Capítulo 7 - Deusa Íris
Em um modesto escritório. As paredes em cinza suave, estavam decoradas com algumas obras abstratas. Em cima da mesa, um rádio antigo descansava ao lado de uma pilha de papéis.
No meio de todo aquele silêncio, um homem idoso, de cabelos grisalhos, estava sentado confortavelmente em uma poltrona preta. Sua cabeça estava ligeiramente baixa, focada nos papéis espalhados sobre a mesa.
E em frente a ele, contrastando com o ambiente, uma figura imponente se destacava. Um homem, completamente coberto por uma armadura de prata reluzente. O capacete, igualmente prateado, escondia qualquer traço de sua identidade.
Ele estava em pé, imóvel, como se aguardasse alguma ordem.
Como alguém consegue exalar uma aura tão poderosa enquanto lê? Pensava o soldado, enquanto sentia um desconforto por todo seu corpo.
O idoso suspirou, jogando uma folha na mesa. Pegou a caneta e, sem pressa, assinou alguns papéis antes de empilhá-los cuidadosamente sobre uma pilha já volumosa à sua esquerda.
Depois, recostou-se na cadeira de couro. Entrelaçou os dedos sobre a mesa, mantendo o olhar sereno sobre o soldado.
— Soldado Harold, conseguiu o que eu pedi?
O soldado colocou um joelho no chão em reverência.
— Sim, Oficial. Comprei dois jovens do Distrito Vermelho. Já estão em nossas instalações.
Walter assentiu lentamente.
— Fez bem. Mas se fosse só isso, você não teria vindo até aqui. O que aconteceu?
Um sorriso estranho se formou no rosto de Harold sob o capacete.
— Como de costume, fui apenas buscar aprendizes de primeiro grau. Mas o mercador Kao me convidou para assistir a uma disputa entre dois garotos, do Distrito Verde…
Walter arqueou uma sobrancelha.
— Distrito Verde? Não é lá que o Clã Moong joga o lixo que não sabe lutar?
— Sim… Recusei no início, mas aquele desgraçado insistiu. Dizendo que valeria a pena e que a luta aconteceria no Mar de Ferro.
Os olhos do oficial brilharam por um instante.
— Hoho, essa arena me traz boas memórias.
Walter recostou-se na cadeira, indicando para Harold continuar. O soldado não perdeu tempo e começou a contar tudo em detalhes. Quando terminou, o silêncio tomou conta do escritório por alguns segundos.
— Interessante… — Walter murmurou.
— Um menino de olhos vermelhos à beira da morte derrotando outro com talento em artes marciais… Se forem bem moldados pelo Clã Moong, essas crianças podem se tornar armas valiosas para o nosso regimento.
Ele se levantou devagar, caminhando até a janela com as mãos cruzadas atrás das costas. Seu olhar perdido no horizonte.
— Soldado, você sabe o que significa quando alguém nasce com olhos vermelhos?
— Não exatamente… Só ouvi uma história na infância. Diziam que se uma criança não se comportasse, seus olhos ficariam vermelhos como sangue e ela se tornaria um monstro que come pessoas.
— Hoho, minha esposa contava essa mesma história para os nossos filhos. No entanto, entre os oficiais, há outra versão…
Ele se virou, apoiando as mãos no encosto da poltrona.
— Dizem que aqueles que nascem com olhos vermelhos são abençoados pela Deusa da Guerra, Íris.
— Deusa da Guerra?
— Não me surpreende que não a conheça. A lenda foi descoberta recentemente em uma pirâmide ancestral. Segundo os relatos, Íris era uma mulher de beleza divina, de olhos vermelhos como brasas. Na Era Primordial, quando a humanidade estava à beira da extinção, foi ela quem nos salvou.
Walter apertou a poltrona.
— A lenda diz que Íris abençoou alguns guerreiros ao derramar seu sangue. Todos aqueles que herdaram sua marca possuíam olhos vermelhos. Graças a esse poder, os humanos resistiram às raças inimigas e sobreviveram naquela era.
Ele coçou a barba, pensativo.
— Mas desde então… não houve mais registros. Talvez seja mais uma lenda. Alguns humanos ainda nascem portando essa cor nos olhos, porém nada além disso. Esse menino provavelmente é apenas mais um prodígio…
Sem aviso, uma pressão imensa esmagou Harold. Ele forçou o punho contra o chão, tentando evitar que seu rosto se esmagasse no solo.
O oficial, de olhar feroz, fitou os olhos em Harold, como se estivesse observando uma presa.
— Ainda não me contou o principal. Me enrolou até agora trazendo essas boas notícias, contudo qual é a ruim?
Esse velhote é um demônio?! Como ele descobriu?
A pressão aumentou, e Harold sentiu seu punho se quebrar contra o chão, enquanto o suor escorria por sua testa.
— M-m-mina… — o soldado mal conseguiu falar, sufocado pela pressão.
Quando o oficial ouviu a palavra, a pressão sobre Harold diminuiu, entretanto o olhar continuava gélido.
— Diga!
— O Regimento militar Aço e Tigre formaram uma aliança e provalmente vão tentar lutar por nossa mina.
SMACK!
Walter socou a mesa à sua frente, rachando-a ao meio. Tudo que estava sobre ela foi lançado aos ventos.
— O que você disse?!
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Jaro, em sua antiga vida, tinha uma rotina progamada. Havia horário para acordar, para chegar à sua empresa e para seguir sua agenda de viagens. Pode parecer um rotina bem tranquila, só que para um viciado em jogos era um pesadelo. Por isso, seu sono era desregulado, às vezes dormia bem, às vezes não.
Porém o garoto queria mudar isso e ter um sono melhor. Na noite anterior, antes de dormir, encontrou um relógio físico e o configurou para despertá-lo todos os dias às 5:03h. Dito e feito. O relógio tocou emitindo um barulho irritante, e ele acordou. Ainda estava sonolento e sentia preguiça, mas sua força de vontade falou mais alto.
Levantou-se, arrumou a cama e foi preparar seu café da manhã. Ao abrir os armários, ficou um pouco descontente os alimentos eram bem diferentes dos da Terra. Havia muitos grãos e temperos estranhos. Decidiu então abrir a geladeira e, finalmente, encontrou algo familiar: carnes, ovos! E várias garrafas cheias de líquidos desconhecidos.
Ele nunca foi bom na cozinha, todavia, quando era pobre, teve que se virar e aprendeu o básico. Pensou por um instante e pegou alguns ingredientes aleatórios para preparar sua refeição. Enquanto cozinhava, lembrou-se das palavras de Ryan, que havia mencionado uma guarda do lado de fora.
No entanto, Jaro ficou desconfiado será que alguém realmente ficaria de vigia 24 horas por dia? Mesmo assim, decidiu preparar outro prato para a guarda. Talvez fosse um costume brasileiro, contudo quando alguém trabalha na casa de um, é comum que ofereçam comida e bebida.
E, em alguns casos, muita banana.
Depois de um tempo, o café da manhã ficou pronto. Ao lado do fogão, havia uma mesa para cortar e preparar alimentos, onde ele repousou os dois pratos e copos. Nos pratos, havia ervilhas, cinco fatias de bacon e três ovos.
Em sequência, curioso, Jaro experimentou todas as garrafas da geladeira. Descobriu que algumas continham álcool, outras, óleos, sucos e água. Como era bom de copo, encheu os dois copos com álcool e tomou um gole.
Em seguida, provou a comida que preparou pegou um pouco de cada ingrediente na colher, colocou na boca e sentiu uma explosão de sabores.
Jaro suspirou satisfeito.
— Ficou bom mesmo.
Mesmo estando no corpo de uma criança, não se importava tanto em beber em álcool. No começo, ficou chateado ao pensar que um jovem morreu para que ele reencarnasse. Ainda assim, a situação não era favorável para ele ficar deprimido, e teve que superar isso rapidamente caso quisesse viver.
— Espero que ela goste de álcool.
Jaro saiu do quarto e parou imediatamente, atônito diante da cena. No corredor, bem diante da porta, uma mulher jazia estendida no chão. Usava uma máscara de demônio vermelho e roupas justas que realçavam cada curva de seu corpo. Essa é minha guarda gostosa? Não me parece muito confiável…
Ele colocou o prato e a bebida no chão, então se aproximou para acordá-la. Mal sabia que essa era a ideia mais estúpida que poderia ter. No momento em que suas mãos estavam prestes a tocar o ombro dela, ele sussurrou: — Ei… moça…
Antes que pudesse encostar, a mulher sumiu. Jaro ficou surpreso, porém, antes que pudesse sequer reagir, sentiu algo gelado em seu pescoço — uma lâmina.
— Se você falar ou se mexer sem minha permissão, eu vou te matar. Se entendeu, acene com a cabeça.
Jaro assentiu, suando frio.
— Me explique por que tentou me tocar. Se eu não gostar da resposta, a primeira coisa que vou arrancar vai ser seu pinto. Mesmo que eu tenha aceitado te proteger, não pense que vou permitir que me toque.
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