Capítulo 23 - Cron

Após alguns minutos de conversa sobre assuntos triviais, a equipe Fantasma foi interrompida por Elise, que entrou na sala, analisando Jaro e Alice atentamente e declarou que ambos já estavam bem, liberando-os.

Posteriormente, todos seguiram em direção ao ponto de teleporte. Conforme Elise havia explicado anteriormente, a líder da equipe: Vitória, deveria pressionar um botão metálico.

Assim ela fez, ao apertar, logo acima, surgiu uma tela exibindo as imagens de todos os integrantes, acompanhados de seus codinomes e uma contagem regressiva de 10 segundos para o teleporte ser iniciado.

Em seguida, surgiu um alerta em vermelho:

É recomendável que permaneçam imóveis. Movimentos bruscos podem causar acidentes e até mesmo levar à morte.

A equipe sentiu um leve desconforto, mas limitaram-se a fechar os olhos e torcer para que tudo ocorresse bem. Quando os abriram novamente,
encontravam-se em uma vasta biblioteca repleta de livros. À esquerda, a alguns metros, estava sentado na recepção um homem de cabelos brancos e olhos amarelos.

— Senhor Raizen? — perguntou Jaro.

Que surpresa… jamais imaginei que tentariam enviar outro grupo de jovens para cá, principalmente depois daquilo. E este garoto novamente… O destino, por vezes, é caprichoso. Pensou Raizen.

— Número 102… Ah, esqueça. Não ligo pra regras idiotas. Posso chamá-lo de Jaro, correto?

— Claro, como preferir.

— Muito bem. Aproximem-se.

— E-e-ele não parece perigoso? — sussurrou Peter, apreensivo.

— V-verdade, há algo estranho na aura dele — comentou Taylor em voz baixa.

— E-ele é também é um guarda? — disse Vitória.

— V-você o conhece Jaro?

— Acredito que ele não é guarda, e digamos que o já vi…

Todos sentiram uma presença incômoda emanando de Raizen. Em contraste, Jaro parecia alheio, quase indiferente. Conforme se aproximavam, a sensação de inquietação se intensificava. Ninguém, exceto Jaro, ousava encarar Raizen diretamente.

— Vamos ver… Se está tudo em ordem — disse Raizen, segurando uma folha com as informações e fotos de cada membro da equipe. Ele os observou com um olhar penetrante, provocando uma ansiedade crescente. Subitamente, a sensação estranha cessou.

— Me desculpem, camaradas. Provavelmente sentiram algo desconfortável. Estava usando uma magia de detecção, apenas para garantir que ninguém entre vocês estivesse disfarçado… ou fosse um demônio. Hahaha.

Todos suspiraram aliviados, embora pensassem silenciosamente: Como Jaro conseguiu manter a calma diante disso?

— Podemos ir, então? — perguntou Jaro.

— Certamente. Sempre que desejarem retornar à base, basta virem até aqui e eu ativarei o teleporte. Não se preocupem com horários; esta biblioteca permanece aberta 24 horas por dia, todos os dias.

— Entendido.

Todos se curvaram em respeito e logo após, chegaram a uma praça ao ar livre.

— Finalmente, de volta à superfície — comentou Alice, respirando fundo.

— E agora? O que farão? — indagou Taylor.

— Pretendo meditar e me preparar para a aula de amanhã. Vou retornar aos dormitórios — disse Vitória.

— E-e-eu preciso fazer algumas compras — respondeu Peter.

— E eu urgentemente preciso comer algo — falou Alice, olhando para Taylor. — Me acompanha?

— Não tenho nenhum compromisso… — Ele coçou a cabeça. — Pode ser.

Alice segurou o braço de Taylor e o puxou com leveza.

— Nos vemos depois, pessoal — disse Taylor enquanto se afastavam.

— Dois já se foram. E você, Jaro? — perguntou Vitória.

— Hmm… vou acompanhar Peter. Também estou pensando em comprar algumas coisas.

— Tudo bem, até mais então.

— Mas… não havíamos combinado de nos manter em duplas?

— Suponho que sou a exceção a essa regra. Afinal, sou a líder. Acredito que não preciso esconder isso de vocês.

Naquele momento, Jaro sentiu a mana de Vitória se intensificar de forma abrupta. Ele sentiu que ela estava no mesmo nível de Theo e talvez até mais poderosa.

— Impressionante… como consegue esconder sua mana com tamanha maestria? — perguntou Jaro, impressionado.

— É um dos meus segredos. Bem, estou de saída. Divirtam-se, garotos.

— Valeu, eu acho… Ei, Pete—

Peter já havia começado a andar, aparentemente ignorando Jaro. Mas não por malícia, porém porque era extremamente tímido, ainda mais diante de alguém a quem admirava. Jaro, no entanto, não se importou. Apenas o seguiu. Como ex-milionário, estava ansioso para entender melhor a economia desse mundo.

Eles pararam em uma fachada que possuía um estilo medieval, com um letreiro escrito em um idioma que Jaro não compreendia. Mas ao entrarem, ele ficou completamente paralisado.

Diversos hologramas flutuavam exibindo anúncios e informações. Estantes bem organizadas exibiam uma variedade de produtos alimentícios, todos com preços destacados em caixas de mensagens holográficas. Jaro se sentia em êxtase. A tecnologia daquele mundo parecia muito mais avançada que a da Terra.

Aproximando-se das estantes, ele observava os produtos como um animal curioso. Os outros clientes notavam seu comportamento incomum. Ele apenas se perguntava internamente: Como tudo isso funcionava?

Ao longe, Peter terminava comprava alguns alimentos e pensava no que conversar com Jaro e tentava encontrar coragem para puxar assunto. Ao notar que ele estava chamando atenção, Peter sentiu um pouco de pena.

Será que ele é o tipo de pessoa que nunca teve contato com o mundo exterior? Pensou Peter.

O jovem de cabela de tigela, então se aproximou.

— Esse é o sistema holográfico universal chamado Halo. Você não o conhece?

— Pra ser sincero… não. Bati a cabeça muito forte há algum tempo. Pode me explicar o que seria esse sistema?

Será que foi numa batalha? Pensou Peter, com olhos brilhando.

— O sistema Halo surgiu na Era dos Mercadores, mas seu projeto original remonta à Era Primordial, idealizado pelo Elfo Sábio Erdin. Quando os anões encontraram os projetos em uma palácio das antiguidades, conseguiram desenvolvê-lo. Desde então, três das quatro nações o utilizam, com exceção da nação dos Espíritos

— Ele é usado para quase tudo: armazenamento de dados pessoais como nome, idade, local de nascimento, profissão e antecedentes criminais, além de permitir transações financeiras, como receber salários ou comprar produtos.

*Ele não era gago? Talvez só gagueje por nervosismo… E também parece gostar de tecnologia tanto quanto eu, Pensou Jaro. *Que bom… Ia ser endediante não ter nenhum amigo por aqui.*

— E como funciona exatamente? — questionou.

— É um pouco complicado de explicar… Posso te indicar alguns livros, mas em resumo, utiliza runas. Por exemplo: você só consegue ver os preços e os anúncios holográficos graças ao seu bracelete — disse Peter.

— Sério?

— S-sim. Ele está um pouco desgastado, mas ainda parece funcional. É uma pena porque é um modelo bem caro.

Aquele maldito poderia ter me avisado da importância disso! Ao invés apenas me jogar como se fosse qualquer coisa. Pensou Jaro, encarando seus dois braceletes. Lembrando da primeira pessoa que o agrediu nesse mundo: Ryan.

— Para acessar suas informações, basta focar na palavra Halo. O conteúdo aparecerá automaticamente diante de você.

Jaro obedeceu e, de imediato, uma interface surgiu em sua frente:

[Situação: Vazio
Pendências: ?
Acesso: Verde
Banco: 10.000 Crons]

— Ok, Algumas informações apareceram aqui — disse, ainda surpreso.

— Então, qual é a sua situação?

— Vazia…

— Entendo… Isso significa que você ainda não registrou nenhuma informação. Para isso, basta ir até um cartório. E quanto você possui em Crons?

— Dez mil Crons.

Peter pareceu incrédulo.

— D-d-dez mil?

Está gaguejando de novo… Pensou Jaro.

— O que seria o Cron?

— Ah, é verdade… Você não sabe como as coisas funcionam. O Cron é a moeda mundial das três nações. Dez mil Crons equivalem a uma moeda de ouro. É uma quantia considerável, representa o salário anual de um trabalhador comum. Por isso, minha surpresa.

— Realmente é muito.

— Você mencionou que pretendia comprar algumas coisas. Posso ajudá-lo, se quiser.

— Ajudaria muito, estou pensando em adquirir uma máscara decente para substituir esse pano velho que improvisei. Talvez também uma arma, algumas poções, uma lanterna… e provisões.

Jaro falou tudo aquilo, mas nem tinha certeza se aquele mundo realmente possuía lanternas. Estava apenas seguindo sua intuição.