Capítulo 11 - Reunião do Conselho (Parte II)
Os olhares de todos os presentes na reunião do conselho estavam concentrados em Ana. Havia um certo silêncio na sala, enquanto esperavam que ela se pronunciasse. Ela fechou os olhos por um breve instante, respirou fundo e, então, quebrou o silêncio:
— Encontramos um membro do Exército de Libertação…
A atmosfera na sala mudou para uma aura mais tensa, os músculos de todos estavam rígidos, impacientes.
— Onde? E quando? — Magnus tomou a frente nos questionamentos.
— Ontem de madrugada, em um condado menor do Império de Hunterburg… — respondeu Ana, os dedos inquietos na mesa faziam um som repetitivo na madeira. — Um grupo de patrulha da guilda dos Lobos Cinza encontrou um indivíduo suspeito na estrada e decidiu detê-lo para interrogatório.
— Algum sobrevivente? — indagou Carsena, recostada de maneira folgada e nada educada em sua cadeira, as pernas apoiadas no assento vazio ao lado, reservado para seu vice-líder, que não havia comparecido à reunião.
— Você saberia se lesse os relatórios diários do conselho… —- murmurou Magnus, em um tom baixo, todavia suficiente para que todos ouvissem, irritado com a presença da garota.
— Já interrogaram ele? — perguntou Uriel, a atenção captada pelo assunto.
Não só pelo que teria acontecido, mas pela ansiedade de lutar contra um membro do Exército de Libertação.
A resposta veio de imediato, de uma voz fina ao lado de Ana:
— Ele está morto.
A garota que falara sequer desviou os olhos do livro que folheava, sua entonação fria e desprovida de quaisquer emoções.
— Como assim morto? — Otaviano ergueu a voz, sem acreditar naquela afirmação. — Sobreviventes não recebem esse nome por ficarem vivos?
Ana hesitou por um momento, seus pensamentos focados em achar as palavras corretas para descrever o ocorrido.
— O transporte dele encontrou… obstáculos.
— “Obstáculos”? — Magnus ergueu as mãos, e simulou aspas no ar. — Explique melhor.
Ana sustentou o olhar de Magnus por alguns segundos, e permaneceu em silêncio.
— Fala logo… — Zoe interrompeu o silêncio, e removeu a cabeça do ombro de Vítor e apoiou o queixo na mão, visivelmente interessada.
Ana continuou muda, e então, a garota ao lado dela se viu obrigada a responder, e pela primeira vez durante a reunião, desviou o olhar do livro, e encarou o resto do conselho.
— O Barco Celestial que o transportava foi completamente destruído. Encontramos os destroços, mas nenhum corpo, devem ter caído no mar. As valquírias com quem conversei sugeriram que poderia ter sido obra de um vagante… mas elas mesmas não têm certeza.
— E vocês? — pronunciou-se Vítor, o olhar analítico sobre todos os presentes na sala. — O que acham que foi?
Ana foi a primeira a responder o questionamento:
— Outro membro do Exército de Libertação.
Otaviano soltou um riso nervoso, e, ao mesmo tempo, carregado de descrença.
— Destruir um Barco Celestial inteiro? Isso é loucura.
— Não sabemos nada sobre eles… — Magnus interveio, a mão girava uma espécie de chaveiro em uma espécie de movimento repetitivo, o semblante pensativo. — É claro que podem ter um membro capaz de fazer isso… ou podem ter atacado em grupo.
— Alguma pista sobre os culpados? Quem sabia sobre o herói sobrevivente? — perguntou Uriel, cada vez mais imerso no assunto.
— Não sei com exatidão, acho que só alguns membros dos Lobos Cinzas, e alguns membros da nossa guilda… — respondeu Ana. — Holmes vai fazer o levantamento disso.
— Já foi feito… — A garota ao lado de Ana levantou um papel, com uma extensa lista de nomes, e entregou para Ana.
Vítor balançou a cabeça, e disse, sem concordar com a teoria:
— Então é isso? Estão sugerindo que temos um traidor? Que alguém revelou a localização do sobrevivente? Isso é paranoia… — Ele se reclinou na cadeira e virou-se para duas cadeiras vazias ao lado de Uriel. Os lugares reservados para os representantes da guilda ‘Legião Perpétua”, ambos ausentes da reunião. — Quem teria um motivo para isso? Quem, entre nós, se aliaria ao Exército de Libertação? O que eles poderiam oferecer que valesse mais do que nossa honra?
— Belo discurso, mas palavras não mudam fatos. Temos um traidor entre nós — falou Angeline, os braços cruzados sobre o peito.
— Um traidor? — Vítor se levantou lentamente da cadeira, um sorriso irônico surgiu em seus lábios. — Vamos analisar isso… Por que esse sobrevivente era tão importante? Que informações ele poderia ter?
Ele começou a caminhar até Ana, os passos calculados, até parar à sua frente. Então, apoiou as mãos sobre a mesa e inclinou-se ligeiramente.
— Mas a verdadeira pergunta é: como ele sobreviveu ao primeiro encontro?
O silêncio pesou na sala. Ana mordeu os lábios, hesitante.
— Você sabe, não sabe? — Vítor continuou, seu tom provocativo.
— Essa informação está sob sigilo… — Ana respondeu, uma gota de suor escorreu pela testa dela.
Vítor soltou um riso baixo, decepcionado com a resposta de Ana. Uriel, atento aos movimentos de seu vice-líder, levantou-se de imediato, e logo questionou:
— O que nos garante que você não é a traidora?
— Me ameaçar não vai mudar nada. — Ana manteve o olhar firme contra Vítor e Uriel.
— Ameaça? Eu só estou fazendo perguntas. — Uriel sorriu, da mesma forma sarcástica de Vítor.
— Parem com esse teatro… — Magnus suspirou, irritado com o desenvolvimento da discussão.
Uriel girou a cabeça para encará-lo, a mão sobre o cabo da espada na bainha.
— Cale a boca, Magnus, ninguém pediu sua opinião. Interrompa-me de novo, e eu arranco sua cabeça.
— Agora sim, aprenda o que é uma ameaça. — Vítor riu, entretido pela fala de Uriel, ao voltar sua atenção para Ana. — Então? Vai nos contar o que ele sabia de tão importante?
Ana fechou os olhos por um instante e suspirou, derrotada pela pressão dos representantes da guilda dos Dragões do Sol.
— O membro do Exército de Libertação… poupou ele.
Vítor sentou-se de volta em sua cadeira com um sorriso satisfeito.
— Agora sim, estamos finalmente conversando.
— Por que pouparam ele? — Angeline cruzou as pernas, o olhar também questionador contra Ana.
— Ótima pergunta, e então, qual é a ótima resposta? — Vítor continuou a sorrir para Ana, ansioso pela resposta.
Ana continuava hesitante antes de dar as respostas, mesmo assim, ela respondeu:
— O membro do Exército de Libertação estava atrás de duas coisas: informações sobre o Cofre Celestial e um certo rubi.
— O Cofre Celestial é algo esperado… Mas esse rubi? — Carsena lambeu os lábios, claramente interessada nos artefatos.
— Mal chegou e já quer fazer perguntas, baixa a bola… — insultou Magnus.
— Cala a boca, Magnus, ou eu também arranco a sua cabeça. — Carsena ergueu o braço e, num movimento fluido, revelou uma lâmina de sangue coagulado oculta sob a manga do uniforme.
Uriel e Vítor soltaram uma pequena gargalhada, e se entreolharam. Angeline tomou a frente, para evitar que o seu vice-líder causasse mais confusão na reunião.
— O Rubi de Erobern… Uma das doze Eroberers Edelsteine. — Sua expressão tornou-se reflexiva. — Essas gemas foram forjadas para adornar a coroa do Imperador. Foram adquiridas durante a Batalha de Bluntisel e, depois, espalhadas por toda Testfeld.
Vítor inclinou-se levemente para frente, os olhos atentos às reações dos demais.
— Como você sabe disso?
— Encontrei um livro na biblioteca… — Angeline entrelaçou os dedos, e levou a mão ao queixo. — Bem interessante, por sinal. Ele continha a localização de algumas dessas joias.
— Então, você tem a localização delas? — Vítor estava satisfeito por conseguir tantas informações úteis em uma única conversa.
— Aqui está. — Angeline retirou um broche dourado do bolso e o ativou.
Uma tela holográfica se projetou no centro da sala, e exibiu uma lista detalhada com os nomes e as localizações das joias.
Água-marinha | Localização: Reino Elfo do Sul
Ametista | Localização: Reino Elfo do Norte
Diamante | Localização: Desconhecido
Esmeralda | Localização: Ilha de Bluntinsel
Granada | Localização: Reino Elfo do Leste
Ônix | Localização: Submundo
Opala | | Localização: Reino Elfo do Oeste
Quartzo Rosa | Localização: Império dos Quatro Reinos
Rubi | Localização: Cidade Celestial.
Safira | Localização: Ducado de Etterbachen.
Topázio | Localização: Templo da Esfinge
Turmalina | Localização: Xogunato de Iya
— Ainda tem o livro? — perguntou Uriel, os olhos fixos na lista projetada.
— Não. Alguém o reservou logo depois de mim… — Angeline soltou um longo suspiro e recostou-se na cadeira, ao cruzar os braços. — Eu precisava de mais informações, mas não consegui concluir meus estudos sobre as joias.
— Qual é o poder delas? — Carsena, até então relaxada, endireitou-se na cadeira, seus olhos brilhantes com interesse enquanto lia os nomes na tela holográfica.
— Nenhum… — Angeline passou a mão pelos longos cabelos loiros, a expressão frustrada.
— Como assim nenhum? São apenas joias ornamentais? — intrometeu-se Zoe.
Angeline olhou para ela, sorriu e respondeu:
— Até que eu saiba, sim, são apenas joias ornamentais…
— Então por que o Exército de Libertação está atrás delas? — insistiu Zoe.
— Independentemente do motivo, não podemos deixar que ponham as mãos nessas joias… — afirmou Ana, a voz mais alta que os demais.
— Encontraram o corpo do sobrevivente do ataque? — Vítor tomou a palavra.
— Não. Os destroços foram localizados, mas os corpos provavelmente afundaram no mar… — respondeu Holmes, a garota ao lado de Ana. Pela primeira vez desde o início da reunião, sua voz não soava entediada.
— Então, ele ainda pode estar vivo… — acrescentou um Vítor pensativo.
Angeline o encarou, desconfiada.
— O que está insinuando?
Vítor sorriu, um brilho astuto no olhar.
— Nosso inimigo não é estúpido. Tudo pode ter sido uma armadilha bem arquitetada… E se o traidor for, na verdade… — Ele fez uma pausa teatral, deixando a tensão crescer no ambiente. Então, abriu um largo sorriso. — O herói sobrevivente.
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