Índice de Capítulo

    Erobern encarava Vítor de uma maneira que eu nunca havia visto, a postura do imperador sempre foi calma, serena. Mesmo em momentos em que tudo parecia perdido, ele mantinha a postura e encontrava a melhor resposta. Todavia, agora, ele tinha uma raiva cega, sua névoa, embora fraca, colocaria medo nos mortais com a forma na qual se movia ao redor do seu mestre, eram formas grotescas, de rostos humanos tomados por temor.

    — Quarenta e duas chances lhe foram dadas, e você fracassou nelas todas. Deveria eu, em todo meu esplendor, conceder lhe outra chance? — Ele encarou Vítor e esperou por uma resposta, porém foi recebido apenas com silêncio e um olhar cabisbaixo do herói.

    — Majestade, a frustração é compreensível, mas devemos lembrar que o passado é um aprendizado para moldar o futuro — afirmei, para tentar acalmar a tensa situação. — Ainda temos infinitas chances para encontrar um ciclo no qual somos contemplados pela vitória completa.

    Erobern virou seu rosto esquelético para mim, eu olhava para o fundo das suas órbitas vazias, e só podia ver escuridão. Era um buraco negro que sugava a força vital de qualquer um que olhasse para elas por tempo suficiente.

    — Minha paciência se esgota.  Seis mil anos, ciclo após ciclo, condenado a repetir os mesmos erros, a fingir uma falsa derrota, quando posso destruir a todos em um simples golpe, renunciar ao meu poder para a promessa de uma vitória total. Quando tudo o que desejo é ver minha família, sentar-me novamente em meu trono, governar com a glória que me foi prometida. E o que recebo? Decepções, uma após a outra…

    — Acalme-se, nós três, a trindade do Império, estamos aqui reunidos, podemos criar um novo plano para o próximo ciclo.

    — Não haverá um próximo ciclo! — Erobern se virou para mim, e sua névoa se espalhou pela sala de uma forma que eu não presenciava há muitos milênios. Só de estar perto de Vítor, o imperador recuperava suas forças.

    — Seria possível enviar minha consciência para um ciclo anterior? — perguntou Vítor, uma ideia surgindo em sua mente.

    — Qual é o plano, garoto? — Erobern se acalmou, percebendo potencial na ideia do herói.

    — Um ritual de ascensão com a calamidade, e enviamos meu corpo ascendido para o quadragésimo primeiro ciclo — explicou Vítor.

    — Teoricamente é possível, mas depende de quantas almas a calamidade já coletou. Precisaria de uma abundância de energia espiritual, e eu teria que ativar quatro dos dez sentidos ao mesmo tempo. — Refleti sobre o plano. Não fazia sentido algum, o ciclo fora ativado antes de sua morte, mesmo que este sobrevivesse, teria que impedir a ativação do ciclo em Aethenil antes de qualquer coisa.

    — Por que escolheste esse ciclo, garoto? — Erobern sentou-se em seu trono de marfim, enquanto sua névoa, agora revigorada, irradiava uma vitalidade juvenil.

    — Nossa vitória era apenas uma questão de tempo. Tudo teria corrido bem, se eu não me distraísse.

    — Sua morte já está anotada no grande livro; não podemos mudar o que está escrito. Além disso, o ciclo foi ativado um dia antes. O registro de requisição do início do quadragésimo segundo ciclo está anotado como dia 3 de abril, mas Vítor faleceu na manhã de 4 de abril — afirmei. 

    Eu não podia estar errado, meus relatos sempre foram perfeitos, relatando fielmente todos os fatos. Se isso fosse verdade, eu teria falhado na missão de proteger a verdadeira história de Testfeld.

    — Errado, o fuso horário de Aethenil é um dia atrasado em relação ao Império de Hunterburg — rebateu Erobern, aumentando a pressão sobre mim para resolver a questão.

    Vítor sorriu, e eu enxerguei que ele não mudaria o seu plano por nada neste mundo. A ideia já estava fixa em sua cabeça.

    — Já decidi. Voltarei primeiro para o ponto onde o ciclo é reiniciado, antes de retornar a Etterbachen. Impedirei o reinício do ciclo, e então, naquele túnel maldito, matarei Lucciola.

    — E então? Consegue fazer isso? — Erobern questionou a mim.

    — Como já disse, é possível em teoria, porém eu só consigo enviá-lo para o ciclo atual, ele precisaria de uma relíquia especial. — Abri o meu livro sobre todas as coisas, procurando a local de repousa do objeto.

    — Qual relíquia?

    — Ampulheta de Cronos, grande sorte para você, está guardada no cofre da cidade celestial. Com ela, posso enviar sua consciência de volta para o quadragésimo primeiro ciclo, na cidade de Aethenil, alguns minutos antes da ativação do ciclo — expliquei, enquanto lia mais detalhes sobre a relíquia.

    — Temos um plano? — Vítor estendeu a mão para mim.

    — Infelizmente, sim. Mas a palavra final é do imperador — concordei, mas não retribuí o cumprimento.

    Erobern acenou com a cabeça, sinalizando sua aprovação do plano. Sem escolha, me aproximei de Vítor, olhando-o nos olhos.

    — Ativar quatro sentidos espirituais ao mesmo tempo… Você sabe o que vou sofrer nos próximos dias? — perguntei, levantando minha mão e colocando-a sobre o peito dele.

    — Até hoje, ninguém me explicou nada sobre esses sentidos espirituais.

    — Normal, você nunca chegou longe o suficiente em nenhum ciclo para que isso importasse de verdade — respondi com uma leve provocação.

    — E então, quando começamos?

    — Desative sua névoa negra para que minha técnica funcione em você.

    Ele obedeceu, e então comecei meu trabalho.

    — Alexandria! — gritei, e comecei a retirar um longo livro do peito dele.

    Não houve sangue; o livro saiu do peito de Vítor como se estivesse sendo retirado de uma prateleira. No instante em que a última página se desprendeu, seu corpo caiu inerte no chão. Na capa do livro, as iniciais “N.A.V.” estavam gravadas, representando o portador original.

    Com minha caneta-tinteiro, escrevi na capa: “Volte para o seu corpo original.” O livro reagiu imediatamente, ganhando vida própria e começando a flutuar no ar antes de desaparecer, retornando ao mundo mortal. A descrença tomou conta de mim. Para mim, tudo aquilo parecia uma completa perda de tempo, então, não hesitei em expressar meus pensamentos:

    — Está feito. Esse receptáculo é um fardo, desleixado, irresponsável e sempre nos causa problemas. Deveríamos buscar um mais adequado à sua grandeza, imperador.

    — Gosto dele, me lembra de quando eu era jovem — respondeu Erobern. Sem a presença do herói, ele voltou à sua forma moribunda, sem poderes e sem a névoa que outrora o envolvia.

    — Ele não é adequado para ser o nosso messias.

    — Não é o que você acha adequado que importa, mas o que eu acho. E minha palavra é lei — disse Erobern, elevando o tom de voz.

    — Qual foi o custo da lealdade dele?

    — Voltar para a Terra com os poderes que obteve em Testfeld.

    — Ou seja, torná-lo um imperador em seu próprio mundo. O que lhe garante que Vítor não irá nos trair e tentar tomar o trono para si? Ele é perfeitamente capaz de cometer tal crime contra o Império da Glória Eterna.

    — Ele não o fará. Ele é como eu. E eu sei exatamente o que faria numa situação dessas. Não serei pego desprevenido…


    O Escriba
    AfiliaçãoExército de LibertaçãoRaçaHumano Ascendido
    AlcunhaO EscribaTécnica Especial“Alexandria”
    Alexandria
    Capacidade OfensivaBCapacidade DefensivaB
    AlcanceFResistênciaC
    VersatilidadeSVelocidadeC

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota