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    O quarto grupo do dia começou a aterrissar na clareira. O local estava deserto. Enquanto o dirigível descia, seus ocupantes avistaram dois heróis ao longe. Eles corriam em disparada, como se fugissem de algo.

    — Aquele não é o Adrian? — murmurou um dos heróis, ao inclinar-se para observar melhor.

    Ele vestia um uniforme branco-gelo sem grandes ornamentos, e indicava sua baixa patente na guilda dos Cavaleiros de Inverno. Tinha um cinto carregado de munições cruzado sobre o peito, um coldre duplo com revólveres na cintura e uma espingarda presa às costas. Seu cabelo encaracolado formava um topete bem definido, e sua pele, bronzeada, contrastava com o traje.

    — Quem? — questionou outro jovem, ao olhar os dois pontos distantes que agitavam os braços na direção do dirigível.

    Este segundo herói parecia alguns anos mais jovem, ainda no final da adolescência. Trajava uma túnica branca sobre o uniforme e segurava um cajado, no topo do qual brilhava uma esfera esbranquiçada.

    — Adrian, Vento do Oriente — respondeu o primeiro. — Aquele cara dos Nove Solitários.

    O mais jovem arqueou a sobrancelha ao observar a expressão desesperada de Adrian.

    — Pela cara dele, parece mais um dos Nove Covardes! — zombou. — Quem é que foge assim de goblins?

    Antes que pudessem rir, uma nova voz se juntou à conversa.

    — Argus, Hal. — Um terceiro herói se aproximou. — O que estão olhando?

    Era um homem na casa dos trinta anos, vestia um uniforme que indicava uma patente superior. Nas costas, carregava uma aljava de couro repleta de flechas e um arco longo, elegantemente trabalhado. Seus cabelos negros caíam até os ombros, e um pequeno cavanhaque adornava seu rosto sério.

    — Subtenente Yonzu, veja se não é Adrian… — comentou Argus, o primeiro herói, ainda observando os dois vultos correndo em disparada. — Do que ele está fugindo?

    — É ele sim, Argus… — confirmou Yonzu, sua expressão se tornando levemente preocupada.

    O dirigível pousou suavemente na clareira, fazendo as folhas ressecadas ao redor se erguerem em espirais. A rampa se abaixou com um rangido metálico, e os heróis desembarcaram, ainda com os olhos em Adrian e seu companheiro se aproximarem em disparada.

    — Levantem voo! Agora! — gritou Adrian, ainda longe. A voz carregada de medo e desespero.

    Hal, o segundo herói, cruzou os braços, cético.

    — Tanto medo de goblins assim?

    Um rugido profundo ecoou pela floresta, tão poderoso que fez os pássaros alçarem voo em desespero. Algo enorme se aproximava à distância.

    — O que está acontecendo? — questionou Yonzu, seu tom já carregado de urgência.

    — Encontramos um inimigo de quatro estrelas… — ofegou Eurus, quase sem fôlego.

    O silêncio caiu sobre o grupo como um peso sufocante. Ninguém ousou dizer nada. A simples menção desse nível de ameaça em uma área considerada de baixa perigo deixou todos em nível de alerta.

    — Tem certeza? — Yonzu deu um passo para trás, seus olhos já avaliando a situação, pronto para ordenar uma retirada imediata.

    Um tronco colossal em chamas rasgou o ar como um meteoro incandescente e se chocou contra o dirigível, sua estrutura metálica foi perfurada com um estrondo ensurdecedor. O hidrogênio inflamável entrou em ignição instantaneamente.

    A explosão foi devastadora.

    Uma bola de fogo engoliu a aeronave, e lançou destroços e chamas para todos os lados. O calor abrasador consumiu o oxigênio ao redor, e transformou o ar em um inferno sufocante. Os heróis se jogaram para fora no último instante, numa tentativa de escapar da onda de destruição.

    Os sobreviventes lutaram para se erguer, ainda atordoados pelo impacto. Seus uniformes estavam cobertos pela fuligem, e muitos deles, agonizavam de dor pelas queimaduras. Adrian e Eurus, os mais distantes da explosão, foram os primeiros a recuperar os sentidos. Quando abriram os olhos, enxergaram a horda de goblins emergir da floresta.

    Eram dezenas… não, centenas. Pequenos corpos ágeis serpenteavam entre as árvores, seus olhos brilhando de malícia. Portavam armas rudimentares feitas de ossos e metal enferrujado, e logo o céu se encheu de flechas e dardos zunindo na direção dos heróis.

    O ataque foi rápido e impiedoso.

    Os heróis mal tiveram tempo de respirar. Ainda atordoados, foram forçados a se levantar, sacar suas armas e lutar. Adrian segurou sua habilidade especial, temeroso de acertar seus aliados ao redor.

    Os goblins se moviam como uma onda, e atacavam em perfeita coordenação, os feridos e desacordados eram os primeiros alvos. Gritos de dor ecoavam no ar, enquanto os mais fracos eram abatidos sem piedade.

    — Morram seus nojentos! — gritava Argus, ao erguer sua espingarda e apontar para os inimigos que se aproximavam dele caído no chão.

    O disparo ecoou na clareira. O chumbo destruiu vários goblins num estrondo, os corpos retorcendo-se antes de caírem mortos. Mas ele mal teve tempo de respirar. A munição acabou. Precisava recarregar. 

    Não tinha tempo, mais deles se aproximavam.

    Tentou sacar sua adaga de defesa pessoal, e viu um goblin saltar contra ele, lâmina em punho, pronto para cravar a espada em seu peito. Argus congelou, seus músculos travaram ao ver o brilho do metal se aproximar lentamente. Mas, antes que a lâmina o perfurasse, um estalo cortou o ar.

    O goblin tremeu e arregalou os olhos, uma lança atravessada em seu peito. Seu corpo sem vida tombou ao lado de Argus.

    — Recarregue! — ordenou uma voz firme.

    Era uma mulher.

    Totalmente blindada da cabeça aos pés, sua armadura reluzia à luz das chamas. No entanto, sua voz fina e doce traía sua verdadeira natureza. Argus a reconheceu de imediato: era a subtenente Isabel. O emblema de um floco de neve e uma espada adornava seu peitoral, símbolo de sua patente e guilda.

    Em outra área do campo de batalha, a situação permanecia crítica. Os goblins menores, dizimados, começaram a se dispersar, mas um novo inimigo emergiu das sombras das árvores: os goblins capatazes. Armados com pesados porretes, avançaram contra os heróis já exaustos. Os recrutas de nível baixo, que sobreviveram à explosão e à primeira investida, foram os primeiros a cair sob a fúria dos capatazes.

    Apoiado mo topo da estação de ancoragem, Yonzu mantinha sua posição. De lá, tinha uma visão privilegiada da clareira em chamas com o restante dos destroços, e permitia que suas flechas certeiras eliminassem os inimigos um a um. Cada disparo era uma tentativa desesperada de salvar seus companheiros.

    Um clarão no canto do olho a alertou. Outro tronco em chamas vinha em sua direção. Sem tempo para hesitar, ela saltou e rolou no chão, desviando-se do impacto em uma esquiva perfeita.

    — De onde eles vieram? — gritou ele para Adrian, que enfrentava três capatazes ao mesmo tempo. — Essa é uma área de uma estrela!

    — E eu sei lá? Eles simplesmente apareceram e tentaram me matar! — resmungou Adrian entre golpes. 

    Sua lâmina encontrou resistência ao aparar dois porretes ao mesmo tempo. A força dos goblins era esmagadora, e ele foi arrastado por alguns metros, deixando sulcos profundos na terra ao tentar conter o impacto.

    — São muitos! — Yonzu disparou uma flecha certeira na cabeça de um capataz, que tombou com um estrondo seco.

    — Subtenente, atrás de você! — alertou Argus.

    Ele apertou o gatilho, e o disparo atingiu o capataz com tanta força que a criatura foi arremessada para trás, e colidiu contra uma árvore antes de cair inerte.

    O único meio de fuga seguro, o dirigível, estava no centro da clareira, consumido pelas chamas. O fogo se alastrava rapidamente pelas árvores ao redor. Em breve, os heróis estariam encurralados, cercados não apenas pelos goblins, mas também pelo incêndio crescente.

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