Capítulo 31 - Vila Crim|Parte 6
— Tenho algumas perguntas para fazer a vocês. Qual é o nome de cada um?
Todos os esqueletos se entreolharam, confusos. Então, o líder deles respondeu: — Nossos nomes, infelizmente, não recordamos. Lembramo-nos de poucas coisas sobre nossas vidas passadas. É como se tudo estivesse borrado… A única coisa que conseguimos recordar, com alguns detalhes, é o que aconteceu nesta dungeon e a existência do nosso antigo lorde.
— Já que é assim, como agora serei o lorde de vocês, vou me apresentar e também lhes darei novos nomes.
— Será uma honra — exclamou o líder esqueleto, e todos os outros pareceram satisfeitos.
— Meu nome é Jaro. Estou no Estágio Guerreiro, com oito mil de mana acumulado. Por ora, meus únicos desejos são simples: sobreviver e explorar este vasto mundo… Ordeno que me acompanhem nesse pequeno sonho.
Todas as criaturas deram um grito positivo em resposta.
— Vamos, se aproximem e venham na ordem do mais forte ao mais fraco e informem em que Estágio estão.
O primeiro a se apresentar foi o líder. Sua vestimenta era diferente das dos demais, mais nobre, e seu porte físico também destoava: era mais alto, mais forte, e sua voz, grave e assustadora.
Diferente do líder, os demais tinham aparência idêntica: ossos gastos, olhos vazios e armaduras desgastadas.
E apenas a voz os diferenciavam.
— Após essa reencarnação, perdi boa parte do meu poder. No momento, estou no Estágio Naka e tenho doze mil de mana.
— Por isso foi difícil te derrotar… — o garoto colocou a mão no ombro da criatura e exclamou: — Seu nome será Dargan.
— Muito obrigado, senhor — agradeceu o ex-esqueleto líder, que agora se chama Dargan.
Logo depois, aproximou-se outro esqueleto.
— Senhor, estou no Estágio guerreiro tenho 5000 de mana — comunicou a criatura, soando uma voz suave e uma presença mais calma que a do capitão.
— Hum… — o jovem o encarava.
— Lorde?
— Quando lutei com você, percebi que sua esgrima é muito avançada. Gostaria que me ensinasse. — Jaro curvou-se.
— Levante a cabeça, meu senhor! Claro que posso ensiná-lo — declarou o esqueleto, batendo no peito.
Jaro apenas sorriu e disse: — Seu nome será Maelor. Próximo.
Um a um, os soldados mortos-vivos se apresentaram. Quando chegou ao último, o jovem disse: — Seu nome será Velmir.
— Estou honrado, lorde — respondeu o monstro, em reverência.
Jaro suspirou, passando a mão pela testa. Criar nomes é mais exaustivo do que parece…
— Agora preciso entender como vocês funcionam. Já percebi que podem se abrigar dentro do anel. Mas o que acontece se forem destruídos pelo inimigo?
— Retornamos ao anel, senhor. No entanto, toda vez que nos invoca, isso consome mana e um pouco de seu sangue, outra informação é que podemos permanecer fora do anel indefinidamente, se desejar e não haverá nenhuma penalidade — explicou Dargan.
Por que algumas magias envolvem sangue, Chefe?
Porque isso não é uma magia, Jaro. É um feitiço. E todos os feitiços exigem sangue e mana.
Interessante… quero entender mais sobre isso depois.
Quando quiser, estou à disposição.
— Agora que nos conhecemos melhor, tenho outra pergunta. — O olhar de Jaro deslizou entre os esqueletos até se fixar em um à esquerda.
Ele franziu a testa, tentando lembrar o nome que lhe deu.
— Thervan… Este tesouro pertencia ao seu antigo Lorde, correto?
— Sim…
— Quero esse tesouro para mim. Ele me ajudará a alcançar meus objetivos. Está tudo bem para você, Thervan?
— O passado deve permanecer no passado. Agora, você é nosso senhor. Nenhum de nós se oporia a isso.
— E quanto a vocês? — Jaro perguntou, erguendo a voz para o restante do grupo.
— Não, senhor! — proclamaram os monstros.
— Muito bem — murmurou Jaro. — Agora preciso descansar. Amanhã continuaremos nossa conversa.
Em seguida, todas as criaturas se curvaram e começaram a se desfazer em fumaça. A névoa escura girou em torno do ar antes de se condensar em um único ponto: um anel, encaixado no dedo do jovem.
— Chegou a hora… — murmurou ele, encarando o imenso tesouro à sua frente.
Após algumas horas analisando cuidadosamente cada detalhe da sala e o vasto acúmulo de riquezas, Jaro decidiu organizar o local. Limpou alguns cantos e preparou um espaço improvisado para descansar.
No entanto, algo chamou sua atenção em meio às pilhas de ouro e caixas empoeiradas: eram as armas que estavam visivelmente imbuídas de mana.
Era impossível ignorá-las.
Curioso, ele pegou um dos itens. Ao canalizar sua mana por ele, uma pequena tela surgiu no ar, diante de seus olhos:

— Chefe… isso é inacreditável. Esses itens estão mesmo encantados?
Estão.
— Fantástico… Preciso analisá-los com calma, ou não vou conseguir pregar os olhos.
Jaro começou a testar todos os artefatos. Eram impressionantes. Ele já pensava em dezenas de formas de utilizá-los em batalha.





Durante as buscas, algo chamou sua atenção em meio a uma das pilhas de ouro. Parcialmente soterrada, havia uma grande caixa retangular, feita de madeira escura e envolta por um couro nobre de tom avermelhado.
Ao abrir a tampa, Jaro deparou-se com uma espada cuidadosamente guardada em seu interior. Diferente de todas as outras armas que encontrou até então, aquela exalava uma presença única, como se fosse, de fato, o verdadeiro tesouro daquele lugar.
A bainha era requintada, contendo detalhes em ouro e entalhes delicados. Ao empunhá-la e retirar a lâmina, Jaro ficou maravilhado. A espada era magnífica. Sua mana reagiu imediatamente, e faíscas azuladas começaram a crepitar ao longo da lâmina.
Ele podia sentir sua força crescendo. Uma sensação eletrizante percorreu seu corpo, tão intensa quanto naquela noite, naquele cômodo escuro.
Era como se sua mana estivesse sendo reescrita.

— Chefe… isso significa que eu possuo afinidade ao elemento raio?
Exatamente. Pessoas assim nascem uma a cada cem anos. O raio é o elemento mais destrutivo, instável e difícil de dominar. Muitos desistem antes mesmo de conseguir controlá-lo. Você deveria agradecer aos deuses por ter sido agraciado com esse dom.
Mesmo ciente das dificuldades, Jaro sentia que aquela espada era feita para ele. Havia uma conexão entre os dois. Era algo que ele não sabia explicar, mas sabia que era real, e bom.
Logo depois, separou os itens encantados e os guardou em bolsas de pano.
Em seguida, enfim adormeceu.
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Dia seguinte
Sentado em um trono improvisado, feito por seus vassalos, ele girava uma moeda de ouro entre os dedos, brincando.
Então, indagou: — Me expliquem uma coisa. Como ninguém os encontrou antes? Atualmente, esta região é dominada por um clã. Imagino que seria impossível ninguém ter descoberto esta caverna. Ela está camuflada?
— Sim, senhor. A magia do Lich que nos amaldiçoou também oculta a entrada da caverna — respondeu Dargan.
— E por que eu consegui ver a entrada?
— Pensamos que o senhor soubesse… mas, sinceramente, não fazemos ideia. Talvez alguém no Estágio Místico, com feitiços avançados de detecção, pudesse localizá-la. No entanto, esta caverna está isolada entre montanhas e encoberta por uma floresta densa. As chances de sermos descobertos sempre foram mínimas. Além disso, feitiços de detecção têm alcance limitado.
Você teve algo a ver com isso, Chefe?
Não tenho… Por algum motivo, feitiços de ocultação simplesmente não funcionam contra você.
Entendo. Isso é uma vantagem. Espero descobrir mais sobre isso depois…
— A magia de camuflagem ainda está ativa?
— Sim. Podemos desativá-la, se desejar.
— Não. Deixem como está. Cheguei a pensar em mover o tesouro, entretanto não há lugar melhor do que este. A partir de agora, esta será nossa base.
— Como quiser, meu lorde — respondeu Dargan, curvando-se.
— Está na hora de partirmos. Preciso completar minha missão o quanto antes. Mas… Isgald, venha aqui.
O esqueleto se aproximou, e Jaro lhe entregou o Escudo da Montanha Anciã, que estava entre os tesouros. Não era um item encantado, contudo era um escudo extraordinário.
— Você é o terceiro mais forte entre nós… e o melhor usando escudos. Ele ficará melhor em suas mãos.
— Darei tudo de mim, meu lorde — respondeu Isgald, com orgulho.
Em sequência, Jaro se ergueu.
— Preparem-se.
— Sim, senhor! — responderam todos em uníssono.
No mesmo dia, Jaro ordenou que as criaturas se dividissem para procurar a vila. Ele próprio também partiu em busca. Enquanto aguardava algum resultado, aproveitou o tempo para fazer algumas perguntas à Chefe.
Ele havia equipado vários itens do antigo lorde dos esqueletos: colares, anéis e a armadura, porém decidiu deixar as espadas para trás na base. A Chefe o havia alertado de que, no nível em que ele se encontrava, tentar usar aquelas lâminas poderosas em combate poderia ser fatal.
A única espada que levou consigo foi a Espada da Verdade, por ser mais simples de manusear e ainda assim mais forte do que a que ele havia comprado do anão.
Durante a conversa, Jaro perguntou se havia algum risco em usar tantos colares e anéis encantados ao mesmo tempo. A Chefe respondeu que “depende”, explicando que todos esses itens exigiam uma porcentagem da mana do portador para manter seus efeitos.
Ela apenas o aconselhou a não exagerar.
Algumas horas depois, um dos esqueletos localizou uma vila. Ainda não havia certeza se era a Vila Crim; a única forma de saber seria interrogando os moradores.
O esqueleto então retornou e relatou tudo a Jaro. Sem perder tempo, ele fez com que os esqueletos voltassem à forma de anel e partiu em direção ao vilarejo.
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