— Ei, você conhece, ou já ouviu falar: Da história sobre os “Criadores?” — perguntou uma figura feminina pequena, de cabelos escuros e singelos olhos azuis, para uma segunda garotinha que segurava firmemente a sua mão. 

    — Os… “Criadores?” — repetiu a outra, intrigada, vislumbrando a face angelical da primeira. — Eles não eram apenas um conto de fadas? Uma fábula criada para nos dar esperanças?!

    — Ah não, não é. Eles existem de verdade! — respondeu a mais velha, abrindo um sorriso. — Os Criadores são Entidades que vivem em um plano muito superior ao nosso, localizado em uma outra dimensão. E todos eles são capazes de criar aqui, em nossa realidade; tudo aquilo que imaginarem! 

    — Uau! Isso é incrível! Eles podem criar qualquer coisa mesmo? Tudo o que quiserem? — perguntou a mais nova, fascinada.

    E, de maneira confiante, a mais velha confirmou:

    — Sim! Absolutamente tudo! Desde pessoas a animais fofinhos! Comidas gostosas e músicas bonitas! Tudo o que vimos foi decorado por eles! E não para por aí! Se os Criadores quiserem, podem até mesmo criar planetas inteiros com um único movimento de suas mãos!

    — Planetas inteiros? Num único instante? Isso é realmente possível?! 

    — Sim! Para os Criadores, tudo é possível! Porém, a melhor parte sobre eles vem agora! 

    Em seguida, a garota de olhos-azuis encheu os seus pulmões de ar, moveu os seus olhos para o alto e, acrescentou, dando ênfase à sua oratória:

    — Os Criadores também podem conceder qualquer desejo que você tiver! Mas, em troca, nos é dada uma tarefa que devemos realizar em nome deles.

    — Um desejo? Eles podem conceder qualquer coisa que eu quiser?! O que será que eu pediria? — ponderou a segunda, pensativa.

    — Eu iria pedir para conseguir me formar na Faculdade sem precisar estudar! — bradou a primeira, dando risada.

    — Que legal! Já eu, pediria para me tornar a cantora mais famosa de todos os tempos!

    — Eu também poderia pedir, para ganhar bastante dinheiro sem ter a necessidade de trabalhar! — acrescentou a mais alta, cintilante.

    — Nesse caso, talvez eu pudesse pedir por uma nova irmãzinha também! 

    — Uma nova… Irmãzinha, rs?! — repetiu a primeira, relativamente surpresa, com a inocência por trás daquele sincero desejo. — Bem, de toda forma, não seria nada mal pedir por uma vida boa e tranquila. Porém, tenho certeza, de que no final, nós duas iríamos pedir pela mesma coisa!

    — Sim…

    E, com uma expressão que transmitia tanto angústia quanto súplica; as duas falaram juntas, em alto e bom som: 

    — Um mundo pacífico e livre da ameaça dos Deuses Formadores!

    — Um mundo pacífico e livre da ameaça dos Deuses Formadores!

    Por fim, a garota de olhos-azuis completou, olhando para os céus, onde uma horda quase infinita de monstros — feitos de tinta e recortes de papel — se preparavam para tomar o seu mundo.

    — Este seria o meu único desejo para os Criadores! Todo o resto eu posso conseguir com o meu próprio esforço e trabalho duro…

    Duas garotas, dentre várias que estavam alinhadas e postas em posição de combate, conversavam, entre si — de mãos dadas uma com a outra — na tentativa de se manterem firmes, e confiantes, ante a grande calamidade que se reunia diante delas.

    Ao seu redor, uma paisagem bela, repleta de flores, arbustos e gramíneas coloridas — cujas cores destacavam as do arco-íris — cobriam, graciosamente, seus planaltos e colinas. 

    Atrás de suas costas, decorando os arredores de maneira imponente, havia uma árvore imensa, pitoresca e majestosa, que iluminava, de maneira natural: boa parte do mundo. 

    Na base de seu caule, longas raízes cruzavam o chão, e seguiam, para além do horizonte, para algum lugar onde a vista não podia alcançar. E logo acima dela — em contraste com o solo colorido — um véu escuro e majestoso cobria os arredores do planeta. 

    E, se não fosse pelo brilho gélido das estrelas — que decorava o céu noturno com várias cores — o mundo em que as duas garotinhas estavam, seria completamente abandonado e deixado à mercê de sua própria sorte. 

    Para enfrentar, sozinho, todas as ameaças do Cosmos.

    Com a sua mente perdida em pensamentos, a garota de olhos-azuis demorou, alguns segundos para perceber, que ao seu lado, uma voz soprano, misturada com um gemido agudo de dor; estava lhe chamando.

    — Irmã?! Ai! Está doendo! Você está machucando a minha mão! — esbravejou a menininha, tentando se soltar da outra.

    E a primeira, saindo de seu transe, imediatamente suplicou:

    — Me desculpe! Me desculpe por isso, minha adorável irmãzinha! Eu não fiz por mal… — explicou a garota, afrouxando a sua mão, mas não a ponto de soltá-la. — Acabei ficando tão apavorada com essa vista, que por um momento, perdi completamente a minha noção de tato! 

    Em seguida, ela moveu os seus pés para o lado, agachou por um instante e, completou, enquanto envolvia o corpo de sua irmã em seus braços:

    — Eu não quero te soltar nem por um instante sequer! — disse ela, tentando parecer firme. — Se eu te soltar agora, sinto que posso te perder para sempr–

    De repente, um estrondo imenso, misturado com uma poderosa onda de choque; atravessou os céus e atingiu a terra, anunciando, de maneira nada sutil, o avanço das criaturas abstratas contra o domo do planeta.

    Que protegia, o mundo físico, de todas as ameaças externas. 

    — Mana, estou com medo… Estou com muito medo! Estou com muito medo de morrer! — desabafou a segunda, aos prantos, enquanto um turbilhão de vozes, e risadas estridentes, ecoavam em seus ouvidos. — Por que os Deuses Formadores querem destruir o nosso mundo? Por que eles querem nos matar? Eles não eram todos irmãos da “Deusa Edea?” Por que eles têm que brigar entre si?

    A garotinha mais nova estava desesperada, nada daquilo fazia sentido pra ela. 

    “Por qual motivo eu estaria sendo punida?”, pensou. “Eu nunca fiz nada de mal para ninguém e, sempre que podia, ajudava todas as pessoas do mundo! Então… Por que?”

    — Eu não sei — respondeu a mais velha, desolada, sem saber como responder aquela pergunta. — Tudo o que sei, é que também estou com medo. Muito medo mesmo! De te deixar sozinha, e desamparada, neste mundo abandonado pelo seu próprio…

    “Criador”, era a palavra que ela queria ter dito, mas, que por algum motivo, acabou ficando presa em sua garganta.

    E, por não tê-la dito, o seu coração angustiado cedeu.

    Percebendo que de seus olhos, lágrimas quentes passaram a rolar, a garota de olhos-azuis abraçou, com ainda mais intensidade, o corpo pequenino de sua irmã mais nova.

    Numa tentativa de esconder, daquela que a considerava: “O Seu Porto Seguro”, o seu momento de fraqueza. 

    “Se existe um Criador além deste inferno…”, suplicou a primeira, em seu íntimo, lançando o seu olhar para algum lugar além do mar de estrelas. “Por favor, ao menos a minha irmã, salve-a! Eu te imploro! Ofereço a ti tudo o que tenho! Ofereço a ti tudo o que sou e tudo o que ainda posso vir a me tornar! Então, por favor!”

    Não houve uma resposta. 

    “Os Criadores teriam abandonado as suas próprias Criações?”, pensou ela, aflita, incapaz de compreender as intenções daqueles que a observavam de longe.

    Até que o seu raciocínio logo se perdeu, quando no céu, um barulho de estilhaço — e de vidro se partindo — ecoou nas nuvens e reverberou por todos os lados.

    — MANA! ELES ESTÃO VINDO! OS DEUSES FORMADORES JÁ ESTÃO AQUI! A BARREIRA FOI ROMPIDA!  

    Imediatamente, a garota de olhos-azuis ergueu o seu corpo, virou o rosto para o lado e, vislumbrou, com as suas pupilas dilatadas; um enxame massivo de criaturas abstratas — completamente tomadas por um surto de euforia — atravessando os céus e seguindo em direção até a Árvore do Mundo. 

    Que era protegido, naquele momento, pelas dezenas de garotas de presença sacra.

    — Não se preocupe, irmãzinha. Eu vou te proteger! — disse a primeira, cerrando a sua mão.

    “Mesmo que eu morra!”, ela pensou. 

    — E, juntas — continuou. — Vamos proteger o nosso lar, e a verdadeira Deusa da Criação que mantém o nosso mundo vivo!

    Ao ouvir essas palavras, a segunda declarou, cheia de ímpeto:

    — Eu também vou te proteger, mana! — disse ela, ajeitando o seu vestido. — Vamos voltar juntas pra casa! Para a nossa família! Que aguarda ansiosamente pelo nosso retorno!

    — Sim! É uma promessa, minha adorável irmãzinha!

    Com esse último “até logo”, as duas irmãs soltaram suas mãos e se olharam uma última vez, para logo em seguida, entrarem na batalha entre os Deuses Formadores e as Filhas da Deusa. 

    Durante o conflito, dezenas de estrelas perderam a sua luz e caíram do céu como se fossem estrelas cadentes.

    E, dentre elas, duas estrelas, que até então sempre brilharam juntas; piscaram por um segundo, para que logo em seguida, o brilho da estrela menor fosse apagado para todo o sempre… 

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