Capítulo 38 - Sun (Parte II)
Diovanni não perdeu tempo. Sem medo, avançou para abrir caminho aos aliados. Com o escudo erguido, investiu como um touro enfurecido. Sun saltou para o lado, mas o escudeiro já previra o movimento. Girou sobre os calcanhares e, usando o impulso da sua barreira de água contra o chão, alterou a trajetória no último instante, seu chute foi direto às costelas do inimigo.
Porém, algo inesperado aconteceu.
Sun bloqueou o golpe com o bastão e, diante dos olhos de Diovanni, a madeira transformou-se em um metal denso como ferro. O impacto reverberou pelo corpo do herói, e uma dor lancinante tomou conta de sua perna. Ele gritou, o osso havia se partido.
Antes que Sun pudesse desferir o golpe final contra o escudeiro, Argus abriu fogo.
O inimigo foi obrigado a se afastar, para não ser atingido mortalmente no crânio. Mesmo assim, ainda foi atingido, a bala acertou o seu ombro esquerdo, e abriu um buraco na fina armadura que ele vestia.
A bala assobiou pelo ar e encontrou seu alvo. O projétil perfurou o ombro esquerdo de Sun, rasgando a armadura fina e cravando-se em sua carne. O sorriso divertido desapareceu.
Por um instante, sua expressão mudou de desdém para pura fúria.
Para Argus, o mundo pareceu desacelerar. Ele viu apenas um borrão vindo de cima, e soube que era tarde demais. Preparou-se para o impacto, entretanto… nada aconteceu.
Apenas sentiu algo quente escorrer por seu rosto.
Sangue.
Diovanni, em suas últimas forças, havia se jogado na frente do golpe mortal. O escudo caíra de sua mão, e um sorriso fraco surgiu em seus lábios.
Então, ele tombou.
Seu crânio esmagado sob o peso do bastão.
— Queria tanto assim morrer? — zombou Sun, girando o bastão antes de apontá-lo para Argus.
O herói permaneceu imóvel, queria gritar, queria fugir, contudo, era incapaz de fazer isso, a coragem simplesmente não vinha. O sangue de seu companheiro ainda respingava em seu rosto, quente, pegajoso, real demais. Outro amigo havia morrido diante de seus olhos. Mas dessa vez, por ele.
Merecia aquilo? Era digno de ser salvo? A que custo? O preço de outra vida?
A raiva veio como uma onda avassaladora, não iria deixar nenhum outro companheiro dar sua vida por ele.
— Bastardo! — xingou, e apertou o gatilho.
A bala atravessou o vazio. O Sun parado na sua frente não era real, não passava de um clone.
O tempo pareceu desacelerar. Argus mal teve tempo de perceber a sombra atrás de si antes de sentir o impacto brutal no peito. Um som seco ecoou quando suas costelas se partiram como gravetos. O ar escapou de seus pulmões em um engasgo sufocado.
O mundo girou.
Seu corpo foi lançado como um boneco de pano. Voou metros antes de colidir violentamente contra uma árvore. O tronco estalou, rachando sob a força do impacto. Ele caiu. Sua espingarda escorregou dos dedos, e caiu inerte ao seu lado. Tentou se mover. Nada. Seu corpo não respondia. Ele não sentia mais suas pernas.
Sun se aproximou lentamente, os olhos frios e inexpressivos.
Sem pressa, ergueu o bastão acima da cabeça.
Argus sequer teve tempo para um último pensamento.
O golpe desceu.
O som da carne e dos ossos se despedaçando ecoou na floresta.
Os três sobreviventes olharam para o cadáver brutalizado de Argus, todos estavam imóveis, presos em seus próprios pensamentos, o medo materializado em seus corações.
Era esse o fim? Iriam morrer ali, como os companheiros caídos? Seriam reduzidos a nada, esquecidos na escuridão daquela floresta? Teriam Adrian e Eurus encontrado o mesmo fim? Mortos? Se sim, não havia nenhuma esperança, resistir era fútil.
— Não vou morrer sem resistir! — Isabel tentou um ataque, as lágrimas escorriam em sua face.
— Não seja tola! — Yonzu argumentou para pará-la, sem sucesso.
Isabel já havia decidido. No fundo de sua alma, ela aceitara que morreria ali, com os outros.
Sem hesitar e sem demonstrar medo, avançou. Sua lança brilhava com sua aura branca, rasgando o ar em direção a Sun. O guerreiro desviou com um movimento mínimo, ágil como um espectro. Antes que Isabel pudesse recuar, ele agarrou o cabo da arma e a puxou para perto.
Um golpe seco no abdômen fez seu corpo estremecer. Sangue jorrou de seus lábios enquanto a força se esvaía de seus membros. Sun girou o corpo e a lançou contra o solo com brutalidade.
— Maldito! — Yonzu cerrou os punhos.
Ele queria fugir. Correr enquanto ainda podia.
Contudo, ao ver Isabel enfrentar Sun, mesmo sabendo que não tinha chance, algo dentro dele mudou. O medo cedeu lugar à coragem. Iria mesmo abandonar seus companheiros? Deixá-los morrer enquanto ele fugia como um covarde?
Isabel não tinha essas dúvidas. Mesmo ferida, lutava com tudo que tinha. Mas Sun apenas brincava com ela. Dançava entre suas investidas, desviando com acrobacias fluidas, até que se cansou.
De repente, num movimento rápido, ele segurou novamente a lança e puxou a heroína para perto.
Outro golpe. Mais sangue.
Isabel mal teve tempo de reagir antes de ser erguida e atirada brutalmente contra o chão. O impacto arrancou-lhe o ar dos pulmões. A dor explodiu por todo o seu corpo. Sua visão ficou turva.
A última coisa que ouviu foi a risada cruel de Sun antes de tudo se apagar.
Sun ergueu o bastão para o golpe final.
Antes que pudesse desferi-lo, algo se moveu no ar.
Com um movimento rápido, ele agarrou a flecha disparada contra ele.
Yonzu havia se decidido.
Não seria um covarde. Se fosse morrer, morreria em batalha.
— Alice… — murmurou, sem desviar os olhos do inimigo. — Fuja!
Sun desviou a atenção da heroína caída, e voltou a atenção para Yonzu. Em um instante, ele surgiu ao lado de Yonzu. Com agilidade e excelentes reflexos, o herói bloqueou o golpe enfurecido de Sun com o arco. Usava toda sua força para não ser vencido naquele duelo de força.
— Encontre reforços! Avise o conselho! — gritou. Ele tentava encorajar Alice a fugir e não ter o mesmo final que o resto do grupo.
Ela não hesitou. Sabia que não tinha chance contra Sun. Se aqueles heróis, muito mais experientes e poderosos do que ela, haviam falhado, o que uma novata com apenas uma semana de treinamento poderia fazer?
Na verdade, ela possuía algo que talvez vencesse Sun. Porém, ela ainda precisava de tempo para encontrar o artefato entregue por Vitor e ativá-lo.
Ela correu para o interior da floresta.
Sun sorriu.
— Ela não vai fugir — disse, ao recuar repentinamente. Yonzu já não era mais seu alvo.
— Vai sim! — rebateu o arqueiro, e preparou-se para disparar uma sequência de flechas imbuídas de energia.
Não adiantou.
Sun se esquivou de todas. Movia-se como um borrão, cada desvio parecia um reflexo natural. Em segundos, estava sobre Yonzu.
A luta foi rápida. Yonzu tentou mais um ataque desesperado, mas Sun o desarmou sem esforço. Em um instante, o arqueiro estava no chão, ofegante, e lutava para se erguer e tentar continuar a luta.
Sun pisou em seu peito, e o prendeu ao chão.
Ele ergueu o bastão para o golpe final.
Uma esfera incandescente de fogo passou a centímetros de sua cabeça.
Sun recuou, os olhos desconfiados daquele ataque.
Alice havia voltado, todavia, não era mais a mesma garota de antes, algo havia mudado nela.
— Bola de fogo…
[Bola de Fogo – V]
(Habilidade Simples de Nível 25 – Afinidade: Fogo)
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