Jaro e Lila pararam em frente a uma enorme mansão. O imóvel era impressionante, cheio de detalhes luxuosos na arquitetura.

    Bem acima da porta principal, havia uma inscrição: Biblioteca. O menino franziu a testa, tentando entender o que estava escrito, e estreitou os olhos, intrigado.

    Isso era pra ser um cartório?

    Antes que pudesse continuar com seus pensamentos, Lila chamou sua atenção.

    — Quero que você se comporte e não fale nada desnecessário. Entendeu?

    — Sim…

    Assim que atravessaram as portas, puderam ver o interior da mansão, que era avassalador.

    O teto era tão alto que parecia tocar o céu, sustentado por colunas de mármore negro esculpidas com figuras de criaturas horrendas.

    Lustres de cristal flutuavam no ar, sem correntes ou suportes, iluminando o ambiente com uma luz dourada e suave.

    Prateleiras gigantescas iam do chão ao teto, cobertas por uma quantidade absurda de livros.

    O cheiro de papel envelhecido se misturava ao aroma de um incenso amadeirado.

    Eu preciso vir aqui depois! Pensou Jaro, animado. Como um ex-milionário e gamer, ele sabia o valor das informações. Para ele, conhecimento era tão precioso quanto ouro.

    Ele ansiava por aprender mais sobre aquele mundo, sua história e, principalmente, como o dinheiro funcionava por ali.

    Poucos metros à esquerda, Jaro avistou um homem de cabelos brancos e olhos amarelos, de porte médio, sentado em uma poltrona atrás do balcão da recepção.

    Ele parecia absorto na leitura de um livro, mas assim que o menino e a guarda se aproximaram, fechou-o calmamente e se levantou para cumprimentá-los.

    — Visitantes… Que raros.

    — Nem comece, Raizen. Você preparou a runa com as informações que te enviei? — perguntou Lila, cortando o clima.

    — Claro, minha querida Bruxa de Fogo Ca—

    SWISH!

    Em uma velocidade sobre-humana, Lila apontou sua espada para o pescoço de Raizen, parando a poucos centímetros de sua pele.

    — Hahaha, era só uma brincadeira — disse Raizen, rindo, enquanto olhava de relance para Jaro.

    Hoje ela trouxe um diamante em…

    O menino fitou o balconista e perguntou:

    — Por que a chamam de Bruxa do Fogo?

    Lila guardou a espada e cruzou os braços, claramente irritada.

    — Ela não te contou? Hahaha! Faz sentido. Ela odeia ser chamada assim.

    Em seguida, o balconista ficou sério e continuou: — Faz uns cinco ou seis anos… que um idiota de um certo clã de mercadores deu um tapa na bunda dela. Como vingança, ela simplesmente explodiu o clã inteiro em chamas, matando cinquenta membros sozinha. Quando foram procurar os corpos, só encontraram cinzas. Daí veio o apelido: Bruxa do Fogo.

    Jaro ficou atônito, olhando para Lila com uma mistura de admiração e medo.

    — Fique feliz, garoto. Você tem alguém muito forte protegendo você.

    — Raizen. — Interrompeu Lila, impaciente.

    — Tá, tá… Que chata. Ei, garoto, chegue mais perto do balcão. — Ordenou o balconista.

    Sempre que Jaro se aproximava de alguém, ele conseguia deduzir com precisão a força dessa pessoa, como se possuísse um sexto sentido. Ele acreditava, que era mais uma extensão do poder que recebeu.

    Mas, dessa vez, como não conseguia sentir nada vindo daquele homem, ficou com um pé atrás. Ele hesitou, mas ao ver Lila assentir, aproximou-se, ainda desconfiado.

    — Tire sua roupa de cima.

    Que tipo de registro é esse?

    Mesmo desconfiado, obedeceu e retirou a regata; no entanto, não removeu a máscara de pano.

    O balconista colocou a mão sobre o peito esquerdo do menino.

    — Vai doer um pouco, mas aguente firme.

    — O que você va—

    ⧖⧗

    — DEMÔNIO!!

    O menino, que estava deitado no colo da guarda, se assustou com a máscara que ela usava e se distanciou alguns metros. Ela tranquilamente se levantou.

    — Pelo jeito, você tá bem. Mas você é fraco mesmo, hein? Desmaiou no registro.

    Percebendo que estava deitado no colo dela, Jaro ficou triste por ter perdido a oportunidade de continuar ali.

    Eu sou muito burro!

    — Que tipo de registro é esse?! Eu não lembro de nada, e meu corpo tá todo dolorido.

    — O balconista colocou no seu peito esquerdo uma pequena runa de rastreamento, que também serve como sua identidade dentro do clã. Seu corpo está dolorido porque esse processo é um pouco radical. Sua pele foi cortada profundamente, e depois que a runa foi inserida, a ferida foi costurada novamente com magia.

    Sinistro…

    O menino, sem camiseta, olhou para o peito e viu um pouco de sangue e uma pequena cicatriz no local.

    — Fale “Menu”, e sua identidade vai aparecer pra você.

    Jaro, ansioso, obedeceu. Queria saber logo como isso funcionava.

    — Menu!

    Nesse momento, como se fosse magia! Uma tela apareceu flutuando na frente de Jaro.

    ──────────────
    Sistema Moong

    ∴: Codinome: 102

    ∴: Idade: 14 anos

    ∴: Mana: >58<

    ∴: Hierarquia: ?

    ∴: Classe: Guerreiro Secundário
    ──────────────

    O menino olhou para Lila e indagou:

    — Isso é magia?

    — Sim. Existem escrituras mágicas na runa, e sua própria mana é usada para ativa-lá. Quando um superior pedir pra você mostrar sua identidade, basta encostar o dedo nesse painel, e ele aparecerá automaticamente. A partir de hoje, você vai usá-lo bastante. E essas pequenas informações no painel serão explicadas na área de treinamento. Então, boa sorte. Eu estou indo levar um relatório pro mercador Cao.

    Em um piscar de olhos, enquanto abanava a mão em despedida, Lila sumiu.

    — Você não tinha que me proteger? E onde fica a área de treinamento…?

    Jaro suspirou.

    Olhando ao redor, ele viu um grupo de jovens perto de uma pequena cabana.

    Na frente da porta, dois homens de cabelos pretos se destacavam, um de olhos vermelhos e outro de olhos negros, ambos usavam uniformes de guardas.

    Eles conversavam entre si:

    — Os mercadores, dessa vez, conseguiram um número bem maior do que no ano passado — comentou o da esquerda.

    — Não só isso, mas o lote deste ano veio com uma qualidade muito melhor — respondeu o da direita.

    — Mas parece que um deles não é tão talentoso assim. E ainda se atrasou.

    — Fala do número 102?

    — É, eu não sei o que o mercador Cao viu nele.

    — Falando nele… parece que chegou.

    Eles sentiram uma mana diferente no local e, olhando à frente, viram um garoto usando uma máscara.

    Um deles levantou a mão e olhou em direção a Jaro. O menino entendeu que aquele era o local e se aproximou da pequena multidão.

    O da esquerda tossiu e, com uma voz alta e poderosa, disse:

    — Acredito que todos estejam aqui.

    Todos olhavam com atenção. Nenhum barulho era ouvido, pois o que todos os garotos e garotas sentiam vindo daqueles dois homens à frente era uma pressão absurda!

    — Sejam bem-vindos ao inferno! Eu sou o professor Kyle, e ao meu lado está o segundo professor de vocês, o senhor Cole, que os acompanhará até serem vendidos ou promovidos.

    Nesse instante, o professor Kyle começou a encarar o menino Jaro.

    — Quero avisar que não gosto de atrasados e que haverá consequências caso isso aconteça em uma aula minha ou do senhor Cole. Como é o primeiro dia de vocês, vou deixar passar.

    Esse porra já me marcou?!

    — Por enquanto, é isso. Agora, entrem imediatamente nessa cabana, para prosseguirmos com a apresentação do Salão de Treinamento.

    As pessoas começaram a cochichar.

    — Essa cabana é a sala de treinamento?

    — Não é muito pequena?

    — Isso tá me parecendo suspeito…

    Cole franziu a testa, irritado.

    — Chega! — gritou Cole.

    Ele abriu a porta, e, por dentro, só se via escuridão. Nada além disso.

    Ele olhou para o garoto mais próximo, que, tremendo de medo, entendeu que se não entra-se iria morrer.

    Assim que atravessou a porta, simplesmente sumiu. Um a um, os outros foram entrando em silêncio.

    Até que sobraram os últimos da fila.

    — Só faltam vocês — disse Kyle.

    Jaro olhou de canto de olho e percebeu que o outro que restava era Einar.

    Eles não tinham notado a presença um do outro por causa da aura ameaçadora dos guardas, mas agora, sozinhos ali, não havia como ignorar.

    Einar também o viu e, ao passar por ele em direção à porta, sussurrou:

    — Você não vai ter a mesma sorte aqui!

    Eu sabia que deveria ter matado esse desgraçado quando tive a chance! — Pensou Jaro, cerrando os punhos.

    Desde a primeira vez que viu esse garoto, sentiu que ele é perigoso.

    Vendo a tensão entre os dois, Cole o chamou:

    — Ei, número 102.

    Jaro, que já estava prestes a entrar, se virou para ouvi-lo.

    — Nada de brigas!

    Jaro assentiu e atravessou porta.

    — Hahaha, esse garoto arrumou briga logo com o mais talentoso da nova remessa da mercadoria?

    — Que azarado. Mas temos que ficar de olho neles. O senhor Cao deixou claro que esses dois devem chegar vivos aos dezoito a qualquer custo — comentou Cole.

    — Fique tranquilo. Eles vão ficar bem adestrados.

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