Capítulo 14 - Os professores
A guarda respirou fundo antes de começar a relatar tudo o que havia observado sobre Jaro. Ela organizou os pensamentos e escolheu bem as palavras, pois sabia que cada detalhe poderia fazer diferença para o mercador.
— Hah, ele é bem problemático. Mas e quanto à força dele, o que acha?
— A “mercadoria” tem talento, mesmo com um nível baixo de mana. Ele conseguiu pressionar o guarda Oscar por um momento, mas não sei como explicar como ele consegue ser tão forte apesar dessa limitação.
O mercador caminhou até uma caixa de madeira no canto da sala e se sentou, apoiando um dos cotovelos no joelho. Ele esfregou o queixo lentamente, pensativo.
— Hum… talentoso, mas com um corpo fraco e pouca mana. Entendo. Esse garoto é realmente interessante. Agora faz sentido por que aquele patife do Harold colocou os olhos nele.
Cao ficou em silêncio, olhando para o chão enquanto seus pensamentos giravam em torno do garoto.
Lila esperou alguns instantes, mas como Cao não parecia disposto a continuar a conversa, resolveu encerrar seu relatório.
— Isso é tudo que sei. Tenho permissão para ir?
— Permito. Mas me envie relatórios semanais sobre o garoto, Bruxa do Fogo Carla.
— E-entendido. — A guarda cerrou o punho com tanta força que o sangue pingou no chão, contendo-se para não enfrentar o mercador.
Lila fez uma breve reverência, virou-se e saiu sem hesitação, deixando o mercador sozinho no porão.
Um dia, eu vou matar esse porco. Só espere um pouco mais, Mia.
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O pequeno grupo de crianças seguiu Kyle, atravessando o campo de terra e passando por enormes muralhas. Assim que cruzaram os portões, perceberam uma mudança drástica no ambiente. O sol não alcançava aquele lugar, e o ar era mais frio.
O chão sob seus pés era completamente diferente do terreno irregular do campo de antes. Eles pisavam em um tipo de pedra cinzenta e lisa, ao redor, erguiam-se prédios futuristas brancos, altos e com janelas imensas.
Homens, mulheres e jovens uniformizadas andavam de um lado para o outro, ocupados, alguns carregando pastas, outros conversando com uma expressão séria.
Depois de uma longa caminhada, chegaram diante de um prédio de quatro andares. Acima da entrada, uma inscrição holográfica brilhava, exibindo um nome: Ordem [em branco]
As crianças olhavam ao redor com olhares fascinados. Tudo ali era grandioso, limpo e organizado, como se pertencesse a um mundo completamente diferente daquele em que cresceram. Mas, apesar da curiosidade, seus olhares logo se voltaram para Jaro, coberto de sangue e cheio de ferimentos. Eles não podiam esquecer a breve troca de socos entre o garoto e o rapaz de olhos verdes.
As pulseiras de prata presas em seus braços estavam rachadas. Ele andava sem hesitar, como se os machucados não importassem, como se o sangue escorrendo por sua pele fosse apenas um detalhe insignificante.
Alice, uma garota de 14 anos, cabelos e olhos roxos, caminhava um pouco atrás, analisando Jaro com uma expressão indecifrável.
Ele não sente medo? Por que lutou contra aquele guerreiro perigoso… que idiota.
Já Peter, o garoto de cabelo tigela, olhava para Jaro com respeito. Os pensamentos do grupo estavam divididos. Alguns achavam que Jaro era louco. Outros o admiravam. E Alguns queriam testá-lo em uma luta.
No entanto, Einar que também observou a luta de Jaro contra o guerreiro da Ordem dos Dragões sentia raiva e a inveja queimava dentro dele, como aquele garoto baixinho podia ser tão forte?
A cena do soco abaixo da sua costela também não saía de sua cabeça. Perder com um único golpe foi humilhante. Treinei até meus ossos quebrarem! e fui jogado no chão como se fosse nada por esse fracote! Não, isso não pode ficar assim!
O velho Ref o treinou por anos, sempre dizendo que seu talento superava o de qualquer outra criança. E que um dia, seria promovido ao Distrito Azul, onde teria a chance de ser comprado por alguma organização ou família influente.
Ao acordar após a derrota, sentiu alívio ao saber que, apesar de tudo, fora promovido. Mas a humilhação pesava mais. Ele queria vingança. Dessa vez, não perderia, ele mataria seu adversário.
Por ora, decidiu se conter. No Distrito Azul, lutar sem um bom motivo, especialmente dentro da base de inteligência, não seria fácil. Ainda não. Mas um dia… um dia, ele vai pagar por isso.
Assim que entraram no prédio, deram de cara com um balcão de recepção à direita. Atrás dele, sentada em uma cadeira confortável, estava uma mulher de cabelos ondulados, castanhos e olhos da mesma cor. Seu uniforme justo realçava suas curvas, e ela os observava com um leve sorriso, como se já soubesse exatamente quem eram.
Mas não era apenas sua aparência que chamava atenção. Assim que cruzaram seu olhar, todos sentiram a mesma pressão que Kyle exalava vindo dela, só que em uma intensidade menor.
Sem abrir a boca, eles entraram num elevador, espaçoso o suficiente para caber todo mundo. Depois de passar por algumas portas, entraram numa sala onde tinha um arco de vinte cadeiras de madeira enfileiradas.
Pelas janelas enormes do lugar, dava pra observar alguns prédios e pessoas lá fora. No fundo da sala, de frente as cadeiras, descendo alguns degraus um palco com um enorme quadro branco.
No meio do palco, três indivíduos estavam em pé: um homem e duas mulheres.
O homem era alto e forte, com cabelo curto e negro, ele usava uma túnica azul e calças pretas de lã. Tinha uma postura reta, imponente, como um guerreiro.
Uma das mulheres era magra, de altura média, com cabelo castanho preso num rabo de cavalo trançado. Vestia uma blusa branca com bordados e uma saia curta, preta e apertada, seu rosto estava sereno.
A outra mulher era mais baixa, com cabelo loiro liso até os ombros, adornado com uma fita dourada. Usava óculos pequenos, uma túnica verde e uma calça da mesma cor bem justa de tecido rústico, realçando seu quadril. Ela mexia as mãos de leve, como se estivesse inquieta.
O professor Kyle, que estava um pouco adiante dos “alunos” num piscar de olhos, apareceu ao lado dos indivíduos e exclamou:
— Crianças, sentem-se nas cadeiras com suas numerações.
Todos acataram a ordem e procuraram seus lugares. Jaro ficou na última cadeira da ponta direita, com Alice à sua esquerda e Peter ao lado dela.
Alice não parecia muito satisfeita, enquanto Peter estava animado por estar perto de alguém por quem começava a sentir admiração.
Jaro não se importava muito com quem se sentasse ao seu lado, contanto que não fosse Einar. Este, por sua vez, sentou-se na outra extremidade do arco de cadeiras, à esquerda.
— Perfeito. Estão todos devidamente em seus lugares.
Nesse momento, a aura de Kyle e dos outros sujeitos tornou-se sufocante. Algumas crianças tremiam tanto que pareciam prestes a enlouquecer sob a pressão. No entanto, Jaro e Einar permaneceram indiferentes.
Estamos apenas soltando um pouco de mana, o suficiente para sufocar uma criança. Mas esses dois…
O sujeito de ao lado de Kyle sorriu e aumentou a pressão da mana sobre Jaro e Einar. Os dois garotos tiveram que apoiar as mãos nos joelhos para não cair de cara no chão.
Kyle e as duas mulheres entenderam a intenção do colega.
Lá vai esse brutamontes… pensou a mulher de cabelo castanho.
A loira de cabelo curto suspirou.
Pelo jeito, ele já encontrou os talentosos. Mas que estranho… Ela olhou para Jaro. “A mana dele é menor que a dos outros, e ainda assim ele está resistindo?!
Enquanto isso, Jaro estava irritado.
Que magia é essa que eles usam o tempo todo? A gravidade me joga para baixo, e consigo sentir a vontade de um guerreiro poderoso querendo me matar… Droga, parece que vou enlouquecer!
Use a mana que está dentro de si, humano.
Uma voz soou na cabeça de Jaro. Era a mulher que o beijou e lhe emprestou poder para vencer seu adversário.
Usar a mana que está dentro de mim?
Ele entendia o conceito de mana por causa dos RPGs de fantasia que jogava. Sabia que era uma energia presente dentro dos magos. Mas, entender o conceito e usá-lo eram coisas muito diferentes. Porém, ele não tinha percebido que já tinha usado mana mesmo que incoscientemente.
Jaro fechou os olhos e tentou se concentrar. Se a mana estava dentro dele, precisava senti-la. Quando fechou os olhos, viu a silhueta do próprio corpo em terceira pessoa. Algo eletrizante, de cor branca, percorria por todo sua estrutura. E pela primeira vez, Jaro sentiu sua mana. Era uma sensação quente, densa e, de certa forma, parecia que podia controlá-la.
Solte essa energia para fora.
Ele obedeceu, e no mesmo instante uma pequena aura branca envolveu seu corpo. Jaro tirou a mão dos joelhos e, devagar, corrigiu sua postura, olhando fixamente para o indivíduo que o atacava com aquela aura assassina.
Eu não vou ficar para trás!
Einar, ao perceber que Jaro estava tranquilo, elevou sua própria mana se envolvendo em uma aura dourada e também se ergueu.
Os quatro professores no palco ficaram atônitos com a força de vontade das mercadorias.
Eles estão soltando mana inconscientemente? Não… Se fosse o caso, a mana deles estaria negra. Onde os mercadores acharam esses tampinhas? Pensou, o homem que pressionava Jaro e Einar com sua mana.
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