Era uma manhã de 7 de setembro de 2022.

    A humanidade vivia o que parecia ser apenas mais um feriado, porém mal sabiam que aquele seria conhecido como o primeiro dia do “ponto 0”.

    Vários humanos pelo mundo, de repente, começaram a entrar em coma. Os médicos ficaram incrédulos. Não havia nada de errado com eles: exceto uma pequena mudança no ritmo cardíaco.

    Todavia, ainda não explicava o porquê de milhares de pessoas pelo globo terrestre de repente entrarem em coma.

    Entretanto, em um único instante, nada disso importava mais.

    Uma criatura mágica humanoide com uma força inimaginável surgiu na cidade de Tóquio, e em quatro minutos ela fora varrida do mapa.

    A criatura, hoje conhecida como “a primeira maldição”, não parou por aí. Caminhando pelo mundo, destruía tudo e todos por onde passava.

    Incalculáveis vidas foram perdidas, mas quando estava prestes a chegar na cidade de Nova York, a primeira maldição parou e, algum tempo depois, explodiu.

    Testemunhas disseram ter visto um humano de frente com o monstro. Ele não foi encontrado após a chuva de sangue azulado parar, todavia acredita-se que essa pessoa, o primeiro ceifador, salvou toda a humanidade.

    Mas como isso era possível? Um questionamento que não demorou muito para ser respondido.

    As pessoas que entraram em coma acordaram, entretanto algo tinha mudado: elas eram capazes de usar magia!

    Todas, sem exceção, conseguiam criar e manipular como bem entendessem os elementos: fogo, água, terra e vento.

    Após alguns testes, cientistas descobriram que um novo tipo de órgão havia se formado nos despertados. Melhor dizendo, um núcleo de mana.

    Contudo, a alegria da descoberta de que a magia era real logo foi embora.

    Mais seis maldições surgiram pelo mundo. Claro, se comparadas com a primeira, eram fracas, porém ainda mortais para os humanos comuns.

    Após começarem a fazer vários ataques pelo globo, outras pessoas, mágicas ou não, transformaram-se em maldições.

    Todos pensaram que era o fim, mas não. As “pessoas mágicas”, assim chamadas na época, se juntaram para lutar e defender a humanidade.

    Em meio a essas batalhas, cada pessoa mágica foi despertando sua volunge: uma “habilidade extra” que todo ser com um núcleo de mana desperta aos 16 anos.

    Com a força exponencial de alguns indivíduos, os políticos, termo usado para pessoas com poder de decisão antigamente, ficaram preocupados com uma possível rebelião e não aceitaram os despertados muito bem.

    Após uma votação global, uma organização, hoje conhecida como Ceifa, foi criada para sistematizar as pessoas mágicas.

    E assim surgiram aqueles que hoje conhecemos como ceifadores. Entretanto, a Ceifa demorou para se estruturar.

    Hoje, a hierarquia da instituição é a seguinte:

    Ceifador 1ª Classe.
    Ceifador 2ª Classe.
    Ceifador.
    Major Ceifador.
    Coronel Ceifador.
    General Ceifador.
    Alto Punhal.
    👑
    Supra Punhal. 👑

    Claro, há aqueles que possuem um núcleo de mana e não querem arriscar sua vida, afinal, todos são livres para fazer suas próprias escolhas.

    — Por Maven Calore, Ponto 97


    HADRIA:

    São sete horas da manhã. Levanto bocejando, a sensação sonolenta ainda toma conta de mim. Entro no banho e começo a pensar no inevitável:

    “Estou atrasado.”

    Saio e pego o primeiro par de roupas que encontro jogado no chão: camiseta preta junto a um moletom da mesma cor, calça escura e um coturno.

    Me olho no espelho e faço um coque rápido no cabelo prateado — duas mechas ficam soltas em cada canto do rosto.

    Estou prestes a sair de casa, mas sinto uma sensação atípica ao tocar a maçaneta.

    “Opa, quase esqueci delas.”

    Vou até o quarto e pego um par de duas longas luvas pretas. Coloco-as e, como sempre, se encaixam perfeitamente em meus braços. A pele é totalmente coberta — com exceção das pontas dos dedos.

    Após me certificar que nenhuma cicatriz está aparecendo, saio de casa.

    Vejo o carro que me foi agendado — uma modesta limusine preta. Caminho até ele e abro a porta.

    — Bom dia, sr. Hadria. — O motorista, com o braço recostado no banco do passageiro, olha para trás. — Para onde deseja ir?

    — Sede da Ceifa — digo enquanto entro, o som da porta se fechando é abafado pelo ronco do motor.

    — Certo. — O carro começa a se mover. — Sr. Hadria, quantos anos o senhor tem?

    “Que pergunta aleatória foi essa?”

    — Completei 16 hoje — respondo em tom seco, deixando claro não querer conversar.

    Ele espera que eu diga algo mais, porém apenas continuo fitando o ambiente fora do veículo.

    Foco em uma família, ao que parece voltando das compras. Uma pequena menina no pescoço do pai e a mãe empurrando o carrinho de supermercado. Os sorrisos estampados em seus rostos…

    Uma memória então vem em mente:

    Minha mãe me encarando, caída no chão. O brilho de seus olhos se esvaindo, mas não antes de dizer a frase que mudaria completamente o rumo da minha vida…

    — Sr. Hadria? — chama o motorista, assim me tirando da lembrança aterrorizante.

    Sinto o suor descendo pela minha testa e então passo a palma da mão para limpar.

    — Tudo bem?

    “Não.”

    — Sim… Apenas faça seu trabalho e dirija.

    Ele não diz mais nada, e volto meu olhar para fora do carro. Dessa vez evitando qualquer resquício de uma família.


    — Chegamos. — A porta da limusine se abre sozinha.

    Estendo uma nota de R$200,00.

    — S-sr. Hadria?! — Abismado, estende a mão e pega o dinheiro. — Muito ob…!

    Saio do carro antes que termine de falar. Logo começa a dirigir, provavelmente para buscar mais alguém.

    “Agendamentos estão bastante em alta ultimamente, hein?”

    Após parar de fitar o veículo, agora dobrando a esquina, olho para o outro lado da rua e vejo um único prédio preenchendo todo o quarteirão.

    Quase que automaticamente meu olhar vai à frase estampada no centro da estrutura de quartzo brilhante: Sede da Ceifa de São Paulo.

    Encho os pulmões e, com um longo suspiro, os esvazio.

    Caminho até a calçada do outro lado e — quando estava prestes a subir as escadas que levam até uma passagem para dentro do prédio — dois guardas se colocam à minha frente e me impedem de prosseguir.

    — Precisa de alguma coisa, garoto? — pergunta o guarda da direita, o tom propositalmente arrogante.

    Meu olhar vai até o crachá em seu peito. A primeira coisa que noto é a foto: o olhar sério junto a sua careca brilhante. Logo abaixo vem as informações:

    [NOME: Greg Fernandes.
    PATENTE: Ceifador 1ª Classe
    RANK: E+
    ]

    “A patente e o rank mais baixo da Ceifa… Que piada.”

    Quase esboço um sorriso, entretanto me controlo e mantenho a postura.

    — Fui convocado para uma reunião com a coronel ceifadora.

    Surpreso, o outro guarda entra na conversa:

    — Garoto, acho que você se enganou. A coronel não conversa com… crianças. — Seu rosto esboça um sorriso arrogante.

    Uma pontada de ressentimento me atinge, mas apenas vou ignorar e…

    — Você é um baita de um idi… — Tapo minha boca com a palma da mão antes de terminar.

    “Merda.”

    — Hã, o que você disse? — O guarda começa a se aproximar. Sinto mana fluir pelo seu corpo. — Eu sou um ceifador! Acha que pode-!?

    Agarro seu ombro e, com um movimento rápido, me coloco atrás dele. Forço-o o suficiente para saber que quebrará o braço caso se mover.

    Sinto mana se condensar em volta do outro guarda.

    — Olha, até queria brincar. — Solto o braço do guarda e chuto sua perna. Ele cai no chão e fica ali mesmo. — Mas tô sem tempo, então por que não chama a Dona e acabamos logo com isso?

    Seu rosto fica avermelhado.

    — Como ousa, seu pirralho!

    Ele cria água em suas mãos e dispara rajadas.

    Quase rio da mediocridade, porém não quero piorar a situação. Com um único passo para o lado, desvio, mas não reparo uma mulher observando a confusão a alguns metros atrás de mim.

    “Droga!”

    Absorvo mana do ambiente o mais rápido que posso e…

    GREG FERNANDES:

    Meu ataque explode ao atingir a barreira de mana translúcida que o garoto criou.

    “C-como ele conjurou uma barreira em um instante?”

    Relaxo o corpo quando vejo a mulher, sem nenhum ferimento, correndo para longe.

    Max, meu companheiro de turno, se levanta do chão e começa a subir as escadas para dentro do prédio.

    — Vou chamar reforços!

    — Espera, Max! Não me…

    — Você. — Me viro em direção a voz e quase não reconheço o garoto de alguns instantes atrás.

    Uma aura indescritível preenche o ambiente. Meus joelhos cedem e vão de encontro ao chão.

    “Que… que atmosfera é essa?”

    — Como pode fazer isso? — O garoto começa a caminhar. — Aquela mulher… Uma civil, alguém que você deveria proteger, quase morreu por sua culpa. — Ele para diante de mim. — Então me diga, seu guarda… como se responsabilizará pelos seus atos?

    A frieza com que fala, a atmosfera, a postura impecável…

    “Quem é ele?”

    Espasmos começam a surgir por todo o corpo.

    — Me… me d-desculpa. — Minha voz sai trêmula de um jeito que nunca pensei ser possível. — Sinto muito.

    — Sente muito? — A pressão devastadora aumenta, minha cabeça parece prestes a explodir. — Então vamos fazer assim. Primeiro vou quebrar alguns ossos, depois romperei alguns tendões. Ah, acho que posso arrancar um braço, que tal? Ouvi dizer que a Ceifa possui ótimos curandeiros, né? Você deve estar recuperado em dois meses… eu acho.

    Uma sensação quente preenche minha cintura, algo até agradável, mas percebo o que realmente é quando olho. A mancha de molhado aparece em minha calça, desce até a canela e um líquido amarelado surge…

    — Cara, você é patético. — O pingo restante da minha dignidade se vai. — Bom, agora vamos…

    — Já chega, Hadria — diz uma voz feminina vindo por trás, a pressão emitida pelo garoto se dissipa de imediato.

    Olho e vejo a coronel ceifadora parada no topo da escada, nos olhando de cima.

    A luz do sol brilha em seu cabelo ruivo, que vai até a metade das costas.

    Ela usa uma camiseta social branca que aperta seus seios grandes junto de uma gravata escura e uma calça preta colada — que evidencia suas pernas sexy.

    Os traços delicados de seu belo rosto são perfeitos: olhos verdes, nariz empinado, lábios finos e uma pequena cicatriz no olho direito.

    “Ela é tão gostosa.”

    HADRIA:

    — Já chega? Se eu não estivesse aqui, essa atitude medíocre teria matado uma pessoa!

    — Se você não estivesse aqui, essa confusão nem teria acontecido — finaliza a discussão. — Agora vem, falta só você para começarmos.

    Uma passagem circular, ou melhor, um portal circular surge em sua frente. Nunca me acostumei com a volunge de minha mestra, e acho que nunca me acostumarei.

    — O que você vai fazer com ele?

    Como se já esperasse pela pergunta, automaticamente responde, olhando para a pateticidade ajoelhada a minha frente:

    — Ceifador Greg, seus serviços não são mais necessários. Você não possui mais o título de ceifador 1ª classe e seu rank. — Sua voz neutra, sem pena ou compaixão. — Entregue os pertences dados pela Ceifa até o fim do dia. Caso contrário, estará sujeito às sanções disciplinares da instituição.

    — Quê?… pera… m-mas… eu…

    — Porra, cala a boca! — Desfiro um chute em seu rosto e ele perde a consciência.

    Satisfeito, caminho até Dona e fico ao seu lado.

    — Sabe que vai receber uma advertência, né?

    Ignorando sua pergunta, digo:

    — As damas primeiro — Ela permanece parada me encarando. — Nada, sério?

    — Anda logo. — Então me empurra… Tenho quase certeza que vi seus lábios formando um sorriso.

    A sensação do ambiente ao redor se distorcendo é espalhada por todo meu corpo. Lembro do que minha mentora falou quando perguntei sobre sua volunge em uma de nossas aulas.

    — É como se você andasse pela barreira do tempo e espaço. Posso muito bem ficar horas em um de meus portais e aqui se passaria apenas alguns segundos.

    O ambiente preenchido por tons frios vai ficando cada vez mais iluminado, até alcançar um brilho tão intenso que sou obrigado a fechar os olhos.

    Sinto um frio na barriga e, de repente, ao abrir os olhos volto à realidade como se tivesse dado apenas um passo.

    Fito o novo ambiente ao redor e a primeira coisa que noto são quatro pessoas, mas uma em particular chama minha atenção.

    “Eliene?”

    — Bom, agora que todos estão aqui, vamos começar — fala Dona, saindo do portal atrás de mim antes do mesmo desaparecer.

    Ela continua caminhando, o barulho de seus saltos ecoa por todo o escritório de paredes brancas.

    Analiso melhor o lugar: o carpete branco preenche todo o chão, uma poltrona perto da TV apoiada na estante da parede, dois sofás juntos — um na horizontal e outro na vertical — uma pequena mesa em frente aos sofás e algumas outras decorações irrelevantes.

    — Hadria, Coraline, Eliene, Maven e Harvey. — Minha mestra já está sentada na poltrona, com as pernas cruzadas. — Não queria dizer isso… mas um de vocês vai morrer em breve.


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