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    7 de março de 5997 d.E. – Fronteira Norte, Território Goblin.

    A cabeça de Vítor latejava, e seu corpo parecia pesar uma tonelada. Seus olhos turvos se abaixaram, e ele observou seu uniforme branco, agora manchado de terra e lama. O chão de pedra sob seu corpo era gelado, e ele tentou se erguer, mas seu corpo não respondia.

    Forçou-se a lembrar do que havia acontecido. Como diabos havia parado ali?

    O ambiente ao seu redor era uma cela escavada na rocha, onde a única luz vinha de uma pequena abertura na parede. Fraco demais para se levantar, ele não conseguia ver o que havia do outro lado e teve que deixar o resto para sua imaginação. O lugar era úmido e escuro, e um musgo verde crescia pelas pedras frias. Os únicos objetos na cela eram um leito de palha e um buraco imundo no chão, claramente destinado a servir como latrina.

    — Tem alguém aí? — gritou, ao tentar girar a cabeça com esforço para tentar enxergar a entrada da cela.

    Mas seu corpo não obedecia. Era como se estivesse completamente paralisado.

    Aos poucos, fragmentos dispersos de memória começaram a se encaixar. Ele se lembrou do plano. Ser capturado pelos goblins para revelar a localização deles. Um cavalo de Troia. Ele, Adrian e Yonzu haviam arquitetado tudo nos mínimos detalhes. Mas então, por que aquele lugar não parecia uma cela goblin? Era muito mais… civilizado.

    Reuniu o pouco de energia que tinha, e pressionou as mãos contra o chão e tentou se erguer. Seu corpo cedeu de imediato, desabando como um saco de pedras. Ele não tinha força alguma.

    — Não se esforce muito — advertiu uma voz feminina às suas costas. — Os efeitos do veneno ainda demoram um pouco para passar…

    — Obrigado pelo aviso, mas eu não posso simplesmente ficar aqui parado! — respondeu, determinado, e tentou se levantar outra vez.

    Dessa vez, conseguiu se apoiar nos braços por um instante, mas não sentia as pernas. Logo, caiu novamente.

    — Eu avisei — repetiu a garota, com um suspiro.

    Vítor fechou os olhos, e reuniu as forças para uma tentativa final de ficar em pé.

    — Onde estamos? E quem é você?

    — Meu nome é Mylaela… — A voz dela soou abatida. — Mas eu não sei onde estamos.

    — Uma elfa? Você está presa aqui ou trabalha para eles?

    — Ei! Estou presa, obviamente! — protestou, irritada.

    — Eu não consigo ver você. Virar meu pescoço está meio complicado nessa situação. — Ele riu, apesar de tudo.

    — Você também é um herói?

    — Digamos que sim… — disse, e então refletiu por um momento. — “Também”? Quer dizer que há outros como eu?

    — Havia. Mas eles os levaram… Assim como fizeram com os outros…

    — Há quanto tempo está aqui?

    — Mais de uma semana.

    A resposta o atingiu como um soco. Mais de uma semana? Outros cativos? Então era esse o destino dos capturados… Mas para onde eram levados depois? E, acima de tudo, quem estava por trás disso?

    Vítor tentou organizar seus pensamentos e, enfim, se lembrou. A floresta. Ele caminhava sozinho quando um dardo surgiu do nada. Ele se deixou ser atingido, conforme planejado. Depois disso… nada. Apenas escuridão. E agora estava ali.

    Ainda que sentisse um leve formigamento nos membros, tentou se mover novamente. Dessa vez, conseguiu, ainda que com esforço, se colocar de joelhos e apoiar-se contra a parede. Respirou fundo, e virou a cabeça para observar o outro lado da cela.

    Do outro lado das grandes barras de metal, em outra cela, estava uma jovem elfa de cabelos loiros e olhos azuis, fitando-o em silêncio. Seu olhar era uma mistura de desconfiança e exaustão.

    — Mylaela, certo? — Vítor a encarou, e ela confirmou o nome com um aceno de cabeça hesitante.

    — Meu nome é Vítor, o Marionetista. Preciso que me conte tudo o que sabe. Se quisermos sair daqui, preciso de um plano. — Ele girou os braços, a sensação de formigamento aos poucos desaparecendo.

    Ela abaixou a cabeça, os ombros trêmulos.

    — Eu estava na minha vila… com meus pais… — Sua voz quebrou, e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. — Então eles… eles invadiram… queimaram tudo…

    — Os goblins? — perguntou Vítor, atento a cada palavra.

    Mylaela negou com um movimento fraco da cabeça.

    — Não… — disse, entre soluços. — Não eram goblins… eram gigantes.

    Vítor não se surpreendeu. Já suspeitava de algo assim. O que realmente o intrigava era como os goblins haviam se aliado a gigante, e de onde essas criaturas vieram. Mas ainda não tinha todas as respostas, então continuou.

    — E depois? O que aconteceu? Como veio parar aqui?

    — Não lembro… Só lembro da minha mente ficando turva… e então acordei aqui.

    — Você mencionou outros. Quem eram eles?

    — Outros elfos. Muitos… Mas os levaram. Ontem, capturaram vários heróis como você. Um deles conversou bastante comigo. Acho que o nome dele era Jack.

    — “Eles” quem? Quem os levou?

    — Selvagens…

    Vítor estreitou os olhos. Ele sabia exatamente a quem ela se referia, mas decidiu se fazer de desentendido.

    — Selvagens? Quem seriam esses?

    Mylaela ergueu o olhar, surpresa.

    — Você não sabe? São raças antigas, que coexistiam com os humanos no continente oeste. Dizem que quase todas foram extintas… Só a tribo dos Lobos sobreviveu, se escondendo entre os humanos.

    — E o que eles querem? Por que estamos presos aqui?

    Mylaela cerrou os punhos, a frustração evidente em sua expressão.

    — Já perguntei a eles… mas nunca respondem! Na verdade, eu nem consigo entender o que dizem.

    Ela não estava mentindo. Exceto para os heróis, abençoados com as “Mil Línguas”, a comunicação em Testfeld entre raças era um verdadeiro desafio. Com milhares de dialetos e alfabetos desenvolvidos ao longo de seis mil anos de civilização, era impossível para duas raças tão distintas se entenderem sem um tradutor ou uma bênção adequada.

    — Então, basicamente, você não sabe de nada. — Vítor suspirou, se levantando sem nenhum resquício dos efeitos do veneno. — Vou fazer isso do meu jeito…

    Mylaela arregalou os olhos, incrédula.

    — Como? Como você já está de pé?

    — Não sou tão fraco assim. Simples. — Vítor apoiou a mão contra a parede, e uma névoa negra, quase imperceptível, deslizou pela pedra. — Agora só preciso mapear o local e enviar as informações para meus aliados lá fora.

    — Isso é impossível… — sussurrou a elfa, sem demonstrar nenhuma esperança, ao apontar para cima. — As celas estão lacradas com runas de supressão. Qualquer habilidade que você possua será bloqueada por elas.

    Vítor seguiu seu olhar e viu uma pedra escura incrustada no topo da cela. Um símbolo em forma de “V” brilhava fracamente em sua superfície.

    — Nível cinco… — murmurou, ao analisar a runa com desdém. — Eu precisaria de, no mínimo, um nível oito para me preocupar com isso. Até lá… isso é inútil. 

    — Quem é você, afinal?

    Vítor sorriu com confiança.

    — Só tenha certeza de uma coisa, não sou um herói.

    No domingo, dia 23 de fevereiro, encerraremos o ritmo de capítulos diários. A partir da próxima semana, retornaremos à publicação de três capítulos semanais, seguindo a decisão da última votação no discord: Sexta, Sábado e Domingo.

    Ainda há a possibilidade de capítulos extras ao longo da semana, dependendo da minha disponibilidade, para aumentar a frequência e melhorar a média de publicação—mas isso ainda não está definido.

    Essa mudança se deve à minha rotina, que voltou a ficar puxada com a faculdade. Agradeço a compreensão e o apoio de todos!

    Formulário para enviar personagens: https://forms.gle/HaThdpm2KCYcS5dj6

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