Capítulo Extra 31 - Tornado Temporal

Haakon fitou Cassandra e soltou uma gargalhada estrondosa seguida por uma provocação:

— A Deusa é uma covarde! Ela se escondeu enquanto Godslayer dizimava o panteão, e ainda acham que ela é algo? Ela teme Erobern! E ele não passa de uma sombra fraca de um passado esquecido. O verdadeiro futuro é o “Olho do Tigre”! — bradou ele, enquanto seu corpo irradiava um brilho incandescente, e seus pés derretiam o solo sob o calor extremo que estes emanavam.

Furiosa pela ofensa, Cassandra brandiu sua espada, pronta para atacar, porém, antes que tomasse um movimento precipitado, ela se acalmou e rebateu as palavras de Haakon:

— Ela é mais do que você jamais entenderá. É a luz que brilha nos tempos sombrios, a guia para um mundo melhor, onde calamidades como o “Olho do Tigre” não têm lugar. Você mata em nome dela, fortalece essa desgraça, e se ilude com poder. Mas chegará o momento em que ela o descartará, como se você nunca tivesse existido.

— Calada! Você não experimentou ainda o poder dado pelo “Olho do Tigre”! Esse é o verdadeiro motivo da minha vida! Eu morri na terra pela falha dos que chamei de amigos, e agora sei o motivo pelo qual estou aqui.

Haakon avançou sobre Cassandra, como antes, com os punhos encharcados de seu próprio sangue fervente. O sangue humano comum ferve a 100°C, dada sua composição predominantemente aquosa. Porém Haakon já não era mais humano. A influência do “Olho do Tigre”, combinada com sua predisposição mágica como herói, transformava seu sangue em algo completamente diferente. 

Ele não era um filho da noite, como Sedenta, entretanto possuía a capacidade de controlar o próprio sangue, moldando-o à sua vontade. Essa habilidade, aliada à capacidade de elevar sua temperatura corporal a níveis capazes de derreter metal, fazia dele um adversário extremamente perigoso.

Não havia mais como o atingir fisicamente; qualquer projétil ou arma que entrasse em contato com Haakon seria instantaneamente derretido. Cassandra sabia que precisava encontrar uma nova maneira de derrotá-lo, uma que não envolvesse combate direto. 

Na verdade, o plano dela era evitar o combate a todo custo, até que sua habilidade temporal estivesse disponível e ela fosse capaz de voltar no início da luta, agora com o conhecimento das habilidades de Haakon.

Quando o primeiro golpe de Haakon chegou próximo a ela, Cassandra já pulou para trás, usando suas asas para aumentar a velocidade e se afastar. Ela sentia o calor intenso que emanava dos punhos do berserker e usava essa informação para desviar de cada soco e chute.

Faltava pouco para que o tempo de espera de sua habilidade terminasse, contudo, nesse curto intervalo, uma gota do sangue de Haakon caiu sobre seu elmo grego, a única peça de sua armadura que ainda restava intacta. Se tentasse remover o elmo, daria a Haakon a abertura perfeita para atacá-la. Todavia, se não o fizesse, o sangue derreteria o metal e perfuraria seu crânio. Era uma escolha terrível a ser feita em meio à batalha.

O calor da única gota de sangue simplesmente desconcentrava Cassandra da luta, ela começou a ficar mais lenta, o elmo se começou a deformar e a atrapalhar a visão e a movimentação dela. Em um gesto desesperado, Cassandra arrancou o elmo e o lançou contra Haakon. A armadura se desfez antes de atingi-lo, tornando-se apenas uma poça de metal derretido no chão.

— Chegou a hora de glorificar o verdadeiro deus deste mundo — declarou Haakon, aproveitando a brecha para acertar um soco devastador no rosto de Cassandra.

A valquíria caiu no chão, desfigurada. Sua bela face de olhos verdes e cabelos negros fora reduzida a um rosto derretido, com o crânio exposto e queimaduras profundas que cobriam sua pele.

Haakon diminuiu a temperatura corporal e se aproximou de Cassandra, pronto para humilhá-la. Ele a segurou pelo pescoço e ela gemeu de dor não só pela força dele, como também pelo rosto destruído.

— Você tinha um rosto belo, uma pena que sua arrogância e lealdade a uma deusa caída lhe trouxeram essa desgraça — zombou ele, a saliva escorrendo em sua boca ao pensar em seus desejos pervertidos. — Felizmente, ainda há um corpo de musa que pode ser aproveitado.

— Tolo… — murmurou ela com as suas últimas forças. — Me deu o tempo que eu precisava para recarregar minha habilidade.

— Como disse? Não escuto… Está com dificuldades de respirar? — zombou Haakon ao apertar ainda mais o pescoço de Cassandra.

— “Tornado Temporal”! — proclamou ela.

Tudo se tornou um clarão branco, Cassandra sentiu seu rosto regenerar, e em um instante tudo voltou como era antes. Haakon estava na frente dela, ainda com o machado em punhos, e com o corpo inteiro intacto.

— Junte-se a nós, testemunhe o poder do “Olho do Tigre” — falou ele ao levantar o machado e apoiar o cabo no ombro.

Cassandra o encarou, agora ciente de que não deveria atacá-lo diretamente. Caso contrário, acabaria na mesma situação de antes. A questão agora era: como derrotá-lo sem ativar as cláusulas especiais da classe de Berserker dele?

Haakon avançou da mesma forma, girava sua arma e deixava brechas óbvias para um ataque. Cassandra não era tola para cair na armadilha novamente. Em vez disso, ela o golpeou com o pomo da espada diretamente no rosto, fazendo-o cambalear para trás, atordoado.

— Sério? — zombou com uma gargalhada ao ver que não havia sofrido nenhum ferimento. — Tente algo de verdade, poderia ter cortado minha cabeça. Sabe por que não o fez? Porque é fraca! Covarde! Assim como a Deusa.

— Fraca? — Cassandra riu, confiante sobre seu próximo passo. Ela agarrou o pescoço de Haakon e copiou o gesto que ele havia feito com ela antes. — Espero que tenha um fim digno de um bastardo como você.

Ela o ergueu do chão. Haakon, sem seus ferimentos que lhe conferiam força, estava indefeso contra a força da valquíria experiente e determinada. Lentamente, a respiração dele se enfraqueceu. Ele se debatia, chutava e golpeava em desespero, mas nada surtia efeito contra Cassandra. Eventualmente, sua resistência cessou, e seu corpo sem vida desabou no chão.

— Quem é o próximo? — desafiou Cassandra, apontando para os heróis restantes ao redor dela, pronta para a próxima batalha.