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    — Testfeld é composto por dois continentes principais: o continente do leste, habitado por criaturas mágicas, e o continente do oeste, onde prospera a civilização humana — explicava Magnus, enquanto o telão holográfico exibia paisagens de tirar o fôlego. As imagens variavam entre florestas exuberantes, ferrovias no meio de montanhas imponentes, castelos medievais, metrópoles movimentadas. — Nossa missão aqui é bem clara: impedir que as Calamidades destruam Testfeld

    — Calamidades… — Angeline tomou a dianteira da explicação. — Monstros cujo único propósito é causar o caos e destruir qualquer coisa em seu caminho. Eles nascem no meio do Grande Oceano e sempre migram para o leste, atacando as cidades costeiras e avançando implacavelmente para o interior.

    Magnus fez um gesto com as mãos, e a projeção no telão mudou para revelar uma criatura colossal que emergia das águas. Era um imenso caranguejo, seu casco negro reluzia sob a luz do sol. Pequenos pontos brilhantes cercavam a criatura, eram heróis em combate, minúsculos em comparação à besta gigante.

    — Elas vêm em ondas, uma após a outra… — continuou Magnus, sua voz carregada de seriedade. — A cada quinhentos anos, essas criaturas despertam e iniciam seu ciclo de destruição. Somos o grupo de heróis número doze, enviados para lutar contra a décima terceira onda de calamidades.

    O murmúrio inquieto começou a se espalhar pelo anfiteatro. Alguns recrutas trocaram olhares desconfiados.

    — Vocês podem estar se perguntando agora… — Magnus fez uma pausa dramática. — Como assim, grupo número doze, se essa é a décima terceira onda?

    O silêncio se instalou, como se todos esperassem que ele respondesse à pergunta que acabara de lançar no ar.

    — Isso acontece porque… não houve grupo de heróis na primeira onda de calamidades.

    — Houve outra coisa na primeira onda… O verdadeiro culpado de estarmos aqui. — completou Angeline, sua voz agora mais grave.

    — Erobern… — Magnus pronunciou o nome como se fosse uma maldição.

    Naquele instante, um arrepio gélido percorreu o anfiteatro. Alice sentiu sua espinha enrijecer e percebeu que os outros ao seu redor também estavam tensos. O próprio ar parecia ter escurecido, como se uma sombra invisível houvesse se espalhado pelo recinto. No topo do anfiteatro, a silhueta entalhada na pedra parecia encará-la, estudando-a calmamente, como se esperasse por algo.

    Magnus continuou, sua voz mais séria:

    — Ninguém sabe muito sobre o passado dele. Apenas que, em um belo dia, ele apareceu na costa da ilha de Bluntinsel, vítima de um naufrágio. E então, seu reinado de terror começou.

    A projeção na tela holográfica mudou novamente. Agora, exibia pinturas antigas e registros desgastados pelo tempo. As imagens mostravam três figuras ocultas por uma névoa negra, sozinhas contra exércitos inteiros. Soldados eram esmagados como formigas, fortalezas desmoronavam sob seu poder.

    Magnus gesticulou, e a tela brilhou mais uma vez, e revelou um brasão imponente: um sol de coloração escura sobre uma coroa dourada desgastada.

    Bandeira do "Exército de Libertação"

    — Império da Glória Eterna…

    O nome ecoou pelo anfiteatro, mas não causou o impacto esperado. Os recrutas não tremiam nem mostravam receio. Ao invés disso, havia excitação nos olhos de muitos. Para a maioria deles, tudo aquilo não passava de um jogo, e essa era apenas uma apresentação dramática para impressioná-los.

    Magnus percebeu, contudo, não se importou com a reação dos recrutas, apenas continuou, sempre no mesmo tom sério:

    — Esse é um dos nomes que vocês devem temer. A utopia de Erobern, um sonho de um mundo unificado sob uma única bandeira, onde a magia é proibida, os seres mágicos são extintos, e a humanidade vive em uma falsa paz estabelecida pela força.

    Angeline cruzou os braços sobre o peito, e encarou a plateia com uma certa irritação no rosto. Muitos estavam dispersos, alguns até murmuravam entre si.

    — Mas ele falhou em seu plano. — A voz dela carregava um peso frio. — Erobern foi derrotado na mesma ilha onde apareceu pela primeira vez. Após sua derrota, foi exilado para o Salão dos Esquecidos.

    Ela fez uma pausa, analisando as reações dos recrutas. Alguns franziram a testa, outros se entreolharam, confusos.

    — E é por isso que vocês estão aqui. Para impedir que Erobern retorne ao mundo mortal, e conclua seu plano de vingança.

    A tela brilhou novamente, e exibiu sombras encapuzadas em meio às ruínas de uma cidade medieval, cadáveres espalhados por toda a pintura. Eles seguravam bandeiras marcadas com uma espada adornada por duas assas, e o mesmo sol de coloração preta sobre ela. 

    — As Calamidades não serão nossas únicas inimigas. — A expressão de Angeline se fechou. — Existem traidores da humanidade. Aqueles que ainda seguem os ideais dele. Os fiéis lacaios de Erobern, também chamados de “Exército de Libertação”…

    Um leve murmúrio percorreu o anfiteatro.

    — Não confiem nesse nome. — continuou ela, sua voz agora repleta de desprezo. — A única coisa que eles desejam libertar é seu mestre. Eles não lutam por justiça, não lutam pelo povo. Só espalham morte e destruição por onde passam.

    Magnus interveio, com um tom mais analítico:

    — Também são chamados de Chefes. Seu nível de poder varia de uma estrela até dez estrelas. Se encontrarem um desses, corram imediatamente.

    Os recrutas se entreolharam. Alguns pareciam confiantes, outros assustados e temerosos.

    — Até o momento, não encontramos nenhum. — continuou ele. — Mas os nativos de Testfeld dizem que eles são extremamente perigosos. Não os subestimem… Eles foram a queda de muitos heróis de grupos passados.

    Um silêncio breve se instalou. Então, Angeline sorriu. O peso no ar pareceu se dissipar na mesma hora, como se a ameaça da qual falavam fosse um mero detalhe.

    — Isso encerra a apresentação do tutorial…

    O telão holográfico desapareceu da mesma forma que apareceu. As enormes janelas de vitrais se abriram, e deixaram a luz do sol iluminar o anfiteatro novamente.

    — Se desejarem, podem sair por sua conta e risco. — Angeline parecia bem mais animada agora. — Estão livres para explorar a Cidade Celestial.

    — Qualquer dúvida, podem ir até a Central das Guildas, no centro da Grande Praça dos Vinte. — explicou Magnus. — Também existem guias de treinamento, mas exigem inscrição em uma guilda como recruta. Tenham uma boa estadia…

    Os recrutas começaram a se levantar, e conversavam entre si enquanto se dirigiam para a saída do anfiteatro. O clima parecia ter mudado, porém, nem todos estavam impressionados.

    — Sinceramente? Que teatro fraco… — resmungou Amanda, ao se levantar de forma brusca. — Apresentação clichê, rei demônio genérico… Qual é a graça de estarmos aqui?

    Ela suspirou, e deu de ombros antes de se afastar e olhar uma última vez para o grupo.

    — Maldição… Enfim, vejo vocês por aí…

    Ao lado, Beatriz se ergueu com mais elegância, e lançou um sorriso cordial para Alice antes de seguir seu caminho.

    — Então é isso. Estamos de saída também. Boa sorte, Alice.

    Ela deu um pequeno tapinha nas costas de Emily, que se levantou também, e a acompanhou para fora do local.

    Em poucos instantes, Alice estava sozinha, no meio da multidão. Ela tinha um inteiro novo mundo para explorar, todavia por onde ela devia começar?

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