Capítulo 4 – Jogo
O lugar onde agora se reuniam ficava acima das nuvens. A sua frente ficava um enorme buraco que caia água cristalina, como se fosse cachoeira. Ao redor tinha árvores e um grande gramado verde.
” Que paisagem linda.”
Uma brisa leve soprou, e por mais incrível que parecesse, o ar não estava rarefeito. Kino ficou tão encantado com o ambiente que nem percebeu quando a garota ruiva se aproximou.
Sem aviso, ela segurou seu colarinho e o empurrou na direção do penhasco, deixando-o a centímetros de cair.
— Da próxima vez, te jogo de vez — disse ela, pegando a irmã pela mão e saindo sem olhar para trás.
“Tá, eu merecia essa…”
Pegara pesado com ela, mas fora a única maneira de tirá-las daquele lugar. Suspirando, Kino se levantou, ajeitou sua gravata e se aproximou dos outros jogadores que já estavam do outro lado. Tudo que o jovem e as irmãs tinham de fazer era atravessar a ponte.
— Será que é seguro? — a irmã mais velha perguntou mordendo os lábios.
— Relaxa, se os outros conseguiram a gente consegue também. — subiu primeiro para demonstrar que não há problemas. — Viu? Podem vir.
Elas subiram e a ponte balançou de leve.
— Segura na rede. — Kino comentou.
Assim que chegaram do outro lado. Avistaram uma mesa em formato de “U”, com várias caixas coloridas empilhadas sobre ela. Uma caverna oca estava na frente deles. Os outros participantes o observavam em silêncio.
Seus olhos se voltaram para a garotinha, protegida sob os braços da irmã mais velha. Sua expressão de calma era quase desconcertante, considerando a situação.
” Não é justo que essa criança esteja aqui…”
Marquinhos se aproximou, hesitante.
— Pensei que vocês tinham desistido — murmurou, parando ao seu lado.
Antes que Kino pudesse responder, sentiu algo sendo discretamente colocado em seu bolso. Marquinhos lhe lançou um olhar rápido, e Kino assentiu, indicando que havia entendido.
A irmã mais velha da garotinha rompeu o silêncio.
— O que é isso? — perguntou limpando o suor da testa.
— Olha só, a princesa sabe falar! — comentou T-Bag exibindo um sorriso debochado.
O silêncio ameaçava se prolongar até que Jordan Smith deu dois passos à frente, parando ao lado de uma das caixas verdes.
— A Morte foi bem clara: uma dessas caixas contém algo que elimina uma pessoa aleatoriamente. Por isso, decidimos em grupo que ninguém vai abrir nenhuma delas. Fizemos uma votação, e essa foi a escolha. Está tudo bem para vocês?
Kino lançou um olhar de relance ao rapaz de regata, Marquinhos, mas este desviou rapidamente, fixando os olhos no chão. T-Bag começou a assobiar, enquanto a Agatha Ruschel parecia alheia, mergulhada em seus próprios pensamentos.
— Tudo bem, não tenho objeções — respondeu a irmã mais velha, sem hesitar. — Não faria diferença votar contra.
O militar sorriu e deu um tapinha amigável no ombro dela antes de se afastar.
— Siga a gente para dentro da caverna. — o militar completou.
— Vai ficar tudo bem — disse a garota para a irmã mais nova.
Enquanto o grupo começava a se dispersar, Kino caminhou alguns passos atrás, observando os movimentos de cada um.
— Podem ir na frente — disse, fingindo amarrar os cadarços enquanto se agachava. — Já alcanço vocês.
Esperou até que todos estivessem longe. Então, com cuidado, tirou o papel que Marquinhos havia colocado em seu bolso.
Ficou encarando-o, tentando processar o que aquilo significava. Depois de um momento, guardou-o novamente e se aproximou da mesa com as caixas.
Começou a abri-las uma por uma, confirmando o que já suspeitava: todas estavam vazias.
— Então, você descobriu.
A voz feminina o fez virar bruscamente. Era Agatha Ruschel, a advogada sênior. garota de óculos, Ela sorriu e se aproximou lentamente.
— Que tal formarmos uma dupla?
Kino arqueou uma sobrancelha.
— Deixa eu ver se entendi. Você quer que eu confie em você? Alguém que claramente deixou uma menininha em desvantagem?
Ela deu de ombros.
— Você me entende. Somos advogados. Ganhar é tudo que importa. Contanto que eu seja uma das vencedoras, por mim, tudo bem.
Kino não respondeu. Apenas a ignorou e seguiu em direção ao restante do grupo.
Ele tinha descoberto algo interessante.
— Cuidado para não levar outro tapa — provocou ela, mas suas palavras não mereciam atenção.
…
Quando chegou, percebeu que todos estavam reunidos no centro do local. Até mesmo a Morte estava lá. Dessa vez, trazia a espada embainhada nas costas e vestia uma capa preta que cobria todo o corpo, deixando apenas o rosto visível.
— Este será o desafio. — Sua voz repercutia pelo lugar enquanto tirava a espada das costas. — Vocês terão que escapar do labirinto, óbvio.
Antes que pudessem processar a informação, um rugido aterrorizante reverberou de dentro de um grande portão que acabara de se abrir. A Morte riu, como se estivesse se deliciando com o desespero deles.
— Vocês terão alguns… imprevistos, é claro.
Os olhos de Kino instintivamente se voltaram para a garotinha. Ela estava próxima à irmã, com uma expressão curiosa, como se tudo aquilo fosse apenas uma brincadeira inofensiva.
— Ah, mais uma coisa — disse a Morte, interrompendo seus pensamentos. — O papel que vocês pegaram será entregue automaticamente após uma hora no labirinto. Portanto, não o percam. Sem ele, não receberão o que lhes foi destinado.
Kino olhou para a irmã mais velha da garota. Seu rosto estava pálido, os olhos vagos, como se estivesse tentando processar a informação de ter sido enganada. Já os outros participantes aparentavam indiferença, com exceção de Marquinhos que parecia tão preocupado quanto ela.
Do outro lado, Agatha encarava Kino. Quando percebeu que ele a observava, piscou de forma provocativa antes de se juntar aos demais.
” Vai de ré demônio.”
— Abrate.
A voz da Morte ecoou, e o portão rangeu ao se abrir. Uma luz intensa invadiu o ambiente, ofuscando a visão de todos por um instante. Os outros participantes correram imediatamente em direção ao portal, mas Kino decidiu esperar.
A irmã mais velha também não se moveu. Ficou ao seu lado, com a menina agarrada a ela.
— Por que não foi? —Kino lançou um olhar curioso.
— Quero ficar com você — respondeu sem hesitar.
Ele foi pego de surpresa.
— Mesmo depois do que eu fiz com você?
Ela apertou os punhos, e por um instante Kino achou que fosse levar outro empurrão ou, pior, um tapa.
— Não gostei do jeito como fez as coisas, mas… — hesitou, respirando fundo. — Pelo menos você fez algo.
Kino franziu o cenho, intrigado.
— O que te faz pensar isso?
Enquanto falava, Kino abaixou-se para pegar um punhado de areia do chão, guardando-a discretamente no bolso.
Ela o observava, confusa, mas não questionou.
— Minha intuição é boa. E depois do que fizeram com a gente no começo, não confio nos outros.
Ele se levantou e sacudiu as mãos, limpando o resto da areia.
— Melhor irmos.
Assim que cruzaram o portão, um vento gelado os envolveu, cortante como navalhas. A atmosfera era pesada, sufocante, e as paredes do labirinto, feitas de concreto frio, erguiam-se como uma prisão sem fim. O rapaz pegou um punhado de areia que guardara no bolso e jogou discretamente em um canto protegido do vento.
Era uma marcação simples, mas poderia ser útil.
Então aconteceu. A entrada desapareceu, sumindo como se nunca tivesse existido. Pior ainda, as paredes pareciam se mover.
Aquilo não podia ser real, mas era. O labirinto estava vivo.
— Você tem um plano? — perguntou a irmã mais velha, tentando esconder o medo na voz.
Kino forçou um sorriso, tentando demonstrar calma.
— Tenho. Não se preocupe.
Ela assentiu, parecendo um pouco menos tensa. Mas antes que pudessem continuar, um grito agudo ecoou pelo labirinto. O som reverberava pelas paredes, dificultando a localização da origem.
— Precisamos nos mexer — disse ele.
Prepararam-se para correr, mas antes que ele pudesse dar um passo, algo se enroscou em seu tornozelo. Num instante, foi puxado para cima, ficando pendurado de cabeça para baixo em uma rede feita de cabos grossos.
Debateu-se, mas os nós eram firmes.
— Corram! — gritou para as irmãs.
Elas hesitaram por um momento, mas logo desapareceram no corredor.
Agora, Kino estava sozinho.
O silêncio que se seguiu foi interrompido por um som seco e repetitivo.
Passos pesados se aproximavam.
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