Ela estava tão perto que, se Kino quisesse, poderia socá-la sem sequer se esforçar.

    Mas, em vez disso, ele optou por algo ainda mais difícil: resistir.

    Quais seriam suas chances contra a Morte? Com raiva, golpeou o chão.

    — Ah! — deixou escapar, enquanto continuava socando o solo.

    A Morte, por outro lado, soltou uma gargalhada.

    — Vocês são tão patéticos e fracos — disse, a voz carregada de desdém. — Mas tudo bem, me diverti o bastante.

    Ela finalmente parou de rir, deixando o silêncio se prolongar, como se fosse algum tipo de efeito dramático.

    — Basta pegar minha mão e você irá direto para o local do jogo.

    Kino se levantou devagar, sua gravata cor carmesin balançou de leve. Conseguiu manter a cabeça erguida, mesmo que as palavras dela tivessem lhe atingido em cheio.

    Ela estendeu a mão, esperando que ele obedecesse como um derrotado. Em vez disso, Kino cuspiu na própria palma antes de apertar a dela.

    ” Que tal?”

    Por um instante, a expressão da Morte mudou. Ele quase pôde jurar que viu algo próximo de desconforto. Ou seria surpresa? Não importava Kino apenas sorriu.

    — Tire esse sorrisinho do rosto, seu maldito! — rosnou. — Ainda não contei tudo.

    O olhar dela se estreitou, e um brilho sádico surgiu em seus olhos.

    — Quem vencer poderá ir ao paraíso. Parece justo, não acha? Mas tem um detalhe…

    Ela fez uma pausa longa, deixando o suspense tomar conta.

    — Apenas um pode vencer.

    Ele ficou em silêncio. Talvez não estivesse pronto para o que viria, mas isso não importava. O cansaço de sua vida passada ainda pesava, e agora sabia que nem a morte lhe daria paz.

    E Kino ainda pensava que o sofrimento havia acabado.

    — Algum problema? — A Morte segurou o riso.

    O jovem balançou a cabeça.

    — Estou preparado.

    Se havia uma chance, ele lutaria até seu último suspiro para conquistar a vida que queria.

    A Morte franziu a testa. Provavelmente não era a reação que esperava.

    — Tanto faz. Só não abra os olhos até ouvir o som de correntes. Se abrir… bem, não se preocupe com esses detalhes.

    — Como eu não vou me preocupar? — resmungou Kino franzindo o cenho.

    A Morte ficou em silêncio por um momento antes de virar as costas e encarar o vazio.

    — Apenas não abra. Você será tentado de todas as maneiras.

    Assim que ele piscou, o ambiente mudou. Agora, estavam cercados por uma névoa densa, onde nem mesmo sua própria mão era visível.

    — Se passar, irá para a primeira fase.

    — Posso fechar os olhos agora?

    — Já era para ter feito isso há muito tempo.

    Kino fechou os olhos, tentando entender o que ela quis dizer, mas forçou-se a focar no que realmente importava. Para ser sincero, estava com medo.

    “O que poderia me fazer abrir os olhos?”

    De repente, a sensação de movimento começou. Era como se estivesse em um elevador despencando em alta velocidade. A pressão em seu corpo aumentou, e a tontura veio, mas conseguiu manter os olhos fechados.

    Até agora, não parecia tão difícil resistir.

    “A Morte estava apenas brincando comigo?”

    Então, a tentação veio. Seus dedos se mexeram, ansiosos para abrir os olhos e desafiar a ordem dela.

    “Já estou morto mesmo, o que tenho a perder?”

    Quando estava prestes a ceder, as palavras dela ecoaram em sua mente:

    “Você será tentado de todas as maneiras.”

    Ele balançou a cabeça e apertou ainda mais os olhos, determinado a não falhar.

    Foi quando sentiu uma mão em sua cintura.
    “ O que?”
    Kino foi pego de surpresa, Seus pelos do corpo arrepiaram com esse toque gelado, Parecia ser uma mão humana fina. O jovem não mexeu um músculo do corpo. Seus instintos pediam para que ele corresse dali o mais rápido possível. O toque voltou deslizando em seu ombro esquerdo até o direito com o dedo.


    “ Não vou abrir, não vou…”
    Em seguida sentiu as duas mãos massageando seu peito.
    Permaneceu calmo pois sabia que teria que aguentar. As mãos desceram para sua virilha.


    “ Não gosto de surpresas hein…”
    Ele sentiu um certo desconforto com isso mas sabia que não era real. Uma certa sensação estranha percorreu seu corpo com aquela massagem na virilha.

    O jovem estava começando a ficar excitado, ele não sabia o porquê.
    — Tire suas mãos daí — Kino reuniu toda a sua coragem. As mãos pararam.


    “ Não foi tão difícil foi? Agora eu tenho de perguntar quem é essa pessoa.”


    Antes que pudesse dizer qualquer coisa as mãos voltaram, mas agora estavam tirando o zíper da calça de Kino.

    ” Calma aí. Isso é golpe baixo.”


    — Eu disse para tirar suas mãos daí — tentou se mover, mas nada adiantou. Ele estava paralisado.
    “ De novo? ”
    Ziip!
    O zíper foi aberto e ele não sabia o que fazer.
    — Por favor! Não!
    Sentiu o toque gelado tirando sua cueca.
    Tentou se mexer, mas nada.

    As mãos pararam. Sentiu algo se aproximando de se ouvido.

    — É só abrir os olhos, e eu me retiro.

    A voz era rouca, sombria, como se viesse de dentro da própria escuridão.
    “ Vai nada…”

    Silêncio.

    — Que peninha… — a voz sussurrou.

    Então, algo frio tocou seus lábios.

    O choque veio antes da compreensão. Um beijo. Mas não qualquer beijo—ele sentiu sua energia sendo drenada, como se sua própria existência estivesse sendo sugada para dentro daquela entidade.

    “Não!”

    O corpo de Kino ficou fraco. Estava à beira do desmaio quando a coisa se afastou.

    — É só abrir os olhos, querido.

    Ele arfava, os joelhos trêmulos.

    — Você sabe que pode morrer se não abrir seus olhinhos, né?

    Kino sorriu de canto.

    — Por que está sorrindo? Perdi algo?

    — Não preciso ser um gênio para saber quem você é — ele inclinou a cabeça.

    Mãos gélidas deslizaram por seu rosto.

    — Quem sou eu, então?

    — Um demônio. Mais precisamente, um súcubo.

    A coisa riu. Um riso doce, melancólico e insano ao mesmo tempo.

    — Como acha que vai se safar dessa?

    — Não faço ideia. Mas, se fosse em um filme, alguém apareceria no último segundo para me salvar.

    O súcubo gargalhou novamente, desta vez mais baixo, mais carregado de prazer.

    — Ah, querido… Mas aqui não é um filme e você vai morrer.

    Ela se inclinou, deslizando a língua fria pelo rosto dele.

    — Tenho um pedido a fazer — murmurou o jovem.

    — Um pedido? Isso é interessante… O que deseja?

    Ele hesitou por um instante antes de responder:

    — Quero… lamber seu pescoço antes de morrer.

    O súcubo soltou uma risada.

    — E por que agora?

    — Se vou morrer, ao menos quero saber como é lamber o pescoço de alguém. E como você é um súcubo, é o mais perto que chegarei de sentir isso com uma mulher.

    Ela riu novamente e passou a língua pelo rosto dele.

    — Você é um perdedor mesmo. Hahaha!

    Ela inclinou a cabeça, expondo o pescoço.

    Kino aproximou a boca, hesitante. O pescoço dela era frio porém suave e doce.

    E então, mordeu.

    Os olhos do súcubo se arregalaram.

    O gosto metálico do sangue inundou sua boca, quente e intenso. O jovem sentiu algo dentro dele se quebrar—como se um elo invisível estivesse sendo destruído.

    Kino cuspiu o pedaço de carne do pescoço dela.

    A criatura recuou, levando as mãos ao pescoço dilacerado.

    — V-você… — sua voz falhou.

    As asas começaram a murchar, o rabo a se desintegrar.

    O súcubo caiu de joelhos, seus olhos brilhando em desespero. Um último sussurro escapou de seus lábios antes que seu corpo se dissolvesse em pó.

    O silêncio voltou.

    O jovem permanecia com os olhos fechados. Até que escutou o barulho da bendita corrente.

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