Em um modesto escritório. As paredes em cinza suave, estavam decoradas com algumas obras abstratas.

    A luz natural entrava por uma grande janela de vidro, iluminando a mesa de madeira.

    Em cima da mesa, um rádio antigo descansava ao lado de uma pilha de papéis bem organizados.

    No meio de todo aquele silêncio, um homem idoso, de cabelos grisalhos, estava sentado confortavelmente em uma poltrona preta.

    Sua cabeça estava ligeiramente baixa, focada nos papéis espalhados sobre a mesa.

    E em frente a ele, contrastando com o ambiente, uma figura imponente se destacava.

    Um homem, completamente coberto por uma armadura de prata reluzente. O capacete, igualmente prateado, escondia qualquer traço de sua identidade. Ele estava em pé, imóvel, como se aguardasse alguma ordem.

    Como alguém consegue exalar uma aura tão poderosa enquanto lê? Harold pensava, enquanto sentia um desconforto por todo seu corpo.

    O idoso suspirou, jogando uma folha na mesa. Pegou a caneta e, sem pressa, assinou alguns papéis antes de empilhá-los cuidadosamente sobre uma pilha já volumosa à sua esquerda.

    Depois, recostou-se na cadeira de couro gasto. O Oficial Walter entrelaçou os dedos sobre a mesa, observando o soldado com um olhar sereno.

    — Soldado Harold, conseguiu o que eu pedi?

    O soldado colocou um joelho no chão em reverência.

    — Sim, Oficial. Comprei dois jovens do Distrito Vermelho. Já estão em nossas instalações.

    Walter assentiu lentamente.

    — Fez bem. Mas se fosse só isso, você não teria vindo até aqui. O que aconteceu?

    Um sorriso estranho se formou no rosto de Harold sob o capacete. Ele se inclinou um pouco para frente, como se segurasse uma boa história.

    — Como de costume, fui apenas buscar aprendizes de primeiro grau. Mas o mercador Cao me convidou para assistir a uma disputa entre dois garotos, do Distrito Verde…

    Walter arqueou uma sobrancelha.

    — Distrito Verde? Não é lá que o Clã Moong joga o lixo que não sabe lutar?

    — Sim… Recusei no início, mas aquele desgraçado do Cao insistiu. Disse que valeria a pena e que a luta aconteceria no Mar de Ferro.

    Os olhos do oficial brilharam por um instante.

    — Hoho, essa arena me traz boas memórias.

    Walter recostou-se na cadeira, indicando para Harold continuar. O soldado não perdeu tempo e começou a contar tudo em detalhes. Quando terminou, o silêncio tomou conta do escritório por alguns segundos.

    — Interessante… — Walter murmurou.

    — Um menino de olhos vermelhos à beira da morte derrotando outro com talento em artes marciais… Se forem bem moldados pelo Clã Moong, essas crianças podem se tornar armas valiosas para o nosso regimento.

    Ele se levantou devagar, caminhando até a janela com as mãos cruzadas atrás das costas. Seu olhar perdido no horizonte.

    — Soldado, você sabe o que significa quando alguém nasce com olhos vermelhos?

    Harold hesitou por um instante.

    — Não exatamente… Só ouvi uma história na infância. Diziam que se uma criança não se comportasse, seus olhos ficariam vermelhos como sangue e ela se tornaria um monstro que come pessoas.

    Walter soltou uma risada baixa.

    — Hoho, minha esposa contava essa mesma história para os nossos filhos.

    Nesse momento, Walter ficou de cara fechada e continuou: — Mas entre os oficiais, há outra versão…

    Ele se virou, apoiando as mãos no encosto da poltrona.

    — Dizem que aqueles que nascem com olhos vermelhos são abençoados pela Deusa da Guerra, Íris.

    Harold franziu a testa.

    — Deusa da Guerra Íris?

    — Não me surpreende que não a conheça. A lenda foi descoberta recentemente em uma pirâmide ancestral. Segundo os relatos, Íris era uma mulher de beleza divina, de olhos vermelhos como brasas. Na Era Primordial, quando a humanidade estava à beira da extinção, foi ela quem nos salvou.

    Walter apertou a poltrona.

    — A lenda diz que Íris abençoou alguns guerreiros com seu sangue. Todos aqueles que herdaram sua marca possuíam olhos vermelhos. E com esse poder, os humanos resistiram às raças inimigas e sobreviveram naquela era.

    Ele coçou a barba, pensativo.

    — Mas desde então… não houve mais registros. Talvez seja mais uma lenda. Alguns humanos ainda nascem com essa cor nos olhos, mas nada além disso. Esse menino provavelmente é apenas mais um prodígio…

    Walter sorriu de canto.

    Ou talvez, acabamos de encontrar algo muito maior do que imaginamos.

    Sem aviso, uma pressão imensa esmagou Harold. Ele forçou o punho contra o chão, tentando evitar que seu rosto se esmagasse no solo.

    O homem idoso, com um olhar feroz, fitou os olhos em Harold, como se estivesse observando uma presa.

    — Ainda não me contou o principal. Me enrolou até agora com essas boas notícias, mas qual é a ruim?

    Esse velho é um demônio! Como ele descobriu?

    A pressão aumentou, e Harold sentiu seu punho se quebrar contra o chão enquanto o suor escorria pela sua testa.

    — M-m-mina… — O soldado mal conseguiu falar, sufocado pela pressão.

    Quando o oficial ouviu a palavra, a pressão sobre Harold diminuiu, mas o olhar continuava gélido.

    — Diga!

    Harold respirava pesadamente, tentando recompor-se.

    — O Regimento militar Aço e Tigre formaram uma aliança e provalmente vão tentar lutar por nossa mina.

    SMACK!

    Walter socou a mesa à sua frente, rachando-a no meio. Tudo o que estava sobre ela voou para o chão, enquanto os papéis caiam lentamente.

    — O que você disse?!

    ⧖⧗

    Jaro, em sua antiga vida, tinha uma rotina progamada. Havia horário para acordar, para chegar à sua empresa e para seguir sua agenda de viagens. Pode parecer um rotina bem tranquila, só que para um viciado em jogos era um pesadelo. Por isso, seu sono era desregulado às vezes dormia bem, às vezes não.

    Porém, agora ele queria mudar isso e ter um sono melhor. Na noite anterior, antes de dormir, encontrou um relógio físico e o configurou para despertá-lo todos os dias às 5:03h. Dito e feito. O relógio tocou com um barulho irritante, e ele acordou. Ainda estava com sono e sentia preguiça, mas sua força de vontade falou mais alto.

    Levantou-se, arrumou a cama e foi preparar seu café da manhã. Ao abrir os armários, ficou um pouco descontente os alimentos eram bem diferentes dos da Terra. Havia muitos grãos e temperos estranhos. Decidiu então abrir a geladeira e, finalmente, encontrou algo familiar: carnes, ovos! E várias garrafas cheias de líquidos desconhecidos.

    Ele nunca foi bom na cozinha, mas, quando era pobre, teve que se virar e aprendeu o básico. Pensou por um instante e pegou alguns ingredientes aleatórios para preparar sua refeição.

    Enquanto cozinhava, lembrou-se das palavras de Ryan, que havia mencionado uma guarda do lado de fora da porta. No entanto, Jaro ficou desconfiado será que alguém realmente ficaria de vigia 24 horas por dia? Mesmo assim, decidiu preparar outro prato para a guarda.

    Talvez fosse um costume brasileiro, mas quando alguém trabalha na casa de um, é comum que ofereçam comida e bebida. E, em alguns casos, muita banana.

    Depois de um tempo, o café da manhã ficou pronto. Ao lado do fogão, havia uma mesa para cortar e preparar alimentos, onde ele repousou os dois pratos e copos. Nos pratos, havia pequenos grãos verdes parecidos com ervilhas, cinco fatias de algo semelhante a bacon e três ovos.

    Curioso, Jaro experimentou todas as garrafas da geladeira. Descobriu que algumas continham álcool, outras óleos, sucos suspeitos e água.

    Como era bom de copo, encheu os dois copos com álcool e tomou um gole. Em seguida, provou a comida que preparou pegou um pouco de cada ingrediente na colher, colocou na boca e sentiu uma explosão de sabores.

    Jaro suspirou satisfeito.

    — Ficou bom mesmo.

    Mesmo estando no corpo de uma criança, não se importava tanto em beber em álcool. No começo, ficou chateado ao pensar que um jovem morreu para que ele reencarnasse, mas a situação não era favorável para ele ficar deprimido, e teve que superar isso rapidamente caso quisesse viver.

    Espero que ela goste de álcool.

    Jaro saiu do quarto e ficou paralisado com o que viu. Uma mulher estava deitada no corredor, bem próxima à sua porta. Usava uma máscara de um demônio vermelho e roupas justas que marcavam suas curvas.

    Essa é minha guarda-costas gostosa? Não me parece muito confiável…

    Ele colocou o prato e a bebida no chão, então se aproximou para acordá-la. Mal sabia que essa era a ideia mais estúpida que poderia ter.

    No momento em que suas mãos estavam prestes a tocar o ombro dela, ele sussurrou: — Ei… moça…

    Antes que pudesse encostar, a mulher sumiu. Jaro ficou surpreso, mas, antes que pudesse sequer reagir, sentiu algo gelado em seu pescoço uma lâmina.

    — Se você falar ou se mexer sem minha permissão, eu vou te matar. Se entendeu, acene com a cabeça.

    Jaro assentiu, suando frio.

    — Me explique por que tentou me tocar. Se eu não gostar da resposta, a primeira coisa que vou arrancar vai ser seu pinto. Mesmo que eu tenha aceitado te proteger, não pense que vou permitir que me toque.

    Gostosa é minha pomba! Essa mulher é maluca!

    Jaro respirou fundo. Se ficasse agitado, poderia piorar ainda mais sua situação.

    — Rápido, eu não sou paciente. — Ela pressionou a lâmina contra seu pescoço, e um fio de sangue escorreu pela lâmina.

    — Eu vim te trazer café da manhã, por isso tentei tocar no seu ombro para te acordar!

    A mulher olhou ao redor, viu um prato e copo no chão, ao perceber que seu protegido era apenas uma criança e que apenas queria fazer uma gentileza, se acalmou um pouco. Ainda assim, jogou Jaro agressivamente no chão.

    Ele caiu de frente para ela. Com movimentos leves e precisos, a guarda colocou a lâmina de volta na bainha escura. A cena foi impressionante para o menino, que ficou ali, observando tudo com atenção.

    Mesmo com a máscara de demônio cobrindo parte do rosto dela, ele conseguia perceber que ela era bonita. O corpo dela tinha curvas sensuais e um belo busto, cada movimento, por mais simples que parecesse, era cheio de graça que chamava a atenção, como se ela se movesse de um jeito único e especial.

    O garoto levou a mão ao pescoço, onde o corte ainda sangrava. Ela ia me matar mesmo… Pensou, ainda assustado com a lembrança.

    Lila, a guarda, sentou-se calmamente, pegou o prato e a bebida que ele preparou. Com um movimento discreto, levantou um pouco a máscara, revelando um vislumbre de seu rosto angelical e a ponta do nariz. Jaro observou, intrigado, enquanto ela cheirava a comida e a bebida com desconfiança. Mas, após o primeiro gole, pareceu satisfeita, quase relaxada.

    Enquanto ela comia, Jaro não conseguia tirar os olhos dela. Apesar de quase tê-lo matado, havia algo fascinante em sua presença.

    Ela é realmente bonita.

    O menino reflitou, notando não apenas o rosto, mas também o corpo sensual que a sua roupa não conseguiam esconder.

    — Moça, qual é o seu nome? — perguntou, tentando puxar conversa.

    Ela o ignorou, continuando a comer em silêncio. Jaro suspirou, frustrado. Ryan havia mencionado que ela mostraria o Distrito Azul para ele, mas, pelo visto, não seria tão simples.

    — Olha, eu vou ir comer e tomar um banho. Quando voltar, quero que me mostre o Distrito Azul — disse, tentando soar firme.

    Novamente, ela não respondeu. Isso vai ser complicado, pensou, abrindo a porta do quarto.

    Antes que pudesse entrar, a voz fria da guarda o interrompeu:

    — Pode me chamar de Lila.

    Ele se virou, surpreso. Não esperava que ela finalmente o respondesse.

    — E é melhor pensar mil vezes antes de ser gentil isso pode te matar.

    Jaro levou a mão ao pescoço novamente, engolindo em seco. A lembrança de como ela quase o matou por causa de um simples café da manhã ainda o assombrava.

    — Obrigado pelo conselho, Lila — respondeu, com uma expressão séria.

    Então, entrou no quarto e desabou no chão, exausto.

    Todo mundo é perigoso nessa terra? questionou-se, sentindo-se pequeno e impotente. Mesmo estando mais forte agora, não havia conseguido ver os movimentos dela. Se fosse uma batalha de vida ou morte, ele já estaria morto.

    A frustração e a raiva tomaram conta dele. Lembrou-se de como Ryan, com um simples levantar de seu dedo, o deixou em pânico. E agora, Lila, com sua presença ainda mais poderosa.

    Mas pior que ambos eram o senhor Cao e o homem de armadura. Quando os via, sentia como se dois gigantes o encarassem, esmagando-o com sua aura. A vontade que tinha era de fugir, mas algo o mantinha ali, lutando contra o medo.

    Talvez fosse a loucura do momento, ou a adrenalina ainda pulsando em suas veias, mas ele conseguiu se manter firme e enfrentou seu oponente.

    Acho que devo imitar ela. Preciso de uma máscara e também tenho que esconder qualquer informação sobre mim. Não posso subestimar mais esse lugar!

    Com um olhar determinado, Jaro murmurou para si mesmo:

    — Me esperem, desgraçados. Um dia, vocês vão se ajoelhar diante de mim.

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