Capítulo Extra 45 - Três contra quatro
— O show nunca pode parar! — exclamou Aether ao disparar seu revólver cinco vezes.
As balas de energia arcana cortaram o ar com um brilho ofuscante, um projétil claramente mais poderoso do que o anterior.
Daisy, preparada, ergueu sua espada novamente, mas dessa vez o impacto foi avassalador. O choque reverberou em sua lâmina, e exigiu o máximo de seus reflexos para desviar a energia restante. Mesmo assim, o golpe a fez recuar alguns passos, os joelhos dobrando sob a pressão.
A abertura foi aproveitada na hora, a gêmea Dália disparou três flechas em rápida sucessão, cada uma brilhando levemente com energia mágica. Mas antes que as setas pudessem alcançar Aether, a gravidade ao redor delas aumentou subitamente. As flechas foram forçadas ao chão, cravando-se na pedra com um estrondo surdo. A mesma força puxou ambas as irmãs para baixo, esmagando-as contra o chão com violência.
Zoe, por outro lado, conseguiu manter-se no ar com o auxílio de suas esferas para manter a levitação. Suas esferas gravitacionais a sustentavam, e o sangue continuava a escorrer interrupto de seu ferimento.
— Hora de trazer o meu brinquedo favorito! — bradou Sergei, sua voz carregada de excitação.
De repente, ele despencou dos céus como uma pedra. Ele tinha um novo veículo materializado. Assim que seus pés tocaram o chão, um estrondo metálico reverberou pelo campo de batalha, e um tanque pesado PT-91 Twardy 1 materializou-se ao seu lado.
O canhão do tanque se moveu, e apontou para a direção das gêmeas. O olhar das duas permaneceu inalterado, achando tudo aquilo uma grande besteira. Elas lutavam contra a força que as puxava para baixo, e tentavam se levantar e se pôr em posição de luta novamente.
— Hora do meu pesado tanque polonês! — Sergei, apareceu no topo da escotilha, confiante e cheio de si.
Ele apontou para as irmãs e riu, apenas a espera da grande explosão que as obliteraria. Esperou por alguns segundos, e nada, não aconteceu nada, o tanque simplesmente não disparava sua munição fatal.
— Idiota, passando vergonha na frente dos nossos inimigos! — Aether o repreendeu, enquanto recarregava seu revólver. — Sua habilidade ‘Rodovia da Morte’ cria veículos, não munição de armas!
Sergei ficou alguns segundos em silêncio, ainda em pé no topo do tanque, e o seu rosto assumia uma coloração rubra de constrangimento. Ele coçou a nuca, tentando encontrar uma saída para a situação, mas as risadas abafadas de Aether deixavam claro que o erro não seria esquecido tão cedo.
— Bom… não é como se eu precisasse de munição para acabar com eles! — O tanque começou a acelerar, o motor rugia, em direção as garotas. Pronto para esmagá-las com o seu peso.
O veículo avançou, e tanto Daisy quanto Dália, apenas olharam ele se aproximar, sem conseguirem se levantar. O fim delas parecia próximo, todavia alguém ainda poderia salvá-las.
— Eu ainda estou aqui! Palhaço! — A voz de Otaviano ecoou, e ele apareceu do ar, em queda livre.
O impacto destruiu o tanque, e lançou Sergei, que estava montado no veículo, por vários metros, ele deslizou pelo chão até parar, seu rosto marcado por um profundo corte que deixava o sangue escorrer livremente sobre sua testa.
— Chato… — murmurou Sergei, cambaleante, ao se levantar, e tentava limpar inutilmente o sangue que escorria para seus olhos.
Aether, por sua vez, manteve a calma, e girava o tambor de seu revólver em um ritmo compassado. Ele observava a cena com uma sobrancelha arqueada, suspeito dos poderes de Otaviano.
— Achei que tivesse morrido. — Ele apontou a arma para Otaviano, com a gravidade ao redor voltando ao normal.
— Vaso ruim não quebra. — Otaviano tomou uma postura defensiva. Seus olhos fixados na arma de Aether, determinado a aparar qualquer projétil que viesse.
Sem hesitar, Aether apertou o gatilho, contudo antes que o disparo pudesse ser feito, uma flecha zuniu ao lado de sua cabeça, o vento do projétil bagunçou levemente seus cabelos. Aether mal teve tempo de processar o que aconteceu antes de ouvir o som seco de algo, ou alguém, colapsando atrás dele.
Ele se virou sem entender o que acontecera, apenas para encontrar Sergei caído no chão, uma flecha cravada em seu coração. Os olhos de Sergei estavam arregalados, sua expressão congelada em choque e seus últimos resquícios de vida indo embora.
— Vocês vão pagar! — gritou, ao se virar e encarar o cadáver caído de Sergei uma última vez.
Sem hesitar, ele apertou o gatilho em fúria contra Dália, a perpetuadora da flecha. Assim como nas outras vezes, foi inútil. Daisy protegeu a irmã, e impediu qualquer projétil de atingi-la. Aether rangeu os dentes, frustrado, e irritado pela perda de seu companheiro.
Enquanto isso, Zoe pairava acima da batalha, cautelosa, todavia satisfeita com o desenrolar dos eventos. Contudo, a conjuradora de pedras permanecia uma ameaça constante. Seu ombro ainda latejava do ferimento causado anteriormente, agora estancado por uma pequena esfera que ela havia integrado ao corte. Ao se virar, captou algo em movimento pelo canto do olho, uma sombra se aproximava rapidamente.
— Não vai dar certo uma terceira vez!
Em um instante, todas as esferas gravitacionais que flutuavam ao seu redor convergiram em um único ponto, formando um núcleo denso e pulsante de energia gravitacional. Ishi, que voava em alta velocidade com uma enorme rocha pairando atrás de si como uma arma improvisada, foi pega de surpresa. Antes que pudesse reagir, as esferas a rodearam, e a pedra se desfez ao entrar em contato com as esferas. Ishi estava vulnerável.
— Pirralha — disse ela uma última vez, e a garota foi esmagada pela força gravitacional das esferas.
Agora, só restava um último inimigo, Aether.
O pistoleiro os encarava, a raiva impressa em seu rosto, seus olhos expressavam uma fúria, e ele estava disposto a sacrificar tudo para vingar seus companheiros caídos.
— Devia ter feito isso antes! — Ele esticou as mãos para o alto, e a gravidade começou a ser alterada novamente.
A gravidade ao redor do campo de batalha ficou completamente caótica. Corpos, destroços, armas, tudo no alcance dele, começou a girar em torno de Aether em uma espiral de destruição. Um tornado gravitacional tivesse se formado e sugava tudo para perto de Aether.
Daisy fixou sua espada na rocha, e a segurou firme, com toda sua força para não cair. A gravidade havia invertido, e o chão não era mais chão, era uma parede. Ela segurou a mão da irmã, que estava sendo puxada para perto de Aether. Dália segurou a mão dela com todo o vigor que possuía, lutando para não ser arrastada para perto de Aether. Tudo o que chegava perto dele era pulverizado instantaneamente, reduzido a poeira pelo núcleo gravitacional destrutivo que o cercava.
— Eu avisei, vou quebrar sua cara! — gritou Otaviano, agarrado no chão.
Em um movimento nada tradicional, ele se jogou contra Aether, em uma velocidade absurda, aumentada ainda mais pela gravidade. O soco levantou o oponente, e este voou por uma boa distância, até parar.
Os objetos começaram a despencar do céu, um por um. Aether se levantou lentamente, cuspindo sangue misturado a um dente quebrado. Seu olhar ardia com ódio, e o revólver tremia em sua mão enquanto ele apontava para Otaviano.
— Isso não muda nada! — gritou ele, sua voz carregada de raiva. — ‘O Olho do Tigre’ mostrará o meu verdadeiro poder!
Aether cerrou o punho esquerdo, e o efeito foi imediato. A gravidade aumentou brutalmente, puxando todos para o chão com uma força esmagadora.
Apesar da enorme força que o impelia para o chão, Otaviano se manteve firme, de pé, a aura brilhante ao redor de seu corpo. A passos lentos, começou a se aproximar de Aether, que recarregava sua arma.
— Seu verdadeiro poder não é nada! Sou o mais forte! — A aura de Otaviano brilhou com intensidade.
Não importava a força gravitacional que Aether usasse, Otaviano se mantinha firme, e se aproximava cada vez mais. Passo a passo, ele avançava, ignorando o peso que parecia querer esmagá-lo por completo. Contudo, chegou um momento em que até mesmo sua força sobre-humana vacilou. O mundo parecia desabar sobre seus ombros, e seus joelhos começaram a dobrar. Aether sorriu, triunfante, enquanto carregava a última bala em seu revólver.
— Últimas palavras? — questionou com desdém ao apontar a arma.
— Golpe do Dragão da montanha de Prata! — proclamou Otaviano, ao unir as palmas da sua mão em uma conjuração rápida.
De repente, um dragão chinês de aura prateada emergiu de suas mãos, majestoso e imponente. A criatura serpenteava pelo ar, seu brilho ofuscante iluminando o campo de batalha.
Aether mal teve tempo de reagir. Seus olhos se arregalaram de surpresa quando a mandíbula do dragão cravou-se em seu braço direito, arrancando-o em um golpe brutal.
— Não! — gritou Aether, o terror finalmente estampado em seu rosto.
O dragão, com seu corpo serpenteando em espirais de energia, envolveu-se ao redor de Aether, apertando-o como um predador que não deixaria sua presa escapar. A aura prateada queimava como um fogo celestial, impossível de ser contido.
Pela primeira vez, Aether mostrou a face do medo. Seus gritos de desespero ecoaram, mas foram rapidamente sufocados pela força esmagadora do dragão. Seu corpo inerte caiu ao chão, o rosto parcialmente devorado pela criatura de pura energia, e o dragão se desfez.
— A vitória é nossa… — Zoe sorriu, já com a visão turva pela perda de sangue.
— Eles eram fortes! — Otaviano expressou em êxtase, e também pela adrenalina que agora circulava em seu sangue. — Nunca me senti tão bem! Que venham os próximos!
— Está falando de mim, docinho? — Sedenta se aproximou deles, com Amélia logo atrás dela, com uma expressão de choro.
— Quem é você? — questionou Daisy ao ajudar a irmã a se levantar.
— Estou procurando um tal de Vítor, conhecem? — Sedenta soltou um piscada sedutora para Otaviano.
— Ah, eu conheço muito bem — respondeu Zoe, com as últimas forças que tinha.
— Ótimo, onde ele está?
- A verdade, estou com muita preguiça de descrever como esse tanque é nos seus mínimos detalhes, e não ajuda muito no desenvolvimento da história, então aqui está o link para quem quiser saber mais: https://en.wikipedia.org/wiki/PT-91_Twardy[↩]
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