Cof! Cof!

    Apoio os joelhos e mãos sobre a grama e tusso sangue enquanto engo a cabaça para cima. Por fim, possuo uma visão completa daquele que um dia chamei de pai.

    Discretamente, ele saca um relógio de bolso e, de relance, vejo o horário: 15:37.

    — Você vai sair dessa escola… — diz enquanto prensa a mão em meu rosto e forço o aperto. — Isso não é um pedido.

    Agora, não consigo parar de pensar: como cheguei nessa situação?


    — Pa…pai?

    Sinto a rigidez instantânea surgir, porém não demonstro e mantenho a postura impecável. Coluna reta, face erguida e mãos nos bolsos do casaco que esconde meus braços.

    O homem à minha frente não diz nada, ao invés, começa a caminhar até mim. Cada passo é como um terremoto, o mínimo movimento de seu corpo faz suor frio escorrer pelo corpo.

    Por fim, passa por mim, esbarrando em meu ombro, e senta-se no sofá cor acinzentada.

    — Irei dizer apenas uma vez… — anuncia ao colocar os cotovelos sobre as pernas e apoiar a cabeça com as mãos, que estão com os dedos entrelaçados. — Você vai sair dessa escola.

    — Não.

    — Sim.

    Um silêncio recai sobre o ambiente. Meu olho, o não coberto pela franja, vai de encontro com os seus. Ele permanece estático, sem mover um músculo.

    Assim como meu progenitor biológico, não me movo.

    — Sabe, disse ao seu irmão que viria aqui falar com você, ele quis vir junto, mas não permiti tal ato, sabe o porquê?

    Não respondo.

    — Pois não queria que ele tivesse de me ver sujando as mãos tendo de encostar na escória que você é.

    De repente, o homem de terno desaparece e reaparece em minha frente. Logo, sinto o impacto de seu punho contra minha face e sou arremessado para trás, batendo.

    Caio de joelhos, mas não tenho tempo para recuperar-me. Meu pai agarra meu pescoço e me levanta no ar. Tento afrouxar seu aperto, todavia, é inútil, ele não cede.

    Minha vista começa a escurecer, mas sou solto e caio no chão.

    Frustrado pela minha própria incapacidade, estendo minha perna para uma rasteira enquanto uma katana surge na minha mão.

    Como previsto, meu pai biológico cai no chão. Ergo minha arma no ar e, como toda minha velocidade, direciono-a no corpo do homem caído. Mas, em um piscar de olhos, a sala ao redor some e dá lugar a um campo de grama.

    — Já chega, Hadria.

    Me viro para trás e encontro meu pai. Coloco-me em posição de ataque, segurando a katana com as duas mãos.

    O homem de terno dispara em minha direção e faço o mesmo na dela, até que, em uma velocidade impossível de acompanhar a olho nu, passamos um pelo outro e paramos a poucos metros.

    — Arght!

    De repente, inúmeros cortes surgem pelo meu corpo. Caio no chão e tento me levantar, mas consigo apenas apoiar as mãos e pernas na grama.

    — Cof! Cof! Cof!

    Apoio os joelhos e mãos sobre a grama e tusso sangue enquanto engo a cabaça para cima. Por fim, possuo uma visão completa daquele que um dia chamei de pai.

    Discretamente, ele saca um relógio de bolso e, de relance, vejo o horário: 15:37.

    — Você vai sair dessa escola…— diz enquanto prensa a mão em meu rosto e forço o aperto. — Isso não é um pedido.

    “Como cheguei nessa situação?”

    Não responde, ao invés, chuta a lateral do meu estômago, assim me fazendo ser arremessado. Estico meu braço para pegar minha katana, que ficará no chão onde cai, porém ele a chuta longe.

    — Você… é um pai de merda, sabia?

    Quando estava prestes a me atacar novamente, seu pé atinge uma barreira de mana que manifestou-se na minha frente, porém não fui eu quem a fiz.

    — Senhor Lenox, por favor, pare com isso.

    Meu pai biológico vira para trás. Só então enxergo David Ospol, parado e encarando-me.

    Ele estala os dedos e imediatamente um alívio toma conta de meu ser. Os cortes e rasgos de minha roupa sumiram e o sangue fora junto. Porém não me levanto e, propositalmente, continuo caindo no chão.


    Arthur Lenox, pai de Hadria e ceifador rank B. Alguém que certamente poucos o desejariam como inimigo, porém não ligo para isso, pois aquele garoto precisa, pelo bem do mundo, permanecer na academia.

    — David… quem lhe deu o direito de se intrometer? — indaga o homem poucos metros à minha frente.

    Não o respondo, ao invés, fito o garoto caído no chão. Está consciente, encarando a cena que se sobrepõe perante ele.

    — Hadria ficará aqui, e você não pode intervir… — Na atmosfera, libero minha intenção assassina em volta do pai do garoto. — A não ser que me queira ter como inimigo.

    Ele então cerra os olhos e fita seu filho no chão. Logo, desaparece sem deixar rastro.


    — Você está bem? — diz o diretor ao estender a mão para mim.

    Não a pego e levanto sozinho. Enquanto retiro a grama de minhas roupas, digo:

    — Por que me ajudou?

    — Hm… eu devia um favor a sua mãe, mas agora não mais.
    Um silêncio recai sobre o campo, logo, David limpa a garganta e fala:

    — Creio que Dona tenha lhe dito tudo sobre a academia, certo? — Não o respondo e apenas assinto com a cabeça. — Bom, então irei me retirar, para qual lugar deseja ir?

    — A entrada principal.

    Um estalar de dedos ressoa e, em um piscar de olhos, estou em um ambiente totalmente diferente de antes.

    À minha frente, reside um enorme prédio que me lembra um castelo. Com as mãos nos bolsos, começo a caminhar enquanto reflito.

    Sinceramente, não sei o porquê de estar aqui, mas sei que, por algum motivo, muitas coisas importantes estão dentro deste campus escolar.

    Minhas memórias ainda estão confusas, porém sinto que preciso impedir algo, alguém.

    Nessa academia, irei treinar e melhorar minhas habilidades, até que um dia retornarei e ascenderei aos olhos de todos, porém isso pode esperar, pois sinto que tenho muito tempo até lá.


    CONTINUA…

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