Capítulo 25 - Cansaço
Após a indicação de Peter, os rapazes pararam diante de uma construção simples, feita de madeira e janelas empoeiradas.
Ao entrarem, se depararam com um anão, forte e de expressão séria. Ele usava uma grossa coleira de aço e estava de pé, de braços cruzados, atrás de um balcão velho.
O ambiente exalava um cheiro forte de ferro, couro e fuligem. Espalhadas pelo chão e em prateleiras desorganizadas, havia espadas, escudos, arcos, bestas e enormes martelos de guerra.
— E-ei Drogan — disse Peter.
— Você de novo, moleque?
— S-sim… mas desta vez vim acompanhado de um amigo.
Drogan estreitou os olhos e lançou um olhar desconfiado a Jaro, avaliando-o em silêncio.
— O que desejam?
— Estou à procura de uma máscara… e de uma espada — respondeu Jaro.
— Hm… espero que tenham dinheiro — murmurou o anão, virando-se para o depósito abarrotado de peças e itens esquecidos. Mediante a certo esforço, puxou uma velha caixa de madeira e a colocou sobre o balcão. — Estas são as únicas que tenho. Foram forjadas em inspiração no yin e yang.
Dentro da caixa repousavam duas máscaras contrastantes.
A primeira, negra. Seus traços eram inspirados em demônios orientais: a expressão era feroz, os olhos estreitos e agressivos, e o acabamento, opaco e uniforme. Cobrindo inteiramente o rosto, deixava visível apenas o olhar do portador.
A segunda, branca, possuía traços igualmente marcantes, mas com uma imponência serena. A superfície era polida e clara, com linhas rígidas que remetiam a uma figura sagrada e autoritária. Assim como sua contraparte, ocultava o rosto por completo, revelando apenas os olhos.
— São magníficas. Comprarei ambas — declarou Jaro, sem hesitar.
— Custam cinquenta peças de prata.
Idiotas… duvido que tenham dinheiro para pagar por essas obras-primas Pensou Drogan.
— Claro.
O quê?!
— Vai mesmo comprar? — perguntou o anão, sem esconder o espanto.
— Por que não? São lindas.
Os olhos de Drogan se estreitaram ainda mais.
Como esses dois fedelhos conseguiram tanto dinheiro? Quando aquele pirralho de cabelo de tigela veio aqui, passou horas gaguejando, fazendo perguntas idiotas e saiu de mãos vazias! Só não o agredi por causa dessa maldita coleira…
— N-nada… — disse, disfarçando o entusiasmo. Esfregou as mãos como quem já antevia um lucro inesperado.
Jaro pegou ligeiramente uma adaga que repousava sobre um mini barril ao lado do balcão e a cravou no balcão, rente ao anão, marcando profundamente a madeira.
— Contudo… espero que o preço seja realmente justo, porque pretendo levar as peças a um avaliador após a compra.
Nesse instante, uma parcela da mana de Jaro escapou de seu controle, e a atmosfera da loja pareceu pesar sobre os ombros de Drogan como uma âncora.
— S-senhor… sendo sua primeira compra, posso fazer por dez peças de prata! Hahaha… um desconto especial!
— Que generosidade a sua. Agora, traga espada… e, se tiver, duas adagas pequenas.
— P-pra já!
Nunca vi alguém dominar um anão desse jeito… Que estranho. Refletiu o jovem Peter.
Ao deixarem a loja, Jaro ainda possuía cerca de dois mil crons.
— Pegue — disse, estendendo a máscara negra.
— Sério? Não precisava…
— Costumo seguir minha intuição. E, por alguma razão, sinto que ela deve pertencer a você.
— C-certo… muito obrigado — respondeu Peter, fazendo uma leve reverência.
Então, ambos colocaram as máscaras.
— Ficou incrível em você! — comentou Peter, sorrindo.
— Valeu. Você também ficou ótimo.
Em seguida, enquanto batiam um papo caminharam juntos até os dormitórios. Após deixá-lo no quarto 200, Jaro se dirigiu ao próprio aposento. Contudo, ao se aproximar, notou uma silhueta feminina encostada à parede, diante de sua porta.
— Lila?
— Ouvi algumas coisas interessantes do subterrâneo… conte-me tudo. E não omita nenhum detalhe.
Jaro suspirou.
Ela parece irritada… melhor não contrariá-la.
Relatou, então, os eventos recentes: sua batalha rápida contra Sam, a apresentação dos professores, a punição de Kyle, e principalmente o sequestro de sua nova colega de equipe e como a resgatou.
Lila bufou com desgosto.
— Aquele idiota… venha. Precisamos ir a um lugar.
— C-como assim? Ir para onde? Eu deveria descansar e…
Antes que pudesse concluir a frase, Lila o tomou nos braços com agilidade.
— Vamos além das muralhas.
— Ei, me escuta! Eu preciso descansar!
Ela ignorou seus protestos. Em questão de segundos, já estavam fora do prédio, e Jaro mal conseguia acompanhar com os olhos o ritmo veloz com que a guerreira percorria os telhados e estruturas do Distrito Azul.
Num salto preciso, ela escalou a muralha que cercava o distrito e, usando a própria estrutura como apoio, desceu até o outro lado, aterrissando com destreza. Sem cerimônia, lançou Jaro no chão.
— Pensei que fosse morrer! Você é completamente maluca!
Ao se levantar, Jaro percebeu que estavam no meio de uma floresta imensa, envolta pela escuridão da noite. As árvores ao redor eram altas e grossas, com troncos cobertos de musgo e galhos que se estendiam como braços, formando um teto natural sobre suas cabeças.
— Pelos próximos dois dias, eu mesma treinarei você.
— Mas… o Sr. Kyle ordenou que eu partisse em viagem amanhã pela manhã.
— Hã? O que aquele idiota diz não importa. Assim que soube da ordem, fui direto falar com o mercador Kao. Ele garantiu que conseguiria ao menos dois dias para que eu o treinasse.
— Entendi… então estou sob seus cuidados. — Jaro curvou ligeiramente a cabeça e retirou a espada da cintura, pousando-a no chão ao lado dos sacos acompanhados dos itens que havia recém comprado.
Lila, por trás da máscara, esboçou um sorriso.
— Você entendeu rápido o espírito da coisa. E a melhor forma de aprender rápido… é apanhando.
— Não seria aprendendo? — sussurrou pra si.
Ao empunhar a espada, Jaro sentiu um misto de excitação e nervosismo.
É a primeira vez que seguro uma espada… ela é mais pesada do que imaginei. Mas a sensação… é extraordinária.
Lila desembainhou sua própria lâmina e apontou-a na direção dele. A aura que emanava de seu corpo era sufocante, quase comparável à de Jason ou Oswvin. O instinto de fuga o dominava, mas Jaro se manteve firme. Se queria sobreviver, teria que enfrentar o medo, custasse o que custasse.
— Número 102, a primeira lição que deve gravar: a espada é uma extensão do seu corpo. Antes de controlá-la, precisa aprender a controlar a si mesmo.
Antes que percebesse, Lila desapareceu de seu campo de visão. Mas, graças aos reflexos aguçados que desenvolveu nas batalhas anteriores, Jaro conseguiu prever o golpe vindo pela lateral esquerda. Ele mal teve tempo de levantar a lâmina. O impacto foi brutal e seu corpo inteiro estremeceu.
Lila continuou o ataque, golpe após golpe. Jaro mal conseguia manter a espada em mãos, até que—
THUD!
Após um golpe mais potente, Lila desarmou-o por completo. A espada caiu pesadamente no solo.
— Segunda lição: jamais perca sua espada. Para ser sincera, esperava mais de você… Não pensei que fosse tão fraco.
Jaro caiu de joelhos, de cabeça baixa.
O que estou fazendo? Merda! — Pensou, socando o chão com raiva. Eu não tenho outra escolha! Eu PRECISO ficar mais forte!
Novamente agarrou a espada, levantou-se e investiu contra Lila com um golpe poderoso, mas desajeitado. Ela precisou bloquear e, por um instante, pareceu surpresa. As espadas se chocaram, e com elas, as auras também colidiram, gerando uma rajada de vento em torno dos dois.
— Eu realmente não sou o que você esperava… mas tudo o que conquistei até hoje foi me esforçando! E isso não vai mudar agora!
— Boa resposta — murmurou Lila.
Eles voltaram a se enfrentar. Jaro atacava com cortes horizontais e verticais, sem técnica refinada, mas com toda força que tinha. Lila defendia com leveza e esquivava-se com precisão. Em um movimento rápido, desviou do golpe reto de Jaro e contra-atacou com um chute certeiro no estômago, fazendo-o tombar e vomitar.
No entanto, desta vez, ele manteve a espada firme em mãos.
— Vamos se levanta, ainda temos a noite inteira.
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