinha da primeira, e respondendo à sugestão de sua adversária; as duas se cumprimentaram de maneira oficial.

    — Te desejo uma boa luta, Lumine! — disse Lycoris, esboçando um sorriso sinistro.

    — Igualmente, Étoile! — respondeu a outra, em um tom provocativo.

    Após se cumprimentarem, as duas garotas se afastaram uma da outra, e logo em seguida, se posicionaram bem no centro da arena.

    E conforme eram ovacionadas — pelas duas torcidas que clamavam os seus nomes — Lycoris fechou os seus olhos, ergueu sua cabeça e inspirou profundamente.

    A sua respiração estava calma, o seu corpo relaxado, e os seus punhos cerrados. Diferente do seu coração, que se mantinha agitado. E apesar do barulho ensurdecedor dos aplausos, e dos gritos da torcida — que invadiam e tomavam conta dos seus ouvidos — nada daquilo atrapalhava os seus sentidos.

    A passagem do tempo parecia uma eternidade na perspectiva dela, e a cada segundo que se seguia, era prolongado a sensação de nervosismo que a mesma sentia.

    “Ah, que sensação maravilhosa!”, pensou Lycoris, sorrindo.

    E no instante em que o sinal tocou, ela abriu os seus olhos — radiantes — que brilhavam como luzes de neon, e recitou, expressiva:

    — A Vontade dos Criadores! — disse, estalando os dedos.

    Os céus se abriram como resultado do comando dela, e diversos feixes de luz iluminaram a arena em que estava.

    E à medida que o teto do estádio era distorcido — abrindo uma fenda para o espaço sideral — era possível observar, e também sentir; uma entidade sem forma física se manifestando no universo tangível.

    — Contemple, Filha das Estrelas! — disse uma voz potente, que vinha do alto. — O mundo que a “Virtuosa” uma vez idealizou!

    E com um sentimento de fascínio, aliado à sensação de arrepio, Lycoris concluiu, em seu tom lírico:

    — Terceira Melodia do Hino: Labirinto da Bruxa – País das Maravilhas!

    Os seus olhos brilharam mais uma vez, e seguido pelo seu desejo, uma dimensão alternativa se manifestou com o seu comando.

    E a medida em que o mundo físico oscilava entre a realidade abstrata e a fantasia psicodélica, o chão da arena se partiu em milhares de pedaços, e ela — junto do árbitro, de sua adversária e de seus respectivos treinadores — foi tragada por um profundo e infinito abismo.

    Enquanto caía, Lycoris pôde observar — e também sentir — toda a extensão do espaço sideral, que era iluminado por milhares de partículas semelhantes à uma aurora boreal. Até que ela finalmente pôs seus pés no chão, e uma paisagem estonteante apresentando um vasto campo aberto se destacou de muitas formas.

    Com o seu toque suave — após ter reduzido a velocidade de sua queda, manifestando, na sua mão direita; um guarda-chuva cor-de-rosa — Lycoris espalhou, para todos os lados, milhares de pétalas de incontáveis flores.

    Que cobriam, de maneira natural, os arredores de uma imensa ilha flutuante.

    Esse arquipélago — que era decorado com várias cartas de baralho, pedras de dominó e dados de seis lados — era muito parecido com uma pintura aquarela. Que retratava, de maneira abstrata, diversos riachos e gramados extensos.

    Sendo a sua composição, bastante harmônica e sofisticada.

    Satisfeita com aquela vista — retirada de um conto de fadas — Lycoris pegou na barra de seu vestido, deu um passo para frente, e fez uma reverência para sua adversária.

    — Seja bem vinda, ao meu País das Maravilhas! — disse ela, exibindo um sorriso sinistro.

    No estádio, a atenção de todas as pessoas estava fixada naquele espetáculo, e após a manifestação do País das Maravilhas, o breve silêncio que tomou conta das arquibancadas, logo foi trocada por uma salva de palmas.

    — E AÍ ESTÁ, MEU MANO PARCEIRO DJ RABINO WHITE! AQUILO QUE TODOS NÓS QUERÍAMOS VER! UM EVENTO DE ABERTURA RECHEADO DE EFEITOS VISUAIS! HAHAHA! — bradou o apresentador Jack, claramente animado com o que via.

    A sua voz era transmitida por meio de um sofisticado sistema de som — composto por diversos amplificadores e alto-falantes modernos — com o objetivo de garantir uma cobertura completa e clara para todos os ouvintes.

    E além do próprio estádio, a sua voz também se estendia para todos os cantos do mundo, e mundos para além daquele mundo — sendo o País das Maravilhas um deles — por meio de uma tecnologia avançada de sinais de transmissão.

    Querendo encorpar o comentário do seu colega, o apresentador White, acrescentou:

    — E isso não foi à toa, meu caro amigo Jack! — acrescentou o segundo, ofegante. — Com esse mundo retirado dos seus contos de fadas, ela acaba de isolar, numa dimensão alternativa, as duas lutadoras em um cenário indestrutível! Reforçando, dessa forma, a segurança de toda a torcida!

    Uma onda de aplausos ecoou mais uma vez pelo estádio, e a atenção de todas as pessoas logo foi capturada por aquela vista. E no instante em que a transmissão foi atualizada, todos os olhares se voltaram para o árbitro, ansiosos com o início da partida.

    — Em suas posições — disse o rapaz, erguendo a sua mão. — Lutem!

    E o sinal para o início do combate, logo pôde ser ouvido.

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