Depois de uma hora lutando com toda a sua força, Jaro chegou à exaustão e caiu no chão. Então, Lila disse que fariam uma pequena pausa de cinco minutos para que ele pudesse se recompor.

    Eu não fazia ideia de que tinha tanto vigor… Graças isso consegui aprender muito até aqui. Pensava Jaro, enquanto bebia água em um cantil.

    — Você se sente melhor?

    — Sim. Por favor, continue me ensinando.

    — Ótimo. Mas, em vez de continuarmos lutando, você precisa primeiro aprender a se manter de pé.

    Jaro arqueou uma sobrancelha.

    — Ficar de pé…? — perguntou.

    — Sim. Postura e equilíbrio. Sem isso, qualquer golpe vai ser inútil.

    Ela se aproximou tranquilamente e, com a ponta do dedo, tocou o ombro de Jaro, fazendo-o perder o equilíbrio por um segundo.

    Que força assustadora…

    — Sua base é fraca.

    — Eu só não estava esperando…

    — Inimigos nunca avisam. Agora, pise firme, como se o chão fosse ceder a qualquer momento e…

    E o garoto foi seguindo as sugestões da jovem Lila. Firmou os pés no chão, afastando-os à largura dos ombros para garantir equilíbrio.

    Empunhou a espada com ambas as mãos e a dominante no punho e a outra logo abaixo, mantendo a lâmina inclinada à frente do corpo, com a ponta levemente erguida.

    Ela caminhou em volta dele, observando cada ajuste.

    — O centro do seu corpo está aqui — falou, tocando levemente a região do abdômen. — Seu equilíbrio começa aqui.

    — Entendi…

    — Ainda não. — Ela ergueu a espada, convidando Jaro pra um confroto. — Me ataque.

    — Certo!!

    Jaro, avançou em um golpe direto. Porém, sua postura ainda estava desalinhada, e Lila, desviou facilmente e encostou a lâmina em seu pescoço.

    Ele parou de hesitar. Pensou Lila, sorridente.

    — Não adianta brandir a espada com força se seu corpo balança como folha ao vento… Além disso, seu centro de gravidade estava alto demais. Você atacou com os braços, mas esqueceu as pernas. Um golpe não começa com os braços… Começa com os pés.

    — Difícil…

    — É por isso poucos sobrevivem no campo de batalha. Contudo, se você aprender a se mover corretamente, mesmo um golpe fraco pode acabar causando um dano considerável ao inimigo.
    Antes de qualquer técnica de espada, você vai treinar o corpo a te obedecer.

    A jovem, guardou sua espada na bainha para executar a demonstração do exercício.

    — O primeiro: Postura do Tronco Firme. Afaste as pernas na largura dos ombros. Agora dobre levemente os joelhos. Coluna reta, ombros relaxados. Os braços devem estar esticados pra frente e levantados na altura dos ombros. Fique nessa posição por 1 hora… sem mover os pés, sem balançar o tronco. Só respire.

    Jaro obedeceu. Nos primeiros segundos, parecia fácil. No entanto, o peso do corpo começou a incomodar. As coxas ardiam. E o suor escorria como água por todo corpo.

    Tô fudido…

    — Isso ensina o corpo a sustentar seu próprio peso. Ensina seus músculos a reconhecerem o centro de equilíbrio… E sua mente a suportar o desconforto sem fugir.

    Ela se aproximou do jovem e sentou-se ao seu lado, observando atentamente qualquer sinal de movimento.

    — Se você se mexer, vamos novamente batalhar por meia hora.

    Desgraçada! Essa máscara representa bem quem é você por dentro!

    Após uma hora, ela ordenou que ele relaxasse, e ele caiu de bunda no chão, arfando1pesado.

    — O segundo exercício é: Passo Silencioso.

    O nome parece calmo demais pra um treino… Porém, não devo abaixar a guarda.

    Ela apontou para uma trilha de pedras irregulares.

    — Você seguirá por está trilha e deverá andar por elas sem provocar som. Caso isso ocorra, será necessário retornar ao início e refazer todo o trajeto.

    Jaro olhou a trilha com um certo desespero. Ele respirou fundo e deu o primeiro passo. As pedras estalavam levemente sob seus pés.

    — De novo — exclamou Lila.

    — Quando terminar isso mil vezes, sem errar. Você não precisará pensar para se manter firme. Seu corpo fará isso por instinto… e então, finalmente, estará pronto para segurar uma espada como um verdadeiro guerreiro.

    Eu sabia… que tinha algum coisa de errada nisso tudo.

    Depois de 234 tentativas para atravessar a trilha das pedras sem fazer ruído. Ele não conseguiu nenhuma vez, porém estava claro que tinha uma evolução em seus passos.

    Principalmente, depois que ele compreendeu que deveria tentar imaginar sua mana passando por seus pés.

    — Agora sente-se.

    Jaro acatou o pedido, exausto. Ambos estavam sentandos ao redor de uma fogueira que a jovem mascarada havia preparado à medida que o garoto treinava.

    Tinha diversos peixes, pedaços de carne assada e alguns ainda sobre as chamas, outros organizados sobre um pano estendido no chão.

    Para alguém que ainda não havia descansado, esses alimentos eram como um verdadeiro banquete dos céus.

    — Está ofegante, desatento e tenso. Sabe por quê?

    Por que estou morrendo de fome e não descansei? Seria isso que eu gostaria de dizer… Mas acho que não soaria bem.

    — Acredito que devido às batalhas que enfrentei e a essa treinamento surpesa.

    — Não.

    — …

    — O motivo é porque você está respirando errado.

    Ele franziu o cenho.

    — A respiração é o fio que liga o corpo à mente. Se ela se rompe, você se desgasta muito mais rápido. Perdendo o ritmo, o foco, e consequentemente sua força.

    Lila colocou a mão sobre o próprio abdômen.

    — Inspirar e expirar corretamente durante a luta mantém o fluxo de energia, estabiliza o batimento cardíaco, oxigena os músculos e clareia a mente. Quando lutar, cada movimento deve estar sincronizado com sua respiração. Golpear no exato momento da expiração dá mais força ao ataque. Por fim, inspirar no momento certo renova sua resistência.

    Lila pegou um peixe, deu uma mordida, mastigou com calma e engoliu. Só então voltou a falar.

    — Vou te ensinar um último um exercício, chama-se Respiração de Pilar. Inspire profundamente pelo nariz… devagar, contando até quatro. Sinta o abdômen se expandir. Segure o ar por mais quatro tempos. Agora expire pela boca, também em quatro tempos.
    Um… dois… três… quatro… Esse é o ritmo que vai acompanhar você entre um golpe e outro.

    Como respirar vai me ajudar em uma batalha… Esse é o segredo pra ela ser tão forte?

    Depois, Lila falou que ele podia se alimentar. Jaro comeu com calma, aproveitando a comida depois de tanto esforço. Enquanto comia, ele começou a fazer várias perguntas sobre o que ela tinha ensinado.

    Lila respondia com paciência, explicando o que podia. Depois de um tempo, o cansaço tomou conta, e Jaro acabou pegando no sono embaixo de uma árvore. A jovem, estava sentada num galho mais acima, observando ele dormir e pensando consigo mesma.

    Não sei bem explicar, ele tem uma determinação confusa, como se fosse um barco perdido no mar, sem rumo certo, mas que ainda assim luta pra encontrar o caminho dele. Talvez seja por isso que estou o ajudando… ele é parecido comigo.

    A imagem de Jaro, ficou na cabeça dela por alguns segundos.

    Mas, não consigo entender como ele conseguiu aumentar e refinar sua mana tão rápido, depois que voltou da base subterrânea. Será que estava escondendo isso de alguma forma? Esse mundo é cheio de surpresas não me supreenderia se fosse algum artefato mágico…

    Depois de pensar um pouco mais, Lila fechou os olhos e acabou dormindo ali mesmo.

    No segundo dia, Jaro passou o dia inteiro treinando. A noite, ele voltou para o dormitório, cansado, e começou a se preparar para a viagem que teria no dia seguinte. Quando o sol mal tinha nascido, ele já estava na porta do portão, esperando por Lila.

    Ela chegou logo depois e perguntou:

    — Você sabe que horas são?

    — Não… eu não tenho celular.

    Lila sorriu e o apontou um celular flip azul-escuro.

    — Você se saiu bem no treino. Esse é meu presente pra você.

    Jaro ficou surpreso e feliz. Com um gesto de respeito e se curvou para ela.

    — Muito obrigado! Mas que tal só me entregar esse celular se eu voltar vivo? Dessa forma, me sentiria satisfeito de verdade.

    Lila ficou séria, segurando o celular na mão, olhando para ele. Aquela frase fez um nó na garganta dela, como se ela tivesse medo de que ele realmente não voltasse. Então, guardou o aparelho num bolso escondido na roupa.

    — Entendo… Pelo menos me deixe ajudar na sua missão. Me mostra o pergaminho que o Senhor Kyle te deu.

    Jaro não hesitou e entregou o pergaminho.

    Ela só faz o que quer mesmo Pensou ele, com um leve sorriso dentro de sua máscara branca.

    Lila leu o conteúdo rápido e falou:

    — É uma missão simples. Com a sua força, acho que você vai conseguir. Mas tenho algumas dicas pra te dar. O vilarejo Crim fica a 79 quilômetros do distrito azul. Você deve levar uns sete dias para chegar lá. Tente evitar andar muito durante a noite. Mesmo que os monstros da montanha não sejam tão fortes, por causa do controle do clã, ainda pode ser perigoso.

    Ela fez uma pausa e continuou:

    — Sobre o monstro Dollak, preciso te avisar. Um grupo de humanos sem experiência consegue matar um Dollak sozinho, com poucas baixas. Mas se os Dollaks vierem em grupo, fuja o mais longe que puder e esqueça o vilarejo! Apenas tente atacar aqueles que estiverem separados da matilha.

    — Por que devo fugir se eles estiverem em grupo?

    — Porque juntos eles são dez vezes mais fortes. Isso acontece por causa do líder deles, que os fortalece, alimentando-os com humanos e bestas poderosas.
    Enfim, lembre-se de praticar tudo que te ensinei durante a viagem.

    — Certo! Pode deixar. Logo estarei de volta — disse Jaro, tentando esconder a preocupação no sorriso.

    — Não se ache.

    A jovem mascarada aproximou-se dos guardas do portão junto do menino e explicou a situação da missão.

    — Ainda assim, o pirralho precisa mostrar a identidade — exclamou o homem, coberto por uma armadura de aço.

    — Ok — respondeu Jaro, mostrando sua identidade holográfica ao guarda, que a analisou rapidamente.

    — Está tudo em ordem. Pode prosseguir.

    — Boa sorte — a jovem se despediu.

    — Obrigado por tudo, Lila.

    Jaro, saiu sem olhar pra trás pensativo, preocupado com o que havia ouvido sobre o monstro.

    Mesmo assim, sabia que não tinha outra escolha se quisesse continuar vivo, precisaria cumprir a missão, custasse o que custasse!

    1. Arfando: respirando pesado[]
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