Um dos mercenários, de cabelos negros, falou despreocupado:
    — Render? Hahaha! Só porque matou nosso chefe acha que vamos desistir? Somos cinquenta!

    As palavras dele encorajaram os demais guerreiros, que até então hesitavam. Tomados por um súbito entusiasmo, começaram a vaiar o jovem e, em um impulso coletivo, todos avançaram contra ele.

    — Imbecis… — resmungou o mascarado, irritado. Em seguida, ordenou: — avancem! Matem todos os que não se renderem!

    Naquele instante, uma fumaça azulada começou a se espalhar pelo campo coberto de grama. Do meio dela, surgiram treze esqueletos que tinham mais de dois metros de altura. Um deles se destacava: tendo cerca de quatro metros, empunhava uma imensa lança e exalava uma aura mais assustadora que os demais.

    Os primeiros vinte e quatro mercenários que alcançaram os esqueletos sequer tiveram tempo de reagir. Foram massacrados em questão de segundos por golpes certeiros de espadas. O maior dos esqueletos, chamado Dargan, eliminou doze inimigos desferindo um único corte de sua lança.

    Ao presenciarem o massacre, os outros vinte e seis mercenários pararam, pálidos de terror. Logo caíram de joelhos, implorando por misericórdia. Dargan então se voltou para seu mestre e relatou: — Ordem cumprida, lorde Jaro. Vinte e seis se renderam e já estão sendo contidos pelos meus irmãos.

    Jaro assentiu e, sem dizer uma palavra, caminhou até o grupo de camponesas mantidas como prisioneiras, soltando as amarras delas uma a uma. Ao se voltar para alguns dos esqueletos, gritou: — Eldric, Varno e Nael!

    — Senhor! — responderam.

    — Levem essas mulheres com cuidado. Vamos escoltá-las até a vila. E quanto ao restante, vamos levar esses merdinhas também. Não deixem que façam nenhuma gracinha, entenderam?

    Depois, se aproximou da jovem de cabelos negros que estava sentada no meio do campo, atordoada, observando os corpos dos inimigos abatidos.

    Ele estendeu a mão em um gesto de gentileza: — Você está bem?

    A garota aceitou a ajuda, porém ao se levantar seu corpo fraco não a sustentou, fazendo-a cair nos braços de Jaro.

    — O-obrigada… Acho que sim… — murmurou, constrangida. Logo, afastou-se timidamente.

    — Que bom. Lamento não ter chegado antes. Você e suas amigas passaram por um pesadelo. Porém pode ficar tranquila, elas apenas desmaiaram.

    A garota permaneceu em silêncio; no fundo, desejava que aquelas mulheres não tivessem sobrevivido.

    — Mas… quem é você?

    — Sou um guerreiro do clã Moong. Vim em missão para derrotar o monstro que anda atacando a vila Crim. Estou no lugar certo, senhorita?

    — S-sim… está.

    Chefe, quanto preciso te oferecer para curá-la?

    Os ferimentos dela são leves. Bastarão alguns minutos da sua vida. Mesmo que seja pouco… tem certeza de que deseja isso?

    Sim. Não planejo viver muito mesmo.

    — Tem certeza de que está bem? — indagou Jaro novamente, agora pousando a mão no rosto da garota.

    Ela o olhou, apavorada. Contudo, logo sentiu um calor reconfortante percorrer seu corpo. Esse calor a acalmou, e seus ferimentos desapareceram por completo.

    — Você é um mago de cura?!

    — Sou — respondeu ele, assentindo, enquanto se afastava e caminhava em direção à vila, acompanhado por seus vassalos e também pelos mercenários, que estavam contidos por amarras invisíveis — uma magia lançada por um dos esqueletos.

    — Vai deixar a garota para trás, senhor?

    — Dargan, às vezes, não devemos carregar alguém nas costas… Apenas mostrar o caminho e esperar que ela dê o primeiro passo.

    — O que isso significa?

    — Observe… e você vai entender.

    A garota permaneceu parada, absorta, observando o jovem e as criaturas se afastarem. Aos seus olhos, as costas do garoto mascarado pareciam brilhar.

    Eu preciso ir. Reflitiu a jovem de cabelos negros.

    Sem pensar muito, começou a correr atrás dele. Em poucos segundos o alcançou e se posicionou ao seu lado, ainda um pouco ofegante.

    — Qual é o seu nome grande guerreiro?

    — Me chame de Jaro. E qual é o seu, senhorita?

    — Serena… Mas…

    Ela arregalou os olhos, olhando para ele surpresa, e por alguns segundos permaneceu em silêncio. Pela primeira vez, seu semblante triste se desfez.

    — Pffft… Achei que guerreiros do clã Moong eram proibidos de revelar seus nomes verdadeiros.

    — E são. Mas não creio que você vá sair espalhando isso por aí, certo? Agora que sei onde você mora, posso te matar a qualquer momento.

    A garota riu, e Jaro ficou aliviado ao vê-la sorrir. Depois de tudo o que havia passado, qualquer um estaria traumatizado. Entretanto, pelo visto, as pessoas daquele mundo já estavam acostumadas com situações perigosas.

    — Você parece de outro mundo, hahaha. E não, eu não vou contar seu segredo pra ninguém — respondeu ela, sorrindo.

    — Serena.

    Por algum motivo, ouvir seu nome daquele jeito, de forma tão casual, fez a jovem de cabelos negros corar. Afinal, quase nunca o escutava dos outros.

    — O que foi…?

    Jaro percebeu o rubor no rosto dela e sentiu seu coração acelerar por um instante. Ao observá-la melhor, percebeu que ela era tão bonita quanto a chefe, uma entidade que o garoto considerava divina.

    Ele tossiu, disfarçando.

    — Você não tem medo desses monstros? — perguntou, tentando não apenas saciar sua curiosidade, mas também obter informações. Afinal, ainda não sabia se poderia revelar seus vassalos aos outros humanos.

    — Nunca vi monstros obedecendo humanos… e, eles são assustadores. Mas você… você é meu salvador. Por isso, não me importo.

    — Você é forte… — sussurrou Jaro. — Que bom. Sendo assim, por favor, me conte um pouco sobre a vila…

    — Claro.

    Durante o relato dela, Jaro percebeu que a garota ainda não estava completamente recuperada. Havia nela um semblante abatido, como se a felicidade fosse algo que jamais tivesse experimentado. Aquela expressão tão triste apertou o coração do garoto, ele sentiu que ela havia sofrido muito, embora não soubesse exatamente como.

    Durante a caminhada até a vila, Jaro também fez algumas perguntas importantes: queria saber com que frequência os monstros atacavam, e principalmente, em quem poderia confiar. A princípio, a jovem hesitou, porém logo começou a contar tudo o que sabia.

    Em menos de vinte minutos, Jaro e Serena chegaram à entrada da vila. À frente deles, erguia-se várias paliçadas, uma estrutura defensiva feita de estacas de madeira fincadas no solo, com pontas afiadas no topo.

    A vila era maior do que Jaro imaginava. Pela movimentação, ele calculava que viviam ali pelo menos cinquenta pessoas. Antes de se aproximar mais, ele guardou os esqueletos novamente no anel e virou-se para Serena. Ele pediu que não contasse aquilo a ninguém, e a garota concordou através de um leve aceno de cabeça.

    Ao se aproximarem da entrada, vários homens e mulheres surgiram. Vestiam roupas simples de camponeses e, em suas mãos, empunhavam ferramentas como machados, arados e martelos, prontos para se defender.

    De repente, uma voz gritou: — Pare aí, forasteiro!

    Jaro parou imediatamente. O dono da voz era um camponês magro, de cabelos pretos, que provavelmente tinha pouco mais de vinte anos e tremia ao se aproximar, visivelmente nervoso.

    — V-vejo que é um guerreiro, senhor… Você capturou esses criminosos sozinho?

    — Capturei.

    Por meio de um gesto, o garoto apontou para as mulheres desacordadas que carregava, duas em seus ombros, e uma terceira nos braços de Serena.

    — Creio que essas mulheres são da sua vila, não?

    O homem arregalou os olhos.

    — O senhor as salvou?! Muito obrigado! Nossa vila jamais esquecerá esse gesto!

    Jaro notou que o homem agradeceu apenas a ele, ignorando completamente Serena. Virando-se de relance, viu o olhar da garota baixar e seu rosto se obscurecer.

    Ele a ignorou… Pensou Jaro, incomodado.

    — Venha, meu senhor! — continuou o camponês, apressado. — Precisamos mostrar nossa gratidão.

    Jaro seguiu o homem até a multidão que estava diante dos portões da vila. Ao se aproximarem, uma mulher o interceptou:— Joanan, diga logo: o que esse forasteiro quer em nossas terras?

    — Marta, não fale assim! — repreendeu o homem. — Ele é nosso salvador. Foi ele quem protegeu a vila desses criminosos e ainda salvou as vidas de Margarida, Helena e Brígida!

    Os moradores que estavam armados reagiram com alegria, soltando gritos de comemoração. Um velho, empunhando um machado, exclamou animado:
    — Hoho, devemos preparar uma festa! Levem-no para dentro!

    Já no interior da vila, Jaro observava moradores tocando instrumentos, enquanto outros se reuniam ao redor, movidos pela curiosidade em relação à sua presença.

    — Como esses mercenários estão presos, mesmo sem algemas? — perguntou o Joanan, intrigado.

    — Usei magia para contê-los — respondeu Jaro, de forma direta.

    O camponês assentiu, impressionado. Em sequência, o jovem mascarado se dirigiu a ele e aos outros cidadãos: — Quero que levem esses prisioneiros para algum lugar seguro. Ainda preciso decidir o que farei com eles.

    Eles assentiram, à medida que alguns moradores ajudavam as mulheres camponesas, levando elas de volta às suas casas. Depois, o Joanan conduziu o garoto até a casa do ancião da vila.

    Ao chegarem, Jaro notou que aquela residência era visivelmente maior e mais bem construída do que as demais. Dentro da casa, o ancião os recebeu exibindo um largo sorriso, acompanhado de suas esposas e filhas, que também saudaram Jaro, cheias de entusiasmo.

    — Jovem guerreiro, agradeço por tudo o que fez pela nossa vila — disse o ancião. — Em sinal de gratidão, quero lhe oferecer um banquete em sua honra.

    — Agradeço, no entanto, é importante que saiba que sou um guerreiro do clã Moong, e meu objetivo principal aqui é caçar o Dollak.

    O ancião empalideceu e, tomado por emoção, se ajoelhou aos pés de Jaro.

    — Os deuses ouviram nossas preces! Esperamos por ajuda durante meses do clã…

    Jaro se sentiu desconfortável diante da cena, porém permaneceu em silêncio. De repente, uma das esposas do ancião olhou para Serena, que estava quieta ao lado de Jaro, e falou: — O que faz aí parada, gata suja? Vai buscar um chá para o nosso salvador!

    O coração de Serena disparou. Sem dizer uma palavra, ela se retirou rapidamente.

    — Ela é sua empregada? — indagou o jovem.

    O ancião se recompôs e voltou a se sentar.

    — Não exatamente. Adotei-a quando os pais dela foram acusados de roubo na vila Crim e mortos pela justiça local. Desde então, ela vive aqui… mas, francamente, não serve para muita coisa.

    O jovem sentiu um desconforto profundo diante daquelas palavras; contudo, preferiu guardar o comentário para si. Pouco tempo depois, Serena retornou trazendo o chá.

    Logo em seguida, retirou-se em silêncio, deixando-os a sós. O ancião convidou o garoto a se sentar, e passaram um bom tempo conversando.

    No fim da conversa, o ancião ofereceu: — Pode ficar aqui conosco. Temos um quarto sobrando; minha filha mais velha Freya irá mostrar o caminho.

    — Muito obrigado, ancião Baldar — agradeceu o jovem, curvando-se.

    As filhas do ancião trocaram olhares e sorrisos entre si. Era evidente que haviam se encantado pelo jovem guerreiro.

    Então, Freya e Jaro se despediram dos demais, e ela o conduziu até o quarto onde ele ficaria. Durante o percurso, em determinado momento, agarrou-se ao braço dele, como se já tivesse intimidade.

    — Você é mais quieto do que eu esperava — dizia ela, olhando para ele de lado.

    — Só estou cansado — respondeu Jaro, mantendo o olhar à frente.

    — Mesmo assim, dá pra perceber que você passou por muita coisa — comentou Freya, apertando levemente o braço dele.

    — Não gosto de falar do passado.

    — Eu entendo… — murmurou ela. — Mas mesmo assim, eu gostei de você.

    — Você nem me conhece.

    — Eu sei — respondeu Freya, sem soltar o braço dele. — No entanto, tem algo em você que me chama atenção. Só isso.

    — Isso pode ser um problema…

    — Talvez. Mas não pra mim.

    Finalmente, ele e Freya chegaram à porta do quarto.

    — É aqui que você vai ficar — comentou ela, parando em frente à porta de madeira. — Não é nada luxuoso, mas pelo menos tem uma boa cama.

    — Obrigado, eu—

    Nesse momento, ela se lançou sobre ele, abraçando-o pelas costas, e o jovem conseguia sentir seus seios pressionando-o.

    — Guerreiro, deite-se comigo — sussurou a bela jovem.

    Jaro, sem hesitar, se virou e a agarrou pela cintura, puxando-a para perto de si.

    — Olha… você sabe que lutei contra vários criminosos. Esta noite, só quero descansar, entende?

    — Sim…

    Apesar da resposta afirmativa, estava visivelmente decepcionada. Ainda assim, deu um beijo na máscara dele e se afastou.

    — Não se esqueça de vir ao meu quarto enquanto estiver hospedado aqui. — E saiu corada.

    Jaro deu um leve soco na parede e percebeu que ainda era muito fraco contra mulheres. Se ela tivesse insistido mais um pouco, talvez ele não tivesse resistido aos encantos dela.

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