Índice de Capítulo

    O suor escorria pela testa de Adrian. Sua respiração estava pesada, sinal do esforço brutal que fazia para continuar vivo. Era uma luta intensa. Seu inimigo, uma criatura humanoide de quatro braços, quatro metros de altura, com seis olhos e uma pele púrpura, conseguia defender todos os golpes. Qualquer habilidade conjurada ou ataque realizado, os danos eram mínimos, e pareciam só arranhar a densa pele que a criatura possuía. A besta não carregava nenhuma arma, e nem precisava, suas quatro mãos eram o bastante para atacar e defender.

    Eles haviam encontrado o monstro logo após saírem de uma caverna, depois de uma caçada bem-sucedida contra a horda que ali residia. A poucos metros dali, o aprendiz de Adrian, um jovem de dezessete anos chamado Eurus, lutava contra um enxame de goblins menores. Apesar da desvantagem numérica, ele se movia com destreza, sua lâmina cortava o ar em giros rápidos. No entanto, o cansaço começava a se acumular, e tornava cada golpe um pouco mais lento e menos preciso.

    A mão da besta desceu como um martelo. Adrian reagiu num salto ágil, e recuou no último instante. Usou o tronco de uma árvore como impulso e investiu contra o monstro com um golpe preciso. Sua lâmina deslizou pela pele densa da criatura, sem efeito significativo.

    Ele precisava de um novo método.

    — Eurus… — Adrian lançou um olhar para seu aprendiz, que ainda lutava contra os goblins. — Vou usar aquilo.

    — Mestre? — O jovem arregalou os olhos. — Aqui?

    — Você sabe o que fazer.

    Sua voz era firme, todavia suas mãos tremiam levemente. Ele tentava esconder a tensão, e sua respiração irregular o traía.

    Eurus assentiu, e se afastou para uma área segura, enquanto alguns goblins continuavam a perseguir o herói.

    Adrian voltou sua atenção para a criatura e apontou a espada.

    — Agora sim, você verá meu verdadeiro poder…

    Uma lufada de vento sacudiu seus cabelos. As folhas ao seu redor começaram a girar, e formaram a espiral de um redemoinho crescente. O gigante avançou, pronta para esmagá-lo.

    Adrian sorriu.

    — Você está no Olho da Tempestade.

    [Lâmina de Vento – VII]

    (Habilidade Exclusiva de Nível 35 – Classe: Espadachim)

    O ar ao redor de Adrian se tornou denso, vibrante, como uma entidade viva. Sua lâmina fundiu-se ao próprio vento, e alongou-se e em uma espada translúcida, maior do que ele mesmo. 

    Quando a lâmina de vento tocou o pescoço do gigante, um estrondo ensurdecedor rompeu o ar. Um turbilhão se formou no impacto, e criou um mini tornado por um breve instante.

    O solo rachou sob a força devastadora. Uma cratera se abriu onde o golpe atingiu. O impacto arrancou terra, folhas e árvores dos arredores. Os goblins menores foram reduzidos a poeira pela onda de choque.

    Eurus coçou o nariz, enquanto observava a poeira se erguer da cratera. Ele pensou em voz alta:

    — O mestre é um homem muito forte… Isso foi mesmo necessário? Esse inimigo é tão forte assim?

    Adrian arfava, o peito subindo e descendo em um ritmo frenético. O golpe havia consumido uma quantidade absurda de energia, o máximo que seu nível trinta e nove permitia. Ele se ergueu com esforço, a exaustão pesava sobre os músculos. Pensou em guardar a espada, entretanto decidiu, antes, lançar um olhar ao redor.

    No meio da poeira espessa, o único vestígio visível do inimigo era um braço mutilado no chão, ainda tremendo com espasmos involuntários. Porém, onde estava o resto?

    Um rugido ensurdecedor emergiu na floresta. Tão alto que obrigou Eurus e Adrian a tamparem seus ouvidos para não ficarem surdos.. Os olhos de Adrian se arregalaram ao ver a silhueta colossal se levantar no meio da cortina de poeira. A criatura ainda estava viva.

    Quando a nuvem de detritos se dissipou, ele viu a extensão do estrago: o golpe havia arrancado o braço direito da fera, e deixou um rasgo profundo que se estendia do ombro até a parte inferior do tórax. No entanto, o segundo braço direito, localizado atrás das costas, permanecia intacto.

    — Pika… — murmurou Adrian em um tom baixo, impressionado pela resiliência do inimigo.

    O gigante se agachou, pegou o próprio braço decepado e, para horror do espadachim, simplesmente o recolocou no lugar. Veias, músculos e ossos se reconectaram diante de seus olhos, a carne se regenerando como se nada tivesse acontecido. Adrian apertou os dentes. O monstro não apenas era resistente, ele era imortal, a menos que fosse eliminado com um único golpe decisivo.

    Sem perder tempo, tentou novamente.

    Dessa vez, não havia margem para erro. O pescoço era o único ponto que poderia garantir a morte da criatura. Mas o monstro também havia aprendido. Assim que Adrian saltou para executar o corte fatal, a fera ergueu uma das mãos e protegeu a garganta, enquanto a outra segurava a lâmina de vento.

    Os olhos do espadachim se arregalaram. “Ela compreendeu minha estratégia…?” Um calafrio percorreu sua espinha. Ele jamais imaginou que a criatura tivesse um raciocínio tão rápido, muito menos que conseguisse aparar um ataque de nível sete

    Seu coração disparou. O medo começou a se infiltrar em seus pensamentos. Mas então, percebeu algo. Ele havia vencido.

    — Olho da Tempestade! — gritou, ao conjurar sua habilidade única especial.

    O ar ao redor explodiu em um turbilhão devastador. Da ponta da lâmina, um tornado colossal começou a se formar, a criatura recuou, atordoada e confusa. Os dedos da mão cortados, e ela sentiu uma dor angustiante. O tornado se formou ao redor do gigante, com ele em seu centro. Adrian deslizava pelo ar sem ser afetada pelas correntes violentas, e sem dificuldade se posicionou acima da criatura. Estava na altura perfeita para desferir o golpe final.

    Soltou um longo suspiro, firmou a empunhadura da espada e desceu com toda a força.

    A lâmina de vento, amplificada pelo furacão, rasgou a carne do monstro. Um corte profundo abriu-se no pescoço da criatura, contudo não foi o suficiente para decapitá-la. Adrian não hesitou. Elevou a espada novamente e, com um grito feroz, desceu a lâmina uma segunda vez. Dessa vez, o golpe foi definitivo.

    A cabeça do gigante rolou para dentro da tempestade, e o tornado começou a se dissipar. Quando a poeira baixou, não restava mais nenhum inimigo. O gigante estava morto. Os goblins menores haviam sido obliterados pela força do primeiro ataque.

    Eurus se aproximou com passos cautelosos, ainda atento os arredores para a aproximação de qualquer outro novo inimigo.

    — Mestre… O que era essa coisa?

    Adrian limpou o suor da testa e soltou um riso seco.

    — Nem eu sei… — respondeu em um tom brincalhão, tentando esconder a inquietação que corroía sua mente.

    Enfiou a mão no bolso, retirou um broche dourado e pressionou o centro. Instantaneamente, uma tela translúcida surgiu diante dele.

    Informações Primárias 
    NomeAdrian
    GuildaNenhumaClasseEspadachim
    AlcunhaVento de OrienteNível40
    Pontuação Total12501Experiência Total70715
    Posição Global24°Modo de JogoAutomático

    — Olha só, mestre! Você subiu de nível! — Eurus comemorou, satisfeito com o progresso de seu tutor

    Adrian não sorriu. Seu semblante estava sério, os olhos arregalados de medo.

    — Temos que voltar para o ancoradouro. Agora! — Sua voz transbordava urgência.

    Ele saltou da cratera e disparou pela trilha, e deixou Eurus para trás.

    — O que aconteceu? — gritou o aprendiz, ao tentar acompanhá-lo.

    — Aquele inimigo era um quatro estrelas… — Adrian disse, sem diminuir o ritmo. — É por isso que subi de nível. Inimigos quatro estrelas não deveriam estar aqui…

    Eurus sentiu um calafrio subir pela espinha.

    — Temos que avisar os outros!

    A resposta de Adrian veio baixa, quase um lamento.

    — Os outros… — murmurou. — Devem estar todos mortos…

    Estavam apressados. Mesmo que não estivessem, jamais notariam as duas figuras ocultas nas copas das árvores, observando-os em silêncio. A primeira era um híbrido de felino e humano, um guerreiro de músculos poderosos. Um imenso machado estava pendurado em suas costas. Usava uma longa túnica branca e um peitoral de batalha leve. Sua pelagem amarelada era marcada por listras pretas e brancas, e um longo rabo oscilava, e revelava sua impaciência enquanto acompanhava os dois heróis desaparecerem na trilha.

    Ao seu lado, a segunda figura tinha uma presença igualmente imponente. Uma híbrida de vaca e humano, semelhante a um minotauro, com pernas terminadas em cascos largos e mãos humanas habilidosas. Uma lança e um escudo estavam firmemente presos às costas para maior mobilidade. Os dois chifres na cabeça eram curtos e afiados.

    — Presas de Preta, não deveríamos ir atrás deles? — murmurou a híbrida, mantendo o olhar fixo na trilha.

    O felino não desviou os olhos da cratera.

    — Deixe-os ir… Ainda não é a hora de atacar. Primeiro, precisamos medir a força do nosso inimigo.

    — Mas eles mataram o Nove…

    Ele soltou um ronronar grave, desceu da árvore com agilidade e caminhou até a beira da destruição deixada pelo golpe de Adrian. 

    — E daí? Ainda há outros oito mais fortes que ele…

    A híbrida balançou a cabeça, meio irritada;

    — Não fale como se não estivesse impressionado!

    Ele lançou um olhar para a imensa cratera, com mais de vinte metros de diâmetro. Seu rabo parou de se mover por um instante.

    — Alguns heróis são realmente fortes… Parece que encontramos um desses.

    Uma feição meio tediosa surgiu em seu rosto, e logo suspirou:

    — Espero que este não seja um dia longo…

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