Índice de Capítulo

    — Vítor! — exclamou Alice, surpresa. — Você está bem?

    — E por que eu não estaria? — retrucou. 

    Ele saltou da cabeça do Rei Goblin com um movimento ágil, e ficou frente com Adrian, que ainda se recompunha da batalha. Vítor estalou os dedos, e uma mancha negra emergiu do chão, consumindo todos os cadáveres antes de fazê-los desaparecer no ar.

    — Precisamos sair daqui. Outros podem aparecer a qualquer momento — murmurou Yonzu, em alerta.

    — Encontrei uma caverna perto. Parece um bom lugar para passarmos a noite — informou Vítor ao restante do grupo.

    — Uma caverna? Nessa região? Sem goblins? Nem pensar! — contestou Eurus, enquanto guardava sua espada na bainha e levantava um Diovanni inconsciente nos braços.

    — Não é profunda, e a entrada é ampla. Sem chance de goblins — garantiu Vítor.

    — É a melhor opção que temos no momento. Vamos, Vítor, nos guie até lá — decidiu Adrian, assumindo a liderança do grupo.

    Vítor assentiu e disparou na frente do grupo.

    — Merda… Esse idiota tinha que aparecer justo agora? Odeio ele… — resmungou Argus em um sussurro para Eurus, enquanto ajudava a carregar Diovanni.

    — É, mas, esse idiota matou aquele goblin com um único golpe — comentou Isabel, correndo ao lado deles.

    — O ranking dez é tão forte assim? — murmurou Eurus, intrigado.

    — Me sinto mais seguro com um cara daqueles por perto — acrescentou Eurus. — Teríamos morrido se não fosse ele.

    — Ele não parece do tipo que se importa com os outros — comentou Hal. Apesar de sua exaustão, mantinha o ritmo, as pernas trêmulas, mas determinadas.

    — Melhor estar com ele do que com os goblins… — rebateu Isabel. — Aliás, que habilidade foi aquela que ele usou?

    — Necromante. Ouvi dizer que ele transforma cadáveres em marionetes — afirmou Yonzu, sem saber da verdadeira natureza dos poderes de Vítor. — Por isso o chamam de Marionetista…

    Seguiram correndo pela floresta, enquanto o incêndio se alastrava atrás deles, consumindo árvores e lançando fagulhas ao céu. As nuvens carregadas se acumulavam no horizonte, e a escuridão começava a cair.

    Adrian liderava o grupo em silêncio, seus olhos atentos escaneavam a trilha sinuosa à frente. Finalmente, entre as árvores retorcidas e os arbustos chamuscados pelo fogo, avistaram a entrada de uma grande gruta, meio oculta pela vegetação.

    Vítor já os esperava ali, encostado na rocha com os braços cruzados, e os observava com um olhar indiferente.

    — Não demoraram tanto quanto eu esperava — comentou, sempre com um sorriso de zombaria.

    — Difícil correr enquanto se carrega alguém inconsciente — resmungou Eurus, ao ajustar Diovanni nos ombros.

    — Façam duplas e decidam quem ficará de vigia na entrada. Depois, trocamos os turnos — ordenou Yonzu aos membros de sua guilda.

    Os sobreviventes se acomodaram próximos à entrada e discutiram entre si quem buscaria lenha para acender uma fogueira durante a noite. Enquanto isso, Adrian, Yonzu e Vítor se afastaram para uma parte mais profunda da caverna, onde poderiam conversar sem interrupções.

    — E então, o que fazemos agora? — Yonzu quebrou o silêncio.

    — Esperamos o próximo dirigível e pedimos reforços da Cidade Celestial — respondeu Adrian, sentado sobre uma pedra. Sua voz carregava um leve traço de cansaço.

    — Eles vão derrubar o dirigível antes que chegue até aqui. Não é tão simples assim — retrucou Yonzu, descrente daquela estratégia.

    — É simples, sim — disse Vítor, ao apoiar-se contra a parede e cruzar os braços. — Matamos a rainha goblin, dizimamos a horda e vamos embora.

    — Isso ainda não explica os gigantes — ponderou Yonzu, coçando a cabeça.

    Vítor franziu o cenho e levou a mão ao queixo.

    — Isso é o que mais me preocupa… Não faz sentido algum. Eu até aceitaria que os goblins tivessem ficado mais fortes. Talvez a rainha tenha evoluído de alguma forma, mas ainda assim, algo está errado. Goblins não se aliam a outras raças… E nunca li nada sobre gigantes daquele tipo.

    Ele bateu a mão contra a parede, como se tivesse acabado de lembrar algo importante.

    — No caminho até a clareira, enfrentei alguns deles… e, o tempo todo, senti algo estranho.

    — Como se houvesse alguém te observando, sempre às suas costas? — perguntou Adrian.

    — Exatamente. Mas essa pessoa nunca se revelava… — Vítor estreitou os olhos, relembrando os acontecimentos. — Eu estava em uma caverna, Alice estava lidando com alguns goblins, quando percebi alguém entrando furtivamente. Mas, assim que saí para investigar, a presença simplesmente desapareceu. Logo depois, me deparei com um ciclope. Matei ele, e então a sensação desapareceu aos poucos.

    — Alice? Quem é ela? — indagou Yonzu.

    — Minha aprendiz.

    — Ah, sim… a garota que apareceu correndo — relembrou Yonzu. — Ela mencionou que você encontrou alguém na floresta e mandou que seguisse na frente. Quem era?

    As lembranças de seu encontro com Herman invadiram a mente de Vítor. A última frase dele ressoou com força:

    “Tem algo errado aqui. Tenho certeza de ter sentido selvagens nas sombras. Evite entrar em combate direto contra eles.”

    Ele afastou os pensamentos com um leve balançar de cabeça antes de responder:

    — Apenas um elfo que conheci na Cidade Celestial. Já deve ter retornado para o outro lado da fronteira, no Reino Élfico.

    — Ele sabia de alguma coisa? — insistiu Yonzu.

    — Não… só estava rastreando um grupo de goblins que atacou uma vila próxima — mentiu Vítor, tentando manter a voz firme.

    — E esses gigantes? Ele não sabia nada sobre eles? — indagou Adrian.

    — Não. Mas me lembrei de algo interessante… — Vítor fez uma pausa, como se estivesse organizando seus pensamentos. — Houve inúmeros ataques de goblins na região, com vários desaparecidos… Todas as vítimas foram levadas durante ataques goblins as vilas élficas na região. Foi por isso que nos enviaram para cá.

    — E como isso se conecta aos gigantes? — Adrian estava curioso sobre a linha lógica tomada por Vitor.

    — Veja isso. — Vítor retirou um pequeno dardo goblin do bolso e o lançou para Yonzu. — Consegue identificar a toxina usada? Tenho minhas suspeitas, mas quero confirmação.

    — Certo… — Yonzu respirou fundo e passou as mãos sobre o rosto, ativando suas habilidades de Caçador.

    Veneno de Paralisia | Nível X

    Yonzu arregalou os olhos, um arrepio percorrendo sua espinha.

    — Isso é… — Ele ficou momentaneamente sem palavras.

    — É um tranquilizante ou não? — insistiu Vítor.

    — Um veneno de paralisia… nível dez.

    — Era o que eu temia… — Vítor pegou o dardo de volta, e o girou entre os dedos.

    Adrian franziu o cenho, juntando as peças.

    — Espera… Você acha que os gigantes são os elfos capturados?

    — O que restou deles… — respondeu Vítor, sem rodeios. — Se minha teoria estiver correta, eles têm algum método para transformá-los. Talvez seja o mesmo processo que criou aqueles goblins capatazes.

    Yonzu passou a mão pelo queixo, refletindo.

    — E qual é o plano?

    — Encontrar a base deles, descobrir a origem desses gigantes e matar a rainha goblin — explicou Vitor de imediato.

    Adrian bufou, cruzando os braços.

    — Genial… Gênio com “J”, que fique claro.

    — Não gostou? — Vítor se sentiu um pouco ofendido pela resposta.

    — Claro que não! Você viu o que aconteceu na clareira! Acha mesmo que temos alguma chance?

    Vítor o encarou impassível.

    — Você ainda está vivo?

    — Estou… — Adrian piscou, desconcertado. — Que tipo de pergunta é essa?

    — Então cale a boca. Temos chance. Vocês devem ter subido pelo menos cinco níveis com essa luta. Se montarmos uma estratégia decente, podemos vencer.

    — E qual seria essa “estratégia decente”? — Adrian permaneceu desconfiado.

    — Criar um grupo bem balanceado e atacar — elucidou Vítor. — Precisamos de todas as funções cobertas: ataque, suporte, defesa. Eu sou um necromante, Alice é curandeira. E — Tanto eu quanto meu aprendiz somos espadachins — respondeu Adrian, lançando um olhar para Yonzu.

    — Eu estava com recrutas de várias classes… mas só restou um deles. O restante são oficiais de baixo escalão, além da Isabel.

    — As classes, Yonzu, não a hierarquia! — Adrian exclamou, esfregando o rosto em frustração.

    — Ah, sim. — Yonzu coçou a cabeça, um pouco envergonhado. — Temos um caçador, um guerreiro, um clérigo, um pistoleiro e um escudeiro.

    Vítor assentiu.

    — Ótimo. Dois suportes, dois de longo alcance, um tanque e três lutadores corpo a corpo. E, claro, eu, que sou basicamente um exército de um homem só.

    — Sua necromancia te permite invocar um exército? — Yonzu ficou impressionado ao saber a dimensão

    — Exatamente. Minhas marionetes podem lidar com os goblins fracos, de até duas estrelas. Mas os gigantes são outra história.

    — Se tivermos uma boa estratégia, podemos vencê-los — ponderou Yonzu. — O problema é encontrar a base deles.

    Vítor observou o dardo em sua mão, um plano se formando em sua mente.

    — Eles queriam nos capturar vivos… — murmurou. Então ergueu os olhos para Yonzu. — Você consegue colocar uma habilidade de rastreamento em mim?

    Yonzu arregalou os olhos, entendendo o plano.

    — Você não vai…

    — Ele já decidiu — interrompeu Adrian, cruzando os braços. — Vai ser a isca viva. Nós seguimos a localização dele e encontramos a base.

    — E, uma vez lá dentro, eu uso meu exército de marionetes para destruí-los por dentro — concluiu Vítor.

    Adrian sorriu.

    — Agora sim, isso é um plano de verdade.

    Yonzu relaxou os ombros.

    — Só falta um detalhe…

    — Qual?

    — Todo grupo precisa de um nome. Qual vai ser o nosso?

    Vítor deu de ombros.

    — Grupo de Extermínio Goblin. Apropriado, não acha?

    Adrian assentiu.

    — Estou dentro. Quando começamos?

    — Amanhã de manhã. — Vítor guardou o dardo e lançou um olhar para os demais. — Descansem bem. Amanhã, acabamos com essa praga de uma vez por todas.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota