Capítulo 3 – Tapa
Infelizmente, a primeira coisa que Kino viu foi uma mulher pálida, com cabelos negros e olhos verdes.
— Morte! — disse ele, ela o observou por um breve momento, como se o estivesse avaliando, então veio em sua direção.
— Muito bem, você passou no primeiro teste — disse ela, estendendo a mão. — Muitos não conseguiram. Ele olhou para a mão estendida dela.
— Me poupe — respondeu Kino, passando direto por ela.
— Se eu fosse você, teria mais cuidado. — os cantos da boca dela se curvaram.
Assim que ele piscou estava em frente à uma grande portão de madeira aberto.
Apertou os punhos e seguiu em frente, sem olhar para trás. Ao adentrar o salão principal, os olhares se voltaram para ele. Normalmente Kino não era tímido, mas sentiu um desconforto com aqueles olhares fixos.
Apenas quatro estavam na sala: três homens e uma mulher.
— Mais um, que ótimo — disse uma mulher com óculos. De pernas cruzadas vestindo um longo vestido preto
Kino caminhou até o centro da sala, com as mãos nos bolsos, sem dizer uma palavra.
— O gato comeu sua língua, bonitinho? — disse um homem de meia-idade, com uma cicatriz profunda atravessando a testa. Ele vestia um conjunto de roupas laranja desbotado, e sua barba desgrenhada pendia em fios irregulares.
O homem de meia-idade encarava Kino sem piscar. Kino não desviou o olhar pois não queria demonstrar medo ou qualquer indício de fraqueza. O homem então sorriu mostrando seus dentes amarelos.
— Já chega! — respondeu um homem de pele negra, vestindo um uniforme do exército enquanto cruzava os braços.
O homem com cicatriz levantou as mãos como um sinal de desculpa e saiu de fininho.
— Meu nome é Jordan Smith! Sou um oficial das forças armadas Americana. — Jordan estendeu a mão para cumprimentar Kino.
” Um oficial hein… “
— Kino Onik! Um advogado associado. — Kino disse cumprimentando ele. —A Morte falou com vocês também?
Jordan e os demais assentiram.
— Participar de um jogo ou ir para o inferno, decisão fácil de escolher, né ,bonitinho? — o homem com a cicatriz na testa disse lambendo os beiços para Kino. — Sou Theodore Brown, mas meus amigos me chamam de T-Bag.
” Hmm… ele nem se quer falou sua profissão. “
Kino decidiu ficar o mais longe desse homem.
Uma Mulher de óculos com os cabelos curtos levantou de sua poltrona como uma modelo e então disse:
— Sou Agatha Ruschel. Também advogada, porém sênior. — falou encarando Kino com certa confiança.
” Parece com meu chefe, porém essa aí tinha cabelo.”
— Entendo… — respondeu Kino tirando as mãos do bolso para ajeitar sua gravata. Seu terno cor carmesin estava começando a secar. — O que aconteceu com as outras duas pessoas? Era para ter seis aqui nessa sala.
— Contando com você somos seis. — A mulher respondeu revirando os olhos e apontou para um canto escuro da sala.
Eram as duas pessoas que faltavam. Permaneciam ali, sentadas no chão, em completo silêncio.
Ele ficou de pé, observando-as, tentando identificar quem eram.
— Elas são irmãs — disse um garoto, como se tivesse notado seu olhar. Ele aparentava ter a mesma idade. Usava uma regata branca e tinha a cabeça raspada. — Desde que chegamos, elas estão ali. Não falaram com ninguém.
“Irmãs? ” Ele tentou assimilar aquela informação, mas a frase da Morte ainda ecoava em sua mente: “Só um vencedor.” Tentou afastar o pensamento. Seu objetivo era claro.
— Meu nome é Marquinhos prazer em te conhecer Kino. — Marquinhos estendeu a mão para cumprimentar Kino.
— O prazer é meu. — Kino sorriu.
— Nossa eu sempre quis ser um advogado como nós filmes. — Marquinhos segurava com força a mão de Kino. — Desculpas.
— Sem problemas — Kino forçou um sorriso.
Ele estava prestes a fazer mais perguntas ao pessoal quando o som de uma sirene ecoou pelo lugar. A sala inteira se iluminou com uma luz vermelha, como se o próprio inferno tivesse sido aberto diante de seus olhos.
O clima ficou ainda mais tenso.” O jogo, de fato, estava apenas começando.”
— Queridos participantes — uma voz mecânica, quase robótica, ecoou pela sala. — Vocês têm cinco minutos para entrar por essa porta. Quando o tempo acabar, quem não atravessar será eliminado automaticamente. Boa sorte, competidores.
O aviso fez o coração de Kino acelerar. Ele olhou ao redor. Todos começaram a se mover em direção à porta, a primeira foi Agatha Ruschel.
Logo, os outros seguiram o exemplo dela, sem hesitar. A atenção dele, porém, desviou-se para as duas irmãs no canto. Elas continuavam imóveis, sentadas no chão.
A mais nova segurava algo nas mãos, um pequeno amuleto, enquanto a mais velha encarava o chão com uma expressão sombria.
— Vamos, cara! — chamou Marquinhos, já a caminho da porta.
— Vou logo depois — respondeu Kino, sem tirar os olhos das duas.
Kino Aproximou-se e se sentou perto delas. Viu as costas do garoto desaparecendo pela entrada. A irmã mais velha ergueu os olhos e o encarou. Ele não precisava ser um gênio para perceber a desconfiança no olhar dela.
Mesmo assim Kino sentou cruzando as pernas. Ficaram em silêncio.
— Você precisa ir, moço — disse a menina mais nova, com a voz preocupada.
Ela parecia ter uns onze anos. Seus cabelos ruivos curtos brilhavam sob a luz vermelha, e suas sardas deixavam seu rosto ainda mais jovem.
Ele sorriu para ela, tentando tranquilizá-la.
— Não vou abandonar vocês — prometeu, mantendo o tom firme, mas gentil. Não deixou de notar o amuleto que a menininha estava segurando.
” Por alguma razão esse amuleto não me é estranho.”
Inclinou a cabeça em dúvida e então lembrou.
” Será que…”
— Por que você se importa? — disse a irmã mais velha atrapalhando os pensamentos dele
Seu cabelo ruivo estava preso em um rabo de cavalo desalinhado, e havia uma dureza em seus olhos, como se estivesse acostumada a não confiar em ninguém.
— Como eu disse antes, não vou abandonar vocês — respondeu ele, sem dar um motivo lógico por trás.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Um minuto e trinta segundos para o fechamento da porta — anunciou a voz artificial.
Ele suspirou profundamente, sentindo o peso da situação.
“Seria esse o meu fim?”
Se perguntou, mas, estranhamente, havia uma calma dentro de si. Se fosse morrer, pelo menos não cometeria o mesmo erro novamente.
— Sessenta segundos para o encerramento da porta.
Não deixaria ninguém para trás. Muito menos desistiria.
Levantou-se. Não estavam tão longe da porta.
— Você detesta tanto assim sua irmãzinha? — perguntou à mais velha.
— Eh! C-como assim? — disse ela, levantando-se.
— Você matou sua irmã, certo?
Ela ficou vermelha, e Kino sabia que não era de vergonha.
— Vinte segundos! — a voz robótica anunciou.
— Isso mesmo que ouviu! — Kino provocou, afastando-se até ficar a poucos centímetros da entrada. — Seu pai te batia também?
Aquilo foi a gota d’água. Ela avançou e lhe deu um tapa no rosto.
— Seu canalha!
Foi nesse instante que ele a puxou pelo braço e a lançou para dentro da porta.
— Vamos, precisamos ir! — disse para a menininha.
— Contagem regressiva… 10… 9…
Pegou a pequena pela mão com delicadeza. No último segundo, atravessaram a entrada.
O que viu do outro lado o deixou boquiaberto.
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