Capítulo Extra 46 - O Melhor

Golpe após golpe, Uriel se esforçava para tentar continuar na luta contra o líder do ‘Olho do Tigre’. Ele era um oponente formidável, cuja força e agilidade eram algo que Uriel nunca havia encontrado antes. Sua movimentação no campo de batalha era algo a parte, as bolas de energia conjuradas por ele se tornavam pontos de ataque, com ele se movendo entre elas com uma velocidade quase sônica.

Uriel era forçado a permanecer na defensiva, aparando o golpe com os escudos. O adversário não lhe dava trégua, e Uriel era incapaz de se concentrar por um momento para atacar com seus feixes de luz.

O suor começava a escorrer pela sua testa, sinais do seu esforço extremo. Os músculos da sua perna começavam a tremer, após aguentar os impactos dos ataques adversários. Apesar disso, sua determinação continuava sem titubear.

— Meu nome é Biorno! E meu braço é de ferro! — O inimigo se aproximou, com a uma bola de energia em seu punho. 

Uriel levantou o escudo para aparar o golpe, sua armadura brilhante como o sol. Quando o impacto aconteceu, uma onda de energia explodiu em todas as direções, e dissipou a névoa cinzenta que cobria o campo de batalha. As nuvens densas desapareceram, e revelaram a luz clara e quente do sol. Os raios dourados tocaram a pele de Uriel, e ele sentiu sua força se renovar. A sua aura brilhava com mais intensidade.

— Ainda vivo? — zombou Biorno, um pouco ofegante, ao se afastar e assumir uma postura defensiva.

— Lhe falta força. — Ele olhou para o escudo, amassado e distorcido pelo golpe. 

Ele o jogou contra o inimigo, que desviou do projétil sem problemas.

— É isso que vai fazer? Jogar suas peças de armadura contra mim? — Biorno continuava a zombar, em uma tentativa fútil de desestabilizar a confiança do líder dos Dragões do Sol.

— Eu ainda nem comecei! — Uriel sorriu, ao concentrar a luz na ponta de sua lança.

Um raio dourado irrompeu da lança de Uriel, tão intenso que Biorno precisou fechar um pouco os olhos para não ser completamente ofuscado. Aproveitando o momento de distração, Uriel avançou em uma investida feroz, a luz da sua arma criava um rastro brilhante no ar.

Biorno, pego de surpresa, mal conseguiu erguer o braço a tempo para deter a ponta da lança, que já estava a centímetros de perfurar seu peito. A força do impacto fez seus pés deslizarem pelo solo, enquanto ele lutava desesperadamente para conter a pressão.

Uriel, no entanto, não recuou. Ele continuou sua carga com determinação inabalável, sua aura dourada aumentava a cada passo, o próprio sol estivesse impulsionando seus movimentos. Biorno, resistia ao máximo, porém o calor crescente da luz e o peso esmagador da força de Uriel, o empurravam sem trégua.

Com um esforço colossal, Biorno desviou a ponta da lança para baixo, usando a força do golpe como impulso. Num movimento ágil, ele saltou sobre Uriel, executando uma elegante cambalhota no ar. Ao aterrissar com precisão atrás do adversário, Biorno não perdeu tempo: girou o corpo em um movimento fluido e desferiu um poderoso chute nas costas de Uriel. Pego de surpresa, Uriel não se defendeu, apenas sentiu o golpe o lançar pelo ar e cair de rosto no chão.

— Entenda uma coisa: sou o melhor! — declarou Biorno, enquanto conjurava uma esfera azul brilhante.

— Esse é o seu “melhor”? — zombou Uriel ao se erguer, ofegante. Ele cuspiu sangue, e sentia uma dor flagelante percorrer suas costas devido ao chute. Cada respiração era um esforço, todavia ele esboçou um sorriso desafiador. — Já enfrentei dias piores.

— Então veja se sobrevive ao mais difícil! — rugiu Biorno, arremessando a esfera com toda a força em direção a Uriel.

Com dificuldades, e o corpo dolorido, Uriel se esquivou do golpe, ao jogar o corpo para o lado.

— Receba a fúria do ‘Olho do Tigre’! — Biorno deu um forte soco no chão, e uma onda sísmica se espalhou.

Uriel lutava para se manter de pé, porém a dor e o cansaço o consumiam como um peso esmagador. Apesar de sua determinação, seus joelhos cederam, e ele desabou no chão como um saco de pedras.

A queda foi a oportunidade perfeita para Biorno. Sem hesitar, ele conjurou uma nova esfera azul brilhante e a lançou em direção a Uriel com precisão letal. Assim que Uriel sentiu o corpo queimar com a bola azul, Biorno se impulsionou com velocidade sônica, deixando um forte zumbido no ar que ecoou pelo campo de batalha como o rugido de uma tempestade.

Em uma bela acrobacia, Biorno chutou Uriel contra o chão e uma enorme cratera se formou ao redor dele. Todavia, sua armadura se manteve intacta, e a aura dele parecia aumentar mais e mais com o passar da batalha.

— Vamos, levante-se verme patético! Talvez o ‘Olho do Tigre’ tenha piedade de você e o recrute para o nosso propósito maior! — Biorno soltou uma grande gargalhada ao ver o estado patético que Uriel se encontrava.

— Eu ainda nem comecei… — A determinação de Uriel era inabalável, e embora estivesse cansado e ferido, parecia não se importar, e a dor se transformava em motivação para derrotar aquele inimigo mais poderoso.

Ele se levantou, no que parecia ser suas últimas forças, várias costelas quebradas, um pulmão perfurado, o braço direito quebrado pelo último chute. Mas a esperança é a última coisa que Uriel iria perder.

— Sol, ilumine-me! Guie-me ao meu propósito maior! — Ele se ajoelhou e levantou os olhos para o céu, cujos últimos raios de sol começavam a ser ocultos pela volta da névoa cinza do ‘Judas Imortal’.

Como uma resposta ao seu chamado, um último feixe dourado rompeu a névoa, e o iluminou como um farol. O calor do sol envolveu seu corpo e, em um instante milagroso, suas feridas começaram a se fechar. A dor desapareceu completamente, substituída por uma sensação de renovação e força pura. Sua armadura reluzia intensamente, e sua aura crescia exponencialmente, e irradiava puro poder.

— Finalmente… — Uriel abriu um sorriso, confiante, com uma energia revigorada que quase fazia o chão ao seu redor tremer. — Está na hora de começar! Prisão Estática!

Ele girou os dedos em um movimento quase casual, entretanto o efeito foi devastador. Um feixe de luz desceu como uma sentença divina, envolvendo Biorno antes que ele pudesse reagir. A energia o imobilizou completamente, prendendo-o ao chão com correntes de pura luz que pareciam inextinguíveis.

— Últimas palavras? — perguntou ele em tom debochado. 

Biorno manteve-se sério, enquanto observava Uriel reunir toda sua energia em uma grande esfera de luz branca.

— Eu sou o melhor… — murmurou, sua voz carregada de uma confiança, mesmo diante do milagre que era a recuperação de Uriel.

A aura ao redor de Uriel cresceu ainda mais, e ele ergueu as mãos, toda a energia concentrada em um único ponto. A esfera de luz branca pulsava como um pequeno sol.

— Fagulha Estelar! — bradou ele, sua voz ecoando como um trovão pelo campo de batalha.

A luz explodiu em um feixe colossal, tão intenso que o ar ao redor parecia vibrar com o impacto iminente. O disparo cruzou o campo em alta velocidade, como um foguete lançado diretamente contra Biorno, que parecia completamente indefeso, preso pelas correntes de luz.

Ou, ao menos, foi isso que Uriel pensou.

— Você nunca teve a menor chance contra mim… — disse Uriel, com um sorriso confiante enquanto soprava os dedos, de onde ainda escapava uma fina fumaça luminosa. — Sou eu o herói número um, serei eu aquele que derrotará Erobern!

— Não passa de uma farsa! — A voz de Biorno ecoou, e antes que Uriel pudesse reagir, ele sentiu um impacto devastador em suas costas. Biorno surgira atrás dele em um piscar de olhos e, com a mesma força brutal de antes, desferiu um chute que o lançou pelo ar. — Entenda uma coisa: eu sou o melhor! O mais rápido! O mais forte! Eu sou Biorno, e o meu braço é de ferro!

Uriel mal teve tempo de recobrar os sentidos. Biorno saltou, alcançando-o em pleno voo, e o agarrou com um movimento fluido. Sem hesitar, iniciou uma sequência implacável de socos e chutes, cada golpe mantinha Uriel no ar, incapaz de reagir ou se defender.

Infelizmente, todo espetáculo chega ao fim. Após uma sequência devastadora de quase cem golpes, Biorno finalmente interrompeu seu frenesi. Uriel caiu como um boneco, sem reação ou movimento. Parecia morto, todavia não estava.

— Inútil. — Uriel levantou-se, sem nenhum arranhão em seu corpo ou na sua armadura. — Todo o seu esforço é inútil. Você pode ser rápido, mas nunca irá me derrotar.

— Então, quando pretende me acertar? — zombou ele, ainda confiante e com uma risada sarcástica.

— Já acertei. — Uriel sorriu de canto. — Enquanto você estava entretido com seu espetáculo de golpes, cravei a ponta quebrada da minha lança diretamente no seu coração. Tenha uma boa janta no inferno.

Biorno arregalou os olhos e olhou para baixo. Lá estava a lâmina, fincada em seu peito, diretamente no coração. O choque tomou conta dele.

— Como…? — murmurou, desnorteado.

— Apenas uma ilusão. — Uriel respondeu com um sorriso satisfeito.

Biorno, ainda confuso, tocou a lâmina. Ela se dissipou como fumaça, e revelou sua verdadeira natureza ilusória. Antes que pudesse reagir, uma sombra dourada surgiu diante dele.

— Mas esta é bem real! — exclamou Uriel ao avançar com toda a sua velocidade.

Biorno, desprotegido e distraído, mal teve tempo de processar as palavras antes de sentir a mais pura dor atravessar seu peito. Uriel o empalou com precisão implacável, sua lança perfurou o coração do adversário.

O líder do ‘Olho do Tigre’ arregalou os olhos uma última vez, sua expressão oscilava entre a pura descrença e dor. Em poucos segundos, o corpo de Biorno tombou, sem vida, com o coração transpassado pela arma de Uriel.— No final, eu sou o melhor! — gritou ele a plenos pulmões, para que toda a cidade celestial pudesse ouvir quem seria o herói número um de toda Testfeld.