— Vamos conversar em um lugar melhor — disse a mulher de cabelos prateados.1

    Não tô conseguindo entender o que ela tá falando…

    Tudo começou a girar na mente de Jaro e, aos poucos, sua visão escureceu até se apagar por completo.

    — Abra os olhos, humano.

    Ele obedeceu. Observando ao redor, ele se via em um belo e decorado quarto de madeira, deitado numa cama bem confortável.

    — Poderia me chamar pelo nome? Você me chamar de “humano” o tempo inteiro é bem inconveniente.

    — Jaro ou João?

    — …

    Ao olhar para suas mãos pequenas, ele percebeu que desta vez não estava em seu antigo corpo, nesse lugar, que parecia um sonho ou talvez algum tipo de magia.

    — Deixa eu adivinhar… minha alma se fundiu com a do garoto?

    — Não exatamente. O dono original desse corpo morreu. Mas parte da alma dele, com desejos e memórias, se uniu à sua. Por isso, a aparência de sua alma não tem mais a forma de antes.

    Faz sentido… Vez ou outra, eu tenho me lembrando das memórias desse garoto.

    — Acho que compreendi. Pode me chamar de Jaro.

    — Entendido. De agora em diante, o chamarei de Senhor Jaro.

    Senhor Jaro? Nesse corpo de criança? Bem… é melhor do que ser chamado de humano.

    — Que lugar é esse? Quem é você? E mais importante como sabe que meu nome era João?

    — Responder tudo isso tem um custo. Está disposto a pagar?

    — Se o preço não for a morte, eu aceito.

    — Condição aceita. Para te dar essas informações, serão descontados cinco anos da sua vida — declarou a jovem, com uma voz mecânica.

    Que tipo de brincadeira é essa?

    — Isso é um absurdo! Cinco anos?!

    — É o preço para responder suas perguntas e manter sua consciência estável aqui.

    — Devia ter me avisado antes!

    — Você disse que contanto que não tira-se sua vida…

    Ele a encarou por alguns segundos, furioso. Mas logo desviou o olhar, constrangido. Ela era linda demais para ele conseguir dizer qualquer palavra de baixo calão.

    — Deixa pra lá, só responde minhas perguntas…

    — A primeira coisa que precisa saber é que… Eu sou uma espada. Fui criada pela Deusa da Guerra, Íris, para salvar o mundo do Rei Demônio, que em breve trará destruição a esse planeta.

    — Calma… foi muita informação de uma vez. Você é uma espada?!

    — Sou. Mas não posso revelar minha verdadeira forma a você sem um contrato.

    É por isso que ela me chamava de humano…

    — Ok… continue.

    — Como eu dizia, sou uma espada sagrada. Preciso de um mestre para me empunhar. E você foi o escolhido.

    — Por quê eu?

    Então, ela se ajeitou na cadeira de madeira, repousando as mãos sobre o colo.

    — O antigo dono desse corpo me encontrou presa no chão de uma caverna. Ao me tocar, ele foi marcado pela Deusa. Mas, por causa da deficiência de mana dessa criança, não conseguimos nos conectar.

    A jovem, fez uma breve pausa, olhando diretamente para ele.

    — Quando ele faleceu, sua alma ocupou esse corpo. Por esse motivo, tenho acesso a todas as suas memórias e, ao mesmo tempo, a deficiência sumiu… não sei ao certo o motivo. Porém, foi dessa forma que consegui me conectar com você e te salvar anteriormente, emprestando meu poder.

    Então, foi assim que consegui sobreviver…

    — Mas como é essa marca?

    — Você ainda não consegue vê-la por falta de treinamento com a mana. Mas, quando estiver mais experiente, verá uma pequena linha horizontal esbranquiçada nas costas da sua mão direita.

    Ele olhou para a mão, curioso.

    — Entendo…

    — Por fim, esse lugar se chama Plano Mental. É um espaço dentro da sua alma. Foi criado com o propósito de eu me comunicar com você e fazer o que for necessário para te manter vivo… Até que aceite fazer o contrato de mestre e servo comigo.

    Se eu não tivesse lido tanta fantasia, estaria perdido…

    — Você insiste que precisa me manter vivo… mas quando eu sair daqui, provalmente vou morrer pra aquele gigante. O que vai acontecer com você?

    — Com a marca, mesmo sem contrato, ainda estamos ligados. Se você morrer, eu desapareço.

    Cruel, essa Deusa…

    — Se eu aceitar esse contrato, o que eu ganho?

    — Os benefícios são inestimáveis, mas o mais notório é que você se tornará o homem mais poderoso do mundo.

    — Então, vá ao ponto. Quais são as condições?

    — Você perderia sua humanidade se tornando um desastre ambulante por onde passase. Sua única missão seria matar o Rei Demônio.

    — Hah. Sabia que tinha uma armadilha. Sem chance. Já perdi tudo na outra vida. Agora, quero viver essa nova vida sem arrependimentos.

    — No entanto, ainda há uma opção. Um acordo. Sem contrato, mas com benefícios para ambos.

    — Estou ouvindo…

    — Lembra da última vez que emprestei meu poder a você? Sua mana aumentou, seus sentidos ficaram aguçados, e sua força física explodiu.

    — Claro que lembro… esse poder ainda está fluindo em mim.

    — Esse poder se chama Booster. O acordo que proponho é te vender esse Booster. Se você ficar mais forte, poderá sobreviver a qualquer perigo e quem sabe não precisará do contrato.

    Suspeito… ela parece com alguns sujeitos, que vinham querendo fazer contratos exóticos comigo, mesmo que parecesse algo incrível sempre tinha algo por trás.

    — E como posso comprar esse Booster…? Não me diga que…

    Pela primeira vez, ela sorriu. Um sorriso sutil.

    — Sim, com sua vida. Pode pagar em segundos, minutos, horas… ou anos. Quanto maior o tempo, maior o Booster. Porém, tem outra exigência, além do tempo, precisa oferecer seu sangue para a transferência.

    Nesse momento, uma xícara de chá surge gradualmente na mão da jovem. Com calma, ela leva a borda aos lábios e toma um gole.

    — Se abusar, fazendo muitas compras em pouco tempo, pode te levar a morte hemorrágica interna. A boa notícia é que, o Booster é permanente.

    Viu só! Esse acordo é o mesmo que uma espada de dois gumes…2

    — Já perdi cinco anos… No entanto, se eu não comprar, morro do mesmo jeito. Quanto preciso pra derrotar o gigante e o sujeito sentado na pedra?

    — O gigante exige um ano. O outro… dez anos.

    — Droga. Dez anos é demais. Um ano basta.

    — Tem certeza?

    — Sim. Não vou enfrentar aquele maluco da pedra. Só preciso fugir com minha colega de equipe. E Antes de você me dar o booster, além de espada… Você tem algum outro nome?

    — Ainda não. Só poderei ter um quando você se tornar meu mestre. Contudo, pode me chamar de “Chefe”, se preferir. Peguei isso das suas memórias e gostei da sonoridade.

    Chefe…? Jaro reflitiu, envergonhado.

    — De qualquer forma… É um prazer te conhecer, Chefe. Acredito que vai ser bem intenso fazer negócios com você — falou Jaro, sorrindo e estendendo a mão para um aperto, que ela retribuiu.

    — O prazer é meu, Senhor Jaro. Apenas sobreviva…

    — Irei.

    Num abrir e fechar de olhos. Jaro, voltou a realidade e foi jogado brutalmente por Theo no chão. O impacto rachou o solo e levantou uma nuvem de poeira.

    — Esse imbecil exagerou. Se ele tiver matado o garoto, eu mesmo acabo com ele — murmurou Oswin.

    Merda, exagerei… espero que ele tenha sobrevivido… Pensou Theo.

    A fumaça se dissipou, no entanto Jaro não estava no local do impacto, deixando o gigante surpreso.

    — Cadê esse pirralho?!

    — ATRÁS DE VOCÊ, IDIOTA!! — gritou Oswin.

    Tarde demais. Antes que pudesse se virar sentiu uma dor aguda no estômago. Ao olhar pra baixo, viu um braço atravessando seu corpo e sangue jorrando no chão.

    — Engraçado… achei que seu corpo fosse mais resistente.

    — C-c-como… v-você?

    — Por que um cadáver precisaria saber disso?

    Jaro retirou o braço de dentro do corpo do gigante, que caiu lentamente, desfalecendo.

    — D-desgraçado…

    Antes de o gigante cair no chão, o garoto saltou até Alice e a pegou nos braços.

    — Como prometido… — sussurrou Jaro.

    Contudo, nesse momento, Jaro sentiu uma pressão mágica absurda sobre seu corpo. Era aura!

    Merda!

    Ele virou a cabeça com dificuldade. O homem sentado na pedra era a fonte dessa mana avassaladora.

    O rosto de Oswin era indescritível como o de um lobo olhando para uma ovelha. Ele se levantou e começou a bater palmas.

    — QUE DIA MAGNÍFICO!!! Quem diria que fui caçar um pequeno coelho e achei um grande e feroz Leão! Diga-me leão, qual é o seu nome?

    — Vai pro inferno.

    — Não seja tímido. Eu vou apenas saborear um pouco da sua mana.

    Oswin caminhava em direção a Jaro, que estava imóvel. Ele não conseguia se mover, não por causa da aura poderosa do inimigo, com esse Booster que recebeu, mesmo a aura de um poderoso professor ou guarda não o imobilizaria. No entanto, Oswin era mais rápido e forte. A distância era curta entre eles, um único passo em falso, e Jaro estaria morto antes mesmo de entender o que aconteceu.

    Fui ingênuo. Achei que conseguiria fugir. Devo comprar outro Booster? Pensava, nervoso.

    Não tem outro jeito, Chef—

    Antes que pudesse concluir o pensamento, uma explosão enorme aconteceu bem ao seu lado. E ele foi arremessado contra a parede como um boneco. Instintivamente, abraçou Alice com força, virando o corpo para protegê-la do impacto.

    O que é isso agora?!

    Uma aura tão poderosa quanto a de Oswin havia chegado ao local. Mas, essa mana3era familiar para o garoto.

    — Finalmente, seu merda… — murmurou Jaro.

    1. ou cabelos brancos[]
    2. A expressão “espada de dois gumes” significa algo que pode ter efeitos positivos e negativos ao mesmo tempo[]
    3. Aura é a manifestação da mana podendo ser usada de maneira ofensiva ou defensiva.[]
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