Índice de Capítulo

    A situação era tensa, o inimigo, um selvagem macaco, estava no topo de um galho de uma grande árvore. No chão, logo abaixo dele, os Cavaleiros de Inverno e Alice haviam formado um semicírculo defensivo, prontos para qualquer investida.

    Diovanni ocupava a vanguarda da formação, com Yonzu e Argus posicionados ao seu lado, com suas armas de longo alcance preparadas para atacar o inimigo caso ele avançasse. Logo atrás, Isabel segurava sua lança com firmeza, atenta a qualquer abertura para estocar Sun em uma aproximação repentina.

    — Vai ser pelo jeito difícil? — provocou o primata, um tom de diversão na voz.

    O grupo manteve a postura firme, sem se abalar com a provocação.

    — Hal, consegue manter uma bênção de previsão de nível dois? — perguntou Yonzu, sem tirar os olhos do adversário.

    O clérigo assentiu. Com um leve toque do cajado no chão, uma fina aura azul se espalhou pelo ambiente, e envolveu Yonzu. Hal começou a murmurar em uma língua arcaica, e a cada palavra sussurrada, a aura ao redor de seu líder se intensificava.

    Sun sorriu de canto, satisfeito. Enfrentar inimigos fortes sempre tornava as coisas mais interessantes. Num movimento ágil, saltou do galho e avançou contra a formação, o bastão de madeira puxado para trás, pronto para desferir um golpe poderoso.

    Porém, a poucos metros do grupo, interrompeu abruptamente sua investida. Seu sorriso malicioso denunciava que algo estava errado.

    Yonzu não hesitou. Instintivamente, girou nos calcanhares, retesou a corda do arco e disparou… para o vazio.

    Por um instante, apenas o silêncio. Então, uma gota de sangue manchou o ar antes que Sun se materializasse novamente, enquanto seu clone desaparecia em uma névoa esvanecente.

    — Não caio em truques baratos. — Yonzu preparou outra flecha. — Não vou errar o próximo disparo, então sugiro que comece a falar. Quem é você?

    Sun passou os dedos pelo ferimento superficial no ombro e, em vez de demonstrar dor, soltou uma gargalhada alta e vibrante.

    — Impressionante! Você enxergou através do meu truque. — Seus olhos brilharam com um misto de admiração e excitação. — Mas receio que a brincadeira esteja longe de acabar.

    Yonzu sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele viu o futuro sombrio que se aproximava do grupo.

    Antes que pudesse reagir, Sun golpeou o chão com seu bastão. O impacto foi devastador. Uma rachadura enorme se abriu, e estendeu-se como um relâmpago ramificado pelo solo. O terreno tremeu violentamente, e obrigou todos a saltar para evitar serem engolidos e atingidos pelo colapso.

    A formação defensiva se desfez. Poeira e destroços se ergueram no ar, e a visão foi obscurecida, mal podiam enxergar uns aos outros.

    — Onde ele está? — gritou Diovanni, ao recuperar-se da queda e agarrar seu escudo caído.

    — Me ajude… — a voz de Yonzu soou fraca. Ele estava no chão, o braço ensanguentado. O ataque havia acertado em cheio.

    — Yonzu! — Hal correu até seu líder, o coração disparado. Ergueu o cajado sem hesitação, e preparou uma bênção de cura.

    Foi um erro. 

    O último que ele cometeu.

    — Eu estou aqui! É uma armadilha! 

    A verdadeira voz de Yonzu ecoou de trás dele. Sem ferimentos. Sem sinais de luta.

    Hal congelou. Seu olhar se moveu lentamente para o grupo, todos paralisados pelo horror.

    Então, o mundo girou.

    O chão virou céu. O céu virou chão.

    “Ué, estou de ponta-cabeça?”

    Esse foi seu último pensamento antes de sua vida se extinguir.

    O corpo caiu pesadamente no chão, o pescoço torcido em um ângulo impossível.

    No centro do caos, Sun, agora com a aparência de Yonzu, exibia um sorriso cruel. Em sua mão, segurava a cabeça decepada de Hal, como um troféu.

    — Desgraçado! — Argus foi o primeiro a romper o silêncio. — Você vai morrer! E não vai pro céu!

    Ele ergueu sua espingarda, o dedo firme no gatilho, pronto para explodir os miolos de Sun.

    — Não existe céu… — murmurou Sun, sua voz carregada de um cinismo frio.

    Sua forma oscilou e, num piscar de olhos, ele reassumiu sua verdadeira aparência bestial. 

    — A vida é cruel. — Ele ergueu a cabeça de Hal e a observou por um instante antes de arremessá-la ao chão. O crânio rolou até parar aos pés de Argus. — No fim, é cada um por si… e os deuses contra todos nós… Apenas se divertem com nosso sofrimento…

    A raiva e o ódio queimavam dentro de Argus como um peso esmagador que consumia suas energias e esperanças. Por mais que desejasse vingança, seu corpo hesitava em tomar alguma atitude. Não era medo. Era a negação da perda, a dor de encarar a morte inevitável de um companheiro.

    — Cale-se! — Ele finalmente apertou o gatilho.

    O estrondo da espingarda ecoou pela clareira. Mas o disparo encontrou apenas o vazio.

    Sun não estava mais ali. Era outro clone.

    Num instante, o verdadeiro Sun surgiu atrás de Argus, veloz e implacável. O bastão descia como uma lâmina implacável, pronto para fazer uma nova vítima.

    Diovanni reagiu num impulso. Lançou-se à frente de Argus, e ergueu o escudo para proteger o companheiro. O impacto foi ensurdecedor. O chão, já frágil pelo ataque anterior, rachou sob seus pés.

    O peso do ataque quase fez Diovanni desabar, ele resistiu com todo o seu vigor, os pés fincados com firmeza, apoiado pela barreira de água que absorvia parte da força devastadora. Seus olhos ardiam entre o ódio da perda e a determinação da vingança.

    — Você vai pagar! — bradejou, enquanto empurrava Sun para trás com o seu escudo.

    — Bastardo! — Argus venceu sua hesitação, recarregou a espingarda e se preparou para disparar novamente.

    Sun recuou, surpreso pela defesa vigorosa de Diovanni. Ele não esperava enfrentar tamanha resistência daqueles heróis.

    Sem perder a brecha dada, Yonzu e Isabel atacaram logo em sequência. Sun divertia-se com o esforço dos heróis. Ele desviou de todas as flechas com uma elegância sobrenatural, ele girava no ar como se fosse parte do vento e soubesse a direção de cada projétil. A lâmina da lança passou a milímetros de seu rosto antes de ele se afastar com um salto para trás.

    — Até que lutam bem — zombou, e girou o bastão entre os dedos da mão direita.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota