Capítulo 21 - Mago
— Pensei que precisava de mim, mas, pelo jeito, já resolveu tudo, hein — ironizou Jason.
O professor observava Jaro, ainda mais coberto de sangue e machucados do que antes, segurando uma garota nos braços que, aparentemente, era a jovem que Peter tinha descrito.
Ele também notava a destruição por toda a instalação abandonada de concreto, além de Cedric, o sujeito mais magro, desacordado, e Theo, um gigante de dois metros e meio, caído com um rombo no estômago.
Inacreditável… esse moleque é mesmo um aprendiz de terceiro grau?
— V-v-vocês estão bem? — perguntou Peter, saindo da sombra de Jason.
— Não pior que Alice. Precisamos levar ela a um mago de cura rápido. Ela já perdeu muito sangue.
— O-o-o que aconteceu?
— É uma longa história…
— Não se preocupe. Quando sairmos daqui, vamos levá-la pra o melhor mago de cura do Distrito Azul — respondeu Jason, despreocupado.
— O-obrigado… — disse Jaro, aliviado.
Fitando Oswin, Jason mencionou: — Humf. Vocês são bem azarados de se meter logo com esse maníaco.
— Hahaha. Professor Jason. O que faz aqui? Tá atrapalhando o clima — exclamou Oswin, sorrindo.
Jason começou a coçar a orelha, e assoprando o dedo sujo afirmou: — Você atrapalhou minha meditação.
— C-como?
— Não tinha como não ouvir essa barulhada.
Oswin, olhou em direção a Jaro.
Aquele jeito de lutar destrutivo… Esse garotinho fez tudo de propósito! Jaro sorriu de volta pra Oswin, como se soubesse exatamente o que ele estava pensando. Incrível… Não paro de me interessar por você leozinho.
De repente, a aura negra de Jason engoliu o ambiente, deixando Jaro e Peter paralisados diante de tanto poder!
Que mana absurda! Pensou Jaro.
Esse é o poder de um professor…? Reflitiu Peter, quase sucumbindo1 ao chão.
— Oswin, é melhor me explicar como meus alunos ficaram nesse estado.
— Eu só tava me divertindo um pouco com eles, nada demais.
— Eu sei que você é lunático, mas não achei que seria louco o bastante pra mentir pra mim!
Trevas densas cobriam o corpo do jovem professor e seus olhos eram como raios negros.
Mesmo que eu seja um rank acima desse verme, ele ainda é dezenas de vezes mais forte. Preciso ter cuidado. Pensou Oswin, soando frio, sentindo a mana pesada de Jason.
— Você me pegou… Porém, deveria olhar melhor a situação. Foram seus alunos que mexeram com os meus colegas.
Oswin apontou para seus colegas com a mão e fez uma expressão triste.
— Um deles até morreu… Como vou contar isso pro mercador dele?
— Maldita raposa — Jason murmurou, irritado.
— Você não acha que foram seus alunos que causaram mais estrago? Mas olha… pra evitar dor de cabeça pra vocês e pra mim… que tal fingirmos que nada aconteceu?
Jason olhou pros seus alunos, avaliando a situação.
Se eu entrar em uma batalha com esse patife, infelizmente o confronto vai pegar esses três. E aquele velho rabugento não vai deixar barato se eu matar esse maldito.
— Tem razão… No entanto, espero que não mexa novamente com meus pirralhos. Talvez eu não tenha a mesma paciência da próxima vez.
— Claro, claro… Como eu poderia desobedecer as ordens de um professor? — respondeu Oswin, abaixando a cabeça em respeito.
— Venham, garotos. Precisamos levar essa garota logo pro mago — ordenou Jason.
— Tchau, tchau. — Oswin se despediu, enquanto pegava Cedric, ainda desmaiado, e saía do lugar, abandonando o corpo falecido de Theo. Mesmo assim, percebeu que Jaro o encarava com uma fúria intensa e, na verdade, ele adorou aquele olhar. Mal podia esperar pelo próximo encontro.
— M-m-mestre… vai deixar eles irem assim? Com seu poder, eu tenho certeza que você derrotaria ele fácil!
Mestre?! Pensou Jaro, surpreso.
— Quem sabe… Mas, se lutássemos aqui, com certeza vocês morreriam.
Jaro e Peter ficaram em silêncio, pensando a mesma coisa: Que tipo de luta séria é essa…?
— Vamos logo. É… Jarro, Consegue carregar ela até o prédio dos professores?
— É Jaro… E eu consigo, senhor.
— Ótimo. Espero que, pelo caminho, você me faça um relatório de tudo que aconteceu.
— Sim senhor.
Antes de partirem, Jaro rasgou pedaços da própria roupa pra estancar os sangramentos de Alice. Em seguida, ouviu a voz da Chefe em sua mente.
Senhor Jaro… Mesmo que ela pareça estável, os danos dela são mais sérios do que parecem. Se não derem uma poção de cura ou a levarem a um mago médico, ela morrerá em dois minutos.
Jaro, ao ouvir isso, ficou pálido.
Todavia, respirou fundo e manteve o controle.
Tem alguma forma de salvá-la?
Tem. Se você me permitir absorver um pouco da sua vitalidade, posso mantê-la viva por mais algumas horas.
Jaro suspirou, meio decepcionado, parecia que sua vida havia se tornado uma moeda em que ele usava pra comprar benefícios.
De quanto precisa?
Uma hora da sua vitalidade é o suficiente
Tudo bem… Pode pegar.
Na mesma hora, Jaro sentiu sua energia vital se esvaindo, junto de uma leve tontura.
Pronto. Curei os ferimentos. Mas ela ainda precisa, urgentemente, de uma transfusão de sangue.
Jaro percebeu que a respiração de Alice estava bem mais leve e tranquila.
Obrigado, Chefe. Vou apressar o passo. Mas me responde uma coisa… Isso foi magia de cura?
Sim, é uma das ramificações da magia de cura.
Muito útil… Pena que exige minha vitalidade pra funcionar.
É só fazer um contrato comigo que esse problema acaba.
Ainda estou são, Chefe. Jamais aceitarei esse contrato.
Nunca diga nunca…
O que… tô nos braços dele? Espera… ele derrotou aqueles caras sozinho?! Talvez ele não seja tão ruim assim… Pensava Alice, que havia acordado minutos depois da magia da Chefe, mas preferiu fingir que estava dormindo, envergonhada de estar nos braços de Jaro.
No caminho até o prédio dos professores, Jaro contou tudo que aconteceu pra Jason, óbvio pulando a parte da Chefe. Jason desconfiou um pouco, mas preferiu não pensar demais, isso só traria dor de cabeça.
Quando chegaram na recepção…
— M-m-mestre é verdade que Elise é a melhor maga do distrito azul? — indagou Peter.
Porra… Esqueci de avisar que era pra manter esse nome em segredo… Jason pensou, tenso.
Elise que mexia num computador velho, ouviu claramente o comentário do aluno, e todos perceberam os cliques no teclado parando.
— Fico curiosa de como um mero aluno ficou sabendo que eu sou uma maga de cura… Sendo que só você sabe disso, Jason — disse Elise, com uma expressão nada amigável.
— Foi mal… Eu te compro aquele seu doce favorito depois.
— De jeito nenhum. Você vai comprar o que eu quiser!
Jason suspirou.
— Beleza…
Bandida…
— Enfim… Dá uma olhada nessa garota — pediu Jason.
Jaro se aproximou, segurando Alice. Rapidamente, Elise analisou ambos.
Esse garoto… mais uma vez coberto de sangue. É impressionante a facilidade que ele tem em se enfiar no meio de batalhas. Pelo menos, consumiu a Goma de Ouro que lhe entreguei. Isso deve mantê-lo de pé… Mas essa garota…
Elise arregalou os olhos, tomada por um choque repentino.
Magia de cura…?
Seus olhos se voltaram imediatamente para Jaro o verificando.
Isso não faz sentido. Ainda assim… não há outra explicação. As lacerações profundas, as hemorragias internas… Até os ferimentos mais superficiais desapareceram por completo. E essas partículas recentes de mana sobre o corpo dela… São rastros de uma magia avançada recém-utilizada. Esse moleque é um mago de cura!
Ela levou a mão à testa, sentindo a tensão latejar em sua mente.
Isso é um problema sério. Se alguém além de mim descobrir… as consequências pra esse garoto serão devastadoras. Inaceitável! Não posso perder um mago de cura! Não tenho escolha, preciso confrontá-lo pra saber a verdade. E rápido.
Encarando Jaro e Peter, ela os ameaçou: — Não existe nenhuma maga de cura, entendido?
Eles sentiram um arrepio estranho, então responderam assustados: sim, senhora!
— Muito bem… Tomate. Me siga. Ela precisa de uma transfusão de sangue, e você de pontos.
Tomate…?
— Certo… Nos vemos depois, Peter. E obrigado, Jason. Sem você não teríamos sobrevivido.
— T-tudo bem…
— Anda logo — mandou Jason, dando um chute leve em Jaro, impaciente.
— Porque agredeci? Algum dia vou dar uma surra nesse desgraçado! — resmungou Jaro, a medida que seguia Elise.
— E-e-eu vou avisar a minha equipe. Acho que ainda tão procurando ela…
— Tá. Vai pela sombra, e não esqueça nosso cronograma, se você esquecer eu te mato — bocejou Jason ao falar.
Como ele pode falar uma coisa tão terrível, enquanto boceja?
— E-e-entendido!
Peter, se curvou em respeito e saiu atrás dos membros de sua equipe. Jason seguiu em direção ao elevador, relembrando o que aconteceu entre ele e seu recente discípulo.
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— Seja meu discípulo.
O silêncio tomou conta da sala. Peter ficou imóvel, olhando pro mestre sem saber o que dizer. As palavras não entravam na cabeça dele. Por um segundo, achou até que tinha escutado errado.
— M-m-mas… você já não é meu professor? — perguntou, confuso.
O mestre ficou em silêncio por alguns segundos, depois respirou fundo, então respondeu olhando direto nos olhos do garoto: — Sou. Mas só ensinarei o básico que todos os outros alunos também irão aprender: postura, defesa, visão de batalha, golpes simples. Contudo, ser meu discípulo é um assunto diferente.
— Peter, eu pessoalmente vou te ensinar tudo o que sei. Cada técnica que aprendi, cada estratégia, cada erro que cometi. E também vou te ensinar a suportar as loucuras desse mundo. Porque é isso que define a relação entre Mestre e Discípulo — completou.
Peter sentiu um nó na garganta. As lágrimas começaram a cair antes mesmo dele perceber.
— Por que tá chorando, garoto?
Enxugando o rosto, Peter tentou se explicar, mas a voz falhava: — É-é-é que… eu nunca… nunca tive uma oportunidade dessa. Nunca imaginei que alguém… acreditaria tanto em mim.
— Se for molenga desse jeito não vai durar muito tempo no Distrito Azul. Precisa ser forte, porque o que vem pela frente não vai ser fácil.
Peter, fechou o punho e bateu com toda força que tinha no seu peito esquerdo e respondeu sem hesitar: — eu aceito ser seu discípulo!
— Ótimo! É assim que se deve falar.
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Jason, com uma expressão serena no rosto, observava ao longe o pôr do sol pela janela de sua sala, ao mesmo tempo em que refletia em silêncio, o horizonte repleto de nuvens e o céu tingido de tons alaranjados parecia combinar com o peso dos pensamentos que ele carregava.
Mestre Ezrak, estou contente… Chegou a hora de passar adiante seus aprendizados.
- Ou caindo. [↩]
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