Índice de Capítulo

    Luna ergueu Adrian ainda mais no ar, as mãos presas no pescoço do herói, e, sem demonstrar nenhum esforço, o lançou contra o chão. O impacto foi violento. Qualquer outro humano teria tido ossos quebrados, talvez até a coluna despedaçada. Para a sorte dele, Adrian era um herói. E mesmo com sua condição especial, a dor que sentiu foi avassaladora. Ele tentou se levantar, alcançar sua espada caída, fazer qualquer coisa, entretanto seu corpo não respondia.

    — Levante-se, seu patético! — bradou Luna, e desferiu um forte chutel no estômago de Adrian. 

    O golpe foi tão forte que o ergueu do solo e o lançou para trás. Ele caiu de joelhos e cuspiu sangue. Luna parou à sua frente, e o encarou cheia de rancor.

    — Agora, escute bem, antes de morrer. Será o meu ato de empatia. Vou lhe contar minha história.

    Adrian ergueu o rosto, limpou o sangue do queixo com as costas da mão e sorriu com ironia.

    — Conte-me tudo — respondeu, um tanto irônico, com o claro objetivo de tentar ganhar tempo.

    — Não dirija a palavra a mim. Você não é digno! — rugiu Luna, furiosa, e avançou para chutá-lo novamente.

    Dessa vez, Adrian ergueu os braços e conseguiu bloquear o golpe. Mesmo assim, a força do impacto o fez deslizar pelo solo, e deixou outro rastro de poeira e sangue.

    Luna não parou. Sua voz tremeu com o peso das memórias.

    — Eu vivia em paz com minha família. Nossa tribo era pacífica, vivíamos sob a proteção de uma ninfa benevolente. Tínhamos tudo de que precisávamos, nossas cabanas de madeira margeavam um lago cristalino…

    Ela fez uma pausa, como se pudesse enxergar aquele passado diante de seus olhos.

    — Um lugar lindo para se viver — murmurou Adrian, provocativo, a única coisa em mente era estender a conversa.

    — Você não sabe de nada! — ela rugiu, e lançou uma nova investida contra ele.

    Dessa vez, ele conseguiu rolar para o lado e evitar o golpe.

    — Mas então… vocês apareceram — continuou Luna, com a voz carregada de veneno. — Heróis. Falsos salvadores. Invadiram nossa vila e transformaram tudo em cinzas. Minha casa, meu povo, meus pais, meus irmãos… todos massacrados. Para quê? Por que éramos seres mágicos vivendo no continente humano? Por que éramos uma ameaça à Santa Igreja? Não, não éramos! Só queríamos viver! Mas eles tinham medo. Medo do nosso poder. E, em vez de nos enfrentarem diretamente, enviaram suas cadelinhas para fazer o trabalho sujo.

    Seus punhos tremiam, e o ódio era misturada com tristeza.

    — Vocês heróis mataram meu povo, destruíram meu lar… e ainda têm a audácia de se chamarem de salvadores?

    Adrian suspirou, aquela conversa não ia levar a lugar algum. Luna claramente não ia amolecer o coração por causa de palavras. Porém, era o melhor o que ele podia fazer para tentar sobreviver, então, não custava tentar. Ele a encarou, e tentou simular olhos cheios de lágrimas, como se estivesse convencido com a história dela.

    — Eu acabei de chegar. Não tenho nada a ver com isso. E se soubesse, teria feito algo.

    — Mentiroso! Vocês nunca fizeram nada! Nunca se importaram!

    Luna o agarrou pelo pescoço novamente, e o ergueu do chão com facilidade. 

    — Os poucos heróis que tive a desonra de conhecer só me enxergaram de duas formas: como um inimigo a ser abatido ou um troféu para ser conquistado. Um objeto sexual para seu bel-prazer! Mas eu sou mais do que isso!

    Sua voz tremeu, não era fraqueza, era a mais pura determinação.

    — Eu estou viva! E quero vingança pela minha família!

    Adrian manteve o olhar firme. Não podia demonstrar medo, mesmo estando em uma posição desesperadora. Ainda tinha um truque na manga, e muita esperança.

    — Mestre! — A voz de Eurus ecoou à distância. — O senhor está bem?

    Luna virou-se abruptamente, e observou o aprendiz de Adrian se aproximar com a espada erguida, pronto para conjurar uma habilidade.

    — Ele já está morto. Você será o próximo! — Ela lambeu os lábios, e preparou-se para esmagar a cabeça de Adrian entre as mãos.

    Porém, onde estava Adrian?

    Por um instante, Luna sentiu o vazio entre os dedos. O herói havia escapado enquanto ela desviava a atenção para Eurus.

    — Vencido, mas jamais derrotado! — bradou Adrian, antes de desferir um soco direto no rosto delicado de Luna.

    O impacto foi forte, e a forçou a recuar um passo. Foi tudo que ele precisava. Aproveitou o instante de hesitação da híbrida, Adrian estendeu a mão e usou sua afinidade com o ar para trazer a espada de volta para sua mão. No mesmo movimento, impulsionou-se com um chute no tórax de Luna, ganhando espaço para manobrar.

    Girando a lâmina com destreza, acertou o pomo da espada contra o queixo dela, atordoando-a por um breve momento.

    Ele estava livre novamente.

    — Foi um belo golpe, mas não muda nada! — Luna rosnou, mais furiosa do que antes. O orgulho ardia em seus pensamentos; levar aquele soco era uma humilhação que não podia aceitar.

    Ela se preparou para atacar novamente, e começou a conjurar pequenas flores, mas foi interrompida por uma voz urgente.

    — Luna, temos que voltar!

    Rooster surgiu atrás dela, o ombro ferido e sangue escorrendo pela lateral de seu corpo. Ele se apoiava em um pequeno garoto com orelhas de rato, magro, franzino, não devia ter mais que oito anos, vestido com roupas simples de camponês.

    Luna, no entanto, sequer olhou para trás.

    — Não vê que estou no meio da nossa vingança? — resmungou, sem tirar os olhos de Adrian. Sua respiração era pesada, carregada de ódio. — Esse heroizinho vai pagar caro!

    Rooster ignorou sua fúria. Manteve a voz firme e ordenou:

    — Luna! Não temos tempo para isso! Precisamos sair agora!

    — Só mais um minuto e tudo estará acabado. — Ela sorriu para Adrian, que se mantinha sério, a espada erguida, pronto para reagir.

    — Não temos um minuto! — A voz do pequeno garoto cortou o ar como uma lâmina. — O Exército de Libertação…

    Ele fez uma pequena pausa, como se tomasse coragem para afirmar alguma coisa, e Luna virou-se para encará-lo.

    — O Exército de Libertação está aqui! — gritou a plenos pulmões, para vencer o medo.

    Luna congelou. Seu olhar de fúria se transformou em puro terror.

    — Ela está aqui… — murmurou, quase sem voz.

    Saltou para trás e aterrissou ao lado dos dois aliados. Seu rosto ainda carregava vestígios de raiva, todavia o medo que sentia era impossível de esconder. Mesmo assim, forçou-se a erguer o queixo e mirar Adrian com um olhar ameaçador.

    — Nós vamos nos encontrar novamente. — Ela pousou a mão no ombro do garoto. — E quando esse dia chegar, o pós-vida será o menor dos seus problemas.

    Adrian soltou uma risada seca.

    — Duvido muito. Mas estou ansioso para uma luta justa.

    Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um clarão envolveu Luna, Rooster e o garoto, e eles desapareceram no ar.

    Adrian ainda conseguia sentir a presença deles, mas de alguma forma, estavam inalcançáveis, como sombras que pairavam além do mundo físico.

    — Mestre, o que foi isso? — Eurus perguntou, se aproximando cautelosamente.

    Adrian suspirou, sentando-se no chão. Seu corpo latejava de dor.

    — Não sei. Eles ainda estão aqui… mas, ao mesmo tempo, não estão.

    Ele enfiou a mão no bolso interno de sua roupa e puxou um cantil de água, bebendo longos goles para aliviar a garganta seca.

    — E agora? O que faremos?

    Adrian limpou os lábios com as costas da mão e sorriu de canto.

    — Vamos encontrar os outros e avisá-los. Agora sabemos quem são nossos inimigos, são fortes, mas mesmo assim, não podemos perder a esperança… Afinal somos heróis, não? – afirmou ele, sem deixar de pensar na história de Luna.

    — Somos — respondeu Eurus, sem compreender o que seu mestre desejava inferir. — O que quer dizer com isso Mestre?

    — Os heróis sempre vencem no final.

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